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Seguindo o percurso investigativo, partimos na busca dos trabalhos desenvolvidos no Brasil, viabilizados através do banco da CAPES5, para aproximarmos do ponto de vista dos pesquisadores do país, no campo jornalístico voltados para a área da deficiência em seus aspectos físicos, mental, sensorial e/ ou múltiplas.

Crespo (2000) afirma na sua dissertação de Mestrado pela Universidade de São Paulo, Ciência da Comunicação, cujo título “Informação e Deformação – A pessoa com deficiência na mídia impressa” (01.08.2000), que “o discurso jornalístico pretende ser o relato voraz dos acontecimentos. E, para isso, adota estratégias que garantem que ele seja acreditado pelo leitor”. Há uma nítida antítese no dizer da autora, no que escrevem os jornalistas quando, apesar das recomendações de que se valem para a práxis da escrita, imagens preconceituosas das pessoas com deficiência continuam a ocorrer em suas matérias.

A partir da linha francesa de análise do discurso, adotada pela autora, percebe- se que a linguagem não é meramente um instrumento para veicular informações. Os significados possíveis, construídos na relação entre as palavras, permitem iluminar aquilo que de outra forma permaneceria oculto, pois aquilo que se diz desvenda e encobre simultaneamente.

É no campo do discurso, daquilo que é falado e do que é calado, que se encontram as representações que cada sujeito faz do mundo e do mundo em si mesmo. Há um desconhecimento constante, um sentimento que escapa ao sujeito. Como decorrência disto, o discurso é sempre o receptáculo de fragmentos, oposições, ambigüidades e conflitos.

Pereira Júnior (1997) visualiza a notícia através da ótica da rotina produtiva quando diz: “os critérios estabelecidos pelos editores de texto ao longo de seu trabalho apontam para uma possível rotinização do trabalho jornalístico com a finalidade de organizar o caos circundante”.

É possível observar que o autor aposta na fidelidade da organização rotineira na produção textual jornalística. Em sua dissertação de Mestrado intitulada “Construindo a notícia” (01.10.97) na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Comunicação Social, Pereira Júnior, crê no papel relevante da produção da notícia.

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Abrantes (1997) desenvolveu a pesquisa de mestrado: “Aluno excluído do sistema público: a identidade em construção”, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na área do conhecimento: psicologia educacional. O autor buscou compreender o impacto das experiências escolares na construção da subjetividade de um aluno. Nessa busca, procurou resgatar a manifestação da identidade de uma pessoa à medida que o coletivo determina sua exclusão social, sendo a Instituição Escolar o grande instrumento.

Utilizou-se, para tanto, da história de vida como técnica de pesquisa. Ao longo do seu trabalho observou a dura discriminação que permeia a vida de quem a sociedade considera incapaz. Assim posiciona-se também quando emite um juízo a respeito do protagonista – aluno incapaz – que irá entremear em toda sua vida decretando a sua desqualificação, culminando no seu encaminhamento para uma Instituição destinada a pessoas com deficiência.

D’Antino (2001) produziu a tese de doutorado: “Deficiência e a mensagem reveladora da instituição especializada: dimensão imagética e textual”, na Universidade de São Paulo - Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, na área do conhecimento: Educação Especial, cujo objetivo era compreender e desvelar facetas da mensagem de instituições especializadas no atendimento a pessoas com deficiência física ou mental, de caráter assistencial – filantrópico, através de campanhas de captação de recursos, veiculadas na mídia eletrônica e impressa e sua possível conseqüência na perpetuação do estigma em relação a este segmento da população.

A autora partiu de indagações pontuais: 1. O que revelam as mensagens institucionais na atualidade e contexto brasileiro, em suas campanhas de captação de recursos? 2. Há participação dessas mensagens na perpetuação do estigma em relação à pessoa com deficiência? 3. Qual a concepção de deficiência que norteia a produção publicitária? 4. De que forma aparece o poder filantrópico nesse tipo de campanha? O corpus da pesquisa, de caráter empírico, deu à autora - pesquisadora a constatação que “a propaganda institucional veiculada na mídia” está “na ambivalência própria de sua longa existência e com a força de valores trazidos de Esparta, vincula a imagem da pessoa com deficiência à carência, à incapacidade, dependência, abandono, infantilização, assexualidade, etc. Silenciando suas vozes e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, expondo e distorcendo suas imagens ao sabor das necessidades econômicas das próprias instituições”.

A essa constatação, procedeu a autora, pesquisa composta por duas entrevistas, com diretores de criação de grandes agências de publicidade e oito peças publicitárias. Apreende-se daí forte contribuição para que as reflexões que dela emergiram possam servir de fonte geradora de processos críticos e reflexivos para os dirigentes institucionais, os profissionais da área especializada e da mídia e demais interessados no tema, desvelando a mediação dos preconceitos e estereótipos nas relações sociais com esta.

A esse respeito, a novela “Páginas da Vida”6 do autor Manoel Carlos, que aborda entre outros, o tema da deficiência, mostra a luta de uma mãe, cuja filha tem síndrome de down, numa afirmação de que a luta é cruel e desamparada devido ao preconceito.

Dentre os trabalhos ora revisados, tanto através do portal da CAPES como de outras fontes, constata-se a ausência quase total de estudos na área específica para qual direcionamos nossa pesquisa: Inclusão e deficiência: em busca de representações sociais na mídia impressa de Natal/RN. Percebe-se que a maioria das pesquisas localizadas enfoca outras áreas do conhecimento como: educação inclusiva, acessibilidade arquitetônica, inserção no mercado de trabalho, reabilitação, dentre outros.

