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Para realizar a investigação em questão, escolheu-se como método de investigação o estudo de caso. Este é definido por Yin (2001) como uma forma particular de investigação empírica, que estuda fenómenos actuais, no seu contexto, através de diversas fontes de dados (documentos, registos em arquivo, entrevistas, observação directa, observação participante e artefactos físicos) e constitui a melhor estratégia para responder às questões «como» e «por- quê» sobre um objecto de estudo. Stake (1998) acrescenta que o objectivo do estudo de caso deve ser a particularização, pois toma-se um caso particular e deve procurar-se conhecê-lo bem, compreendendo-o e destacando-se a sua unicidade.

Yin (2001) lembra também que ao se iniciar um estudo de caso é necessário ter em conta três aspectos: a capacidade de lidar com a diversidade de evidências; a habilidade de articular as questões de investigação e as proposições teóricas; a capacidade de produzir um plano de investigação (Yin, 1997). Cohen e Manion (1990) lembram ainda que o investigador de um estudo de caso observa as características de uma unidade, procurando analisar profun- damente e intensamente o fenómeno que constitui essa unidade, utilizando uma diversa gama de técnicas para recolher e analisar os dados, podendo estes ser de natureza tanto qualitativa como quantitativa. Também Coutinho (2011) defende que o estudo de caso se caracteriza em primeiro lugar por “se tratar de um plano de investigação que envolve o estudo intensivo e detalhado de uma entidade bem definida: o «caso»” (p. 293), chamando a atenção para o facto de existirem uma diversidade de categorias de «caso» que podem ser estudados no âmbito das Ciências Sociais e Humanas, como sejam “indivíduos; atributos de indivíduos; acções e inte- racções; actos de comportamento; ambientes, incidentes e acontecimentos; e ainda colectivi- dades” (p. 293).

Na nossa investigação, o caso é assim o Grupo Popular das Portelas na sua totalidade, sendo que se teve em conta a associação em si, as pessoas que dela fazem parte, as actividades

dinamizadas, bem como os comportamentos e interacções observados, recorrendo a um con- junto de técnicas de recolha de informação, as quais serão explicadas no ponto 2.4 deste capí- tulo.

Coutinho (2011) defende que o Estudo de Caso é “um dos referenciais metodológicos com maiores potencialidades para o estudo da diversidade de problemáticas que se colocam ao cientista social” (p. 293), referindo, no entanto, que esta metodologia de investigação não é fácil de realizar. Lessard-Hébert et al. (2010) referem mesmo que o estudo de caso, compara- tivamente com outros métodos de investigação, é:

“- o menos construído, portanto mais real; - o menos limitado, portanto o mais aberto;

- o menos manipulável, portanto o menos controlado” (p. 169), pelo que o investigador terá de estar pessoalmente implicado, abordando o seu campo de investigação a partir do seu interior, assumindo uma participação activa na vida dos sujeitos observados e uma análise em profundidade de tipo introspectivo. Foi o que procurámos fazer, na medida em que participá- mos activamente nas actividades da associação, comprometendo-nos e envolvendo-nos no que se estava passar, interagindo com os sócios e participantes presentes, mas encontrando, sempre que possível, momentos para reflectir e analisar as informações recolhidas, não per- dendo de vista o objectivo que nos levou até lá.

Na opinião de Carmo e Ferreira (1998) o estudo de caso caracteriza-se por ser um método particular, descritivo, heurístico, indutivo e holístico, porque se centra numa determi- nada situação, acontecimento ou fenómeno, descreve-o de uma forma detalhada e rica, leva à sua compreensão, usa o raciocínio indutivo e tem em conta a realidade global onde o mesmo se insere. Hitchcock e Hughes (1995) acrescentam ainda que o estudo de caso: produz uma narrativa cronológica; produz um debate interno entre descrição e análise dos acontecimentos; permite apresentar o caso para que seja possível captar a riqueza da situação. Os mesmos autores referem também, à semelhança de Lessard-Hébert et al. (2010), que o estudo de caso implica um envolvimento integral do investigador no caso a ser estudado.

