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Estudo de públicos no quadro museológico português

No documento ESTUDO DE PÚBLICOS DO MUSEU DE SÃO ROQUE (páginas 43-48)

Capítulo II: Os estudos de públicos em contexto museal: breve

4. Estudo de públicos no quadro museológico português

O estado da arte no domínio dos estudos sobre os públicos dos museus em Portugal é ainda pouco animador. Embora encontre representatividade na Lei Quadro

114 “(…) la investigación museística y los estudios de público intentam determinar la calidad de la organizatión, programas y personal de un museo, tal como la perciben los visitantes y otros grupos de interés, puede considerarse que una parte de la investigación museística actual es investigación de marketing” - KOTLER, Neil; KOTLER, Philip – Estrategias y marketing de museos, p. 189 ; “What this means is that visitor surveys should be closely linked to a marketing policy and that such a policy in turn should be geared towards achieving the highest possible use of the museum's facilities consistent with comfort and safety.” - HUDSON, Kenneth – “Visitor studies: luxuries, placebos, or useful tools?”, p. 39

115 Vd. ASCENCIO, Mikel; POL, Elena; GOMIS, Marina – Planificación en Museología: El Caso del Museu Marítim de Barcelona. Barcelona: Museu Marítim, 2001.

dos Museus Portugueses116, é uma área pouco aprofundada no contexto português e apenas explorado por um reduzido número de investigadores, o que não impede que exista um considerável volume de informação, sobretudo a nível académico, e um esforço no sentido da sua conceptualização.

Num estudo exploratório com carácter parcial e coordenado por Inês Bettencourt da Câmara117, apurámos que, de um total de 59 museus inquiridos, 97% afirma efectuar um controlo anual de visitantes, criando bases estatísticas de análise que dependem do modo de contagem dos visitantes na sua grande maioria segmentados por tipologias. Assim, apenas 3% não efectua este controlo. Quanto à realização de “estudos de público”118 69% admite faze-lo e 31% não o efectua. Mediante os estudos e as técnicas utilizadas pelos museus inquiridos, constatámos que são na sua grande maioria estudos descritivos com recurso ao inquérito por questionário e à análise do registo de visitantes119.

Num universo mais alargado, as estatísticas da cultura de 2008120 indicam-nos

que num total de 321 instituições inquiridas121, através do Inquérito aos Museus do Instituto Nacional de Estatística (INE), 308 efectuaram um controlo de visitantes e 13 não o fizeram. Esta disparidade de valores é justificável pelo artigo 56.º, da Lei Quadro dos Museus Portugueses, o qual sujeita as instituições museais a procederem ao registo dos ingressos de visitantes e dos utilizadores de outros serviços122, proporcionando um

conhecimento rigoroso dos públicos do museu123.

Numa breve revisão sobre a bibliografia dos estudos de públicos no contexto museológico português, destacamos o trabalho inédito de Margarida Lima de Faria em 1989 sobre Avaliação da Eficácia do Discurso Museológico: um estudo sobre os

visitantes e a experiência global da visita e o estudo de âmbito local sobre a exposição

O Homem, o Trabalho e a Fábrica – Industria no concelho de Vila Franca de Xira do

116 “O museu deve realizar periodicamente estudos de público e de avaliação em ordem a melhorar a qualidade do seu funcionamento e atender às necessidades dos visitantes.” - LEI nº 47/2004 - Capítulo IV, artigo 57.º.

117 Vd. CÂMARA, Inês Bettencourt da (coord.) - Inquérito sobre Serviços Educativos e Comunicação em Museus – Estudo exploratório, p. 47-55.

118 A autora referencia que o conceito não foi previamente definido aquando do envio do inquérito. 119 Cfr. CÂMARA, Inês Bettencourt da (coord.) - Inquérito sobre Serviços Educativos e Comunicação em Museus – Estudo exploratório, p. 48

120 Vd. INE - Estatísticas da Cultura 2008 [Em linha]. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística. [Consult..29.Jan..2010]..Disponível.em.WWW:<URL:http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid =ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=71447036&PUBLICACOESmodo=2>.

121 Museus, Jardins Zoológicos, Botânicos e Aquários. 122 Centro de documentação, biblioteca ou reservas. 123 Cfr. LEI nº 47/2004, Capítulo IV, artigo 56.º, ponto 1.

Museu Municipal de Vila Franca de Xira em 1996124, inserido nos tipos de avaliação

sumativa, em que o objectivo é avaliar o produto final, (…) através da aplicação de um questionário125.

Realçamos também uma das investigações desenvolvida pelo Observatório das Actividades Culturais (OAC) sobre os museus municipais de Cascais126, durante o período de 2000 a 2004. Este estudo de caso apresenta-se como um dos mais consistentes e sistemáticos, realizado em instituições museológicas nacionais. Os autores efectuaram uma análise do contexto museístico específico, a partir da análise estatística do número de frequentadores dos espaços museológicos e da implementação de inquéritos que contemplavam vários aspectos - os perfis sociológicos dos visitantes; as condições e motivações da visita; a recorrência desta e sua avaliação pelo próprio inquirido – permitindo caracterizar os diferentes públicos que acorreram aos museus municipais da cidade de Cascais. As conclusões deste estudo dotaram os responsáveis dos museus de uma base de informação para a tomada de decisões e caminhos a seguir, assente numa melhoria da comunicação entre as entidades museológicas e os seus públicos.

