2.4 Níveis de organização estrutural
2.4.2 Estrutura secundária
Apesar das proteínas serem polímeros lineares, as estruturas das mesmas não são aleató- rias, ou seja, elas apresentam em alguns casos certa regularidade. São arranjos particularmente estáveis de resíduos de aminoácidos formando padrões estruturais ou regulares. São estas con- formações regulares do polipeptídeo que representam a estrutura secundária da proteína. A regularidade na conformação espacial é mantida graças às interações intermoleculares (liga- ções de hidrogênio) entre os hidrogênios dos grupos amino e os átomos de oxigênio dos grupos carboxílicos de outros aminoácidos. Alguns tipos de estruturas secundárias são particularmente estáveis e de alta freqüência em proteínas. As conformações mais proeminentes são as hélices
α e as folhas β. Além destas, há também, estruturas irregulares tal como, a volta e a alça. Estas
estruturas irregulares, são estruturas aleatórias que tem a função de fazer a conexão entre as estruturas secundárias regulares.
A seguir são descritas em maiores detalhes cada uma das estruturas secundárias:
Héliceα: em uma cadeia polipeptídica, o grupo NH da cadeia principal pode formar uma
ligação de hidrogênio com o grupo CO do quarto aminoácido mais próximo, a repetição i→ i+4
define um padrão regular conhecido como héliceα [50, 71]. As hélices α possuem em média
3,6 resíduos de aminoácidos por volta. A estrutura é estabelizada por uma ligação de hidrogênio ligando o átomo de nitrogênio de uma ligação peptídica e o átomo de oxigênio da carbonila do quarto aminoácido da região N-terminal, daquela ligação peptídica [49]. Cada volta sucessiva
de héliceα é presa às voltas adjacentes por três ou quatro ligações de hidrogênio. São estas
ligações de hidrogênio, que quando combinadas, garantem a estabilidade da estrutura helicoidal (Figura 12B).
Os resíduos de aminoácidos da estrutura regular em forma de hélice α têm seus ângulos
diêdros (φ e ψ) variando no mapa de Ramachandran em torno de -30◦
a -120◦
para φ e -60◦
a 20◦
paraψ (Figura 10). A Figura 12A apresenta uma hélice α representada pelo arranjamento
dos átomos de sua cadeia principal. A Figura 12B apresenta uma héliceα representada através
dos átomos de sua cadeia principal juntamente com a sua representação na forma de ribbon5.
Diferentes seqüências de aminoácidos têm propriedades diferentes para formar hélices α.
Estas propriedades resultam do formato de sua cadeia lateral [10]. Os resíduos de aminoácidos como a metionina, a alanina, a leucina, a glutamina e a lisina são mais propícias a formar hélices
α. Os resíduos de aminoácidos glicina, serina, prolina e tirosina geralmente não participam da
formação de hélicesα [10]. A glicina tende a interromper a regularidade presente em uma es-
trutura em forma de héliceα devido a sua grande flexibilidade conformacional. A prolina tende
a quebrar ou torcer helicesα devido ao fato de não poder formar uma ligação de hidrogênio
e por interferência estérica da sua cadeia lateral [49]. O número de aminoácidos presentes em
uma héliceα é bastante variável e pode estar no intervalo de 5 à 40 resíduos de aminoácidos,
sendo mais freqüente hélicesα com 10 resíduos de aminoácidos [71].
Figura 12 – Representação gráfica da estrutura secundária regular do tipo hélice α: (A) uma hélice α vista através dos átomos de sua cadeia principal, (B) uma hélice α vista através dos átomos de sua cadeia principal e através de sua representação do tipo ribbon. As linhas tracejadas representam as ligações de hidrogênio.
Folha β: no segundo tipo de estrutura secundária, o esqueleto da cadeia polipeptídica é
estendido em ziguezague em vez de uma estrutura helicoidal como nas hélicesα. Quando as
cadeias polipeptídicas estão arranjadas lado a lado formam uma estrutura que se assemelha
a uma série de fitas, trata-se da folha β [49]. Neste arranjo, as ligações de hidrogênio são
formadas entre segmentos adjacentes da cadeia polipeptídica. No mapa de Ramachandran, as
estruturas secundárias em forma de folhaβ ocupam a região que varia de -180◦
a -45◦
paraφ e
45◦
a 225◦
paraψ (Figura 10).
As cadeias polipeptídicas adjacentes em uma folhaβ podem ser paralelas ou antiparalelas.
Nas folhas paralelas o sentido da folha é da região N-terminal para a região C-terminal. Nas folhas antiparalelas, o sentido da folha é da região C-terminal para a região N-terminal. Os padrões das ligações de hidrogênio das folhas paralelas e antiparalelas são diferentes [70]. A
Figura 13A apresenta uma folhaβ paralela através dos átomos de sua cadeia principal. A Figura
13B mostra a representação do tipo ribbon de uma folhaβ paralela. A Figura 14A apresenta
uma folha β antiparalela através dos átomos de sua cadeia principal. A Figura 14B mostra a
representação do tipo ribbon de uma folhabeta antiparalela.
Figura 13 – Representação gráfica da estrutura secundária regular do tipo folha β paralela: (A) uma folha
β paralela através dos átomos de sua cadeia principal, (B) uma folha β paralela através dos átomos de sua
cadeia principal juntamente com a sua representação do tipo ribbon. As linhas tracejadas representam as ligações de hidrogênio.
Figura 14 – Representação gráfica da estrutura secundária regular do tipo folha β antiparalela: (A) uma folha β antiparalela através dos átomos de sua cadeia principal, (B) uma folha β antiparalela através dos átomos de sua cadeia principal juntamente com a sua representação do tipo ribbon. As linhas tracejadas representam as ligações de hidrogênio.
Voltas e alças: O terceiro tipo de estrutura trata de uma estrutura secundária irregular, denominada por volta ou dobras. As voltas são formadas em regiões onde o polipeptídeo muda
a sua direção, ou seja, após uma estrutura secundária regular em forma de héliceα e folhas β.
As voltas são os elementos estruturais que unem sucessivas estruturas secundárias regulares. A Figura 15A, apresenta uma volta. Esta volta tem um tamanho maior quando comparada com a alça da Figura 15B.
Por serem estruturas irregulares não existe uma região específica para voltas no mapa de
Ramachandran. A combinação de ângulosφ e ψ podem ocupar qualquer região neste mapa de
Ramachandran, isto incluí regiões de folhasβ, de hélices α. Devido a esta particularidade, as
voltas são difíceis de serem preditas por métodos computacionais (conforme será discutido nos capítulos seguintes).
Figura 15 – Representação gráfica de estruturas secundárias irregulares e aleatórias: (A) representa uma volta, (B) representa uma alça.