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1. Bases conceptuais e empíricas para o estudo do clima motivacional

1.8. Estudos empíricos desenvolvidos com base clima motivacional de

Após a conceptualização do modelo para o clima motivacional multidimensional (Duda, 2013) e da validação dos instrumentos acima citados para o contexto desportivo (Appleton et al., 2016; Smith et al., 2015), estudos empíricos começaram a testar os pressupostos da teoria. Além disso, importa referir que com base no modelo teórico multidimensional do clima motivacional, Duda et al. (2013) criaram um programa de intervenção, o PAPA Project, (The Promoting Adolescent Physical Activity). Esse programa teve como objetivo desenvolver a saúde e o bem-estar através de experiências positivas na prática desportiva. Para isso o programa conhecido como Empowering CoachingTM

centrou-se na formação e capacitação de treinadores, na qual busca ensinar métodos para os treinadores aumentarem os níveis de Empowering e diminuírem os níveis de Disempowering.

Esse programa serviu como base para testar diversas investigações empíricas. Um desses estudos com 406 atletas de diversas modalidades e níveis competitivos, Appleton e Duda (2016) verificaram que os níveis de Empowering não são suficientes para evitar os prejuízos de altos níveis de Disempowering, ou seja, essas duas classificações do clima motivacional apresentaram alguma independência.

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Solstad et al. (2018) investigaram diferentes perfis de treinadores noruegueses em relação ao clima motivacional ao longo de uma época de futebol. Os resultados indicaram que aqueles cujo os índices foram de alto Empowering e baixo Disempowering no início da época, obtiveram atletas com maiores índices de bem estar ao final da época.

Por sua vez, Fenton et al. (2017) demonstraram que jovens ingleses dos 9 aos 16 anos praticantes de diferentes modalidades, dentre os quais indicaram maiores percepções sobre o clima de Empowering na prática desportiva regular, apresentaram maior motivação autônoma e consequentemente realizaram atividade física moderada e intensa com maior frequência fora dos treinos sistematizados.

Smith, et al. (2016) realizada com 882 atletas e 74 treinadores comparou os níveis de clima motivacional criado pelo treinador através de uma triangulação entre as perspectivas dos atletas, treinadores e observadores externos de 4 diferentes países (Espanha, França, Grécia e Inglaterra). Os resultados demonstraram pouca variação do clima motivacional entre os diferentes países e confirmaram que um ambiente de maior Empowering promovem maiores níveis de motivação autônoma. Além disso, essa investigação encontrou resultados que suportam as medidas autorrelato dos atletas através do EDMCQ-C.

Zourbanos et al. (2016) testaram em 289 jovens gregos jogadores de futebol, o efeito do clima motivacional multidimensional na autoeficácia através da mediação da autoverbalização positiva e negativa. Os resultados indicaram que o clima de Empowering aumenta a autoeficácia mediado pela autoverbalização positiva, no entanto o clima de Disempowering não apresentou correlação significativa com a autoeficácia.

Gutiérrez-García et al. (2019) demonstraram através da análise de equações estruturais que o clima de Empowering está associado a diversão mediado pela motivação autônoma, em estudo com jovens jogadores de basebol do México. De forma similar, porém com jovens futebolistas mexicanos, Castillo- Jiménez et al. (2017) confirmaram a relação entre o clima de Empowering com a motivação autônoma. No mesmo estudo, ao testarem o impacto do clima

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motivacional na regulação da motivação mediado pelas NPB, encontraram valor significativo apenas para a NPB de autonomia.

Adicionalmente, importa referir que a implementação do PAPA Project na Noruega foi alvo de outra investigação. Søvik et al. (2016) aplicaram métodos observacionais para avaliar a implementação dos conceitos teóricos do clima motivacional de Empowering e afirmaram que a implementação foi fidedigna aos conceitos propostos pela teoria e previsto no programa do projeto (Duda, 2013; Duda et al., 2013)

Tessier et al. (2013) analisaram o clima motivacional criado por 57 treinadores de três diferentes países (França, Grécia e Inglaterra) após a formação deles no PAPA Project, através do MMCOS. Os resultados da investigação demonstraram que os climas criados favoreceram maior suporte do que frustração das NPBs. Ao compararem os treinadores de diferentes países constataram diferenças estatisticamente significativas no Suporte à Autonomia, Envolvimento para a Tarefa, Suporte Social e Envolvimento para o Ego, com maiores valores para os treinadores ingleses e gregos quando comparados aos franceses.

Adicionalmente, através do mesmo sistema de observação, MMCOS, Smith et al. (2017) apresentaram diferenças do clima motivacional criado pelo treinador no contexto da competição quando comparados com o treino. Os treinadores demonstraram menores níveis de Empowering e maiores níveis de Disempowering na competição em estudo realizado 17 treinadores do Reino Unido.

Em outra análise com treinadores de diferentes países (França e Noruega) que participaram do PAPA Project, Larsen et al. (2015) através de entrevista semiestruturada demonstraram que os treinadores mudaram seus comportamentos com base nos conceitos apresentados nas formações de treinadores vinculadas ao projeto. Além disso, a investigação demonstrou diferenças entre os treinadores sugerindo maior utilização de estratégias de Suporte à Autonomia por treinadores noruegueses em comparação com os franceses.

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Não foram encontrados estudos no contexto desportivo português e brasileiro que considerassem o clima motivacional multidimensional e hierárquico, impossibilitando a análise do clima motivacional a partir dessa perspectiva. Os resultados de investigações sobre esse construto psicológico em diferentes países demonstraram existir diferenças como referido acima (Larsen et al., 2015; Tessier et al., 2013). Associado a isso, investigações demonstraram que as NPBs podem ser diferentes em cada cultura porque os comportamentos tendem a ter significados de acordo com os valores e práticas culturalmente aceitas (Deci & Ryan, 2002), como confirmado em alguns estudos comparativos no desporto (Edmunds et al., 2010; Vlachopoulos et al., 2013).

Outro importante fator para análise do clima motivacional no contexto da lusofonia, refere-se à possibilidade de características motivacionais específicas ligadas a esse contexto. Nesse sentido, Coimbra et al. (2013) indicaram que os atletas brasileiros podem apresentar características motivacionais particulares, ao investigarem a motivação com base na TAD. Como os autores não analisaram possíveis causas, uma delas poderá estar associada ao clima motivacional conforme previsto em diferentes modelos teóricos (Ames, 1992a; Duda, 2013; Mageau & Vallerand, 2003)

Assim, a convergência da falta de informações sobre as características do clima motivacional no contexto desportivo dos países de língua portuguesa, e os indícios de possíveis diferenças nos contextos indica uma importante lacuna para novas investigações.

CAPÍTULO II

MOTIVAÇÃO NO DESPORTO: UMA REVISÃO

SISTEMÁTICA DAS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

EM LÍNGUA PORTUGUESA

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2. MOTIVAÇÃO NO DESPORTO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DAS