• Nenhum resultado encontrado

Estudo da Colecção: metodologia

No documento Maria do Carmo Magalhães de Almeida Elvas (páginas 51-55)

5. A colecção de instrumentos científicos do MCUL

5.1. Estudo da Colecção: metodologia

Em Março de 2006 iniciei um estudo com Marília Peres e Samuel Gessner, no âmbito do projecto de musealização do Laboratorio Chimico, o qual em fase final de restauro, ditava a urgência da selecção dos instrumentos a constar neste espaço, com a finalidade de o abrir ao público (facto que aconteceu em Maio de 2007).

De facto, escrever sobre a história deste Laboratorio Chimico, espaço histórico do séc. XIX, agora integrado no MCUL, implica conhecer a evolução do espaço arquitectónico, a colecção de instrumentos científicos, os programas de ensino dos professores, desde Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, primeiro lente da Cadeira de química, até José Júlio Rodrigues, responsável pelo primeiro curso prático no Laboratorio Chimico.

O trabalho de pesquisa visava corroborar a existência material com fontes documentais, estabelecendo ligações entre a colecção e as fotografias, correspondência, relatórios, programas curriculares, compêndios de Química, entre outros documentos e fontes bibliográficas do arquivo histórico do MCUL.

Partimos de cerca de 40 objectos (dos cerca de 3000 itens que constituem a colecção de Química do MCUL) com o objectivo da sua identificação e reconhecimento nas fotografias existentes do Laboratorio Chimico e restantes fontes documentais, com o objectivo último de produzir informação (contextos de uso), a qual permita a sua selecção ou não, para figurarem

34

no Laboratório a musealizar. Várias dificuldades e questões cruciais surgiram, contribuindo para uma reflexão82 sobre a relação entre a história das ideias em Química e a cultura material.

Já sabemos que o Laboratorio Chimico constitui uma excelente oportunidade de estudo a historiadores de ciência: mantém a sua traça original e a sua sobrevivente colecção testemunha as condições do ensino experimental da Escola Politécnica no final do séc. XIX. Como já foi referido anteriormente, a Escola Politécnica definida como uma instituição de ensino superior científico ministrava, não apenas matérias preparatórias para engenharia civil e militar e outros oficiais cuja preparação exigia uma certa qualificação técnica, mas igualmente um curso completo (5º curso) constituído por todas as disciplinas nela professadas, inicialmente em número de dez, entre as quais, a denominada 6ª Cadeira denominada “Chimica geral e noções das suas principais applicações às artes”, a qual respeitava ao ensino da Química. Esta Cadeira era leccionada no segundo ano da maioria dos cursos. Em 1859, uma Cadeira adicional foi criada: Análise Química e Química Orgânica.

Com intuito de implementar o ensino experimental nestas duas Cadeiras, vários professores da EPL tentaram organizar um curso prático (à semelhança das escolas de Paris e Heidelberg), que permitisse aos alunos executar o que haviam observado nas aulas teóricas demonstradas. O primeiro professor, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, tentou conceber um laboratório com as condições necessárias à realização das experiências que faziam parte do Programa curricular e que constam nos seus três volumes do seu manual “Lições de Chimica Geral e suas principaes applicações”83. Mais tarde, outros professores, António Augusto de

Aguiar, Vicente Lourenço e José Júlio Rodrigues, contribuíram para a melhoria das condições laboratoriais mas, como já foi referido, foi com José Júlio Bettencourt Rodrigues que as primeiras aulas práticas de Química ocorreram. Este professor foi o responsável pela renovação do Laboratorio Chimico entre 1888-1890.

A selecção dos objectos a estudar foi feita com base na análise das imagens originais do Laboratorio Chimico. Uma vez identificados, constituíram o ponto de partida para o trabalho de pesquisa, através do qual tentamos responder às seguintes questões:

1. Quais dos objectos presentes actualmente no MCUL fizeram parte do Laboratorio

Chimico? E por quanto tempo foram usados?

