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Estruturas e funcionamento do sistema auditivo central

2 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL

2.3 Estruturas e funcionamento do sistema auditivo central

É no sistema auditivo central que o processo da audição se completa e a pessoa compreende o que ouve. Esse sistema é formado por vias e nervos auditivos. O nervo mais importante no processo da audição é o nervo vestíbulo coclear (VIII par). Da cóclea, que fica localizada na orelha interna, saem três grupos de fibras auditivas, denominadas por fibras aferentes do nervo coclear, fibras eferentes do feixe olivococlear e fibras simpáticas ou associativas (FROTA, 1998). Parte das fibras nervosas formam o ramo coclear do nervo vestíbulo coclear.

Todas as fibras nervosas conduzem o estímulo sonoro até o tronco cerebral. Em seguida, chegam até o segundo núcleo de associação, chamado de núcleo coclear, que tem como função analisar a intensidade do som. A partir de aqui, as fibras começam a percorrer caminhos diferentes. Segundo Russo e Santos (1993, p. 35), “[...] algumas cruzam para o outro lado e atingem o complexo olivar superior homolateral”. Outras caminham de forma ascendente e

sobem em direção ao lemnisco lateral, onde encontramos o terceiro núcleo de associação. Novamente há cruzamentos das fibras, que vão atingir o quarto neurônio da via auditiva. Após sinapses, as fibras nervosas se dirigem até o lobo temporal, chegando então no quinto neurônio. É aqui que “[...] ocorre a recepção dos estímulos nervosos, a interpretação destes estímulos e a elaboração das respostas” (RUSSO; SANTOS, 1993, p. 35).

Nas fibras aferentes, as informações vão das células ciliadas ao córtex cerebral. Essas fibras são compostas por: núcleos cocleares, complexo olivar superior, lemnisco lateral, colículo inferior, corpo geniculado medial e corpo caloso (PEREIRA, 2014).

A autora complementa que, nas fibras eferentes, ocorre o controle dos centros superiores sobre os centros inferiores, e também sobre o órgão sensorial periférico. Seu principal papel é detectar e inibir o ruído de fundo e nas funções da memória.

Figura 7 – Vias auditivas centrais

Nunes (2015) explica o papel de alguns núcleos do sistema auditivo que interpretam os sons recebidos pelo ouvido. São eles:

a) núcleo coclear: recebe estímulos vindo da cóclea e tem o papel de analisar as diferentes frequências do som, bem como perceber mudanças na intensidade e modulações de amplitude do som;

b) complexo olivar superior: essa estrutura apresenta representação binaural, ou seja, a estimulação é igual nos dois ouvidos, mas os estímulos são monoaurais, portanto, estímulos que são provenientes do ouvido direito seguem para o complexo olivar superior direito e da mesma maneira ocorre com o estímulo vindo do ouvido esquerdo. Essa região apresenta três competências auditivas: “[...] análise da diferença de tempo interaural, localização e lateralização do som e fusão binaural” (MUSIEK; BARAN, 20072 apud NUNES, 2015, p. 13);

c) colículo inferior: essa estrutura faz a análise de características de frequência e intensidade do som, também participa da localização do som, onde ocorre a discriminação da direção do som, se ele está à direita ou à esquerda;

d) lemnisco lateral: essa estrutura tem poucos estudos de sua anatomia e fisiologia, mas se sabe que tem importante papel no processo auditivo. É uma região que realiza a “[...] análise temporal dos sons com a presença de células sensitivas à diferença de tempo interaural e à análise de frequência com uma organização tonotópica” (MUSIEK; BARAN, 20073 apud NUNES, 2015, p. 14);

e) corpo geniculado medial: nessa região estão estruturas que também reconhecem diferenças de frequência, intensidade e tempo do som. Muitas crianças com baixo desempenho na leitura possuem alteração nesse núcleo;

f) córtex auditivo: estrutura responsável pela interpretação acústica do som. É aqui que ocorre a análise de sons mais complexos, como a fala. Também se verifica que há o controle da relação sinal-ruído, que acontece quando existe a fala com ruído competitivo;

g) corpo caloso: é a ponte por onde o processo da informação auditiva passa. Essa região “[...] não é um núcleo auditivo, mas sim uma estrutura de ligação entre os dois hemisférios cerebrais e que envia, de entre outras informações, algumas auditivas, daí

2 MUSIEK, F.; BARAN, J. The auditory system: anatomy, physiolgy and clinical correlates. Boston, MA: Pearson, 2007.

advindo a sua importância no processamento auditivo” (NUNES, 2015). A maturação dessa região é tardia, ocorre por volta dos 11 anos.

O hemisfério cerebral é composto por quatro lobos: lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e lobo temporal. Cada um deles tem funções específicas, sendo o lobo temporal responsável pelos estímulos auditivos, linguagem compreensiva e memória (episódica) (PEREIRA, 2014).

Figura 8 – Hemisfério cerebral

Fonte: brasilescola.uol.com.br/biologia/cerebro-humano.htm.

É no lobo temporal que o som chega, após passar pelo tálamo. Segundo Pereira (2014), nesse lobo encontramos o córtex auditivo primário, que tem como função detectar o nível e qualidade do som, envolve a atenção seletiva e orientação espacial do estímulo auditivo que ajuda na localização do som; o córtex auditivo secundário e o córtex associativo auditivo linguístico, que tem o papel de analisar e processar a informação auditiva complexa – aqui ocorre o processo dos sons da fala –; por fim, a área de Wernicke, área essa responsável pela compreensão da linguagem falada.

Estudos apontam que a maioria da população apresenta o “[...] córtex auditivo do hemisfério direito como responsável pelo processamento de estímulos não-verbais e do hemisfério esquerdo pelos estímulos verbais” (RAMOS et al., 20074 apud PEREIRA, 2014, p. 19).

Por conta de haver dois hemisférios cerebrais (direito e esquerdo), a audição apresenta uma habilidade chamada função binaural. Pereira (2014) explica que o som entra pelo ouvido direito, percorre as estruturas do tronco cerebral desse mesmo lado (ipsilateral) até o complexo olivar superior, onde a maior parte do estímulo muda para o lado esquerdo (contralateral) e chega até o córtex auditivo primário. O inverso ocorre com o som que entra pelo ouvido esquerdo. O córtex auditivo primário do hemisfério direito é responsável pelo processo não linguístico da comunicação, já o córtex auditivo primário do hemisfério esquerdo atua na informação lexical, sintaxe, processos fonológicos e produção da fala.

Quando o sistema auditivo periférico e central percorre todo o caminho descrito de maneira íntegra, o estímulo sonoro é processado e temos a capacidade de analisar o que foi ouvido. Essa capacidade de processar a informação ouvida é chamada de processamento auditivo central (PAC), que será detalhada no próximo tópico.