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Estruturas Interorganizacionais de Dominação e Padrões de Coalizão

4.3 Grau de Institucionalização do Campo

4.3.2 Estruturas Interorganizacionais de Dominação e Padrões de Coalizão

As estruturas interorganizacionais de dominação no campo não são claras e de fácil detecção. Nas entrevistas isto ficou muito evidente porque os diversos entrevistados demonstraram certa cautela em explicitar essas relações de dominação como ficará evidente nas falas a seguir.

Para Loyo (12/11/02, entrevista), “cada um dentro de sua área é importante. Cada um tem alguma coisa a contribuir. Não posso dizer quem são lideres, mas todos são importantes”.

Todos têm o mesmo peso. Por que? Você vai pensar no turista que vem a Recife e não tem hotel? A mesma coisa é você pensar que o turista vem para Recife e só come dentro do hotel. Por isso a gente tenta colocar que todos têm o mesmo peso, companhias aérea, hotéis, restaurantes e todos, mais do que nunca, precisam trabalhar em conjunto (...) O turismo é um negócio muito amplo (BRASIL, 13/08/02, entrevista).

Em turismo ninguém tem peso maior. Por que? Porque é uma atividade multifacetada (...) Quer dizer ele é distributivo, ele é muito democrático, nesse sentido. Então não existe um peso maior. Existem, digamos assim, diferentes níveis de envolvimento diretos. T ipo assim, o hotel é um empreendimento exclusivamente turístico, o restaurante ele já pega as pessoas que moram na cidade. No entanto, hoje em dia é difícil você dimensionar o que é mais ou menos turístico porque tudo faz parte do trabalho. Agora os setores assim que são mais diretamente beneficiados são a parte de hospedagem, alimentação e transporte, que é o básico, e a parte de lazer (PIRES, 17/09/02, entrevista).

No nível do discurso, o padrão de coalizão existente no campo é de união coletiva em prol do fortalecimento do turismo no Recife. Na opinião de Pires (17/09/02, entrevista), “o turismo consegue, de maneira geral, passar por cima de problemas políticos ou problemas menores em função da necessidade e da condição sine qua non de ter que ter um trabalho coletivo, um trabalho de todo mundo unido”.

O não reconhecimento por parte dos entrevistados de líderes e organizações que exercem maior poder no campo do turismo corrobora com a literatura especializada em turismo que preconiza a não existência de hierarquia definida entre as organizações que compõe o campo.

Segundo Silva (2000, p.51), as empresas que operacionalizam os serviços interagem e se complementam em nível horizontal, não hierárquico, porque “uma entidade não é superior, melhor ou mais importante que outra. Pelo contrário, no desempenho das suas atribuições cada um exerce o seu papel, visando atender às necessidades do turista”.

Para Barreto (2000, p.20), “o turismo não tem um tronco principal sobre o qual girar e a partir do qual expandir-se: é um entrelaçado no qual circulam múltiplos atores, servindo-se uns dos outros, em relação de mútua dependência”.

Como a noção de trade instituída no campo alcançou o status de categoria mental, esta instituição é respeitada pelos atores, embora estes, nem sempre, tenham consciência das relações de poder que estão por trás dela. A interação e interdependência entre as organizações fazem surgir uma lógica de ação compartilhada que introduz uma

dimensão prescritiva a ser seguida não pelo poder coercitivo mas porque “é assim que as coisas devem ser feitas”.

Embora não explicitamente, em algumas falas dos entrevistados encontram-se sutis indícios para identificação de estruturas de dominação no campo como se pode observar a seguir.

Não tem líderes, talvez, assim, algumas são mais centralizadas, como as companhias aéreas. Ou seja, não que elas sejam mais importantes, mas as companhias aéreas estão em poucas mãos e provavelmente se você for falar em Brasil você tem duas ou três companhias aéreas. Não sei se a gente poderia chamar de líderes mas talvez esse exemplo possa ressaltar um pouco(BRASIL, 13/08/02, entrevista).

Geralmente, quem tem maior peso é aquele que entra com maior tipo de recurso para investimento, então, quando a sociedade está organizada e tem recursos para investir, aquele que detém maior somatório de recurso é que tem mais força de decisão (LOYO, 12/11/02, entrevista).

Os hotéis têm maior pujança econômica. Hoje os agentes estão muito pobres, os agentes na época eram bons, hoje os agentes de viagens ganham pouco, mudou o sistema (...) Os hotéis têm um peso maior, as agências estão perdendo espaço (...) Na cadeia produtiva o hotel tem uma força econômica maior (...) A ABIH tem uma grande importância nessa relação porque ela é economicamente a entidade mais expressiva, porque ela desenvolve a atividade mais forte economicamente. A ABAV tem importância, numa reunião a opinião da ABAV vale, mas o peso da ABIH é maior porque ela repercute mais” (CADOCA, 19/08/02, entrevista).

De acordo com Batista (28/06/02, entrevista), “antigamente os hoteleiros se sentiam mais importantes. Há dez anos os hoteleiros eram os donos de engenhos, arraigados pela cultura canavieira. Tinham arrogância. Hoje, vieram a 2ª e 3ª gerações e com a oferta maior, os hoteleiros precisam dos agentes de viagens. Isso foi uma coisa natural, nada planejado”.

Porém, Correia (26/09/02, entrevista) que é do ramo hoteleiro, afirma justamente o oposto. Na sua opinião, “os empresários da hotelaria nunca tiveram muita força junto ao governo, apesar da cordialidade que existe, porque o contingente eleitoral é relativamente muito pequeno”.

Apesar das divergências de respostas, as companhias aéreas e os hotéis foram apontados como sendo os maiores detentores de recursos de poder.

Percebe-se que campo não é isento de influência políticas embora os jogos de poder sejam dissimulados. Certamente existem organizações que têm mais força para influenciar as políticas e a alocação de recursos no campo. Isto pode estar ligado ao tamanho da organização, aos recursos com que ela contribui e em função do sobrenome do proprietário em virtude das tradições de família, que é uma característica local muito forte.

Os jornais e informativos da área evidenciam, mesmo que de forma preliminar, que as ações governamentais fomentadas com o objetivo de desenvolver o turismo têm ocorrido, principalmente, através da pressão dos segmentos diretamente envolvidos nesta área. A iniciativa privada tem relativa penetração nas esferas de decisão pública e a implementação dos projetos é conduzida pelo "bom relacionamento" dos grupos privados com os agentes governamentais.

Porém, a partir dos dados coletados, não foi possível identificar com precisão as relações de dominação e padrões de coalizão existentes no campo. Como esta é uma questão delicada, não se elaborou uma pergunta direcionada a este tema e sim perguntas que indiretamente forneceriam subsídios para compreendê-lo. Porém, mesmo que tratado de forma indireta, muitos entrevistados demonstraram prudência ao falar sobre o assunto. Tal fato já é um indício de que existem estruturas interorganizacionais de dominação e estas parecem estar vinculadas às tradições históricas, à estrutura de classe e ao tipo de estratificação social no Estado.