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Estudo da Prevalência de Obstipação e Uso de Laxantes pelos Utentes da Farmácia

A) OBSTIPAÇÃO E PREVALÊNCIA DO CONSUMO DE LAXANTES – Análise e

7. Estudo da Prevalência de Obstipação e Uso de Laxantes pelos Utentes da Farmácia

37 Este estudo foi realizado por intermédio de um questionário anónimo por mim elaborado (Anexo 28), e colocado aos utentes da FM, em que foram conseguidas 41 respostas válidas. O software que permitiu a obtenção de gráficos representativos das opções dos utentes foi o Microsoft Excel 2013®.

O inquérito também foi por mim preenchido, com as respostas dadas pelos utentes da FM, sem os questionar de forma direta, mas sim com recurso a um diálogo aberto em que, com as informações que iam sendo obtidas, as respostas iam sendo preenchidas.

7.1 Caracterização Sociológica dos Inquiridos

Os inquéritos foram colocados a todos os utentes que: manifestaram intenção de adquirir um produto laxante; pediram aconselhamento no que diz respeito a sintomas obstipantes; ou que levantaram uma prescrição de outrém incluindo um medicamento laxante, respondendo neste caso, pelo doente que iria tomar o medicamento, mas apenas se conseguisse responder a todas as perguntas através do conhecimento que possuía do doente para o qual estava a adquirir medicação, de forma a validar o questionário.

O questionário permitiu, em primeiro lugar, separar o sexo feminino do sexo masculino: 61% do sexo feminino e 39% do sexo masculino, sendo que a idade média foi de 68,3 anos, com a média feminina nos 70,1 e a masculina nos 63,8 anos.

7.2 Resultados e Discussão

A média de idades calculada corrobora que a obstipação é uma patologia que assola principalmente o setor mais idoso da população, com uma média de idades avançada.

A primeira questão técnica (Figura 1) é relativa à existência ou não de sintomas de obstipação prévios por parte do utente. Em caso de existência, categorizaram-se doentes a partir do número de vezes que já haviam apresentado estes sintomas: 1 a 10 vezes ou mais do que 10 vezes.

Apenas um utente nunca tinha experienciado sintomas obstipantes até à data da sua visita à FM, significando que, no lado diametralmente oposto, 97,56% dos utentes sentiram previamente sintomas de obstipação, e mais de metade já tinha sofirdo sintomatologia de

1 18 22 0 5 10 15 20 25

Não 1-10 vezes >10 vezes

Número de vezes que apresentou sintomas obstipantes

38 obstipação por mais de 10 vezes na sua vida, o que, sem poder extrapolar diretamente, pode querer dizer que a grande maioria sofre de obstipação crónica.

De forma a confirmar esta consideração, os utentes foram questionados sobre o porquê do recurso a fármacos laxantes, sendo que as suas respostas (Figura 2) são claramente elucidativas:

Quando inquiridos acerca da razão que os conduzia à FM para adquirir um fármaco laxante, 85,37% dos utentes referiram sentir sintomas obstipantes, com a maior incidência naqueles com sintomatologia crónica, acarretando, por isso, uma atenção redobrada no aconselhamento, uma vez que existem guidelines no que concerne à terapêutica farmacológica nestes casos. Apenas dois utentes nunca tinham recorrido a laxantes, e três apenas o faziam devido à realização de algum meio de diagnóstico clínico que requeria um esvaziamento intestinal.

O critério de escolha do laxante a que os utentes recorrem também foi um fator tido em conta, uma vez que pode acessar questões de auto-medicação ou de recomendações dadas por indivíduos não qualificados.

Podemos ver na Figura 3 que mais de metade dos inquiridos escolhe um determinado laxante após consultar um médico. Por outr lado, mais de um terço recorre a certo laxante porque é o que o faz sentir confortável. Neste caso existem duas formas de interpretação: sendo a obstipação também definida como algo que causa desconforto ao doente pelo tipo de sintomas que origina, o facto de um doente se sentir bem com a atual terapêutica é positivo; porém, existem casos em que, apesar de ser a experiência pessoal a ditar a toma de um laxante

2 10 25 3 0 0 5 10 15 20 25 30 Não Obstipação ocasional Obstipação crónica

Exame médico Emagrecimento

Razão pela qual recorre a laxante

Razão pela qual recorre a laxante

37%

54% 7%

2%

Critério de escolha de laxante

Experiência pessoal Recomendação médica Recomendação de outrém Forma farmacêutica

Figura 2-Razão pela qual o utente recorre a um certo laxante

39 em particular, o farmacêutico pode intervir no sentido de apresentar opções terapêuticas melhores e/ou menos lesivas para o utente.

