• Nenhum resultado encontrado

Psicopatia, Criminalidade e Empatia: resultados de uma amostra prisional portuguesa

Alberto Óscar Pereira de Almeida Vagaroso

Departamento de Educação e Psicologia Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Cabeçalho: PSICOPATIA, CRIMINALIDADE E EMPATIA

Psicopatia, Criminalidade e Empatia: resultados de uma amostra prisional portuguesa

Alberto Óscar Pereira de Almeida Vagaroso Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Resumo

A psicopatia é um construto psicológico caracterizado por um cluster de traços comportamentais, interpessoais e afectivos singulares. Enquanto construto frequentemente associado a condutas anti-sociais e à prática de crimes, a literatura vigente de um modo geral, afirma que os défices afectivos na empatia são a principal causa para tais condutas desviantes. Neste sentido, a presente investigação teve por objectivo averiguar a relação entre psicopatia e empatia e suas componentes, cognitiva e afectiva, numa amostra forense (n=61), de forma a entender se as dificuldades empáticas se revelam importantes no fenómeno da psicopatia e na conduta criminal numa amostra portuguesa.

Inicialmente, os instrumentos usados foram submetidos à análise de componentes principais. No teste das hipóteses, as análises não confirmaram a relação entre o grupo com índices de psicopatia mais elevados e a empatia a nível estatístico (p=.059), todavia, ao nível da componente afectiva da empatia foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p=.03), entre os grupos de psicopatia na amostra forense.

Mais dados são necessários para que se possa efectivamente comprovar a relação dos défices afectivos com a psicopatia.

Palavras-chave: Psicopatia; Empatia; Empatia cognitiva; Empatia afectiva; Violência; Crime; Reincidência.

Abstract

Psychopathy is a psychological construct characterized by a cluster of behavioral, interpersonal and emotional unique traits. As a construct often associated with antisocial conducts and criminal practices, the current literature in general, says that the affective deficits in empathy are the main cause for such deviant behavior. In this follow, this study aimed to investigate the relationship between psychopathy and empathy and its components, cognitive and emotional, in a forensic sample (n = 61) in order to understand if the empathic difficulties prove to be important in psychopathy phenomenon and in criminal conduct, in a portuguese sample.

Previously, the instruments used were subjected to principal component analysis. In the hypothesis test, the analysis could not confirm the relationship between the higher levels psychopathy and empathy at statistical level (p=.059), however, at the emotional empathy were found statistical differences (p=.03) among the groups of psychopathy in the forensic sample.

More data are needed so that we can actually prove the relationship between affective deficits and psychopathy.

Key-words: Psychopathy, Empathy, Cognitive empathy, Affective empathy, Violence, Crime, Recidivism.

Psicopatia, criminalidade e empatia: resultados de uma amostra prisional portuguesa

O mundo do psicopata surge-nos ainda tão distante, existindo, quiçá, numa realidade espácio-temporal apartada da nossa. Condenados judicialmente e pela luneta humana, e particularmente portuguesa, propensa a vilipendiar indivíduos com arquitecturas cerebrais e funcionais tão complexas e argutas.

Despojado de tais entraves conceptuais, partirei para a caracterização dos construtos que norteiam o presente estudo, a psicopatia e as suas específicas falências ao nível do processamento afectivo, nomeadamente, na empatia. Acrescento ainda, que não há qualquer intento de traçar um quadro nosológico da psicopatia, reforçando o seu afastamento das categorias das perturbações da personalidade (e.g. PASP), pois considero que, de facto, partilham certos pontos comuns como a conduta anti-social, contudo a etiologia da psicopatia repercute-se numa disfunção de formas muito específicas no processamento emocional, que a afasta do eixo das perturbações da personalidade, e, naturalmente, tornando a população com psicopatia única e distinta (Blair, Mitchell, & Blair, 2005). Além disto, espero que as considerações e resultados reportados pelo estudo sejam a melhor bandeira para cimentar o construto de psicopatia aos olhos da comunidade científica.

Com efeito, Hare (1996) teoriza que a psicopatia é uma perturbação socialmente devastadora, definida por uma constelação de características afectivas, interpessoais e comportamentais, incluindo o egocentrismo, a irresponsabilidade, emoções superficiais, ausência de empatia, culpa e de remorso, mentira patológica, manipulação e uma persistente violação das normas sociais. Em adição, características como a ausência de empatia “variam em grau e intensidade” (Pereira, Moreira, & Gonçalves, 1999, p. 1046) caminhando em direcção à abordagem dimensional do construto de psicopatia. Esta referência faz todo o sentido uma vez que a presente investigação procura averiguar a relação entre a empatia e a psicopatia, e é muito possível que ocorram diferentes níveis de falência de empática entre a população estudada, sendo reflexo dos possíveis diferentes grupos com distintos índices de psicopatia.

