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ESTUDOS NO ÂMBITO DA DIDÁTICA E DA TECNOLOGIA EDUCATIVA Belmiro Rego , Escola Superior Educação de Viseu e CI&DETS, Instituto Politécnico de

Viseu, brego@esev.ipv.pt

Nas últimas décadas entrámos numa época de profunda transformação tecnológica originada pela rápida evolução e utilização de tecnologias de informação e comunicação. As tecnologias estão a alterar profundamente, não apenas os processos de produção de bens materiais, mas também os processos de produção e de difusão de ideias e, consequentemente, os modos de aprender e de viver em sociedade.

O ato radicalmente novo das sociedades modernas reside precisamente na sua aptidão para gerar e difundir informação, contribuindo, decisivamente, para a consolidação da denominada "aldeia global", hoje cada vez mais planetária, onde o indivíduo é confrontado com uma aprendizagem permanente. Esta sociedade de informação exige uma ampla consolidação e atualização de conhecimentos, direcionando o indivíduo para um novo conceito de educação e uma nova alfabetização: a infoalfabetização.

Tem-se verificado que a escola nem sempre acompanha as mais recentes inovações tecnológicas. Muitos docentes têm dificuldades em aderir aos novos meios de informação, comunicação e formação, e de os colocar ao serviço do processo de ensino/aprendizagem. Em muitas situações a própria estrutura escolar, desde os seus espaços físicos, às suas inter- relações internas e externas, tem-se mantido cristalizada, fechada em si mesma, muito alheada do que se vai passando à sua volta, considerando-se ainda o local único e sagrado do conhecimento e da sua transmissão.

Os conhecimentos são divulgados por muitos meios fora da escola e o acesso à informação e ao conhecimento será cada vez mais fácil e generalizado. Importa termos professores capazes de saber preparar os alunos para a aprendizagem da previsão, antecipação do futuro, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para saberem pensar e agir numa sociedade instável e diversificada. O papel do professor tem de ser reequacionado já que o acesso ao conhecimento se faz por múltiplos circuitos, cabendo-lhe o papel de facilitador/animador/mediador da construção permanente do conhecimento dos alunos. Também lhe compete ensinar ao aluno a tirar partido da multiplicidade de fontes de conhecimento, bem como mediar a aprendizagem com o meio no qual se insere. A necessidade de ocorrência de mudanças efetivas nas práticas dos professores exige uma

preocupação destes com a maneira como os alunos aprendem, através da utilização de metodologias de ensino diferenciadas e diversificadas, nomeadamente através da utilização de tecnologias de informação e comunicação. A promoção do sentido de autonomia, responsabilidade, criatividade e a capacidade de recolher, relacionar e organizar informação, também concorre de forma clara para a melhoria da qualidade da aprendizagem do aluno à luz das tecnologias de informação e comunicação.

Discussão dos conceitos fundamentais

Conforme é afirmado no Livro Verde Para Sociedade da Informação em Portugal (já há vinte anos), a escola deve rever os seus objetivos e as suas metodologias:

A escola desempenha um papel fundamental em todo o processo de formação de cidadãos aptos para a sociedade de informação e deverá ser um dos principais focos de intervenção para garantir um caminho seguro e sólido para o futuro (Missão para a Sociedade da Informação, 1997, p. 33).

A importância dos sentidos no processo de aprendizagem. A escola tem de ser um espaço de

inovação permanente, onde os alunos sejam confrontados com novas situações de ensino/aprendizagem, neste contexto, a perceção é de extrema importância na comunicação, ao utilizar a tecnologia educativa sem se ter em conta alguns aspetos relacionados com a perceção humana, pode-se comprometer a receção da informação, não só a que se pretende abordar no momento, mas toda aquela que lhe esteja associada. A perceção é uma construção mental, em que a informação obtida pelos sentidos, no momento, se encaixa na experiência prévia do indivíduo, reformulando-a. Deste modo, a má perceção no presente gera confusão que vai dificultar a compreensão dos temas no futuro.

Em síntese, consideramos que uma das maneiras de diminuir o fosso que se criou entre a “escola paralela” e a “escola formal” será a utilização dos mesmos trunfos, aumentando o leque de estímulos audio-scripto-visuais através da introdução do multimédia nas práticas letivas. Não basta, no entanto, a riqueza de estímulos, é necessário também mudar as metodologias onde predominam as estratégias expositivas em favor de estratégias de exploração, de descoberta, de resolução de problemas e de conceção e desenvolvimento de projetos.

As tecnologias de informação e comunicação impulsionadoras de novas práticas letivas. A

mudança do modo como se aprende, à mudança das formas de interação entre quem aprende e quem ensina, à mudança do modo como se reflete sobre a natureza do conhecimento. As TIC disponibilizam instrumentos que contribuem para colocar o aluno no centro do processo ensino/aprendizagem, favorecendo a autonomia e permitindo a exploração de situações ricas e variadas (Dias, 1992; Freitas, 1999; Costa, Rodriguez, Cruz, & Fradão, 2012).

As TIC podem e devem ser promotoras de atividades cognitivas do aluno, com as quais ele vai pesquisar a informação, refletir e interpretar, manipular e construir o novo conhecimento (Dias et al., 1998). A introdução das TIC na escola implica a reorganização dos espaços educativos e a alteração das relações professor/aluno. As TIC são um poderoso instrumento de trabalho, um elemento de consulta e de comunicação a distância relevante para as mais diversas atividades. Estas tecnologias fazem com que o professor passe a ter necessidade de empreender uma atualização constante, acompanhando os desenvolvimentos científicos e técnicos.

