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Estudo de campo

No documento wagnerdasilvadias (páginas 35-39)

1.3 Indicações metodológicas

1.3.1 Estudo de campo

Este estudo de campo foi efetuado durante o processo de escolha das escolas e foi determinante para a delimitação do estudo de caso. Observamos a movimentação de outras escolas localizadas em loteamentos novos, atento ao fluxo de crianças nos momentos de entrada e saída e a localização de escolas próximas. Ressaltamos que não houve uma observação com as pretensões de uma pesquisa etnográfica, mas como parte de uma iniciativa de reconhecimento da problemática dentro da cidade de Boa Vista.

As seis escolas municipais distribuem-se assim: duas estão no bairro Cidade Satélite; uma no bairro Equatorial; uma no Conjunto Habitacional Cruviana, no bairro

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A autora realiza um comparativo entre as concepções de Robert Yin e Robert Stake, apontados como os autores especialistas reconhecidos em estudos de caso.

Laura Moreira; uma no Conjunto Habitacional Pérolas do Rio Branco (I à VII), no bairro Airton Rocha; uma no bairro Nova Cidade, adjacente ao Conjunto Habitacional Pérolas do Rio Branco. As escolas do bairro Equatorial e do bairro Nova Cidade não possuem habitações do PMCMV, mas atenderam os estudantes dos bairros do programa das imediações10.

Invariavelmente, estas escolas municipais localizadas nos extremos da cidade possuem mais de mil estudantes matriculados e são classificadas pelo governo municipal como unidades educacionais de grande porte. As duas escolas municipais do bairro Cidade Satélite são de grande porte, corroborando a demanda crescente encontrada nas periferias da cidade.

Estas duas escolas municipais despertaram o interesse de uma investigação mais apurada. Foi o bairro que mais recebeu empreendimentos do PMCMV, que contribuiu para um crescimento populacional mais acelerado, e cria uma demanda imediata por serviços públicos a cada inauguração de um destes conjuntos habitacionais. As duas escolas do bairro são de grande porte, são muito próximas entre si e poderão chegar ao limite de oferta de vagas em pouco tempo. As outras também apresentaram aspectos que despertaram interesse, sobretudo à escola do bairro Nova Cidade, que atendeu por alguns anos os estudantes provenientes do conjunto Pérolas do Rio Branco até que o conjunto tivesse sua própria escola municipal.

Retomando o estudo de campo como estratégia de pesquisa, antes da definição da instituição de ensino visitamos as duas escolas do bairro Cidade Satélite, citadas anteriormente, e aplicamos uma entrevista semiestruturada sobre os conceitos de entorno e comunidade escolar (Apêndice A) e sobre o perfil do gestor e da gestora (Apêndice B), de modo a se aproximar destas escolas.

Para o conceito de comunidade escolar nos apoiaremos em Teixeira (2010), cujo entendimento é bastante interessante dentro da proposta que trazemos. A autora parte da ideia de que comunidade escolar é referente aos “seguimentos que participam, de alguma maneira, do processo educativo desenvolvido em uma

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O Conjunto Habitacional Cruviana do PMCMV pertencia ao bairro Equatorial no momento de sua inauguração. Recentemente criam-se novos bairros em Boa Vista, incluindo os citados do Cruviana, Murilo Teixeira Cidade e Laura Moreira. O bairro Airton Rocha é da mesma lei. A criação de novos bairros, através de leis aprovadas pela Câmara Municipal de Boa Vista, refletem a expansão da mancha urbana em direção à zona oeste do município.

escola”. Estes seguimentos podem incluir, numa visão mais ampla, organizações que atuem no bairro, como sindicatos e associações de bairro, por exemplo.

Numa discussão em torno do conceito de comunidade, a autora resgata críticas em relação ao uso conceito, mas recorre a autores que ressignificam a comunidade “como condição essencial para a construção de escolas democráticas”, em que se conclui que “o mais importante é o compartilhamento de um projeto educativo eleito por todos que dele desejem participar”. Esboçando uma conclusão, os dois conceitos dialogam na medida em que procuramos entender as relações da escola com sua vizinhança e com o contexto territorial em que está inserida.

