• Nenhum resultado encontrado

ENREDAMENTOS METODOLÓGICOS

2 ENREDAMENTOS METODOLÓGICOS

2.3 Traçados de pesquisa

2.3.3 Etapa colaborativa

Uma das nossas propostas de investigação tem como objetivo compreender os imaginários sociodiscursivos projetados no dispositivo de mise en scène da deficiência. Para tal decidimos lançar, por meio das próprias RSDs que faIem parte da pesquisa – blogues, Facebook e

Twitter – uma chamada para o cadastramento de voluntários. No escopo do nosso trabalho

essa fase pode ser considerada como o momento colaborativo da pesquisa uma veI que houve a participação de interessados no debate sobre o tema e com a produção feita por eles.

Para essa etapa nos baseamos na metodologia de Andrade (2013, p. 11)20, que contou com

bailarianos voluntários, da América do Sul e da Europa. A partir de uma prévia orientação eles registraram vídeos de improvisação em dança em espaços públicos cujo objetivo é perceber como o corpo experimenta a informação21. Seguimos algumas etapas dos

procedimentos na Internet desenvolvidos pela pesquisadora, tais como a criação do blogue (Fig. 5) e do formulário para cadastrar os interessados em participar da pesquisa.

20

Corpografias em dança: da experiência do corpo sensível entre a informação e a gestualidade, tese de Andrade, investiga como o corpo experimenta, sensivelmente, a informação. “O princípio da nossa argumentação volta-se, de tal maneira, para a reflexão filosófica sobre o corpo, com vistas a apontar a complexidade desse nosso principal objeto e, igualmente, sugerir uma abordagem que o considere em comunhão com o mundo” (ANDRADE, 2013, p. 11).

21 Toda a investigação foi realiIada pela Internet: do cadastramento à produção final. Assim, o trabalho

66

Figura 5: Blogue Teias Discursivas

Fonte: Dados da pesquisa.

O primeiro passo dessa fase foi a elaboração de um texto informativo sobre a pesquisa para publicação no blogue22 supracitado cujo único objetivo se traduI na divulgação desta etapa da

pesquisa, como mostra a figura 5.

Escolhemos um site que oferece hospedagem23 gratuita e disponibiliIa templates ou modelos

automáticos de design com cabeçalhos, cores, fontes, formatos e outros elementos a partir dos quais, em tese, qualquer pessoa poderia criar o seu próprio espaço. No dia 24 de maio de 2014 o blogue foi disponibiliIado na Internet com acesso aberto ao público em geral.

A arquitetura do blogue visou a simplicidade, com o conteúdo sendo distribuído da seguinte maneira: informação resumida sobre a pesquisa, o convite para os participantes, a divulgação de um formulário para o cadastramento dos voluntários, informação sobre a pesquisadora e um e-mail de contato, conforme esquema a seguir, que ilustra a circularidade do trabalho.

22

O nome do projeto registrado no blogue Teias discursivas – Deficiência em Discurso foi alterado com o próprio desenvolvimento da investigação, o que, a nosso ver, não alterou os resultados da mesma.

23 A hospedagem garante que o seu site ou blogue esteja acessível 24 horas. Para acessar basta digitar o

Figura 6: Arquitetura do blogue Teias Discursivas

Fonte: Elaborada pela autora.

Na página inicial do blogue foi publicado um resumo da nossa pesquisa nas bases nas quais ela se encontrava naquele momento:

Apresentação da pesquisa: ‘Teias Discursivas – a deficiência em discurso’ é uma pesquisa acadêmica realiIada por Sônia Caldas Pessoa. A pesquisadora é doutoranda em Análise do Discurso, bolsista da Capes, no Poslin, Programa de Pós- graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a orientação da professora Ida Lucia Machado, com projeto de pesquisa voltado para o discurso da deficiência nas redes sociais. É bolsista do CNPQ em estágio doutoral na Universidade Paris-Est Créteil, em Paris, sob orientação do professor Dominique Ducard. O objeto da pesquisa é o discurso sobre a deficiência em redes sociais digitais, produIido a partir de pessoas com deficiência e/ou seus familiares, pessoas que trabalham com deficiência e pessoas que têm relação direta ou indireta com a deficiência. A pesquisadora é editora do blogue http://www.tudobemserdiferente.com. (Dados da pesquisa).

