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Esta seção apresenta a idealização do método estudos de caso, que apoiou o alcance do quinto objetivo específico desta pesquisa. Para tal, expõe o embasamento teórico que envolve o método, bem como os critérios de seleção e a definição dos casos. Além disso, esclarece o contexto profissional onde se desenvolveram os casos estudados. Os estudos de caso se constituem na investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real (YIN, 2015). Para Gil (2008), o método é caracterizado pelo estudo profundo de um ou de poucos objetos, de modo a permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo. Para Young (1960), os estudos de caso podem estudar uma pessoa, uma família, um profissional, uma instituição social, ou mesmo um processo.

Neste estudo, o método foi selecionado para investigar integrativamente os temas da pesquisa e, em especial, para testar métodos participativos de projeto em arquitetura e urbanismo, próprios para a ideação, em diferentes situações projetuais. Foi antevista a dificuldade em se conseguir acessar processos projetuais de outros arquitetos, dificuldade esta apontada por Lawson (2011), como um dos embaraços para a aplicação do método. Observou-se que a dificuldade seria potencializada uma vez que visava testar métodos participativos de projeto. Estas premissas foram somadas a dois outros fatores: a) Lawson (2011) aponta outras alternativas para pesquisas sobre processo de projeto, e, uma delas é o estudo da própria ação projetual; e b) havia a disponibilidade da pesquisadora - também arquiteta projetista atuante - em testar alguns métodos participativos de projeto.

Por outro lado, uma das dificuldades apontadas por Lawson (2011), para a escolha do estudo da própria ação projetual, é a exigência de isenção do pesquisador-projetista em realizar e apresentar suas análises. O autor aponta que nenhuma pesquisa é realizada com total isenção do pesquisador, porém ressalta que pesquisas desta natureza exigem um esforço extra para manter o rigor científico e a neutralidade. Como atenuante deste fato, considerou-se que o objetivo a ser atendido por este método era o teste de métodos participativos, colocando o processo projetual da pesquisadora como um meio, e não um fim. Considerou-se, também, o aporte de Schön (2000), a respeito da reflexão presente na ação projetual. Para este autor, refletir sobre a própria ação projetual produz conhecimento que realimenta a ação. Concluiu-se, então, que no contexto desta pesquisa, o conhecimento produzido na ação projetual da pesquisadora seria um procedimento seguro e útil para retroalimentar não apenas novas ações projetuais, mas a reflexão necessária à dissertação.

Para alcançar o propósito de estudar “diferentes situações projetuais”, presente no sexto objetivo específico da pesquisa, foi decidido estudar mais do que um caso. As próximas subseções apresentam os critérios de seleção e definição dos casos e o contexto profissional da pesquisadora-projetista que acolheu a investigação. 2.4.1. Critérios de seleção e definição dos casos

Foram designados quatro estudos de caso em processos projetuais, realizados dentro dos limites dos momentos de ideação. Foram pesados dois fatos: primeiramente, de que a definição dos limites dos momentos de ideação ocorreria no desenvolvimento da pesquisa. Segundo, de que cada caso apresentaria seu próprio ritmo projetual. Assim, na idealização dos estudos, resguardou-se a possibilidade de que alguns casos avançariam mais e outros menos e que nem um deles precisaria avançar para além dos momentos de ideação. A seleção dos casos foi realizada com o apoio de alguns critérios, definidos no planejamento deste método. Os processos projetuais em que se testariam os métodos, ou seja, os casos, deveriam ser:

 Recentes. Preferencialmente desenvolvidos durante o curso da pesquisa, permitindo, desta forma, o estudo enquanto estivesse ocorrendo o processo

 Conduzidos por meio de métodos participativos de projeto, pelo menos nos momentos iniciais do processo.

 Diferentes entre si, quanto às situações projetuais nas quais se enquadram. Assim, deveriam ser projetos desenvolvidos a partir das necessidades de clientes distintos, para solucionar problemas de variadas áreas de atuação e, também, variados nichos de mercado.

Os quatro casos selecionados contemplaram projetos nas áreas de arquitetura de interiores, reformas arquitetônicas e consultoria e são apresentados na Figura 15, abaixo.

Fonte: Autora, 2016.

2.4.2. Contexto profissional de aplicação dos estudos de caso

A correta compreensão das necessidades e expectativas dos clientes sempre foi uma das inquietações da pesquisadora-projetista desde o início de sua atuação profissional. Em parte desenvolvida ao longo da graduação, esta percepção foi aguçada nos primeiros anos de atuação, quando principalmente foram desenvolvidos projetos de interiores, em que o problema de projeto mais frequente era relacionado às inadequações de ambientes recém construídos. Relatos do tipo: “não sabia que este ambiente seria assim”; “não sabia que este quarto ficaria voltado para o sol da tarde”; “não sabia que este pé direito ficaria tão baixo”; “não sabia que...” Eram ouvidos com frequência pela então recém arquiteta.