No que concerne ao estilo de vida anti-social crónico, Hare (1996) reitera que a personalidade dos indivíduos com psicopatia é claramente compatível com a propensão para transgredir as regras e as expectativas da sociedade, no que respeita ao processamento afectivo, Mitchell e Blair (2000) assumem que a disfunção emocional

dos psicopatas reside primariamente ao nível da empatia, que por sua vez, contamina toda a sua interacção social pautando-se por uma egocentricidade exacerbada,

“dominando e manipulando os que rodeiam, de um modo frio e calculista” (Pereira, et al., 1999, p. 1046).

Em relação à empatia, Moore (1990) assume que a empatia tem sido considerada como uma componente organizadora e reguladora de uma vasta variedade de comportamentos. Apesar deste comum acordo, a investigação empírica tem sido marcada pelas dificuldades de definição e de operacionalização do construto de empatia. De acordo com Decety e Jackson, (2004), esta pode ser entendida, de um modo geral, como uma natural capacidade de compreender as emoções e os sentimentos dos outros, seja face a uma situação real que se esteja a testemunhar, ou a visualizar uma fotografia, a ler algo num livro de ficção científica, ou, simplesmente imaginada.

Todavia, a empatia é descrita como um fenómeno multi-variado, composto não só pelas capacidades cognitivas em predizer o afecto do outro, mas também, pela capacidade de corresponder de forma vicariante ao estado emocional do outro (Moore, 1990). Em complemento, Beven, Hall e O’Brien-Malone (2006a) assumem que a resposta empática não se circunscreve apenas à preocupação empática, devendo ser traduzida ainda, pela existência de alguma resposta afectiva às pistas de mal-estar do outro.

Decorrente dos pressupostos citados, é lícito assumir o carácter multi- dimensional de tão complexo construto, crendo-se que o mesmo seja composto por duas dimensões, a empatia cognitiva, que consiste no reconhecimento e entendimento de como os outros se sentem, e a dimensão afectiva, que subsiste na susceptibilidade do sujeito em partilhar sentimentos e/ou ser contagiado emocionalmente pelos outros (Dadds et al., 2009). Em jeito de conclusão acerca deste ponto, apesar da frágil harmonia no seio da comunidade científica quanto ao conceito de empatia, o presente estudo adopta a perspectiva de Blair (2008) que reitera que existem indubitavelmente duas classes de processamento onde o termo “empatia” pode ser verdadeiramente aplicado - a empatia cognitiva e a empatia afectiva.

Recuperando o que fora anteriormente exposto, a ausência de empatia é, então, uma das características da psicopatia ao nível do processo afectivo. Oportunamente, Holmqvist (2008) propôs-se a estudar com mais afinco esta relação e apurou que a psicopatia está fortemente associada com a baixa consciência de sentimentos como a vergonha e com reduzidas pontuações ao nível da empatia. Em adição, Flight e Forth

(2007) detectaram que entre indivíduos com esta patologia, se registava a nível afectivo, uma ausência de remorso e de empatia e uma falha na aceitação da responsabilidade pelas acções. Sendo a empatia fundamental para a promoção de acções pró-sociais (Moore, 1990), é fácil descortinar que a sua ausência pode precipitar a participação do indivíduo com psicopatia em comportamentos de índole agressiva e/ou violenta, uma vez que a literatura assume que a empatia e o comportamento violento estão negativamente relacionados (Jolliffe & Farrington, 2004), bem como também com a prática de crimes em geral (Beven et al., 2006a).

Numa análise mais profunda Hunter, Figueredo, Becker e Malamuth (2007) afirmam que a empatia afectiva aparece mesmo como principal mediadora nas influências na propensão dos agressores sexuais jovens na participação em delitos com e sem índole sexual. Contudo, também ao nível da empatia cognitiva se encontram razões para estas condutas anti-sociais violentas, como o facto de os psicopatas “não

entenderem os sentimentos dos outros”, e isso os levar a interpretar “com facilidade a sua violência ou comportamentos fraudulentos como um conjunto de comportamentos aceitáveis” (Lobo, 2007, p. 22).

