• Nenhum resultado encontrado

Estudos empíricos sobre sintomas somáticos, sintomatologia depressiva e ansiedade em

Capítulo 1: Parte Teórica

5. Estudos empíricos sobre sintomas somáticos, sintomatologia depressiva e ansiedade em

sintomatologia depressiva e ansiedade em pessoas idosas

A identificação de idosos com sintomas depressivos e, que devem receber acompanhamento e tratamento através de medicação, deve ser realizada por meio da procura ativa dos sintomas. Um fator que complica ainda mais a identificação destes sujeitos é que a depressão muitas vezes ocorre, com frequência, associada a outras perturbações clínicas e neuropsiquiátricas (Braga et al., 2015). A presença de queixas somáticas não exclui o diagnóstico de outras doenças psiquiátricas. A depressão e ansiedade frequentemente encontram-se associadas a estas queixas (Lazzaro & Ávila, 2004). A maior parte dos idosos dos cuidados de saúde primários, com perturbações de ansiedade ou de depressão, apresentam sintomas somáticos associados (Kroenke, Spitzer, Williams, & Löwe, 2010).

O estudo de Löwe et al. (2008), com 2091 participantes, indicou que 75% dos pacientes deprimidos apresentavam também comorbilidade com ansiedade, queixas somáticas ou ambos; 57% dos pacientes com ansiedade apresentavam comborbilidade com depressão, queixas somáticas ou ambos e 54% dos participantes que apresentavam queixas somáticas, tinham depressão associados, ansiedade ou ambos.

A meta-análise, realizada por Henningsen, Zimmermann, & Sattel (2003), indicou que, pacientes com sintomas somáticos têm diagnóstico de depressão major ou sofrem de alguma perturbação de ansiedade em maior taxa de incidência do que pacientes com patologia orgânica conhecida. Na realização do diagnóstico da depressão é necessária alguma cautela, uma vez que as queixas somáticas são frequentes no próprio processo de envelhecimento normal, sendo que nos idosos deprimidos essas queixas tendem a estar associadas a grandes níveis de ansiedade (Trentini et al., 2005). Segundo Chou & Cheung (2013), a ocorrência de sintomas somáticos é maior em idosos com ansiedade e depressão em comorbilidade do que nos idosos que apenas apresentam uma perturbação de ansiedade. Pacientes com ansiedade ou depressão diagnosticada têm significativamente mais sintomas somáticos e comprometimento funcional do que aqueles com doença crónica (Katon et al., 2001).

Os idosos deprimidos apresentam maior grau de hipocondria e ansiedade somática, com tendência a valorizar em demasia os sintomas físicos e, a aumentar em grande escala o consumo de medicações e procura de serviços de saúde (Argimon & Stein, 2005).

Num estudo com 374 participantes, os pacientes com perturbação de ansiedade generalizada (n=54) revelaram níveis altos de sintomas de ansiedade e depressivos assim como sintomas somáticos. Relativamente a estes últimos, os sintomas associados com perturbação de ansiedade generalizada foram sensação de formigueiro e perda de energia (Wetherell et al., 2010).

O reconhecimento da origem somáticas das queixas é, no entanto, difícil de se realizar, devido a uma forte associação entre ansiedade, depressão e somatização (Löwe et al., 2008), mas também porque alguns sintomas como dispneia, dor no peito e palpitações, podem ser a

manifestação de uma patologia somática e psiquiátrica (Frangos, Zekry, Rudhard-Thomazic, Giardini, & Perrenoud, 2011).

Alguns estudos evidenciaram também que perturbações de humor e de ansiedade são bons preditores de sintomas somáticos (Simon, Gater, Kisely & Piccinelli, 1996, cit. in Elklit & Christiansen, 2009).

5.1. Estudos sobre depressão e ansiedade na velhice

Embora a depressão e a ansiedade historicamente sejam vistas como condições distintas, ambas não são mutuamente exclusivamente e muitas vezes coexistem no mesmo sujeito (Gorman, 1996). Os transtornos relacionados com a saúde mental, nomeadamente, a ansiedade e a depressão, afetam negativamente a saúde física, especialmente, em pessoas idosas (American Psychological Association, 2001). A ansiedade e a depressão na velhice apresentam um alto nível de cormobilidade com doenças físicas, e por vezes torna-se bastante difícil distinguir sintomas psicológicos de físicos, reportados pelos idosos (Bryant, 2010).

Um estudo realizado por Yohannes, Baldwin, & Connolly (2008) revela que nem sempre os sintomas de ansiedade estão associados à presença de depressão no sujeito. A presença de sintomas de ansiedade podem ser independentes da sintomatologia depressiva cormóbida e podem persistir em pessoas idosas não deprimidas (Norton et al., 2012). No entanto, Lenze et al. (2001) refere que é comum os idosos com depressão diagnosticada, frequentemente tenham sintomas de ansiedade associados e, que menos frequentemente tenham perturbação de ansiedade em cormobilidade.

São vários os estudos que nos indicam que a prevalência de sintomas de ansiedade sem a presença de depressão num idoso, é muito baixa (Mehta et al., 2003). No estudo de Shahpesandy (2005) verificou-se que a ansiedade encontrava-se presente em pessoas idosas deprimidas.

