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1. INTRODUÇÃO

3.3. SISTEMA DE INOVAÇÃO BRASILEIRO

3.3.2. As Fundações Estaduais de Amparo a CT&I

3.3.2.1. Estruturas e Processos das FAPs

A existência e consolidação das FAPs são vitais para o desenvolvimento econômico e social de uma região e para o sucesso de políticas de governo. Conforme mencionado no item 3.3.1, tratam-se de agências governamentais, geralmente ligadas às Secretarias de Estado de Ciência e Tecnologia, e que têm como missão fomentar o desenvolvimento científico e tecnologócio regional. Para isso, essas fundações são compostas, de forma geral, por:

Conselho Superior ou Curador, a quem cabe a orientação geral das fundações e as decisões de política científica, administrativa e patrimonial;

Conselho Técnico-Administrativo, que constitui a diretoria executiva das fundações e é formado pelo diretor- presidente, diretor científico e diretor administrativo; e Câmaras de Assessoramento Técnico-Científicas, constituídas por grupos de especialistas com reconhecida competência nos campos de atuação.

Os stakeholders no setor público, como visto no item 2.2.2.3, são entidades ou indivíduos afetados pelas intenções, objetivos, estratégias, atividades sociais e econômicas das entidades. Desta forma, no âmbito das FAPs, os stakeholders compreendem os gestores das FAPs, a sociedade, o governo, a comunidade científica e as empresas, como mostra a Figura 12.

Figura 12. Stakeholders das FAPs.

Fonte: Pacheco et al. (2010).

O grupo denominado de gestores das FAPs é composto pelos dirigentes dessas fundações, que se interessam pelo acompanhamento e desempenho das atividades. No âmbito do grupo sociedade têm-se os cidadãos do estado e das entidades organizadas interessados no papel da CT&I, no desenvolvimento cultural, social e econômico de sua região. Quanto ao grupo governo, tratam-se do governo estadual, do poder legislativo e dos órgãos de controle, interessados no resultado dos investimentos e nas oportunidades de desenvolvimento sócio- econômico proporcionados pelas FAPs. No grupo comunidade de CT&I incluem-se os especialistas, grupos de pesquisa, universidades e instituições de pesquisa e inovação partícipes do SRCT&I. Por fim, o grupo empresas abrange as organizações empresariais do sistema estadual de produção industrial, de serviços e do setor primário (PACHECO et al., 2010).

Para cumprir sua missão, as ações das FAPs são suportadas, de forma geral, por recursos financeiros provenientes basicamente de:

Recursos dos governos estaduais, os quais são originários dos orçamentos de cada unidade federativa e são garantidos, na maioria dos estados, por meio da definição de um percentual fixo sobre a arrecadação tributária estabelecido nas constituições estaduais; Fontes orçamentárias, originárias do Tesouro Nacional, que compõem os orçamentos ordinários das agências;

Fundos provenientes de recursos orçamentários extraordinários, como, por exemplo, FNDCT, Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT) e Fundos Setoriais;

Recursos privados originários do investimento de empresas privadas (SILVA, 2008).

Dentre as principais ações desenvolvidas pelas FAPs, destacam-se:

Estímulo, apoio e promoção do desenvolvimento científico e tecnológico;

Incentivo e fomento à pesquisa mediante a viabilização de programas e projetos (individuais ou institucionais) que contribuam para melhorar, ampliar e consolidar a competência técnico-científica no âmbito das universidades, centros de pesquisas e empresas;

Formação e capacitação de recursos humanos para a pesquisa (concessão de bolsas e auxílios);

Apoio na criação, fortalecimento e modernização da infra- estrutura necessária para o desenvolvimento de projetos de pesquisas;

Geração e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos;

Apoio à realização de eventos científicos e tecnológicos; Prestação de serviços técnicos e científicos à comunidade;

Realização e divulgação de trabalhos técnicos e científicos;

Participação no processo de desenvolvimento regional; Apoio na promoção do intercâmbio científico e tecnológico entre pesquisadores e instituições de pesquisa, em âmbito local, nacional e internacional; e Promoção da inovação tecnológica por meio do estímulo e apoio à transferência do conhecimento gerado nas instituições científicas e tecnológicas para as empresas. Essas diversas ações são agrupadas, de forma geral, em quatro grandes dimensões: fomento à pesquisa, fomento à

formação de recursos humanos, fomento à inovação e fomento à difusão de CT&I (PACHECO et al., 2010), consideradas os pilares que sustentam o SRCT&I. Nesse sentido, as FAPs desempenham em cada estado um papel triplo equivalente ao da CAPES, CNPq e FINEP juntos (BORGES, 2010).

A operacionalização de cada uma dessas dimensões se dá com base nos programas institucionais de fomento, os quais são executados obedecendo a um conjunto de seis macroprocessos: programatização, chamada pública (convocatória ou em fluxo contínuo), avaliação, implementação, acompanhamento e divulgação (PACHECO et al., 2010), ilustrados na Figura 13.

Figura 13. Macroprocessos das FAPs.

Fonte: Pacheco et al. (2010).