De um modo geral, o estudo empírico vigente considera que a psicopatia está mais relacionada com défices nos aspectos emocionais do que com défices nos aspectos cognitivos (Holmqvist, 2008). Além disto, segundo Dadds et al. (2009), o psicopata, pode ser caracterizado como alguém que reconhece ou verbaliza o “como” e o “porquê” dos sentimentos das outras pessoas, isto é, com níveis normais de empatia cognitiva, mas que permanece emocionalmente indiferente, ou seja, com défices na empatia afectiva.

Na mesma linha, Beven (2006), admite que é plausível que os aspectos cognitivos da empatia nos agressores violentos funcionem plenamente, e que apesar da sua precisão em entender ou apreender o estado emocional do outro, estes indivíduos simplesmente não experienciem respostas afectivas. De facto, num estudo de carácter desenvolvimental, foi descoberto que quantos maiores os traços de psicopatia, menores são os níveis de empatia afectiva nos indivíduos do sexo masculino (Dadds et al., 2009). Já na empatia cognitiva, os maiores défices foram encontrados somente em populações adolescentes (Dadds et al., 2009), mas não em adultos.

As investigações, de grosso modo, apontam na direcção de escassas indicações que as populações categorizadas com psicopatia e com altos níveis de comportamento anti-social estejam associadas com dificuldades na empatia cognitiva (Blair, 2005;

Blair, 2008; Smith, 2006). Acresce-se, ainda, que a relação entre agressão e a frequência de tomada de perspectiva do outro (a empatia cognitiva), no que respeita à população adulta não implica necessariamente que os agressores violentos participem neste processo de tomada de perspectiva em menor grau que os agressores não violentos ou mesmo que os não agressores (Beven, O’Brien-Malone, & Hall, 2006b). Contudo, há excepções na literatura no que concerne aos praticantes de crimes sexuais, nomeadamente os abusadores sexuais de crianças (Elsegood & Duff, 2010).

Em síntese, o estudo da empatia e das suas componentes, deve ser estimulado, conceptualizando sempre a empatia cognitiva como a capacidade de observar os actos do outro sujeito, procurando entende-los, efectuando, de seguida as reacções emocionais congruentes aos sentimentos e circunstâncias dos outros, ou seja, a empatia afectiva (Dadds et al., 2009), pois só desta forma se evidenciará como este fenómeno se articula com a psicopatia.

Noutra esfera, a relação entre psicopatia e o cometimento de comportamentos criminais é atestado pela literatura (Soeiro & Gonçalves, 2010), além disto, as dificuldades na empatia cognitiva e/ou afectiva permite aos psicopatas cometerem um tipo de violência mais específica que os demais agressores ou criminosos sem psicopatia. Sendo assim, para diversos autores (Lobo, 2007; Woodworth & Porter, 2002; Woodworth & Porter, 2007), os indivíduos com esta patologia participam com mais facilidade em actos de violência predatória ou instrumental, isto é, actuam com mais calculismo e sem contexto emocional (Flight & Forth, 2007), em detrimento da violência afectiva, que não apresenta os mesmos predicados.

Na opinião de Woodworth e Porter (2002) o homicídio é a mais severa forma de comportamento anti-social, e talvez por isto, o crime preferido pelos indivíduos com psicopatia. Todavia, é premente trazer à luz do discernimento que enquanto que alguns homicídios são calculados, compostos por actos instrumentais ou predatórios, outros são caracterizados por uma aparente falta de premeditação, com reacções a sangue quente ou em resposta a uma situação provocativa (Woodworth & Porter, 2002).

Contudo, a realidade nacional evidencia que o protótipo do psicopata português não é descrito pela atracção pelo crime contra a vida ou a pessoa, de forma bárbara ou sanguinária. Na verdade, a relação entre crimes violentos e psicopatia difere quanto a outros países, pois, em amostras portuguesas, confirma-se a existência de um grupo considerável de psicopatas que cometeram homicídio ou crimes sexuais, existindo em

simultâneo, um vasto número indivíduos com psicopatia que escolheram cometer crimes contra a propriedade, nomeadamente o furto ou roubo (Gonçalves, 1999).

Deste modo, é autorizado deduzir que o psicopata não se confina à prática de crimes carregados de violência e com recurso a ofensas à integridade física contra a pessoa, ou em casos mais extremos, crimes sexuais ou mesmo o homicídio. As suas características afectivas permitem explorar outras áreas menos bárbaras de ponto de vista pessoal, até porque os crimes contra a propriedade como a burla, o furto ou roubo, não estão isentos de violência de carácter predatório ou instrumental.

