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Nas últimas décadas, fenômenos relacionados a transformações no contexto social, político e educacional (entre eles, o prolongamento da escolaridade e a elevação das taxas de desemprego, especialmente entre os jovens), às mudanças no campo da sociologia com a recomposição da problemática das desigualdades de escolarização entre classes sociais (Van Zanten, 1999), como também a uma renovação nas pesquisas, contribuíram para que os estudantes ocupassem um novo lugar nos estudos sociológicos em educação (Zago, 2006).

Ao se falar do estudante migrante, nota-se que ao ingressarem na universidade, muitos jovens, provindos de local distante de onde passam a estudar, vivenciam novas experiências, como distanciarem-se da família de origem pela primeira vez, residirem com outros estudantes e experimentarem a ausência da supervisão de adultos (Perkins, 2002). Os estudantes são atravessados por experimentações desruptivas, tanto no cotidiano na sua relação com pessoas – em suas redes sociais e de suporte social, com o tempo, espaço, língua, clima, alimentação, entre outros, como pelo próprio processo da formação e de produção de trabalho imaterial e cognitivo, considerando-se que o paradoxo e o sofrimento são constitutivos da migração (Fazito, 2010).

Quando grupos populacionais migram, como por exemplo, os estudantes, passam a se expor a várias mudanças, afetando assim suas áreas de desempenho ocupacional como: mudanças no ambiente físico, nas suas Atividades de Vida Diárias (AVD´s), nas suas Atividades de vida Práticas (AVP`s), Atividades de Vida de Trabalho (AVT`s), Atividades de Vida de Lazer (AVL`s), hábitos nutricionais, de moradia, entre outros. Aos quais podem

representar fatores de risco para problemas de saúde, acarretando, por exemplo, em prejuízos a qualidade de vida, em especial a qualidade de vida relacionada a saúde, quando se deslocam para centros mais complexos em áreas urbanas ou mais desenvolvidas (Cavalcanti, 1999). É possível afirmar que esta nova fase de experiências pode ser tanto benéfica, proporcionando independência e autonomia para o jovem, como também traumática e geradora de perda de saúde e de qualidade de vida. Tudo dependerá da maneira como o jovem se adapta à situação.

Estudos como o de Grignon e Gruel (1999) traçam um quadro bastante detalhado de vários aspectos da condição do estudante: financiamento dos estudos, moradia, transporte, alimentação, saúde, condições e hábitos de trabalho, relações com o meio de origem e com o meio estudantil, constituição das redes de apoio social, cultura e lazer. Uma pesquisa representativa do conjunto da população de estudantes permite observar diferentes dimensões do êxito e do fracasso (Zago, 2006).

Diante deste fato, com o aumento do número de jovens que buscam a educação superior no Brasil, exige-se cada vez mais um número maior de residências ou casas de estudantes no Brasil, e as condições dos cursos, bem como, as políticas públicas não acompanham as demandas existentes (Machado, 2007). As casas estudantis, de modo geral, são moradias que abrigam estudantes universitários oriundos de classes sociais de baixa renda. Elas reúnem pessoas que investem na escolarização como uma forma de encaminhar suas vidas, em busca de uma carreira, tendo para isso de deixar seu lugar de origem, afastar-se de suas famílias, para morar com outras pessoas em condições semelhantes (De Sousa & Sousa, 2009).

As informações históricas sobre as Casas de Estudantes são escassas, a primeira Casa a funcionar no território brasileiro foi a Casa do Estudante do Brasil, em atividade desde 1929. É interessante saber que exatamente em 1937, nessa entidade, se deu a fundação da mais importante agremiação estudantil brasileira, a Universidade Nacional do Estudantes - UNE. Pelo pouco registro que tem-se nos anais da história, a Casa do Estudante do Brasil era “um órgão para oficial e pretensamente “apolítico”

No contexto do ensino superior brasileiro, foi, a partir de 1964, com o golpe militar, que as universidades passaram a incorporar as casas estudantis. Uma pesquisa realizada pela Secretaria Nacional de Casas de Estudantes (SENCE), em março de 1993, mostra que as moradias estudantis, com exceção das repúblicas, são em regra, mantidas por alguma instituição externa. Na maioria dos casos, são as próprias universidades, predominantemente as federais, que as mantêm (De Sousa & Sousa, 2009). Assim, Barreto (2002) afirma que a casa estudantil faz parte da assistência universitária e é definida como um instrumento facilitador da política educacional, bem como uma ação de inclusão social e direito de cidadania.

Entretanto, pode-se entender esse complexo universo dos sujeitos moradores das casas estudantis como uma problemática social, na qual é ressaltada a desigualdade vivenciada pelos sujeitos. Em vista de sua condição socioeconômica e das impossibilidades que dela decorrem, muitos moradores sentem-se imensamente agradecidos; porém, há na situação de morar em casas estudantis muitas dificuldades que eles precisam enfrentar. Embora esteja assegurado a esses estudantes o direito de residir na cidade onde estão estudando, vale ressaltar que esse direito é concedido de um modo muito precário, tendo em vista as condições de moradia e de convivência. Isso traz consequências, muitas vezes, dolorosas, como o sentimento de estar numa condição inferior (De Sousa & Sousa, 2006).

Portanto, ao analisar a sociedade moderna, pode-se concluir que, um dos aspectos mais importante na vida de um estudante que migra para outro lugar é a importância de se ter um conhecimento de maior e melhor qualidade, expectativas melhores de vida, a autonomia e independência perante seus familiares (Cavalcanti, 1999). No entanto, a transição de um modo de vida pré-urbano para um mais modernizado, como no caso da migração estudada, pode acarretar em possíveis alterações nas redes de apoio social e de qualidade de vida (Nascimento, 2003).

2 Método