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Estudos da gabapentina em modelos de nocicepção aguda e inflamação

1 INTRODUÇÃO

1.2 Gabapentina

1.2.9 Estudos da gabapentina em modelos de nocicepção aguda e inflamação

Gustafsson et al. (2003), utilizando um modelo novo de neuropatia periférica em camundongos gerada por lesão isquêmica e fotoquímica do nervo ciático, utilizando-se a ativação induzida por laser de um pigmento fotossensível (eritrosina B), investigaram os efeitos da GBP administrada por via subcutânea (175 a 300 mol/kg 30 a 51 mg/kg), em doses cumulativas, a cada 1 hora de intervalo, no 9º dia após a lesão. A dose máxima de GBP (100+75+125 mol/kg 51mg/kg) aumentou o limiar táctil de retirada da pata de forma significativa, em torno de 77% do limiar dos animais normais. Já a dose de GBP 100 mol/kg sc. ( 17 mg/kg), que não teve efeito na alodínia, no teste de formalina (20 l de formaldeído 1%, s.c., no dorso da pata, 30 min após última aplicação de GBP) reduziu significativamente o comportamento de dor durante a fase 2 (de 15 a 30 min após aplicação de formalina), no entanto com ausência de efeitos na fase 1 (de 0 a 5 min após aplicação de formalina) mesmo em doses mais elevadas de GBP. Esses resultados sugerem que a GBP age como uma substância anti-alodínica e/ou anti-hiperalgésica (FIELD et al., 1997), uma vez que a GBP não tem efeito na nocicepção aguda (que ocorre durante a fase 1 do teste de formalina) e não afetou o limiar de retirada táctil em animais normais. Ou seja, é necessário um estado de sensitividade aumentada (plasticidade neuronal induzida pela lesão) do sistema nervoso para a ação deste composto (GUSTAFSSON et al., 2003). A existência de um sítio de ação periférico para a GBP na nocicepção aguda induzida por formalina parece ser improvável em virtude da sua ausência de efeito na fase 1 (de 0 a 5min após formalina), a qual é considera envolver mecanismos nociceptivos periféricos (DICKENSON; SULLIVAN, 1987).

O trabalho de Ortiz (2006) confirma os dados de Gustafsson et al. (2003) quando demonstrou que a GBP aplicada por via subcutânea na superfície dorsal da pata (30 a 300 g/kg por pata) produziu antinocicepção periférica local de forma dose-dependente. A GBP foi aplicada 20 min antes da aplicação de formalina(1%) s.c. ipslateral. Outro grupo de animais foi tratado com GBP (300 g/kg) na pata contralateral para verificar se os seus efeitos são devido à ação local. A GBP inibiu o tempo de Flinches produzido na 2ª fase, sem efeito na 1ª fase do Modelo de Formalina. O pré-tratamento através da mesma via de administração (10 min antes da GBP) com todos os bloqueadores da via NO/GMPC/PKG, como também com bloqueadores de canais de K+ (glibenclamida e tolbutamida), reverteram significativamente os efeitos da GBP na fase 2 do modelo de formalina. Isto sugere primeiro que os efeitos antihiperalgésicos da GBP envolvem a sua ligação aos sítios periféricos e

segundo que os efeitos antinociceptivos periféricos da GBP atuam aumentando a atividade da via NO/GMPC/PKG e abertura de canais de K+ (acoplados a proteína G e/ou canais de K+ retificadores internos) (KASE et al., 1987).

Na verdade, nenhuma das duas drogas derivadas do ácido -amino-butírico, GBP e PGL, possuem efeito em alterar respostas nociceptivas agudas (HUNTER et al., 1997; STANFA et al., 1997), sugerindo que a ação antinociceptiva destas drogas é dependente das alterações que ocorrem especificamente nas condições de neuropatia ou outras condições inflamatórias (FEHRENBACHER;TAYLOR; VASKO, 2003).

Gabapentina, pregabalina (S(+)-3-isobutilgaba, análoga à GBP) e naproxeno, via gavagem, aplicados 2,5 horas após carragenina (intraplantar) reverteram a hiperalgesia térmica induzida por fonte de calor com ED50 igual a 19.2, 6.0, e 0,5 mg/kg respectivamente.

Associações de GBP + naproxeno ou pregabalina (PGL) + naproxeno interagiram sinergicamente para reverter a hiperalgesia térmica induzida por carragenina. Estes achados sugerem que essa associação é eficaz para o tratamento de dor neuropática de origem inflamatória. Já no modelo de edema de pata induzido por carragenina, o naproxeno reduziu o edema em 12% quando comparado com o grupo salina. Entretanto, a GBP ( dissolvida em solução salina a 0,9%, via gavagem, aplicada 2,5h depois da carragenina) em dose máxima (300mg/kg) não teve efeito significativo na redução do edema. Nenhuma combinação de GBP + Naproxeno decresceu o edema de maneira aditiva (ou seja, maior do que naproxeno aplicado isoladamente). A PGL (30mg/kg) sozinha também não reduziu o edema de forma significatva. Como também nenhuma combinação de PGL+Naproxeno teve efeito aditivo. Embora haja uma interação sinérgica na anti-hiperalgesia da GBP ou PGL + Naproxeno na inflamação induzida por carragenina, GBP e PBL não possuem efeitos antiinflamatórios ou pro-inflamatórios como verificado no edema de pata induzido por carragenina (HURLEY et al., 2002).