No seio da comunidade científica se levanta outro debate que recai na relação entre psicopatia e a reincidência. De um modo geral, a literatura actual é magnânima a reconhecer que existe uma associação entre psicopatia e reincidência (Edens, Campbell, & Weir, 2006; Harris, Rice, & Cormier, 1991; Jolliffe & Farrington, 2004; Serin, 1996), e entre as dimensões subjacentes ao construto de psicopatia (estilo de vida anti-social e défices interpessoais/afectivos) e reincidência criminal (Walters, 2003).

Ainda neste sentido, a relação parece mais vincada em indivíduos com psicopatia condenados por homicídio (Laurell & Daderman, 2005). Com efeito, são os indivíduos com maiores índices de psicopatia que reincidem com mais frequência, cometendo novas ofensas de vários tipos e mais graves e violentas (Seto & Barbaree, 1999; Tengström, Grann, Langstrom, & Kullgren, 2000). Todavia, quando foi relacionada a empatia e a reincidência criminal diferentes resultados foram encontrados, verificando-se a ausência de diferenças ao nível da empatia para os grupos do estudo (criminosos primários, reincidentes e não criminosos) [Kendall, Deardoff, & Finch, 1977]. De qualquer modo, pode-se inferir que tanto a psicopatia como os seus traços a nível do estilo de vida anti-social, interpessoal e afectivo, estão relacionados com a reincidência criminal, sendo importante averiguar se os défices afectivos ao nível da empatia interferem na tendência criminal e delituosa tão associada à psicopatia.

De regresso ao tópico central, a literatura, num grosso modo, associa os construtos de psicopatia e empatia, todavia, devido à especificidade da amostra prisional do presente estudo, onde sobressai a existência de vários crimes como o de tráfico de estupefacientes e o de condução sob o efeito de drogas/álcool, antevê-se que se trata de uma amostra onde o consumo de substâncias está presente, o que pode ter influenciado a conduta criminal do indivíduo, actuando como variáveis mediadoras entre a psicopatia, a violência e a empatia. Isto impeliu a uma revisão teórica acerca deste tema.

Assim, num estudo com uma amostra constituída por consumidores de drogas injectáveis (e.g. heroína) onde se investigou a relação entre este consumo e o diagnóstico de psicopatia e de perturbações associadas como a PASP, foi identificado que apesar do diagnóstico de PASP entre os consumidores de drogas injectáveis estar associado ao termo psicopático, na verdade apenas uma baixa percentagem de consumidores com características anti-sociais podiam ser considerados como psicopatas, ao possuírem a sintomatologia específica desta condição (Darke, Kaye, & Finlay-Jones, 1998). No que concerne ao álcool, este tem sido conceptualizado como um catalisador de violência a situações já por si violentas (Walsh, 1999), no entanto, foi descoberto que em indivíduos dependentes de álcool categorizados como psicopatas, esta substância não fora interpretada como um pré-requisito para causar danos graves (Walsh, 1999). No que respeita à relação entre empatia e consumo de álcool, Martinotti, Di Nicola, Tedeschi, Cindari e Janiri (2009) identificaram que a existência de uma empatia mais reduzida não se devia ao consumo de álcool, mas sim ao facto da população estudada ser fértil em indivíduos com o cluster B das desordens da personalidade, agrupamento este usualmente caracterizado por um baixo nível de empatia.

Estas considerações não ilibam a influência do consumo de substâncias sobre o diagnóstico de psicopatia e as suas características ao nível das tendências anti-sociais e da disfunção do afecto, mas, evidenciam que não é só pelo simples consumo das mesmas, que o indivíduo possua critérios para ser diagnosticado com psicopatia e participe em mais actos violentos ou criminosos.

Posto isto, e a par de outros estudos na actual literatura (Mullins-Nelson, Salekin, & Leistico, 2006), o presente estudo pretendeu explorar a relação entre traços de psicopatia e a empatia, bem como as suas dimensões, a empatia cognitiva e a empatia afectiva, numa amostra prisional.