82 ELVAS, M. C. PERES, I. M. GESSER, S. (2009). The Laboratorio Chimico of the Museum of Science,

University of Lisbon: Reflections on documenting a collection. In The Laboratorio Chimico Overture:

Spaces and Collections in History of Science. Marta Lourenço & Ana Carneiro (ed.). Museu de Ciência da

Universidade de Lisboa, p. 185-194.

83 PIMENTEL, J. M. (1850). Lições de Chymica Geral e suas Principaes Applicações

– Tomo Primeiro, Lisboa;

PIMENTEL, J. M. (1851). Lições de Chymica Geral e suas Principaes Applicações – Tomo segundo, Lisboa;

PIMENTEL, J. M. (1852). Lições de Chymica Geral e suas Principaes Applicações – Tomo terceiro, Lisboa.

35

2. Qual foi o seu contexto de uso durante o período do ensino e investigação no

Laboratorio Chimico?

3. Quais deles, foram supostamente usados no Laboratorio Chimico mas já não se encontram na colecção?

4. Quando, a quem e para que funcionalidade, foram adquiridos?

Deparamo-nos com três tipos de fontes:

1) Objectos, as suas inscrições, etiquetas e marcas de uso;

2) Manuais dos Professores, onde as experiencias científicas se encontram descritas e as montagens experimentais ilustradas e enciclopédias recomendadas para o ensino desta disciplina, as quais serviram de referência para os professores e alunos; os catálogos auxiliam na datação dos objectos.

3) Imagens originais, cerca de 20 fotografias e ilustrações, algumas delas datadas; artigos científicos publicados pelos professores, substitutos e assistentes da 6ª Cadeira. Facturas e outros documentos administrativos, nomeadamente, o inventário de 1854, visto que muitos equipamentos eram usados durante décadas. Programas curriculares (anteriores a 1900, existem apenas os relativos aos anos lectivos 1860/61; 1864/65; 1872/73; 1877/78; e 1898); relatórios administrativos e correspondência.

Deparámo-nos com várias dificuldades, uma vez que os objectos em estudo encontravam-se em condições de materialidade e documentais diferentes:

1. Encontram-se objectos científicos na colecção do Museu, representados e identificados nas imagens originais e também noutros documentos. A sua singularidade confirma-os como equipamento pertença ao Laboratorio Chimico e provavelmente foram usados nos trabalhos práticos. Exemplos deste tipo de objecto são os gasómetros;

2. Alguns objectos encontram-se representados e identificados nas imagens originais e também noutra documentação, mas não se encontram presentes na colecção;

3. Outros, encontram-se representados e identificados nas imagens originais e também noutra documentação, existem na colecção, mas são de uso tão comum que se tornam difíceis de datar com exactidão. Ex. Retortas de vidro;

4. Alguns objectos presentes na colecção podem ser identificados através de documentos de despesa ou facturas mas não se encontram representadas em

36

nenhuma das 20 imagens contemporâneas da Escola. Ex. Espectroscópio de Bunsen- Kirchhoff;

5. Uma pequena parte da colecção de química não se encontra referida em nenhuma fonte documental mas devido à existência de determinadas características pode ser considerada como equipamento do Laboratorio Chimico. Por exemplo, funis (fig.5.1), marcados com a inscrição 6ª Cad., marca usada na época para marcar o material da 6ª

Cadeira.

Fig. 5.1 - Funil de vidro da 6ª Cadeira, MCUL.2410

(Foto: M. C. Elvas; cortesia MCUL)

Existem também vários frascos de reagente marcados (fig.5.2):

Fig. 5.2 - Frasco de reagente da 6ª Cadeira, MCUL.3415

(Foto: M. C. Elvas; cortesia MCUL)

Este estudo teve como objectivo visar a importância do cruzamento entre fontes documentais e as materiais na construção de contextos para objectos e fazer a ponte entre a História das Ideias em Química e a cultura material do acervo de Química existente neste museu.

37

No documento Maria do Carmo Magalhães de Almeida Elvas (páginas 51-55)