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ESTUDO DA SENSIBILIDADE À INSULINA NUM GRUPO DE MULHERES OBESAS COMPARADO COM MULHERES

NORMOPONDERAIS

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Fizemos a determinação da sensibilidade à insulina num grupo de onze mulheres obesas, comparando-a com um grupo de cinco mulheres normoponderais. A idade média do grupo de mulheres obesas era de 25,1±1,5 anos (média±SEM) e a do grupo de normoponderais 23,9±0,34 anos, não sendo significativa esta diferença. Também a média da altura, 160,6±1,9cm para o grupo de obesas e 164,5±2,66 para o grupo de normoponderais, não apresentava diferença significativa. Por definição dos próprios grupos, já o peso e o índice de massa corporal médios eram significativamente diferentes, com um peso médio de 120,6±7 e 59,3±3,1 Kg, respectivamente para o grupo de obesas e de normoponderais, e um índice de massa corporal médio de 46,9±3,1 e 21,8±1,06 Kg/m2

, também respectivamente para o grupo de obesas e de normoponderais (quadro 4.5).

Quadro 4.5 - Características antropométricas das mulheres obesas e mulheres normoponderais.

Parâmetros Obesas Normoponderais Valor de P

(obesas vs. normoponderais) média ± SEM média ± SEM

n 11 5 Idade (anos) 25,1 ±- 1,5 23,9 ± 0,34 0,634 Altura (cm) 160,6 ±- 1,9 164,5 ± 2,66 0,254 Peso (Kg) 120,6 ±- 7 59,3 ± 3,1 0,000 IMC (Kg/m2) 46,9 ± 3,1 21,8 ± 1,06 0,000 RESULTADOS

Como se descreve no quadro 4.6, encontrámos diferenças estatisticamente muito significativas, não só nos valores do índice de sensibilidade à insulina, cujo valor médio foi de 1,03±0,2 x10-4

1 no grupo de obesas e de 11,64±2,7 x10-4

.min-1.μU-1.ml-1 no grupo de normoponderais, mas também noutros parâmetros determinados pelo FSIGTT, nomeadamente na insulinemia basal (13,7±6,7 μU/ml no grupo de obesas e 4,7±0,7 μU/ml no grupo de normoponderais), no valor máximo atingido pela insulinemia antes da administração de tolbutamida (1º pico insulínico), que foi de 150,9±23 μU/ml no grupo de obesas e de 38±10,5 μU/ml no grupo de normoponderais, e no pico máximo insulínico (valor máximo da insulinemia durante todo o FSIGTT), que foi de 237,2±27 μU/ml no grupo de obesas e de 38,5±8 μU/ml no grupo de normoponderais.

Quadro 4.6 - Comparação da sensibilidade à insulina (SI) e de outros

parâmetros obtidos pelo modelo mínimo aplicado ao teste de tolerância à glicose endovenosa com amostragem frequente (FSIGTT), entre os dois grupos de mulheres.

Parâmetros Obesas Normoponderais Valor de P

(n = 11) (n = 5) (obesas vs. normoponderais)

Glicose basal 87 ± 3 84 ± 2 0,367

Pico Máximo da glicose 339,3 ± 14 236,8 ± 31 0,000

Tempo 2,6 ± 1 4,4 ± 2 0,418

Insulina basal 13,7 ± 6,7 4,7 ± 0,7 0,001 Primeiro Pico Insulínico 150,9 ± 23 38 ± 10,5 0,001

Tempo 3,8 ± 0,4 3,6 ± 0,6 0,763

Pico Máximo Insulínico 237,2 ± 27 38,5 ± 8 0,000

Tempo 28,4 ± 2,6 23,6 ± 0,4 0,100

SI 1,03 ± 0,2 11,64 ± 2,7 0,000

SG 2,33E-02 ± 2E03 1,55E-02 ± 3E03 0,052

Os resultados estão expressos em média ± SEM. Os tempos referem-se ao tempo do FSIGTT, em minutos, em que ocorreu a resposta assinalada. Os valores da glicemia estão expressos em mg/dl, os da insulinemia em μU/ml, os do índice de sensibilidade à insulina em (SI;x10-4.min-1.μU-1.ml-1) e os da eficácia da glicose, em min-1.