A consciência da complexidade projetual e da dificuldade que os arquitetos projetistas enfrentam para levantar e entender as necessidades e anseios dos seus usuários foi, cada dia mais, despertada. O processo incentivou iniciativas que visavam diminuir a distância entre projetista e usuários, tanto para levantar melhor as informações necessárias, quanto para propor aos usuários que, no mínimo algumas das decisões projetuais fossem compartilhadas. Desta forma, buscou- se, num processo contínuo, saciar um desejo por desenvolver projetos mais assertivos no atendimento das necessidades e expectativas dos usuários, que, na maioria das vezes, no caso da atuação da arquiteta, eram também, os clientes.

Estes fatos, que podem aparentar não ter tanta importância para esta pesquisa, são, no entanto, elementos constitutivos do contexto em que os estudos de caso foram realizados. Desde o planejamento, sabia- se que os métodos seriam testados em um ambiente projetual favorável à necessidade de constante melhoria de processos, no sentido de aproximar projetistas e usuários, para alcançar melhores resultados no atendimento das necessidades destes. Em outras palavras, o contexto de desenvolvimento destes estudos foi de extrema abertura para que as atividades necessárias pudessem ocorrer.

Além do interesse em si, e justamente por sua existência, no período anterior à esta pesquisa, neste mesmo contexto profissional, foi iniciada a construção de alguns instrumentos para uma condução projetual que buscava aproximar projetistas e usuários. Estes instrumentos abrangiam as áreas administrativa e projetual, pois entendia-se como necessária uma abordagem sistêmica, que buscasse o comprometimento com um processo mais aberto – tanto de projetistas, quanto dos clientes-usuários.

Como parte do contexto em que se realizou os estudos de caso, buscou-se aproveitar os dois instrumentos pré-existentes que eram relativos à área projetual. Importa ressaltar que no período anterior à pesquisa estes instrumentos eram embrionários, sendo desenvolvidos, de fato, durante os estudos de caso. Estes instrumentos são relacionados a três importantes ações dos momentos de ideação: a) coleta de dados, feita pelo projetista e/ou pela equipe de projeto, junto aos usuários, para a compreensão do problema projetual; b) tratamento e interpretação dos dados, feita pelo projetista e/ou pela equipe de projeto, em trabalho interno, no seu ambiente de trabalho e sem a participação dos usuários e c) apresentação, realizada pelo projetista e/ou pela equipe de projeto, dos dados já interpretados, para os clientes e/ou usuários, viabilizando a discussão, trabalhada em parceria, para o consenso nas tomadas de decisão. Estes instrumentos, denominados Instrumento de Briefing e Mote Criativo, são apresentados no Capítulo 7, na seção 7.2, intitulada “Veículos de Comunicação”.

Resumidamente, o contexto de desenvolvimento dos testes dos métodos participativos de projeto reunia, previamente: a) o interesse na temática e consequente abertura para acolhimento dos estudos no seio da própria ação projetual e b) os embriões de dois de seus instrumentos. Para fins de praticidade na escrita e na leitura e por que corresponde aos fatos, a pesquisadora passa a ser denominada, no tocante aos estudos de caso, como pesquisadora projetista, arquiteta projetista, ou, simplesmente, projetista.

Na subseção anterior foram estabelecidos os critérios de seleção para a escolha dos casos em que os métodos seriam testados e foram sucintamente apresentados os casos selecionados. Nesta subseção, foi apresentado o contexto profissional no qual os estudos de caso foram realizados. Para garantia de uma melhor compreensão dos leitores, optou-se por apresentar os a modelagem dos estudos de caso juntamente com a aplicação, resultados e discussão deste método. Assim, o teste dos métodos projetuais participativos são tratados no Capítulo 7, intitulado “Estudos de Caso”, que se localiza estrategicamente após a apresentação de todos os temas estudados e das reflexões parciais produzidas.

Finalizada a exposição dos aspectos metodológicos que envolvem este estudo, inicia-se, a partir do próximo capítulo, a apresentação da pesquisa em si. Esta foi ordenada pela lógica temático-processual, onde cada capítulo visa atender, de modo sequencial e evolutivo, os objetivos específicos da pesquisa. Buscando facilitar a compreensão dos conteúdos e a identificação de autoria de suas partes, os capítulos e suas principais seções são iniciados com a apresentação de seus resumos metodológicos.

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