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Estudo de caso

No documento Epidemiologia (páginas 132-136)

Previdenciário (NTEP)

Aula 20 Estudo de caso

Nesta aula, teremos um estudo de caso. Faremos uma análise dos problemas ocorridos.

Segundo Lourenço e Bertani (2007), em seu artigo publicado na Revista Bra- sileira de Saúde Ocupacional (São Paulo, 32 (115): 121–134, 2007), Saúde

do Trabalhador no SUS: desafios e perspectivas frente à precarização do trabalho, uma das situações apresentadas refere-se à questão do aci-

dente de trabalho propriamente dito, ocorrido em 26/06/1996, explicita- do pela história do trabalhador rural, Aparício da Silva (nome fictício), em acompanhamento social no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST) de Franca-SP, que se prontificou a ser sujeito desta reflexão a partir do Consentimento Livre e Esclarecido.

20.1 A invisibilidade social dos acidentes

de trabalho

Aparício trabalhava numa importante fazenda de criação de gado em um município próximo a Franca-SP. O mesmo perdeu a perna esquerda durante o exercício do seu trabalho, aos 25 anos de idade. O trabalhador enfrenta a situação dolorosa da deficiência física provocada pelo trabalho e também pela consequente exclusão deste.

Aparício refere que no dia do acidente trabalhou durante o período notur- no “arando” terra e parou por volta das 4 horas da manhã. Ao guardar o maquinário (trator), foi abordado pelo empregador que lhe pediu para moer o “trato” do gado, uma vez que o funcionário responsável por essa função havia faltado. Segundo ele, tentou argumentar que estava cansado, mas diante da insistência, assumiu a função.

Lembra-se que o tempo estava chuvoso e o chão escorregadio, estava sozi- nho manuseando a máquina de moer “trato” para o gado quando escorre- gou e teve a sua perna puxada pela máquina.

Segundo Aparício:

“Não sei direito o que aconteceu, mas graças a Deus que a máquina travou. Eu tentei não dormir, porque estava sozinho, fui socorrido por um colega por volta das 8 horas e isso aconteceu a pouco mais das 4 horas, então não sei como não morri”.

O trabalhador foi socorrido e levado pelo Serviço de Resgate à Santa Casa de Franca. Lá recebeu todos os cuidados e orientação quanto à Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Mas, ao solicitar a CAT, o empregador foi convencido de que não era necessário, pois eles (empregadores) lhe dariam tudo o que precisasse. Na época, Aparício residia com a sua mulher e os três filhos em casa de propriedade da fazenda onde era funcionário: “Achei por bem seguir a orientação do patrão e não mexi mais com isso, com a CAT”, disse Aparício.

Aparício foi periciado inúmeras vezes no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e, segundo ele, sempre relatou o motivo da perda da perna. Após ter conseguido, em 1998, a perna mecânica via SUS (Programa de Órtese e Pró- tese do Núcleo de Gestão Assistencial - NGA), deixou de receber do INSS um salário mínimo integral, e passou a receber apenas uma parte, equivalente, atualmente, a R$119,00 (cento e dezenove reais) por mês, uma vez que, na visão do seguro social, ele teria condição de trabalhar.

Contudo, para o empregador, ele não servia mais para trabalhar em nenhu- ma função. Após um tempo do ocorrido, foi dispensado. Os empregadores venderam a fazenda e se mudaram para a região de Mato Grosso do Sul. O fato é que, mesmo sendo jovem, a deficiência física associada à falta de educação formal, limitou as possibilidades de inserção no mercado de tra- balho:

“Ficou muito difícil porque fui criado na roça e é só isso que sei fazer. Eu andei arranjando alguns serviços, mas logo não me pegavam mais, alegavam que era perigoso e que eu poderia me machucar de novo”. (Aparício)

O desemprego, a falta de moradia, a deficiência física (desencadeada pelo acidente de trabalho) levaram Aparício a enfrentar sérias dificuldades eco- nômicas e sociais que, dentre outros, favoreceram a dissolução familiar. Sua

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Aula 20 - Estudo de caso.

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esposa mudou-se para Franca com seus três filhos, em busca de emprego e melhores condições de vida. Aparício passou a residir de favor com o pai, que é idoso.

Portanto, o estudo de caso mostra que, apesar do avanço das políticas pú- blicas, dos direitos sociais, trabalhistas e políticos, os acidentes do trabalho continuam fazendo vítimas, onde junto com a perda da capacidade de pro- duzir, perdem também a autonomia, a autoestima, a família e passam a figurar nas estatísticas dos problemas sociais.

No caso do trabalhador Aparício, os seus direitos não foram respeitados e em jornada de trabalho estendida, cansado, sofreu o acidente de trabalho. O fato da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) não ser emitida, transformou-se num complicador a mais, pois como você aprendeu, o en- quadramento incorreto do acidente, ocasiona perdas ao trabalhador. E para finalizar, fica o mau exemplo do empregador que aleija, adoenta e mata, e repassa à sociedade os custos da desatenção com a saúde do tra- balhador.

Resumo

Nesta aula, você conheceu a história do Aparício, um trabalhador da área rural, que sofre um acidente grave com mutilação, e perde uma perna. Para o acidente não foi emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Após inúmeras perícias no INSS e ter conseguido uma perna mecâ- nica no SUS é considerado apto ao trabalho, porém a falta da reabilitação profissional não permitiu a sua volta ao mercado de trabalho e provocou a separação familiar.

Este relato mostra as consequências de um acidente de trabalho ou doença ocupacional.

Então, reforçamos o papel do profissional de saúde e segurança do trabalho e sua importância na prevenção de acidentes, bem como na orientação ao acidentado, para buscar o seu amparo legal, a fim de minimizar as consequ- ências indesejáveis advindas do acidente.

Para saber mais sobre reabilitação profissional, acesse:

http://www.previdencia.gov.br/ conteudoDinamico.php?id=149

Atividade de aprendizagem

• Leia outros dois estudos de caso (A informalidade e a invisibilidade so- cial dos possíveis acidentes de trabalho e Trabalho Infantil) no link:http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303765720070001 00011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

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