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1.4. OS HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (HPAs)

1.4.6. ESTUDOS OCUPACIONAIS E AMBIENTAIS

O material particulado (MP) é emitido em processos naturais e antropogênicos (fumaça, pó de carvão, pó de amianto, pó de cimento). O interesse na amostragem de aerossol inclui o monitoramento de emissões de MP de processos industriais, o monitoramento de MP suspenso em atmosferas do ambiente e do local de trabalho. Esses são de grande importância para estudos de problemas associados à poluição do ar e dos efeitos do MP sobre à saúde das pessoas.

Os HPAs são considerados contaminantes prioritários pela EPA e fazem parte da lista negra da Comunidade Européia (76/464/CEE). Para a água potável tem-se fixado o valor limite para a soma das concentrações de 6 HPAs de 200 mg.m-3 (80/778/CEE).

Devido às dificuldades em se estabelecer o valor limite para os HPAs no ar, a Agência de Medicina Ambiental da Alemanha propôs um valor guia de 10 ng.m-3 de B(a)P para o ar atmosférico, como base da estratégia de controle para a proteção da população ao risco (UMWETSBUNDESANT, 1979). A Holanda tem como objetivo reduzir a concentração média anual de B(a)P para 5 ng.m-3 (TWEEDE KAME DER STATEN-GENERAAL, 1984/1985).

A lista de TLVs (Threshold Limit Values) publicada pela American

Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) tem sido usada como

referência em muitos países. Segundo a Occupational Safety and Health

Administration (OSHA), o TLV para o benzo[a]pireno, antraceno, criseno,

fenantreno e pireno é 0,2 mg.m-3 em ambientes de trabalho (NIOSH, 1994, 1997). Há vários exemplos de processos industriais nos quais os HPAs podem ser identificados no ambiente de trabalho (indústrias de coque, de alumínio, de asfalto, de eletrodos de carbono e fundições) (POPI, et al, 1997; KULJUKKA et al.,1998, VAN DELFT et al., 1998; BRANISTEANU & AIKING, 1998) . Os efeitos carcinogênicos e mutagênicos dos HPAs oriundos da combustão de biomassa e de processos industriais têm sido indicados por estudos epidemiológicos, estudos em animais e teste de Ames (AMES et al., 1975; HSU et al., 1997; CHING et al., 1996; BEKKE et al.,1997; PREUSS et.al,1997; BOUCHARD & VIAU, 1998; ANGER et al., 1997; HADDAD et al, 1997; VAN BEKKUM et al, 1997; BAI et al.,1998).

O estudo ocupacional realizado com voluntários em uma fábrica de alumínio na Polônia evidenciou que 61% do pireno existente no material particulado é retido pelo sistema respiratório (BRZE et al., 1997). Já para o pireno em solução inserido na traquéia de cachorro observa-se que apenas 13% do pireno é retido na mucosa da traquéia e 1% da quantidade inserida fica preso por ligação covalente ao tecido da traquéia. A alta concentração de pireno no epitélio combinado à baixa penetração na corrente sangüínea, permite uma substancial transformação metabólica do pireno na mucosa da traquéia, com formação de produtos que são em grande parte eliminados pelo organismo (GERDE et al., 1998).

A combustão de biomassa, principalmente madeira, pode resultar em uma significativa emissão de MP e HPA para a atmosfera (OANH et al.,1999; McCKENZIE et al., 1994; RADZI BIN ABAS et al., 1995). Estudo comparativo entre a madeira, o carvão mineral e o carvão vegetal, em sistemas de aquecimento residencial no sudeste da Ásia, mostrou que o fator de emissão de MP em miligramas por quilograma de combustível é de 51, 36 e 7 para queima da madeira, carvão vegetal e carvão mineral respectivamente (OANH et al.,1999). Entre os três combustíveis a madeira apresentou a maior concentração de HPAs no material particulado. Na Finlândia mais de 90% das emissões de hidrocarbonetos e HPAs é proveniente de fontes estacionárias como a queima de madeira (ORAVAINEN & SAASTAMOINEN, 1997). Análise de aerossóis em centros urbanos (VYSKOCIL et al, 1997 ) e em ambiente de trabalho impactado por alcatrão mineral e/ou carvão mineral (GOLDSTEIN et al., 1994; WATTS et al., 1994) tem mostrado atividade mutagênica. O fator de emissão mutagênico da queima aberta de refugos de borracha é de 3 a 4 vezes maior em magnitude do que os valores obtidos da combustão de óleo, carvão e madeira usados em aquecedores mas foi similar à queima aberta de madeira e plástico (DEMARINI et al., 1994).

A concentração dos HPAs e carbono elementar no interior do metrô na cidade de Berlim ocidental (itinerário Spandau-Neukölln), durante o verão de 1995 e no inverno de 1996, foi mais elevada do que no interior de um carro para o mesmo itinerário (FROMME et al., 1998).

Os HPAs têm sido encontrados em diversas fontes de emissão e amostras ambientais, tais como água e sedimentos, peixes, solo , resíduos de incineradores, plantas e óleos minerais (LAMOUREUX et al.,1996; KAYALI-

SAYADI et al.,1996; MENZIE et al.,1992;). Níveis de benz[a]pireno entre 0,34 e 1,36 µg/kg foram encontrados em carnes defumadas por processo industrial, e de 1,8 a 6,09 µg/kg de carne defumada em processo caseiro em Campinas (NOLL et al.,1997).

Têm-se pesquisado os particulados atmosféricos e os particulados emitidos diretamente da fonte da queima de combustível, biomassa e cigarro. Os HPAs e os nitro-HPAs fazem parte da composição dos MP emitidos da queima de diesel (SCHAUER et al, 1999; SUZUKI, 1996). O BaP e outros HPAs têm sido encontrados na fumaça de cigarro (GUERIN,1991) .Os HPAs com 2 e 3 anéis foram responsáveis por 70% da concentração dos 20 HPAs encontrados na combustão da madeira (KHALILI et al., 1995). Na composição dos aerossóis têm sido identificados os HPAs não-substituídos e substituídos (alquil-HPAs) e seus derivados (metóxi- e ceto-HPAs), n-alcanos, álcoois, ácidos graxos, n-aldeídos, quinonas e di e triterpenos, fitosteróis (SIMONEIT, 1999a, 1999b; OROS & SIMONEIT, 1999; PANTHER, et al.,1999; VASCONCELOS et al., 1998; RADZI BIN ABAS et al., 1995; ACEVES & GRIMALT, 1993(a), 1993(b); McKENZIE et al., 1994; HAWTHORNE et al, 1992; CASS, 1998).

No Brasil existem poucos estudos sobre a ocorrência e as fontes de HPAs na atmosfera, sendo que os estudos existentes restringem-se à queima da floresta amazônica (RADZI BIN ABAS, et al. 1995, VASCONCELOS et al., 1998), fuligem de cana-de-açúcar (ZAMPERLINI et al., 1997; RIZZO DA MATTA, 1992; MAHNKE & KRAUSS, 1996) e aerossóis nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo (AZEVEDO et al., 1999; MATINIS et al.,1999). Sobre as queimadas no cerrado existem estudos envolvendo concentrações iônicas na água de chuva (MOREIRA-NORDEMANN et al, 1997), material particulado e gases como: CH4,

CO2, CO, (WARD et al., 1992, REMER et al.,1998; FEREK et al.,1998 ).

Especificamente sobre os impactos causados por HPAs e outros poluentes orgânicos emitidos na queima do cerrado (com finalidades agrícolas ou de produção de carvão vegetal) nenhuma contribuição foi encontrada na literatura.

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