A pesquisa transacta, de um modo geral, focou-se em analisar se existe relação entre a ausência de resposta empática em geral em indivíduos que participem sistematicamente em comportamentos agressivos e/ou violentos. Contudo, a pesquisa futura necessita de ter presente a natureza multidimensional desta relação, investigando, de seguida, os padrões específicos das respostas empáticas presentes em agressores institucionalizados (Beven, 2006), e mais especificamente, em indivíduos a cumprir pena, categorizados com psicopatia. É nesta linha de investigação que o presente estudo já se engloba. Em suma, a pertinência do estudo é consubstanciada pelas afirmações de

Decety e Moriguchi (2007), que apontam para a falta de empatia como a razão de um profundo distúrbio e a uma redução de funcionalidade na interacção social, sendo, então, importante, estudar este aspecto no domínio da psicopatologia.

Assim, o presente estudo teve como principal objectivo averiguar se a empatia aparece deficitária com o aumento do grau de psicopatia e descobrir qual a componente da empatia (cognitiva ou afectiva) que se apresenta mais deficitária na população forense, caso se confirme algum défice numa destas componentes na amostra forense. No que concerne aos objectivos específicos, o estudo pretende (i) averiguar a relação entre psicopatia e a empatia, como a presença ou ausência de défices na empatia geral na amostra prisional, (ii) detectar se ambos os tipos de empatia (cognitiva/afectiva), de forma independente, apresentam ou não défices de acordo com os maiores níveis de psicopatia na população reclusa, (iii), apurar se a empatia é capaz de discriminar diferentes grupos quanto ao tipo de crime, (iv) descobrir se a empatia consegue discriminar os grupos quanto à reincidência criminal, (v) identificar diferenças ao nível das médias de psicopatia e da empatia entre as distintas amostras do estudo (prisional e comunitária), e, por fim, (vi) assinalar as possíveis diferenças ao nível das médias da empatia cognitiva e afectiva entre populações independentes.

Decorrentes dos objectivos expressos são formuladas as seguintes hipóteses nulas de estudo:

H1 – Espera-se que não existam diferenças significativas entre os níveis de psicopatia e níveis de empatia na amostra prisional;

H2 – Vaticina-se que não existam diferenças significativas nos reclusos entre os níveis psicopatia e a dimensão cognitiva, e (H3) entre os níveis de psicopatia e a dimensão afectiva da empatia na amostra prisional;

H4 – Preconiza-se que não existam diferenças significativas entre os tipos de crime e a empatia geral;

H5 – Antevê-se que não existam diferenças entre os reclusos reincidentes e não reincidentes (réus primários) ao nível da empatia;

H6 – Ambiciona-se que não existam diferenças significativas nas médias de psicopatia geral e de empatia geral entre as populações independentes do estudo;

H7 – Intenciona-se que não existam diferenças significativas entre as populações independentes do estudo nas médias de empatia cognitiva, e (H8) nas médias de empatia afectiva.

Método

O presente trabalho pode-se dividir em duas partes. A primeira parte diz respeito ao estudo de replicação da adequação da estrutura de componentes principais, dados das amostras recolhidas, por meio da análise de componentes principais (ACP) dos instrumentos utilizados: o Inventário de Auto-Relato de Psicopatia (IAP) versão portuguesa da Self-Report Psychopathy Scale (SRP-III-12; Williams, Paulhus, & Hare, 2007; versão adultos), adaptada por Simões, Cardoso, e Gonçalves (2010) e do Inventário de Empatia (IE), versão portuguesa da Basic Empathy Scale (BES; Jolliffe & Farrington, 2006), adaptada por Cardoso e Simões (2010); a partir da amostra comunitária recolhida e que servirá os interesses da presente investigação. A segunda parte corresponde ao teste das hipóteses sob investigação entre a psicopatia e a empatia e respectivas componentes desta última e as características jurídico-legais da amostra prisional.

Participantes

Este estudo recorreu a dois tipos distintos de amostragem para a selecção e colheita dos dados para constituir a amostra comunitária e a amostra prisional. Sendo assim, no primeiro caso, recorreu-se a uma amostra de conveniência. No segundo caso, recorreu-se a um tipo de amostragem não probabilística, já que a escolha dos elementos não dependeu da probabilidade mas sim de causas relacionadas com as características da pesquisa (Sampieri, Collado, & Lucio, 2006), desta vez assente na colheita de dados de indivíduos-tipo, uma vez que a recolha destes dados implicou a estada e a passagem de inventários de auto-resposta em diversos estabelecimentos prisionais.

Como é possível observar na tabela 1, a amostra comunitária é composta por 393 indivíduos de ambos os sexos, tendo sido recolhida na zona norte de Portugal. Os

Documentos relacionados