A programatização consiste na elaboração de programas institucionais que serão fomentados pelas FAPs. Tais programas são definidos por meio de políticas públicas de CT&I estabelecidas pelo governo estadual e federal. No âmbito do governo federal, isto ocorre, sobretudo, por meio de suas principais agências de fomento, CNPq, FINEP e CAPES. Na concepção dos programas, devem ser expressas as diretrizes, os objetivos, as metas, os cronogramas, bem como os indicadores de mensuração dos resultados e os impactos desejados.

Para cada programa institucional é elaborada uma chamada pública – ou edital, que tem por finalidade expor os objetivos, o cronograma e os critérios do programa a ser fomentado. Neste processo, é importante envolver todas as áreas da FAP que participarão da operacionalização, acompanhamento e mensuração dos resultados e impactos. A chamada pública deve ser amplamente divulgada junto aos

principais clientes da FAP, ou seja, a comunidade científica. Esse processo de divulgação de recursos também pode se dar por meio do que é denominado de fluxo contínuo, ou seja, linhas de atuação em que os pesquisadores podem submeter suas propostas a qualquer momento.

O processo seguinte é o de avaliação, que consiste no julgamento de mérito dos projetos, geralmente efetuado por consultores ad hoc. Trata-se, portanto, de um mecanismo de decisão no âmbito operacional que se baseia no processo de avaliação pelos pares. Assim, por meio da participação da comunidade científica, a análise e o julgamento dos projetos são efetuados baseados em critérios de excelência científica. De forma geral, esses critérios contemplam aqueles estabelecidos na chamada pública, além da observação para com os resultados almejados no programa, bem como os potenciais impactos das pesquisas propostas.

O processo de implementação consiste em formalizar a concessão de recursos aos projetos aprovados. É comum as FAPs fornecerem orientações aos pesquisadores, seja por meio de reuniões de trabalho, seminários ou documentos impressos acerca das normas da fundação relativas ao uso dos recursos, prestação de contas e avaliação de resultados, visando assim atingir os resultados esperados em relação ao programa que está sendo fomentado.

Quanto ao processo de acompanhamento, este se dá na fase de desenvolvimento do projeto, por meio de informações coletadas em formulários, visitas técnicas e/ou seminários. Trata- se de uma ação essencial que visa verificar se os objetivos estão sendo cumpridos e identificar possíveis desvios e corrigi-los dentro do prazo. É possível, ainda, identificar e solucionar entraves administrativos, orientar os pesquisadores para a apresentação do relatório técnico final, identificar os possíveis atrasos no desenvolvimento das atividades e/ou cumprimento do cronograma de execução do projeto, coletar dados para formulação de indicadores importantes para tomada de decisão e servir de base para identificar possíveis desvios no resultado final do projeto e programa.

O processo de acompanhamento contempla ainda a avaliação dos resultados finais do projeto, efetuada por meio de formulário a ser preenchido pelo pesquisador, visitas técnicas e/ou seminários. Algumas fundações solicitam que o relatório

final da pesquisa seja avaliado pelos consultores ad hoc que efetuaram a análise do projeto.

A avaliação dos resultados da pesquisa deve fornecer subsídios para que seja possível efetuar a avaliação do programa. Assim, devem ser obtidas informações sobre:

O cumprimento dos objetivos propostos;

Os resultados científicos, tecnológicos e de inovação gerados com a execução da pesquisa;

Os impactos sociais, ambientais, econômicos, científicos e de inovação;

A relevância dos resultados e impactos para a divulgação;

A possibilidade de geração de patentes e direitos autorais;

A relevância de posterior avaliação de impactos; e A possibilidade de continuidade da pesquisa.

A realização de seminários para avaliar os resultados da pesquisa é efetuada em alguns programas de algumas FAPs. De posse dos relatórios finais, os avaliadores têm a oportunidade de esclarecer dúvidas, oferecer sugestões, além de que o evento pode promover a aproximação de pesquisadores, a difusão do conhecimento e a divulgação dos resultados do programa. Assim, a avaliação final do programa deve ser suficiente para:

Informar sua eficácia e eficiência;

Servir de diagnóstico para dar suporte às decisões da FAP, bem como direcionar para novos programas;

Informar a sociedade sobre os impactos gerados; e Justificar ao governo e agências federais de fomento os recursos investidos.

Por fim, o processo de divulgação consiste em disponibilizar à sociedade em geral os resultados e impactos dos projetos fomentados pela FAP. Nesse processo, podem ser utilizadas ações como realização de seminários, simpósios, workshops, painéis, bem como a divulgação por meios de

comunicação, tais como boletins, revistas, televisão, rádio, jornais e site.

A gestão das FAPs é complexa, envolve diversos atores com divergentes interesses, diferentes ações e atividades, conforme acima apresentado. Desta forma, a necessidade de informações para o planejamento, acompanhamento e avaliação das ações dessas fundações, seja pela própria organização, seja pelo governo ou pelos diversos representantes da sociedade civil organizada, torna-se um imperativo.

Nesse sentido, Pacheco et al. (2010) desenvolveram um estudo voltado para a gestão e avaliação das FAPs, que resultou em um conjunto de indicadores estratégicos sobre as atividades dessas fundações, apresentado a seguir.

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