Em 2000 foi assinado um protocolo entre o antigo Instituto Português de Museus127, o INE e o OAC com o propósito de criar a Base de Dados Museus (Bdmuseus), desenvolvida pelo observatório. Esta visa a produção de dados sobre o quadro museológico nacional, é actualizada regularmente e acompanha a evolução do sector através do recenseamento e caracterização dos museus existentes128.

Existem ainda mais duas fontes estatísticas de bastante relevância sobre os museus nacionais: o Inquérito aos Museu aplicado anualmente pelo INE; e o Inquérito

aos Museus em Portugal129que apresenta a caracterização da realidade museal de 1999 a 2000, segundo um conjunto de variáveis, a análise dos resultados deu lugar à construção da Bdmuseus.

114 Vd. CAMACHO, Clara F. – «Conhecer melhor os utilizadores dos serviços museais: um estudo sobre a exposição “O Homem e a Fábrica – Industria no concelho de Vila Franca de Xira”». In Actas do VII Encontro Nacional Museologia e Autarquias. Seixal: Câmara Municipal do Seixal, 1998. p. 217-230. 125 CAMACHO, Clara F. – «Conhecer melhor os utilizadores dos serviços museais: um estudo sobre a exposição “O Homem e a Fábrica – Industria no concelho de Vila Franca de Xira”», p. 219.

126 SANTOS, Jorge Alves dos; NEVES, José Soares - Os Museus Municipais de Cascais. Políticas Culturais Locais e Património Móvel.

127 Actual Instituto dos Museus e da Conservação (IMC). 128 Cfr. Fontes e Referências Bibliográficas, p. 74, 83-85.

129 Vd. SANTOS, Maria de Lourdes Lima dos (coord.) [et. al.] - Inquérito aos Museus em Portugal. Lisboa: Ministério da Cultura/Instituto Português de Museus, 2000.

Todos estes estudos foram e são apoiados por métodos quantitativos, permitindo produzir dados com regularidade e um retrato exaustivo das estruturas e dinâmicas do panorama museológico português, onde se podem retirar importantes informações dentro da temática do estudo de públicos.

A transformação e evolução que o sector dos museus portugueses sofreu desde de 2000130, incrementou a produção de trabalhos académicos que têm como pano de fundo o estudo de públicos, segundo determinadas áreas de investigação e tipologias de públicos. Alguns destes trabalhos apresentam-se sobre a forma de dissertações de mestrado numa vertente multidisciplinar, não se cingindo somente à museologia, mas também ao marketing e áreas afins, muitos deles ultrapassam a mera análise descritiva para explorarem aspectos preponderantes para a experiência museal do visitante131.

Em relação a investigações actuais, temos conhecimento que se encontra a decorrer um estudo ao público da Casa das Histórias Paula Rego, com um período temporal de Dezembro de 2009 a Março de 2010, no âmbito de uma dissertação de mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.

Numa vertente externa ao campo museológico, o Teatro Nacional D. Maria II está a realizar um estudo aos seus públicos, com a duração de treze meses, contando com o apoio do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra132. O resultado esperado é a constituição de um Observatório dos Públicos do Teatro D. Maria II.

Mediante o que foi sucintamente apresentado sobre o panorama do estudo de públicos em Portugal, destacamos cinco características:

a) A escassez de trabalhos realizados por iniciativa dos museus e de trabalhos apresentados a público, demonstra um sentimento de não aceitação dos resultados em vez de serem encarados como ferramentas de gestão e programação;

b) A falta de quadros técnicos preparados para realizar estudos desta envergadura, leva os museus a recorrerem, quase sempre, a acordos de cooperação com universidades, para acolhimento de estudantes que desenvolvam trabalhos nesta área, bem como à prática de trabalho em equipa com outras instituições ou entidades;

130 Com o aparecimento de novos museus, a criação da Rede Portuguesa de Museu e a aprovação da Lei Quadro dos Museus Portugueses de 19 de Agosto de 2004.

131 Cfr. Fontes e Referências Bibliográficas, p. 72.

c) O receio que os estudos de cariz académico, nomeadamente os casos de estudo, não tenham repercussão na planificação e programação museológica;

d) O direccionamento da grande maioria das investigações realizadas sobre os públicos dos museus, para a análise do público, através de estudos descritivos das características dos visitantes, com recurso a inquéritos ou análise de fontes estatísticas, só uma pequena parte apresenta avaliação de exposições, actividades ou programas educativos;

e) O esforço em incrementar uma prática regular de análise sobre os dados estatísticos correspondentes ao registo de visitantes como primeiro passo para a concretização de um estudo mais profundo e directo sobre os públicos.

Terminamos com uma afirmação de Perez Santos que serve para sintetizar a realidade vigente e uma visão de futuro próximo - (…) la base está consolidada, los

errores cometidos deben servir para mejorar en el futuro, la investigación de público de museos (…) debe dar un salto cualitativo a partir de ahora. Investigar al público de los museos, realizar evaluaciones de exposiciones y actividades, conocer la satisfacción del visitante con los servicios museísticos es, sin lugar a dudas, una tarea imprescindible y pendiente (…) que no debe dilatarse por más tiempo133.

133 Vd. SANTOS, Eloísa Pérez - “El estado de la cuestión de los estudios de público en España”. In mus- A – El público y el museo, Ano VI, nº 10. Sevilla: Consejería de Cultura. Junta de Andalucía. Dirección General de Museos y Arte Emergente, Outubro 2008, p. 25.

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