De acordo com vários autores, o estudo de caso, ao ser construído, pode seguir dife- rentes propósitos. Yin (2001) diz-nos que o estudo de caso pode ser conduzido por um propó- sito exploratório, descritivo ou explanatório. Já Merriam (citado em Pérez Serrano, 1998a) identifica outros três propósitos: descritivo, interpretativo ou avaliativo. Stake (1994) por sua vez, enumera outros três propósitos: intrínseco, instrumental e colectivo. Sendo nossa inten- ção caracterizar o Grupo Popular das Portelas e conhecer aprofundadamente a sua actividade

(2001) e de Merriam (citado em Pérez Serrano, 1998a), pois recolheram-se uma série de dados com vista à descrição do fenómeno em questão, sem pretendermos generalizar as con- clusões obtidas ou formular hipóteses. Já no que se refere às tipologias de Stake, o nosso caso guia-se pelo propósito intrínseco na medida em que se procurou uma melhor compreensão da realidade do Grupo Popular das Portelas apenas pelo interesse despertado por aquela associa- ção em particular, não havendo qualquer pretensão de compará-la com outra ou mesmo aper- feiçoar pressupostos teóricos já existentes.

Carmo e Ferreira (1998) lembram também a necessidade de assegurar a validade do Estudo de Caso, uma vez que deve haver correspondência entre os resultados e a realidade, ou seja, os resultados devem traduzir a realidade estudada. Lessard-Hébert et al. (2010) defende que a “validade levanta o problema de saber se o investigador «observa realmente aquilo que pensa estar a observar», isto é, se os dados . . . obtidos possuem valor de representação e se os fenómenos estão correctamente denominados”(p. 68).

Em termos de validade, poder-se-á falar de assegurar a validade interna e/ou externa. Assim sendo, no âmbito da investigação realizada, procurou-se garantir apenas a validade interna, porque não é nossa intenção vir a generalizar os resultados obtidos. De forma a garan- tir esta validade, procurou-se seguir as recomendações de Lessard-Hébert et al. (2010), na medida em que utilizámos a observação participante, com bastante frequência, tendo-a com- binado com a aplicação de inquéritos por entrevista, tendo-se desta forma garantido aquilo a que os autores referem de «interacção pessoal a longo termo» entre o investigador e os indiví- duos observados, no contexto do Grupo Popular das Portelas.

Lessard-Hébert et al. (2010), citando Kirk e Miler, dizem mesmo que

Não existe outro procedimento para assegurar este tipo de validação senão uma interacção pessoal continuada. Não podemos estar absolutamente certos de que compreendemos todos os aspectos culturais inerentes a uma dada situação, mas o facto de ter em campo um investigador aberto e inteligente, possuidor de um bom quadro teórico e de um bom relacionamento, durante um longo período, constitui a melhor verificação da validade dos nossos conhecimentos. (pp. 75- 76)

Uma outra forma de garantir a qualidade da investigação, de acordo com vários auto- res é utilizando a estratégia da triangulação, a qual pode ser feita com várias fontes de dados, diferentes investigadores, teorias e/ou métodos (Reidy & Mercier, 2000; Lessard-Hébert et al., 2010; Carmo e Ferreira, 1998). No nosso caso, procurou-se utilizar a triangulação de investigadores, dado que toda a investigação foi acompanhada por um orientador, e também

partilhada com alguns colegas de mestrado, e a triangulação de várias fontes de dados, dado que foi utilizada mais que uma técnica de recolha de informação, conforme referido anterior- mente.

Ao usar o método de Estudo de Caso numa investigação, devem ser tidas ainda em conta as suas vantagens e desvantagens, para que se possa controlar o melhor possível a sua utilização. Pérez Serrano (1998a) destaca as vantagens e desvantagens mais significativas. Em relação às vantagens, a autora destaca a possibilidade de continuar a aprofundar um processo de investigação a partir de um conjunto de dados analisados estatisticamente, ser apropriado para investigações em pequena escala de um fenómeno limitado no tempo, no espaço e em recursos, de ser um método aberto, dando a possibilidade de ser retomado noutros indivíduos e instituições e pelo facto de dar aos participantes a possibilidade de participar nas decisões, e em âmbito de formação de profissionais, proporcionar situações de progresso nas tarefas escolares. Em relação às desvantagens, a mesma autora, destaca a dificuldade em efectuar generalizações dos resultados obtidos, o facto de o investigador estar directamente implicado na recolha e análise dos dados, o carácter confidencial dos dados e o controlo e manipulação dos dados por parte dos grupos interessados. No que se refere a estes últimos aspectos, a con- fidencialidade e a manipulação, procurou-se diminuir ao máximo estas desvantagens retirando o nome de todos os sujeitos participantes na investigação, não cedendo qualquer tipo de informação recolhida à associação antes de estar devidamente codificada, e procurando reflec- tir sempre sobre as informações recolhidas na tentativa de não nos deixar influenciar pelas declarações obtidas.