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I. Setúbal da Idade Média à Modernidade

1.5. O Espaço Religioso

1.5.2. Estruturas Conventuais

No que toca à difusão de estruturas conventuais em Setúbal, esta parece ser um pouco tardia em comparação com o contexto nacional. No século XV, a vila dispunha apenas de dois conventos, mas o destaque que esta obteve com a exportação do sal despontou o interesse de outras instituições que decidiram então implantar-se em Setúbal. Desta forma,

133Ibid., p. 116

134ABREU, Laurinda Faria dos Santos – A Santa Casa da Misericórdia de Setúbal de 1550 a 1755: Aspectos de

sociabilidade e poder, p. 21–22

135Ibid., p. 24 136Ibid., p. 26–28 137Ibid., p. 47 138Ibid., p. 24

o enriquecimento da vila no século XVI, aliado às novas imposições saídas do Concílio de Trento, trouxeram à vila sadina diversas Ordens, que não só pretendiam exercer uma presença mais efectiva da Igreja na região, como também na vida quotidiana dos setubalenses através da evangelização das mentes.

A primeira Ordem que se implementou na vila foi a dos Frades Menores que, em 1410, fundou o convento de S. Francisco de Setúbal. A partir de um pedaço de terreno cedido por D. Maria Eanes Escolar ergueu-se o dito convento, que ainda beneficiou do contributo do neto da fundadora, Vasco Queimado de Vilalobos e de privilégios régios de D. Afonso V, D. João II, e D. Manuel, uma vez que, era no dito convento que estes se alojavam quando se deslocavam à vila139. Nos finais do século XV, mais precisamente em 1490, funda-se em Setúbal o segundo convento mendicante, o convento de Jesus da Ordem de Santa Clara. Este foi fundado por Justa Rodrigues, ama de leite de D. Manuel, paralelamente com o intuito de tornar esta estrutura num panteão familiar. Esta edificação refletia não só o crescimento social, económico e demográfico da vila, como a sua relevância a nível nacional. Para a concretização deste mosteiro, beneficiou D. Justa de doações por parte do Infante D. Fernando, da rainha D. Leonor, do Mestre Gil, cirurgião-mor do Reino, de D. Jorge de Lencastre, bem como dos reis D. João II e D. Manuel140.

Talvez devido à forte presença dos monges guerreiros na vila ou à maior inclinação por parte das populações em confiar o seu enquadramento espiritual às confrarias, o facto é que, no século seguinte à implantação do primeiro convento, o mesmo não motivou muita adesão por parte dos setubalenses. Tendo permanecido por longos anos apenas como capela fúnebre para a família dos seus fundadores. Já aos monarcas portugueses este parece ter despertado algum interesse, pois foi honrado com doações e isenções. Mesmo com a emergência de mais dois conventos, o de Jesus e o de S. João, nenhum deles parece ter cativado o interesse da comunidade sadina141.

139BRAGA, Paulo Drumond et al. – Setúbal Medieval (Séculos XIII - XV), p. 382–383 140Ibid., p. 384–385

Assim, nos finais do século XVI, o cenário conventual em Setúbal era o seguinte:

1410 Convento de S. Francisco Franciscanos

1490 Convento de Jesus Franciscanos

1525 Convento de S. João Dominicanos

1531 Convento de N. S. da

Conceição

Paulistas

1539 Convento da Arrábida Franciscanos capuchos

da Arrábida

1564 Convento de S. Sebastião Dominicanos

1576 Convento de Alferrara Franciscanos capuchos da Arrábida

1598 Convento de N. S. do

Carmo

Carmelitas Calçados ABREU, Laurinda Faria dos Santos – Setúbal na Modernidade: Memórias da Alma e do

Corpo. Coimbra: s.n., 1998, p. 82

Como descreveu Laurinda Abreu, em 1410, o convento de S. Francisco, ocupava-se de ministrar os ritos eclesiásticos às almas do lado poente da vila, reforçado pelos Arrábidos do convento da Arrábida, em 1539. Em 1531, a noroeste, encontra-se o convento de S. Paulo; mais tarde, em 1578, nascia o convento de Alferrara. Mais perto das populações, em 1490 erguia-se o convento de Jesus, num dos extremos de Setúbal (Norte); e ainda, em 1530, o convento de S. João. A Nascente morava a convento de S. Sebastião, estabelecido em 1564. Por fim, embora já fora da nossa cronologia, o convento de Brancanes, em 1682, que viria a

fechar o círculo espiritual que envolvia Setúbal no seu culto católico. “Setúbal pode

descansar em paz”142.

Concluímos então que Setúbal, de um modo geral, prosperou entre os séculos XV e XVI. O seu enquadramento geográfico no litoral português possibilitou o aumento dos negócios por via marítima, proporcionando-lhe avultados lucros, especialmente nas exportações de sal, produto muito desejado nos territórios do norte da Europa.

A prosperidade económica despontou a curiosidade das populações envolventes que migraram para os arrabaldes das suas muralhas, gerando um aumento do seu número de paróquias. Tal prosperidade também chamou a atenção tanto do Governador da Ordem de Santiago, que mudou a sua residência da sede de Palmela, para a zona portuária de Setúbal, como também do próprio rei de Portugal, que não só atribuiu o título de muy notável vila a Setúbal, como lhe subiu o seu assento em Cortes de sétimo para quarto, concedendo-lhe prestígio a nível nacional.

Finalizamos assim a contextualização do meio de onde provieram os membros da família Queimado. No entanto, para além de residentes da vila de Setúbal, estes indivíduos eram membros da nobreza portuguesa, ainda que das baixas camadas que também se moldaram e adaptaram às circunstâncias originadas pelos Descobrimentos Portugueses. Desta forma, no próximo capítulo abordaremos de que maneira a nobreza se envolveu nos processos que consolidaram a formação do Império Marítimo Português, na gestão dos negócios da Casa da Índia e da Moeda, nas navegações transatlânticas, e nos novos palcos de guerra que surgiram pontuados um pouco por toda a costa do Índico, fruto não só da ideologia cruzadística manuelina, mas também da ambição dos capitães portugueses.

Por fim, exporemos então a história da família Queimado, a sua ligação a Setúbal e os percursos dos membros da família que, ao longo do século XV e XVI, contribuíram para a consolidação do Império Português.