Embora o valor médio da glicemia basal não fosse significativamente diferente (87±3 mg/dl no grupo de obesas e 84±2 mg/dl no grupo de normoponderais), o valor máximo atingido pela glicemia durante o FSIGTT foi significativamente superior no grupo de obesas (339,3±14 mg/dl no grupo

de obesas e 236,8±31 mg/dl no grupo de normoponderais). O valor médio de SG, embora superior no grupo de obesas (2,33E-02±2E03 min-1 no grupo de

obesas e 1,55E-02±3E03 min-1

no grupo de normoponderais) não atingiu diferença estatisticamente significativa. Os tempos em que ocorreram os valores referidos não foram significativamente diferentes, no entanto o tempo em que ocorreu o pico máximo insulínico foi mais tardio no grupo de obesas (minuto 28,4±2,6) do que no grupo de normoponderais (minuto 23,6±0,4).

No quadro 4.7 mostramos as diferenças dos valores médios da tensão arterial sistólica e diastólica, ambas significativamente mais elevadas no grupo de obesas, e os parâmetros do perfil lipídico, que revelaram valores de colesterol total, LDL, apolipoproteína B e triglicerídeos mais elevados no grupo de obesas, enquanto que os valores de colesterol HDL e de apolipoproteína A1 eram superiores no grupo de normoponderais. Estas diferenças assumiram significado estatístico para os valores de colesterol HDL, LDL e triglicerídeos.

Quadro 4.7 - Comparação dos valores tensionais e perfil lipídico Parâmetros Unidades Obesas Normoponderais Valor de P

(n = 11) (n = 5) (obesas vs. normoponderais) T.A. sistólica mmHg 133,7 ± 6,4 100 ± 2,5 0,001 T.A. diastólica mmHg 74,3 ± 4,3 57,6 ± 1,9 0,005 Colesterol total mg/dl 176,4 ± 9 157,8 ± 5 0,212 Colesterol HDL “ 40,8 ± 3 54,2 ± 4 0,023 Colesterol LDL “ 112,2 ± 8 91,8 ± 3 0,034 Triglicerídeos “ 116,3 ± 13,5 58,2 ± 13,2 0,010 Apo A1 “ 124,5 ± 7,3 135,5 ± 4,4 0,222 Apo B “ 81,6 ± 7,4 66,5 ± 4,9 0,113

Os resultados estão expressos em média ± SEM.

DISCUSSÃO

O grupo de mulheres obesas, comparado com o grupo de normoponderais, apresentava diferenças estatisticamente significativas para o índice de sensibilidade à insulina, insulinemia basal, primeiro pico insulínico, pico máximo da insulina e pico máximo da glicose. Também os valores

médios, quer da tensão arterial sistólica, quer da tensão arterial diastólica, eram significativamente superiores aos valores médios do grupo de mulheres normoponderais, assim como os valores do colesterol LDL e dos triglicerídeos que eram significativamente mais elevados no grupo de obesas, enquanto que os valores de colesterol HDL eram significativamente mais baixos. Esta associação de alterações metabólicas num grupo de mulheres jovens, com uma idade média de 25 anos, com obesidade grave e com grave resistência à insulina, traduz bem os diferentes componentes do síndrome metabólico.

Embora na análise individual das doentes nem todos os elementos do síndrome metabólico estivessem presentes, quando comparadas com um grupo de mulheres normoponderais, as mulheres obesas apresentavam diferenças estatisticamente significativas em todos os parâmetros do síndrome avaliados: sensibilidade à insulina, hiperinsulinemia, tensão arterial, aumento do colesterol LDL e triglicerídeos e diminuição do colesterol HDL. As alterações encontradas revestem-se de grande importância, pelo risco cardiovascular que representam. No grupo de mulheres normoponderais, os valores tensionais eram classificados como óptimos em todas elas, em contraste com o grupo de mulheres obesas, em que apenas duas doentes apresentavam valores considerados óptimos, as restantes variando entre o normal alto e o grau II de hipertensão arterial. Conforme descrito nos métodos, na data da avaliação, nenhuma das mulheres estudadas se encontrava sob qualquer tipo de terapêutica. Também na avaliação lipídica, em que nenhuma das doentes apresenta dislipidemia, os valores médios do colesterol LDL e dos triglicerídeos eram significativamente superiores aos do grupo de mulheres normoponderais, e os valores de colesterol HDL significativamente inferiores. A atitude de prevenção deve iniciar-se pois muito precocemente, uma vez que, após a instalação do síndrome completo, o seu tratamento se torna muito difícil, necessitando de terapêuticas múltiplas, dirigidas aos diversos componentes do síndrome, tornando-se particularmente árduo o controle da obesidade e da co-morbilidade associada.

DETERMINAÇÃO DA SENSIBILIDADE À INSULINA EM