Os inúmeros eixos de investigação da Tecnologia Educativa. A investigação na área das TIC

na educação engloba muitas vertentes, basta para confirmar tal diversidade ver as diferentes linhas de investigação dos trabalhos apresentados num congresso internacional desta área, como é o Challenges 2017, que se realiza na Universidade do Minho: Ambientes de aprendizagem, Aprendizagem móvel, Gamificação, Internet das coisas, Internet do futuro, Jogos, Laboratórios e museus remotos, Laboratórios e museus virtuais, Media locativos, Megadados, Programação, Realidade aumentada, Realidade virtual, Redes sociais, Robótica, Tecnologia multidimensional, Tecnologias de apoio, Tecnologias assistivas, Vestíveis, Web Rádio & TV, Web semântica, Aprendizagem baseada em problemas, Aprendizagem colaborativa, Comunidades de aprendizagem, Desenvolvimento social em rede, Ensino e aprendizagem em rede, Formação de professores, Narrativas digitais, Pensamento computacional, Privacidade e segurança, Recursos educativos digitais, Acessibilidade, Avaliação da qualidade do software, Avaliação de ambientes de aprendizagem, Avaliação em rede, Avaliação personalizada e inteligente, Avaliação remota, Avaliação virtual, Tutoria e supervisão remota e virtual, Usabilidade.

Apresentação dos estudos

O primeiro texto intitulado “E-portfólios e práticas de avaliação participadas: um estudo na educação pré-escolar” da autoria de Cristina Mateus, Maria Figueiredo e Belmiro Rego,

apresenta-nos um bom exemplo de integração das TIC no processo de ensino/aprendizagem. O estudo consistiu na implementação de portfólios digitais com um grupo de 12 crianças e respetivos pais em contexto de educação pré-escolar. O documento explícita como foi conduzido o desenvolvimento das práticas de uma educadora de infância com os vários intervenientes no processo educativo e como foi possível concretizar melhorias significativas nos procedimentos de avaliação e na participação através da documentação das aprendizagens das crianças recorrendo à construção de portfólios digitais. São partilhados os resultados relativos à perspetiva dos pais sobre o processo desenvolvido e apresentado um conjunto de conclusões resultante da análise dos resultados obtidos no estudo.

O segundo texto “CoP “@rrobas de saber”, construção colaborativa para uma prática Inovadora”, da autoria de Salomé Pereira e Maribel Miranda Pinto, descreve uma metodologia de aprendizagem que recorre à partilha de conhecimento utilizando recursos tecnológicos: as comunidades de prática online. A investigação descreve a criação e o estudo da comunidade de prática (CoP) @rrobas de saber para professores e educadores de infância no agrupamento de escolas de Castro Daire. O trabalho seguiu a metodologia de estudo de caso, recorrendo a instrumentos como a observação participante, os registos eletrónicos e o inquérito por questionário. Ao nível da análise de dados, utilizou-se uma abordagem mista: dados quantitativos e qualitativos. A análise das interações baseou-se num modelo de análise de interações para CoP online. Os resultados mostraram que a @rrobas de saber não se constituiu como uma efetiva CoP, situando-se num estádio prematuro. Apesar disso, este novo espaço virtual foi reconhecido como um importante espaço promotor da partilha de saberes e experiências.

O terceiro texto intitulado “A influência das tecnologias na promoção do pensamento abstrato com alunos do 1.º CEB”, da autoria de Isabel Marques, Cristina Azevedo Gomes e Nelson Gonçalves descreve uma outra vertente da integração das TIC nas práticas letivas: a promoção do pensamento abstrato em crianças. A investigação estudou de que forma a utilização das tecnologias pode facilitar a promoção do pensamento abstrato em crianças do 1.º Ciclo do Ensino Básico. A implementação da experiência foi sob a forma de projeto, a “Horta-Bio”, com uma turma do 3.º ano de escolaridade. As atividades de aprendizagem focalizam-se na Educação Ambiental, área de Estudo do Meio e de Matemática. Os sensores eletrónicos foram utilizados para recolher dados e estabelecer relações entre as grandezas ambientais e biológicas. Os alunos tiveram a oportunidade de utilizar várias ferramentas da Web 2.0 para registo e publicação dos resultados obtidos. O quadro teórico, construtivismo e

construcionismo, permitiu valorizar o contributo da tecnologia para a aprendizagem e para o desenvolvimento das competências para o século XXI. A análise dos resultados obtidos permite concluir, que o uso das TIC favorecem o desenvolvimento do pensamento abstrato.

Referências bibliográficas

Costa, F. A., Rodriguez, C., Cruz, E., & Fradão, S. (2012). Repensar as TIC na educação: o professor como agente transformador. Lisboa: Santillana.

Dias, P. (1992). Que direções para a interação na comunicação multimédia. Informática e Educação, 3.

Dias, P. Gomes, M. & Correia, A. (1998). Hipermédia & Educação. Braga: Edições Casa do Professor.

Freitas, C. (1999). Desafios para a Formação de Professores. In Atas da I Conferência Internacional de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação, desafios'99. Braga: Centro de Competência Nónio Século XXI da Universidade do Minho.

Missão para Sociedade da Informação (1997). Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal. Lisboa: Missão para Sociedade da Informação e Ministério da Ciência e Tecnologia. Universidade Aberta.

PARTICIPAÇÃO DE PAIS E E-PORTFÓLIOS: PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO

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