Ainda é possível discernir que 7,32% dos utentes toma um laxante específico por recomendação de alguém menos qualificado (opinião de amigos ou familiares, para citar alguns exemplos), tornando o diálogo com o utente de extrema importância, de forma a perceber se o laxante em causa é, de facto, o mais indicado para a sua situação. Apenas um utente (2,44%) revelou que a forma farmacêutica é o que leva em consideração na hora da escolha de um laxante.

Um dos pontos mais sensíveis do questionário prendeu-se com o número de vezes por semana a que o utente recorre à toma, seja de que laxante for. O erro associado a esta questão pode prender-se com o facto de haver esquemas posológicos diferentes, que poderá influenciar a resposta dada. No entanto, através da Figura 4, percebemos que as respostas divergem de modo mais equilibrado: o destaque vai para os 29,27% de utentes que apenas usa ocasionalmente um laxante, o que quer dizer que, após a resolução do problema, a toma cessa, revelando uma atitude responsável desde tipo de fármaco.

Por outro lado, 21,95% dos utentes chega a utilizar fármacos laxantes quatro ou mais vezes por semana, o que pode atestar duas coisas: a severidade dos sintomas, ou a perceção exagerada da severidade dos sintomas, sendo que a ambos os casos deve ser dada especial atenção. De modo mais equilibrado, 48,78% dos inquiridos recorre ao fármaco laxante entre uma a três vezes numa semana.

12 6 14 9 0 2 4 6 8 10 12 14 16

Ocasionalmente 1 vez por semana 2-3 vezes por semana >3 vezes por semana

Número de vezes que recorre a laxantes

0 4 16 31 0 5 10 15 20 25 30 35

Emoliente Expansor de volume Osmótico De contacto

Tipo de laxante a que recorre Figura 4-Número semanal de vezes a que o utente recorre a laxantes

40

61% 39%

Tem por hábito fazer exercício físico?

Sim Não

Uma das questões colocadas mais importantes prende-se com o tipo de laxante utilizado por quem sofre de obstipação, quer seja crónica ou aguda. Embora as guidelines apresentadas sugiram que o tratamento farmacológico da obstipação por recurso a laxantes deva começar por um laxante emoliente, a partir da interpretação da Figura 5 verifica-se que não é algo seguido pelos utentes, a avaliar pela percentagem nula de respostas nesta opção. Podem identificar-se várias razões e/ou fontes de erro: pode não existir aconselhamento médico nesse sentido, o utente não se sentir confortável ou os sintomas não serem aliviados pelo recurso a este tipo de fármacos. Todos estes motivos revestem o aconselhamento farmacêutico de extrema importância.

Por outro lado, o tipo de laxante ao qual os utentes mais recorrem é o de contacto, que constitui a opção mais agressiva e lesiva. O que, provavelmente acontece, é que o utente verifica resultados práticos de forma rápida, e torna-se “cliente” deste tipo de laxante, muitas vezes não sabendo que consequências nefastas este pode trazer.

O número absoluto de respostas nesta questão foi de 51, isto porque existem ainda dez utentes que fazem associações de laxantes, sendo a mais comum a associação de laxantes osmóticos com laxantes de contacto.

Por fim, foram colocadas duas questões que podem influenciar o tipo de sintomas apresentados pelos doentes obstipados que se deslocaram à FM. A primeira concerne ao aporte

de fluidos, nomeadamente de água. A maioria, 71%, refere beber muita água diariamente, tendo sido estipulado como padrão mais de 1,5L de água por dia. É um fator positivo, que no entanto nos leva a olhar com atenção para os 29% de utentes que não ingerem esta quantidade de água, sendo imperativo consciencializar para o facto de que, além de ser essencial a todas as funções vitais, é também de extrema importância para um bom funcionamento intestinal.

No que diz respeito ao exercício físico, não existe um padrão transversal a todos os utentes, e foi considerado como “exercício físico” desde uma pequena caminhada diária até, por exemplo, “exercício de corrida 2 a 3 vezes por semana”, tendo em conta a possibilidade de cada

29%

71%

Costuma beber água?

Sim, pouca Sim, muita

41 utente no que diz respeito à mobilidade. Conclui-se que a maioria realiza alguma atividade física, no entando, 39% é sedentário, e desses, 43,75% nem sai de casa (relatado pelas pessoas que se deslocaram à FM para adquirir o laxante), o que também explica a ocorrência dos sintomas obstipantes.

Finalmente, tentou-se perceber se o conceito de probióticos era tido em conta na hora de adquirir um laxante, quer seja para tratar os sintomas, ou como repositor da flora intestinal, após uma dejeção determinada por laxante.

Seria expectável, à partida, pensar-se que muitos dos utentes não conheceriam este conceito, por ser uma área relativamente recente, no entanto, 90% é um número significativo, e está nas mãos de profissionais como o farmacêutico dar a conhecer esta opção terapêutica/de reposição aos seus utentes