Inúmeros estudos demonstram que existe um aumento no conteúdo e liberação de peptídeos neurotransmissores; substância P (SP), e peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), a partir de neurônios sensitivos de pequeno diâmetro (Fibras C e A ) durante inflamação ou em modelos de dor neuropática (OKU et al., 1987; NANAYAMA et al., 1989; DONNERER; SCHULIGOI; STEIN, 1992; GARRY; HARGREAVES, 1992; VASKO, 1995; SOUTHALL; MICHAEL; VASKO, 1998; VANDERAH et al., 2001). Este aumento de liberação de transmissores dos neurônios sensitivos é mimetizado por ativação do monofosfato de adenosina 3’5’ cíclico (AMPc) e/ou proteína quinase C (PKC), sugerindo-se que a sensibilização é mediada em parte pela ativação das vias da PKA e PKC (HINGTEN et

al., 1995; YASHPAL et al., 1995). De forma que as drogas capazes de atenuar o aumento de liberação destes peptídos neurotransmissores podem ser efetivas em aliviar sintomas da inflamação e da dor neuropática sem, no entanto, alterar a nocicepção aguda (FEHRENBACHER; TAYLOR; VASKO, 2003).

Para se verificar se GBP e PGL possuem efeitos em neurônios sensitivos, foram estudadas as ações destas drogas na liberação estimulada por capsaicina de neuropeptídeos sensitivos, substância P e CGRP, em fatias de medula espinal de ratos in vitro. A aplicação de uma solução de adjuvante de Freund (FDA) por via subcutânea na superfície plantar da pata aumentou a liberação destes neuropeptídeos imunorreativos nestes tecidos in vitro e foi atenuada pela pré-exposição com GBP (10 M) e PGL (10 M). Exposição das fatias contralaterais (à pata inflamada com FDA) a 10 M de GBP ou PGL, antes do estímulo com capsaicina, não causou alteração na liberação destes neuropeptídeos. A liberação de neuropeptídeos a partir de tecidos de ratos não inflamados previamente (não sensibilizados com FDA) não foi afetada pelo tratamento com GBP e PGL. Estas drogas também reduziram a liberação de neuropeptídeos em medula espinal pré-tratados in vitro com o ativador de PKC (dibutirato de forbol 12, 13). Estes resultados sugerem que a GBP e PGL reduzem a liberação dos neuropeptídeos SP e CGRP a partir de neurônios sensitivos, mas somente em condições de significante sensibilização da medula espinal induzida por inflamação. Sendo que a GBP foi mais potente do que a PGL em inibir esta liberação (FEHRENBACHER; TAYLOR; VASKO, 2003).

1.3. CITOCINAS: GENERALIDADES

Citocinas são polipeptídeos simples, ou glicopeptídeos, de peso molecular menor ou igual a 80 kDa, com propriedades pleiotrópicas e regulatórias. São produzidas e secretadas por diversos tipos celulares em resposta a uma infinidade de estímulos, para agir em receptores específicos presentes em células alvo. Como são substâncias com diversas funções regulatórias, tais moléculas não são produzidas de maneira contínua. A sua produção é induzida ou suprimida por estímulos aos quais o organismo precisa responder. Os vários tipos de citocinas incluem as interleucinas (IL), os fatores de necrose tumoral (TNF), os fatores estimulantes de colônia da medula óssea e uma variedade de outros fatores de crescimento (fatores de crescimento derivados de fibroblastos, da epiderme e das plaquetas) (HOPKINS, 1990).

Alguns estudos têm demonstrado que citocinas podem influenciar a direção de uma resposta imune por mecanismos parácrinos, endócrinos e autócrinos. A capacidade que possuem de exercer efeito local, regional e sistêmico é um ponto importante da biologia dessas substâncias, pois demonstra o papel fisiopatológico desses mediadores na doença. A elevação da temperatura, indução de sono e supressão do apetite são manifestações sistêmicas de doença, porém, isso pode representar apenas alterações dos níveis de citocinas que normalmente controlam a nossa fisiologia circadiana. Um aumento dos níveis de citocinas que estão associados com a inflamação pode concomitantemente ativar células inflamatórias e alterar a fisiologia normal. Ambos os eventos podem ser importantes no combate à doença através dos mecanismos de defesa. Em adição, os efeitos sistêmicos associados com inflamação severa podem ser exercidos pela produção exacerbada de citocinas e pela manutenção dessa produção pelas próprias citocinas (KUNKEL et al., 1991)

Consideradas também de grande importância na regulação da resposta imune, as citocinas são polipeptídeos habitualmente ausentes no plasma em condições estéreis. As mesmas são produzidas após estimulação antigênica; podem ser sintetizadas principalmente por monócitos e macrófagos ou podem se originar de linfócitos. As citocinas atuam como mediadores na comunicação intracelular, por meio de maturação, proliferação, diferenciação, ativação ou inibição de diferentes células do sistema imunológico, aumentando ou diminuindo a resposta imune (FORTE, 2004).

De acordo com suas atividades biológicas, as citocinas são classificadas em: a) Pró- inflamatórias, onde exercem função de destaque a IL-1, a IL-2, o Fator de Necrose Tumoral (TNF) e o IFN; b) Das doenças alérgicas e das parasitoses, representadas por IL-4, IL-5 e IL-