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Estudos empíricos sobre a relação entre crescimento econômico e degradação ambiental

2. REVISÃO DA LITERATURA TEÓRICA E EMPÍRICA SOBRE A RELAÇÃO DE

2.5 Estudos empíricos sobre a relação entre crescimento econômico e degradação ambiental

Freitas e Kaneko (2011) demonstram que no Brasil entre os anos de 2004 e 2009

ocorreu um desacoplamento relativo entre crescimento econômico e emissões de CO2,

provavelmente devido à diminuição do uso intensivo de carbono e da diversificação da matriz

energética. Neste trabalho os autores estimam as emissões de CO2 associadas ao consumo de

energia final utilizando-se da metodologia para composição de inventário de gases do efeito estufa desenvolvida pelo IPCC (2006) e decompõem as mudanças das emissões em vários determinantes para identificar os principais causadores destas alterações. Para esta decomposição de fatores os autores baseiam-se no modelo de índice de Divisia de média logarítmica (LDMI- log-mean Divisia index). Os resultados obtidos para o Brasil de desacoplamento relativo são diferentes de algumas economias desenvolvidas, os quais apresentaram desacoplamento absoluto e relativo35. Nestes países a queda verificada nas

emissões de CO2 é resultante de melhorias tecnológicas voltadas para redução da intensidade

energética, porém, de forma distinta, os esforços brasileiros são direcionados à mitigação de emissões através de uso mais racional de recursos naturais relacionados à geração de energia.

35 A OCDE (2002) identificou uma incidência sistemática de dissociação relativa entre emissões totais de CO 2

No ano de 2009, de acordo com esse mesmo estudo, observa-se um desacoplamento absoluto entre atividade econômica e as emissões no Brasil, sendo este um resultado notável e sem precedentes. Entre 2008 e 2009 as emissões de CO2 diminuíram em 4,7% e o PIB

nacional cresceu 0,3%36, constituindo uma relevante contribuição para o Brasil alcançar

padrões de emissão mais baixos que se aproximam de um pequeno grupo de países desenvolvidos. Este efeito sugere a ocorrência de um crescimento econômico acompanhado de uma queda dos impactos ambientais. No entanto, Freitas e Kaneko (2011) apontam que estes resultados poderiam ser alterados devido à perspectiva de crescimento de setores intensivos em energia no país e pela recuperação da economia mundial frente à recessão, sendo esperado, dessa forma, um aumento da produção e do consumo de muitos produtos, ou seja, crescimento da atividade econômica e elevação da intensidade energética, principais causadores do aumento de emissões.

Os próximos trabalhos apresentados não tratam explicitamente de estimativas de decoupling, mas compreendem a relação entre crescimento econômico e redução do uso de recursos naturais e impacto ambiental para o Brasil, que podem ser associados à Economia Verde como definida pela UNEP.

Gramkow (2011), baseada no pensamento cepalino, analisa as implicações do atual modelo econômico brasileiro sobre a deterioração ambiental decorrente de suas atividades econômicas para o período entre 1990 e 2005. A metodologia adotada consiste no modelo Economic Input-Output Life-Cycle Assessment (EIO-LCA) e utiliza como proxy para deterioração ambiental o indicador emissões de gases de efeito estufa. Verificou-se que a intensidade de emissões de gases de efeito estufa do PIB brasileiro apresentou uma tendência

ascendente ao longo do período analisado (O PIB cresceu 53% e as emissões de CO2, 56%),

indicando que o atual modelo econômico do país tem gerado cada vez mais danos ao meio ambiente. Essas emissões apresentam um padrão próprio dos países periféricos, pois derivam, predominantemente, da mudança de uso do solo e florestas, sobretudo em decorrência de desmatamento, o qual traz consigo problemas tanto de ordem ambiental, quanto social e econômico.

Machado (2002) avalia os impactos do comércio exterior brasileiro sobre o uso de energia e as emissões de dióxido de carbono do país, utilizando-se de um modelo de insumo- produto em unidades híbridas para estimar os coeficientes totais de intensidade energética primária e de carbono da economia brasileira aplicados às exportações e importações do país,

nos anos de 1985, 1990 e 1995. O autor verifica que o Brasil exporta, em termos líquidos, energia e carbono embutido nos produtos não energéticos, transacionados internacionalmente pelo país e que os termos de troca em energia37 para o Brasil foram maiores do que 1 e

crescentes nesses anos, o que significa que cada dólar recebido com as exportações utiliza mais energia e emite mais carbono que cada dólar dispendido com as importações.

