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ARTIGO 03 MUDANÇAS E ADAPTAÇÕES NOS MEIOS DE VIDA DOS

2. A ABORDAGEM DOS MEIOS DE VIDA

3.1 O estudo de caso, os procedimentos de campo e a análise de dados

A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso definido por Godoy (1995) como o exame detalhado de um indivíduo, lugar ou situação específica. É utilizado quando o (a) pesquisador (a) procura responder “como” e “por quê” certos fenômenos acontecem. Para Triviños (1987), apesar dos resultados levantados no estudo de caso não podem ser generalizados, uma vez que a grande contribuição neste tipo de pesquisa é fornecer o conhecimento mais detalhado de uma realidade delimitada no tempo e no espaço. Contudo, a representatividade de um caso poderá encaminhar outras pesquisas.

O município aqui retratado é Igarapé-Miri, situado no estado do Pará, região norte do Brasil e que possui uma forte trajetória ligada à atividade produtiva com açaí. Em se tratando da espécie Euterpe Oleraceae Mart, típico da Amazônia e das áreas de várzea, é onde se encontram as comunidades ribeirinhas localizadas as margens dos rios e que são considerados os agentes mais importantes nessa atividade que dá origem ao chamado açaí de várzea ou das ilhas.

Essa pesquisa compreende a realidade de quinze ribeirinhos que estão ligados a produção e ao mercado de açaí. As comunidades visitadas estão localizadas as margens dos rios nos seguintes povoados: Rio Mamangal, Rio Igarapé-miri, Santa Maria, Rio Meruú-açú, Mamangal Grande, São Benedito, Santo Antônio Velho, Santo Antônio Médio Maiuatá. Tais locais e atores foram escolhidos com base na possibilidade de acesso até suas residências. É

114 interessante notar que as comunidades são muitas vezes representadas pelo rio que corre no lugar.

A pesquisa caracteriza-se como descritiva e interpretativa, de abordagem qualitativa. Para Silveira e Córdova (2009), a abordagem qualitativa se preocupa com o aprofundamento da compreensão de um grupo social ou de uma organização, de modo que seja possível explicar o porquê das coisas, mas não é possível quantificar os valores e as trocas simbólicas, pois os dados analisados não são métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens. Quanto aos objetivos, o estudo descritivo é essencial quando se deseja descrever um fato ou fenômeno de uma dada realidade e não precisa se ater a mera exposição dos dados, mas também interpretar a natureza ou o motivo que ocasionou determinada situação (TRIVIÑOS, 1987).

Como instrumentos de coleta de dados, utilizou-se a entrevista semiestruturada, aplicadas durante os meses de agosto e setembro de 2018 e que foram baseadas em perguntas abertas previamente elaboradas (Apêndice 01), baseadas em onze categorias analíticas. Para manter a identidade preservada dos sujeitos da pesquisa, utilizou em suas identificações a simbologia Ex, onde “E” significado entrevistado (a) e “x” a ordem da entrevista, que variou de 1 a 15, que é o número total de pessoas entrevistadas.

A fonte principal de informações nesta pesquisa é com base nas fontes orais e imagens que foram coletadas em campo. Em relação às fontes orais elas representam as experiências dos sujeitos envolvidos que serviu de base para a reconstrução das mudanças ao longo do tempo no que concerne a vida nas várzeas. As entrevistas foram gravadas o áudio e em seguida realizou-se a coleta de material visual, como fotografias, sob a autorização dos entrevistados. Posteriormente, os dados foram transcritos integralmente e como técnica de organização e análise, utilizou-se a “análise de conteúdo” de Bardin (1977), realizada em três fases:

1) Análise geral do conteúdo levantado em campo (pré-análise): transcrição das entrevistas e leitura geral.

2) Aprofundamento na exploração do material: todos os depoimentos foram agrupados a partir das categorias estabelecidas conforme o roteiro de entrevista e confirmado na pré-análise do material obtido.

115 3) Interpretação dos dados: A análise foi realizada a partir de uma triangulação entre os conceitos abordados na revisão bibliográfica, a observação da pesquisadora e a análise de conteúdo das entrevistas.

Dessa forma, este capítulo centra-se em torno da temática sobre a utilização do açaí como principal fonte de renda de moradores das várzeas, de modo que as transformações no mercado do fruto implicaram em mudanças na forma de viver nas várzeas. Nesse sentido, as práticas e experiências dos atores, realçam o modo de organização de um espaço e as dinâmicas sociais que estão em constante dinamicidade.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Há nesse trabalho um esforço de compreender como as mudanças na economia do açaí têm definido as estratégias de reprodução social dos ribeirinhos. Assume-se que o meio em que os ribeirinhos vivem é lugar de relações sociais, que são construídas, produzidas, reproduzidas e redefinidas conforme seu espaço singular de vida. Esse espaço é construído por seus habitantes em função da convivência social estabelecida nos laços de parentesco e de vizinhança, a partir da vida cotidiana e dos ritmos dos acontecimentos que determinam o ciclo da vida. Contudo, tais coletividades não são isoladas, mas integradas aos espaços sociais mais amplos, por meio das complexas relações associadas ao mercado e à vida urbana.

É importante destacar que o ambiente onde os ribeirinhos vivem é, de fato, singular na sua categorização. Castro (2000), mostra que a reprodução do grupo associada à produção para o auto sustento é garantida por uma variedade de práticas que correspondem a adaptação dos ribeirinhos ao meio no qual vivem. Como destaca Cândido (1971, p.24), “esse modo de produção não deve ser considerado apenas como reprodução da existência física dos indivíduos, ele já é uma espécie determinada de atividades destes indivíduos, uma determinada maneira de manifestar sua vida, uma determinada maneira de viver destes indivíduos”.

De acordo com Hebink e Lend (2007), a construção de meios de vida são as formas que as pessoas encontram de recorrer a uma gama de recursos e combiná-los em um todo coerente, a fim de ganhar a vida. O meio de vida é, com muita frequência, equiparado apenas a ter um emprego ou a trabalhar, e é retratado como constituído por portfólios de recursos e atividades geradoras de renda. Porém, para estes autores, os meios de subsistência englobam variados repertórios culturais das pessoas e que não devem ser ignorados. Elementos como

116 estilo de vida e escolhas de valor, status, senso de identidade em relação a outros atores e formas locais de organização.

Assim, esse segmento de análise, busca demonstrar que a reprodução dos ribeirinhos sofreu e sofre constantemente mudanças e adaptações frente a novas condições sociais que estão inseridos. Por isso, para compreender a vida ribeirinha a partir das mudanças na demanda por açaí, foram definidas duas categoria de análise, o meio de vida social e ambiental. Cada categoria é formada por outras subcategorias que foram definidas com base nas entrevistas de campo.