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3 REFLETINDO AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, IDENTIDADE,

4.2 Tipo de estudo, abordagem da pesquisa

A proposta para a realização deste estudo será por meio de uma pesquisa qualitativa, na modalidade de pesquisa-ação, aplicada a um grupo de crianças e adolescentes que participam de um programa que desenvolve atividades socioeducativas no município de Erechim, um programa desenvolvido pela Associação Atlética Banco do Brasil, o AABB Comunidade.

4.2.1 Pesquisa qualitativa

Segundo Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa tem seu berço na sociologia e na antropologia. Na sociologia, os estudos da Escola de Chicago, nas décadas de 1920 e 1930, determinaram a importância da pesquisa qualitativa para o estudo da vida de grupos humanos. No mesmo período, na antropologia, os estudos de Boas, Evans-Pritchard, Radcliffe-Brow e Malinowski traçaram os contornos para o método de trabalho de campo.

Nas Ciências Sociais, a pesquisa qualitativa se ocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, “com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser traduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 2011, 22)

Marconi e Lakatos (2006) entendem a pesquisa qualitativa como sendo capaz de incorporar a questão dos significados e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas. Sua finalidade, segundo Gaskell (2002), não é contar opiniões ou pessoas, mas explorar o espectro de opiniões, ou seja, as diversas representações sobre determinado assunto.

A abordagem qualitativa de um problema, conforme apontado por Richardson (1999, p.79), “pode ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social”. Complementa Richardson (1999) que, no que diz respeito a procedimentos metodológicos, as pesquisas qualitativas de campo, utilizam-se das

técnicas de observação e entrevistas, já as pesquisas documentárias, exploram a análise de conteúdo e a análise histórica. A observação, quando realizada adequadamente, podem revelar resultados surpreendentes, trazendo informações e fenômenos novos que tornam o trabalho do pesquisador desafiador.

4.2.2 Pesquisa-ação

Apesar de a Pesquisa-ação ser um método utilizado nos EUA desde os anos 40, por Kurt Lewin, a partir do qual foi disseminado pelo mundo, foi nos anos 70, na Alemanha, que a pesquisa-ação assumiu uma perspectiva emancipatória com Habermas. Na mesma época, na França, Barbier propõe a teoria de Pesquisa-Ação institucional, articulada à sociologia de Pierre Bordieu, dentre outros teóricos renomados (CHISTÉ, 2016).

No Brasil, as pesquisas participantes acompanham o movimento de redemocratização brasileira, na década de 1980, a ponto de o Ministério da Educação (MEC) promover um seminário sobre esse tema, que foi publicado na revista Em Aberto, em 1984. O retorno de Paulo Freire ao Brasil, após o exílio, contribuiu com a sistematização de eventos voltados à educação. Essas ações estenderam a discussão sobre métodos de pesquisa em educação. Destacam-se, nesse período, importantes produções: Pesquisa em educação: abordagens qualitativas, de Menga Ludke e Marlde; as obras de Carlos Brandão; Pesquisa-ação na instituição educativa, obra traduzida de René Barbier; e as publicações de Michel Thiollent, especialmente a obra Metodologia da pesquisa-ação (CHISTÉ, 2016).

Pesquisa-ação, segundo Thiollent (1998, p. 14) é:

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Na pesquisa ação, o pesquisador pretende desempenhar papel ativo na realidade onde os fatos são observados. Esse universo de trocas, entre pesquisador

e pesquisados, dá origem a um processo de interação entre o saber formal e o informal, resultando na produção de conhecimentos, a partir dos dados analisados (THIOLLENT, 1998).

Thiollent (2000, p. 16) destaca alguns dos principais aspectos da pesquisa- ação vista como estratégia metodológica da pesquisa social:

a) Há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada;

b) Desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;

c) O objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nesta situação;

d) O objetivo da pesquisa ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situação observada;

e) Há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação;

f) A pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados”.

Sendo assim, a pesquisa-ação adquire a forma de acordo com os objetivos e o contexto da pesquisa, na qual ela é aplicada. Este método de pesquisa busca a mudança de atitudes e de práticas, que novas situações e condições sejam criadas em decorrência de um projeto, por isso é muito importante a participação de todos. Para Barbier (2002, p.104) “trata-se de encontrar, na população submetida à investigação, as pessoas mobilizadas, os líderes de opinião, suficientemente interessados em uma ação ligada à reflexão” (BARBIER, 2002, p. 104).

Neste sentido, lembra Thiollent (2000), que a pesquisa-ação não se constitui apenas da ação ou da participação, uma vez que por meio desta metodologia é possível a produção de conhecimentos, a aquisição de experiência, contribuir com a discussão acerca das questões envolvidas.

A pesquisa-ação possibilita que pesquisador exerça um papel ativo na realidade observada, o que lhe permite vivenciar os diferentes sentimentos e dificuldades partilhados pelo grupo ou realidade observada e, isso, certamente fará parte do processo de reflexão proposto.

Escolhi a pesquisa-ação por acreditar que o trabalho em conjunto do pesquisador e dos sujeitos pesquisados, em torno de problema comum, pode transformar essa realidade, afetando a vida dessas pessoas. Um processo emancipatório e transformador tornar-se-á possível se as pessoas mudarem o seu olhar sobre mundo.