Visentin (2012) verifica se a transição para uma Economia Verde poderia gerar mais empregos no Brasil do que no padrão vigente de crescimento econômico. Por meio de um modelo de insumo-produto simula seis cenários que avaliam quais são os efeitos gerados por maior eficiência no consumo de eletricidade da indústria e por mudança na composição do consumo energético brasileiro (de energia elétrica e derivados de petróleo) sobre a geração de empregos diretos e indiretos. Ao estimar quais seriam os possíveis efeitos que a adoção de uma inovação tecnológica, que permitisse reduzir o consumo de eletricidade da indústria em 2004 em 15% provocaria sobre a geração de empregos conclui que o resultado desta maior eficiência energética é acompanhado por um aumento do desemprego na economia. Evidenciando, portanto, que apenas uma mudança tecnológica não pode causar melhorias dos indicadores sociais do país, ou seja, o desacoplamento não é suficiente, neste caso, para levar o Brasil, automaticamente, em direção à Economia Verde socialmente inclusiva. A autora enfatiza que para ser alcançado o triple win (crescimento econômico, sustentabilidade ambiental e inclusão social), buscado pela UNEP, são necessárias medidas adicionais, como o incentivo a setores com baixo potencial de degradação ambiental e que apresentem maior probabilidade de gerar empregos quando comparados a outras atividades que produzem maior externalidade negativa para o meio ambiente.

A maioria das evidências empíricas que relacionam a atividade econômica e o meio ambiente no Brasil são estudos que buscaram testar a hipótese da CKA. Fonseca (2003) relaciona o crescimento econômico com a qualidade ambiental testando a hipótese de uma possível relação entre o PIB per capita nacional e a preservação ambiental. Para isto, utiliza- se de dados em painel com o modelo de efeitos fixos e como variável dependente o percentual de áreas estaduais preservadas dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, para os anos de 1985, 1990, 1995 e 2000. A autora supõe um modelo básico de demanda por proteção ambiental em que os determinantes desta são o nível de renda e as preferências dos indivíduos, e conclui que no Brasil há uma relação direta entre crescimento econômico e

37 Termos de troca em energia é a razão entre os coeficientes totais de intensidade energética das exportações e

preservação ambiental. No entanto, esta relação não pode ser entendida como uma evolução da qualidade ambiental resultante diretamente do crescimento econômico. Fonseca (2003) sugere que essas melhorias são decorrentes da mudança de atitude das pessoas em relação ao meio ambiente devido ao aumento da renda, ou seja, em termos microeconômicos, a qualidade ambiental torna-se um bem de luxo, revelado pela preferência do consumidor que é medida por sua elasticidade-renda.

Em uma revisão crítica da literatura existente sobre CKA, Brito, Melo e Sampaio (2012) procuraram estimar a curva da CKA para o desmatamento em 560 municípios da Amazônia Legal brasileira através de painéis dinâmicos para o período de 2001 a 2008. Além do crescimento econômico, outras variáveis foram importantes para explicar o desmatamento, como: a tecnologia e a atividade agropecuária. Os autores identificaram fortes problemas apresentados por trabalhos anteriores sobre CKA, como o comprometimento dos resultados devido ao viés de endogeneidade, por isso fizeram uso de uma metodologia não aplicada anteriormente. Para tal estudo, o resultado econométrico não foi significativo sendo explicado, talvez, pela homogeneidade dos municípios relacionados e pela possibilidade da existência de outros fatores não captados estatisticamente. Brito, Melo e Sampaio (2012) apontam que a CKA seja uma abordagem fundamentalmente macroeconômica, diferentemente do trabalho de Fonseca (2003), pois torna-se menos provável quando utilizada em uma análise microeconométrica, e destacam a necessidade de métodos mais aprimorados para estimar os modelos de CKA.

Outro trabalho que utilizou o desmatamento como variável dependente sob a hipótese da CKA foi o de Colusso, Perré e Almeida (2012), o qual estimou a relação entre crescimento econômico e degradação ambiental relacionando a variável área desmatada do bioma Cerrado com as variáveis explicativas do PIB per capita, sua forma quadrática e cúbica, área plantada, densidade demográfica e o efetivo de rebanhos bovinos para uma amostra de 1306 municípios no ano de 2008. Através dos modelos de defasagem e erro espacial os autores corroboram a hipótese de “U” invertido da CKA. No entanto, os demais modelos (Durbin espacial de defasagem e do erro e regressivo cruzado) apontaram uma relação linear crescente entre o desmatamento e o PIB

per capita ao quadrado e, ainda, com a inclusão da forma cúbica do PIB na análise obtiveram uma

curva em formato de “N” indicando que o desmatamento crescerá com um aumento continuo do PIB per capita.