5.2. Estudos sobre sintomas somáticos e depressão na velhice

No envelhecimento é comum observar-se, principalmente, um aumento de sintomas somáticos e falta de bem-estar. A quantidade de comorbilidades é responsável por uma pequena parte desta associação, visto que os sintomas somáticos tendem a ser associados aos sintomas de depressivos (Nguyen & Zonderman, 2006, cit. in Irigaray & Schneider, 2007). Idosos com depressão frequentemente apresentam doenças físicas, dores de cabeça e dores de estômago, sem causa médica aparente, bem como fadiga e irritabilidade (Alexopoulos et al., 1999; Caine & Conwell, 2001; Conwell & Pearson, 2002; Karel et al., 2002; Williamson, Shaffer, and Parmelee, 2002, cit. in Pocinho, Farate, Dias, Lee, & Yesavage, 2009). Os resultados do estudo de Rollman, Block, & Schulberg (1997) revelam que é necessário monitorizar os sintomas depressivos, pois a sua redução pode diminuir significativamente a gravidade dos sintomas somáticos.

No estudo de Sheehan et al. (2003, cit. in Pimentel, 2010), com uma amostra de idosos que usufruíam de cuidados primários, os sintomas somáticos foram significativamente mais prevalentes em idosos deprimidos do que nos não deprimidos. Neste estudo, os sintomas mais comuns foram a fraqueza, sensação de massa na garganta, peso nas pernas, sensação de formigueiro e dor muscular. Quando um idoso apresenta sintomatologia depressiva, também é comum experienciar queixas somáticas como fadiga, cefaleias, dores lombares e problemas vagos nos intestinos (Relvas et al., 2001). Segundo Peña Solano, Herazo-Dilson, & Calvo Gómez, (2009), as queixas somáticas são mais comuns em idosos deprimidos do que em pacientes mais jovens e encontram-se relacionados com a depressão, sendo que os idosos com sintomas severos estão mais associados a um nível de gravidade mais elevado de depressão, tornando-se imprescindível avaliar a funcionalidade física e os sintomas somáticos nos mesmos (Shin, Jung, Jo, & Kang, 2009).

O estudo de Fonda & Herzog (2001) sugere que, ainda que os sintomas somáticos e do humor abarquem a sintomatologia depressiva no geral, eles são suficientemente únicos, para que a falha em considerá-los separadamente possa ocultar alguns fatores, relevantes para o processo patológico e tratamento dos problemas de saúde mental nos idosos. Torna-se fundamental avaliar as duas vertentes da sintomatologia depressiva, para que não ocorram erros, quer de diagnóstico quer de tratamento.

Num estudo Magnil, Gunnarsson, Björkstedt, & Björkelund (2008), com 302 participantes, vários sintomas somáticos foram associados com a presença de sintomatologia depressiva, especialmente dispneia, fadiga, problemas gastrointestinais, perturbação do sono, e também perda de apetite ou aumento do apetite. Anteriormente no estudo de Drayer et al. (2005), verificou-se que se deve considerar a presença de depressão no idoso, sempre que pacientes idosos, tenham doenças associadas e múltiplas queixas somáticas.

No estudo de Shin et al. (2009) constatou-se que as mulheres possuíam um maior número de doenças crónicas, o que pode estar relacionado com o elevado número de sintomas somáticos e consequentemente maior sintomatologia depressiva. No mesmo estudo verificou- se que a baixo estatuto socioeconómico, baixo desempenho funcional e um nível de queixas somáticas elevado que possa estar associado a depressão.

Os sintomas somáticos são muito prevalentes na população geriátrica, sendo que são vários os estudos que demonstram que o número e a severidade dos sintomas somáticos reportados pelas pessoas idosas, encontram-se intimamente relacionados com depressão (Jeong et al., 2014).

É importante destacar que os sintomas somáticos associados à depressão não sejam confundidos com perturbações somatoformes, em particular com a perturbação de somatização (Tylee & Gandhi, 2005).

5.3. Estudos sobre ansiedade e sintomas somáticos na velhice

Ao falar em perturbações de ansiedade, sabe-se que os idosos experienciam, com mais frequência, sintomas somáticos do que os jovens adultos (Lenzé et al., 2000). Nos estudos

realizados por Lenzé et al. (2000) e Wolitzky-Taylor et al. (2010) as perturbações de ansiedade foram associadas a um maior nível de sintomas somáticos, como por exemplo, dores no peito e cabeça, suores e problemas intestinais.

Foram encontradas, também, fortes associações entre ansiedade em pessoas idosas e sintomas somáticos, assim como com os estilos de atribuição (Waxman et al., 1985; Gouvia et al., 1986, cit. in Sheehan et al., 2002). O sofrimento emocional da ansiedade é frequentemente acompanhado de sintomas físicos específicos associados a um estado de excitação, como o suor, tonturas e falta de ar. Também pode ser acompanhada de queixas somáticas, como insónia, agitação, dores musculares, dor abdominal, dor de peito, fadiga, e dores de cabeça (Gelenberg, 2000).

Capítulo 2: Parte Empírica

Documentos relacionados