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CAPÍTULO II. MARCO CONCEITUAL E PRESSUPOSTOS DA AVALIAÇÃO

5. O estudo quasi-experimental

O estudo quasi-experimental tem sido utilizado, freqüentemente, em avaliações de programas de educação e promoção da saúde, em escolas e campanhas, nos meios de comunicação de massa (Green & Lewis, 1986b).

Esse estudo é resultante de uma combinação entre características de estudos: de observação pré e pós, que consistem naqueles onde é feita uma comparação interna, ou seja, cada unidade experimental serve como seu próprio controle, em um mesmo grupo, com a observação ocorrendo antes e depois do experimento; e os estudos observacionais de comparação simultânea, nos quais são utilizados vários grupos, onde uns recebem o experimento e outros não, e é feita uma comparação, chamada "externa", entre os resultados obtidos nos diferentes grupos, após o experimento. Nesse tipo de desenho, os grupos são escolhidos de acordo com a conveniência (por exemplo, geográfica), vontade de participar etc (Kleinbaum et al., 1982).

Dessa forma, o estudo quasi-experimental utiliza pelo menos dois grupos, escolhidos por conveniência: o que receberá o experimento e o que não o receberá. E, utilizando uma avaliação pré e pós-experimento de ambos os grupos, são analisados os resultados obtidos.

No desenho quasi experimental, se busca um grupo controle muito similar ao que receberá a intervenção. Nele, o pré-teste tem maior importância que no experimental, pois espera-se que ele forneça informações que confirmem a similaridade esperada entre o grupo de expostos e de não expostos à intervenção (Worthen et al., 1973b, 1997).

Segundo Kleinbaum et al., de acordo com a manipulação utilizada, esses estudos podem se distinguir em dois subgrupos: os clínicos, ou laboratoriais, e os de políticas e programas. O primeiro caso é utilizado para substituir o estudo experimental quando este se tornar muito caro, anti-ético ou de impossível realização. O segundo é um estudo análogo ao de intervenção comunitária sem aleatorização.

O estudo quasi-experimental permite mensurar as mudanças ocorridas, a partir do início do estudo. Por outro lado, não envolve a manipulação do ou dos fatores de risco, diretamente. Sua estratégia é modificar o ambiente social ou físico a tal ponto que gere a modificação desejada na população enfocada, ocasionando, assim, um impacto no status de saúde dessa população.

As vantagens desse tipo de estudo decorrem do menor número de obstáculos práticos para sua realização. É, de forma geral, mais factível e barato e, muitas vezes, por essas razões, a única alternativa a ser utilizada. No entanto, a falta de aleatorização, como já referido, anteriormente, leva a um menor controle da influência de fatores estranhos ao estudo, que, em um ponto extremo, podem introduzir distorções que não se conseguem corrigir na análise (Kleinbaum et al.., 1982). Além disso, a grande vantagem desse estudo é permitir uma distinção entre o efeito da intervenção realizada e as mudanças temporais não relacionadas a ela.

Algumas possíveis tendências de desfecho esperadas nesse tipo de estudo são apresentadas esquematicamente, observando-se as modificações ocorridas em dois grupos, um que recebeu a intervenção, ou o experimento, e outro que não recebeu.

O primeiro desfecho possível é aquele em que só se observa uma tendência temporal1 em ambos os grupos, sem se observar, portanto, qualquer efeito da intervenção sobre o grupo que a recebeu (Gráfico 2).

B1 B2 A2

A1 F

T

intervenção

A = grupo que recebe influência temporal + a intervenção

B = grupo apenas sob influência

F = freqüência do problema T = tempo F

Gráfico 2. Estudo quasi- experimental: influência temporal versus experimental – Resultado 1

Tendência temporal, aqui, inclui qualquer influência decorrente de ações de controle do tabagismo desenvolvidas dentro ou fora da escola que não sejam aquelas desenvolvidas pela ação educativa que está sendo avaliada nesse estudo.

O segundo resultado que pode ocorrer é aquele em que a tendência temporal não exerce qualquer influência sobre os dois grupos, no entanto podem-se observar

mudanças no grupo que recebeu o experimento com redução na ocorrência do evento estudado (Gráfico 3).

B2 A2 B1

A1 F

T

F = freqüência do problema T = tempo

A = grupo que recebe influência temporal + a intervenção

B = grupo apenas sob influência

intervenção

Gráfico 3. Estudo quasi- experimental:

influência temporal versus experimental - resultado 2

Outra possibilidade é de que ocorra tendência temporal, com redução na ocorrência do evento nos dois grupos, mas a intervenção potencializou essa redução no grupo que recebeu intervenção, observando-se, portanto, o efeito esperado (Gráfico 4).

Gráfico 4. Estudo quasi- experimental: influência temporal versus experimental Resultado – 3

F = frequência do problema

T = tempo

A2 B2 B1

A1

intervenção F

T A = grupo que recebe

influência temporal + a intervenção

B = grupo apenas sob influência

Pode-se observar, ainda, que pode não acontecer uma tendência temporal e nem tampouco qualquer efeito decorrente da intervenção, com os dois grupos permanecendo inalterados (Gráfico 5) .

F

T

F = freqüência do problema T = tempo

A2 B2 B1

A1

Intervenção sobre o Grupo A

Gráfico 5. Estudo quasi- experimental:

influência temporal versus experimental - resultado 4

Mais uma possibilidade é a de se observar um aumento na ocorrência do evento estudado, no grupo controle, como resultado de uma tendência temporal sobre ambos os

F = freqüência do problema T = tempo

A = grupo que recebe influência temporal + a intervenção

B = grupo apenas sob influência

T F

Intervenção sobre o Grupo A A2

B2 B1

A1

Gráfico 6. Estudo quasi- experimental:

influência temporal versus experimental - resultado 5

grupos, enquanto que no grupo experimental não se observa qualquer aumento nessa ocorrência. Esse resultado retrata um provável efeito da intervenção sobre o grupo experimental, que impediu que a tendência temporal sobre esse grupo (Gráfico 6)

Uma última possibilidade, que está esquematizada sob a forma de gráfico, ocorre quando há uma tendência temporal com um aumento na observação da ocorrência do evento estudado em ambos os grupos, mas com um aumento menor no grupo que recebeu a intervenção, retratando, portanto um efeito positivo dessa intervenção (Gráfico 7).

A = grupo que recebe influência temporal + a intervenção

B = grupo apenas sob influência

F = Frequência do problema

T = tempo

T F

B1 A1

Intervenção sobre o Grupo A A2

B2

Gráfico 7. Estudo quasi- experimental: influência temporal versus experimental Resultado 6

O que se espera nesse estudo, portanto, é que o desfecho obtido apresente uma das tendências possíveis esquematizadas nos gráficos 3, 4, 6 e7. Para tal, está implícito que as medidas de efeito em A e B estão “ajustadas” para outras covariáveis.

A1 B1

A2 B2