Pela relevância do papel que a mídia impressa, como instituição de produção de informações, exerce na nossa sociedade, em poder proporcionar à população informações em relação aos direitos que os cidadãos com deficiência têm ao acesso social em todos os níveis. É que tornam esse estudo importante, no tocante às possibilidades das estratégias que podem ser utilizadas pela mídia, mobilizando e estimulando a sociedade a realizar e programar ações. A nossa pesquisa é focada na representação que a mídia impressa, como veículo de comunicação, tem em relação à inclusão e deficiência. Estamos diante de um grande desafio, ou de um verdadeiro paradoxo: refletir acerca das representações sociais da Instituição, mídia impressa, que filtra e formata suas informações em detrimento dos seus interesses e da sociedade, tornando visível o que quer seja visível. Portanto, tornar claro o poder institucional da mídia, considerado como o quarto poder, é emergente, em função aos preceitos de justiça e igualdade social para as pessoas com deficiência

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que são excluídas duplamente: pela sociedade e pela ausência de visibilidade na mídia.

Nesse sentido, Carneiro (2003), autora da dissertação de Mestrado intitulada “Uma construção compartilhada”, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Comunicação e Semiótica, na área de Comunicação, fala da amplitude e da maleabilidade do gênero reportagem que transita por outros gêneros jornalísticos e não jornalísticos, atualizando e recriando os códigos do universo jornalístico.

Por todo o trabalho, a autora infiltra discussões sobre a construção do texto da reportagem como uma espécie de testemunho, um relato jornalístico sobre aspectos da contemporaneidade, a partir de um amplo diálogo que o repórter estabelece com o público, com as fontes entrevistadas, com saberes especializados, e até com textos de outros gêneros e com o contexto.

A autora procedeu ao estudo do gênero reportagem a partir da aproximação com aspectos do sistema teórico de Mikhail Bakhtin, especialmente o dialogismo, formulado pelo pensador russo como ciência das relações e o conceito de gêneros, concebidos pelo autor, como tipos relativamente estáveis de enunciados que organizam a comunicação humana.

França (1995) através da dissertação “A incompatibilização da cidade para cidadãos deficientes de locomoção: uma questão de cidadania”, defendida na Universidade de Brasília, área de conhecimento Arquitetura e Urbanismo, trata da acessibilidade aos espaços públicos relacionada com as dificuldades de locomoção apresentadas pelas pessoas com deficiência física e/ou visuais. As barreiras físicas encontradas nos espaços públicos urbanos de circulação e suas implicações no cotidiano de milhares de pessoas que vivenciam o problema.

“A acessibilidade”, diz a autora, “não pode ser um conceito enclausurado dentro do simples processo do poder entrar e sair de determinados espaços físicos, mas, a acessibilidade que dá cor à vida das pessoas”.

Quevedo (2003), comungando das mesmas preocupações de França, fez sua em sua dissertação de Mestrado “Obstáculos à qualidade de vida do deficiente físico: estudo de caso junto às Instituições Públicas de Ensino” pela Universidade Federal de Santa Maria, RS, área de Engenharia de Produção, conclui que “As Instituições Públicas de Ensino de 2º e 3º graus, (ensino médio e superior) da cidade de Santa Maria, não apresentam em geral, condições de acessibilidade e permanência de deficientes físicos, em seu interior, o que vem reforçar a hipótese da

não possibilidade de inserção do deficiente físico cadeirante, quer social, quer no mercado de trabalho, através da educação formal, impedindo-o de atingir graus elevados de qualidade de vida”.

Fica evidenciado que “sem acesso” torna-se difícil para as pessoas com deficiência serem inseridas no contexto social e pela relevância da acessibilidade arquitetônica para a inclusão social em todos os seus aspectos, a omissão da MÍDIA em relação à visibilidade da questão, perpetua traços de um passado histórico de segregação e discriminação, que ainda permeia o imaginário social.

Marques (2001) corrobora os dois estudos anteriormente citados, com seu trabalho de doutorado “A imagem da alteridade da mídia” pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, na área da comunicação. Apreende os sentidos produzidos e veiculados sobre a deficiência nos jornais Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e O Globo, utilizando a metodologia da análise do discurso na perspectiva francesa, identificando três formações ideológicas nas respectivas formações discursivas: a exclusão, que aponta para o isolamento das pessoas com deficiência; a integração, que caracteriza a visibilidade; e a inclusão, que está fundamentalmente caracterizada pela acessibilidade. Em seu trabalho, o autor associa a acessibilidade com a inclusão social, o que faz a ponte com a questão arquitetônica, pesquisada por França e outros.

Diante do exposto, pode-se constatar a ausência de uma análise psicossocial, até mesmo nas pesquisas da área da comunicação, que a abordaram numa perspectiva exclusivamente jornalística. Importa-nos nesta pesquisa ir além do explicitado, investigar aspectos subjacentes à seleção dos fatos a serem noticiados, bem como da notícia a ser lida, comentada, repercutida entre interlocutores de um mesmo grupo social.

Por esse motivo, selecionamos as teorias da representação social e da comunicação social, selecionando Moscovici e Wolton como autores principais pela pertinência das suas abordagens ao objeto de estudo assim configurado. Tal objeto demanda por teorias que permitam acessar a dimensão estruturante da comunicação formadoras de representações, bem como capturar as representações circulantes nos textos jornalísticos.

3 APORTES TEÓRICOS: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL E A COMUNICAÇÃO SOCIAL

Há numerosas ciências que estudam a maneira como as pessoas tratam, distribuem e representam o conhecimento. Mas não o estudo de como, e por que, as pessoas partilham o conhecimento e desse modo constituem sua realidade comum, de como eles transformam idéias em prática – numa palavra, o poder das idéias [...] (Serge Moscovici)

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