Kamogawa (2003) ao aplicar o modelo de CKA relacionou o crescimento econômico com dois indicadores ambientais: qualidade da água e consumo de energia. Utiliza-se da técnica de mínimos quadrados ordinários (MQO) com dados da qualidade da água para o

Estado de São Paulo do período de 1980 a 2000, e de consumo per capita de energia do Brasil para os anos entre 1970 e 2001. O autor não corrobora a hipótese testada; verifica que o aumento da renda per capita foi acompanhado por uma piora da qualidade da água e elevação do consumo de energia; e salienta que o indicador de qualidade da água não apresenta uma relação direta com a produção industrial, mas sim com o tamanho da população.

Quadro 2 – Relação de trabalhos empíricos sobre crescimento econômico e meio ambiente

Autor(es) ambientais Variáveis Método38 Período Região Conclusão

Freitas e Kaneko

(2011) Emissões de CO2 LDMI 2004 a 2009 Brasil Desacoplamento relativo

Oliveira (2011) Gases do efeito estufa EIO-LCA 2005 Brasil

As exportações são mais intensivas em emissões por

unidade de produto do que as importações Gramkow (2011) gases do efeito Emissões de

estufa EIO-LCA 1990 a 2005 Brasil Não houve desacoplamento

Machado (2002) Uso de energia e emissões de CO2 Insumo-produto 1985, 1990 e 1995 Brasil mais energia e emitem mais As exportações utilizam CO2 do que as importações Visentin (2012) Consumo de energia elétrica e derivados de petróleo Insumo- produto 2004 Brasil Aumento da eficiência energética gera desemprego

na economia Fonseca (2003) Áreas estaduais preservadas Efeitos fixos 1985, 1990, 1995 e 2000 Distrito Federal 26 estados e Corrobora a hipótese da CKA

Brito, Melo e

Sampaio (2012) Área desmatada Efeitos fixos 2001 a 2008

560 municípios da Amazônia

Legal

Não corroboram a hipótese da CKA

Colusso, Perré e

Almeida (2012) Área desmatada

MQO com e sem efeitos

espaciais 2008

1306 municípios

do Cerrado CKA para alguns modelos Corroboram a hipótese da Kamogawa (2003) (1) Qualidade da água e (2) consumo de energia MQO (1) 1980 a 2000; (2) 1970 a 2001 (1) Estado de São Paulo; (2) Brasil

Não corroboram a hipótese da CKA

Santos et al.

(2008) Área desmatada Efeitos fixos 2000 a 2004

792 munícipios da Amazônia legal Corroboram a hipótese da CKA Gomes e Braga

(2008) Área desmatada aleatórios Efeitos 1990 a 2004 Amazônia legal Corroboram a hipótese da CKA

38 Esta coluna apresenta os métodos utilizados para mensurar os indicadores ambientais, assim como os métodos

Teixeira, Bertella e Almeida (2012) Taxa desmatada MQO com efeitos espaciais 2006 139 Municípios

do Mato Grosso Corroboram a hipótese da CKA

Fonte: Elaboração própria.

No Brasil, a maioria dos estudos que tratam da relação entre degradação ambiental e crescimento econômico referem-se a trabalhos sobre CKA e a um período de tempo muito curto, como mostra o Quadro 2 que resume as pesquisas anteriormente descritas39. Estes

trabalhos relacionam de alguma forma a degradação ambiental com o crescimento econômico e metade deles corrobora a hipótese da CKA com algumas ressalvas, tais como o poder limitado de explicação das variáveis. Os outros trabalhos apresentam apenas indicadores de emissão de gases de efeito estufa e de consumo de energia. A quantidade de variáveis ambientais estudadas ainda é bem reduzida, com o predomínio de áreas desmatadas e gases de efeito estufa. Isso reflete a necessidade de mais estudos no Brasil que envolvam outras variáveis e principalmente que trabalhem com a relação de longo prazo entre crescimento econômico e degradação ambiental.

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