Como dito anteriormente, nos interessava saber do/a gestor/a sua concepção de comunidade escolar e entorno. Para tanto, o não direcionamento foi fundamental para que os dados fossem relevantes e reveladores. A especificidade foi aquela em torno dos tópicos que interessam à pesquisa, ligados especificamente à escola em questão.

O espectro não foi definido por pautas rígidas, permitindo ao entrevistado inserir outros elementos que certamente contribuirão para nossas análises; e a profundidade e contexto pessoal permitiram que o entrevistado pudesse revelar a subjetividade de sua experiência profissional, visão de mundo, entre outros posicionamentos, o que, em última instância, nos permitirá revelar qual é o papel da escola na sociedade na concepção daquele/a gestor/a.

Não custa lembrar que, para o sucesso das entrevistas e, consequentemente, a busca por informações relevantes, buscou-se o melhor local e o melhor momento para que elas fossem realizadas.

Por mais que se saiba, hipoteticamente, aquilo que se está buscando, adquirir uma postura adequada à realização de entrevistas semiestruturadas, encontrar a melhor maneira de formular as perguntas, ser capaz de avaliar o grau de indução da resposta contido numa dada questão, ter algum controle das expressões corporais (evitando o máximo possível gestos de aprovação, rejeição, desconfiança, dúvida, entre outros), são competências que só se constroem na reflexão suscitada pelas leituras e pelo exercício de trabalhos dessa natureza (DUARTE, 2002, p. 145).

Concordando com Duarte, o gestor e a gestora foram abordados de acordo com suas disponibilidades, totalmente à vontade quanto à hora e ao local (no caso, o ambiente dentro da escola). Ressaltamos que realizamos as duas visitas no

período de recesso ao final do ano letivo de 2017 e o momento de aplicação do questionário e da entrevista não sofreu interrupções.

Depois de completado o questionário e o roteiro de entrevista, convidamos o gestor e a gestora para delimitar no mapa de Boa Vista qual é o entorno da sua escola, sob o pretexto de precisar de uma informação visual para a construção da tese. Foi oferecido para a atividade um mapa do bairro Cidade Satélite com a localização das duas escolas e um lápis.

Esta atividade foi reveladora, pois corroborou ou confrontou as respostas da entrevista. Observaremos os critérios que cada entrevistado utilizou para delimitar o entorno da escola, que também foram passíveis de registro na seção apropriada, mais adiante. Adiantamos que o/a gestor/a esteve livre para usar os critérios que julgaram pertinentes, porém sem nossa intervenção11.

Desta forma, o produto gerado será aquele unicamente produzido por aquele/a gestor/a acerca daquela escola. Cabe-nos apenas registrar como e o que foi delimitado no mapa, e depois estabelecer conexões do mapeamento com a discussão nesta tese.

Por fim, a tabulação e interpretação das informações à luz da bibliografia específica, dos dados coletados nas entrevistas, questionários e no “mapeamento” do entorno, das informações das escolas e da Secretaria de Educação do município, fornecerão diversas possibilidades para compreender o papel que a Geografia poderá exercer na própria gestão da escola.

No entanto, consideramos fundamental a formação dos/as gestores/as para que desenvolvam suas ações a partir de uma “sensibilidade para o território”, entendida como “uma capacidade de considerar o que ocorre na cidade e no entorno escolar como fenômenos a serem considerados no cotidiano de estudantes e profissionais da educação” (LAWALL, TEIXEIRA; 2019), qualificando o entorno das escolas sob sua responsabilidade e, por fim, compreendendo as demandas que o entorno exige da gestão, sobretudo quanto ao quantitativo oriundo de projetos como o PMCMV.

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Para a atividade, consideramos a indicação da referência principal – a escola – e a escolha de referências conhecidas pelo entrevistado para escolher os limites e traçá-los no mapa. Fizemos como auxílio (e não como intervenção) para que a atividade pudesse ser realizada. É comum encontrarmos pessoas com dificuldades de compreender os mapas, sobretudo porque são elaborados para a visão vertical da superfície. A transposição da visão frontal para a visão vertical não é automática e pode revelar que a pessoa possui dificuldades com a linguagem cartográfica.

2. URBANIZAÇÃO DE BOA VISTA E A EXPANSÃO DAS UNIDADES

No documento wagnerdasilvadias (páginas 35-39)