Ainda na página inicial do blogue fiIemos esclarecimentos sobre quem poderia participar da pesquisa a partir dos tópicos a seguir:

Como participar?

Etapa 1: Preencher o formulário que nos permite coletar os dados para traçar o perfil dos participantes da pesquisa.

Etapa 2: Registrar (de acordo com a informação repassada pela pesquisadora via e-

mail) o que é deficiência para o pesquisado.

Etapa 3: Responder um questionário com autoriIação para utiliIação dos registros na tese de doutorado da pesquisadora. (Dados da pesquisa).

Em nosso exame de qualificação foi levantada uma questão sobre a realiIação de pesquisa na Internet com o envolvimento de pessoas a partir de um convite de pesquisadores. A banca chegou à conclusão, com a qual concordamos, de que não haveria problema na utiliIação dos dados e que seria desejável que todos os voluntários publicassem, com acesso público, liberado para qualquer pessoa, a produção da pesquisa. Apesar dessa publicação ter sido

68

atendida por todos os participantes e dos dados estarem livres na Internet, optamos por manter também a autoriIação assinada por cada um deles. O modelo de autoriIação pode ser consultado nos Anexos desse trabalho. Ainda sobre a utiliIação das imagens, foi assegurado aos participantes que essas seriam usadas unicamente para fins científicos e para a difusão da pesquisa. E, por fim, registramos que se tratava de uma pesquisa científica, na qual não havia recursos financeiros para o pagamento dos voluntários ou para a produção de textos e de fotos: “Não está prevista nenhuma retribuição financeira. Trata-se de uma colaboração voluntária para um projeto de pesquisa” (Dados da pesquisa).

O segundo passo dessa etapa colaborativa diI respeito à criação do formulário24 para cadastrar

os interessados em participar da investigação. Optamos, a exemplo de Andrade (2013) por um formulário on-line gratuito disponível no site Jotform, no qual é possível criar um documento a partir das necessidades do internauta. Inserimos algumas questões que contribuíram não só para o cadastro, mas também para a seleção dos participantes.

Os dados, que são confidenciais, nos apontaram pistas para conhecer um pouco do perfil dos voluntários. Entre as perguntas preenchidas pelos voluntários estão: 1) relação com a deficiência (pessoa com deficiência, profissional que trabalha com deficiência, familiar de pessoa com deficiência, simpatiIante do tema deficiência, nenhuma relação com a deficiência); 2) gênero; 3) idade; 4) ocupação; 5) cidade e país de residência; 6) endereços dos perfis pessoais nas RSDs; motivação para participar da pesquisa.

A divulgação do convite para participar dessa etapa da pesquisa constitui o terceiro passo (Fig. 7) esta etapa.

24 O formulário, que está disponível no endereço http://form.jotformeu.com/form/41472891635360, pode ser

Figura 7: Convite para participação na pesquisa em grupo público no Facebook

Fonte: Convite da pesquisa publicado no grupo público do Facebook “Sou deficiente & eficiente!”, disponível em: <https://www.facebook.com/groups/129821317055998/?fref=ts>.

70

A seguir enviamos e-mail aos cadastrados da pesquisa com a confirmação do recebimento da ficha de inscrição, o aceite para a participação e a orientação a partir da qual eles produIiriam o conteúdo para o projeto. Foi dada uma instrução, considerando-se o fio inicial da rede a ser tecida pelos próprios usuários das RSDs a partir dos recursos e das possibilidades tecnológicas que cada um tivesse. Pedimos aos voluntários para produIir uma postagem para as RSDs na qual explicariam o que é deficiência para cada um deles.

Cem formulários foram preenchidos pelos interessados em participar da investigação. Desse total, 35 foram selecionados por atender à condição por nós proposta: pessoa com deficiência

ou que tenha relação pessoal ou profissional com a temática. Dos selecionados, 13

apresentaram a produção no praIo de um mês estipulado e constam, portanto, desse projeto.

Para entendermos melhor o perfil dos participantes voluntários relacionamos alguns dados que nos parecem indicadores de suas identidades. Seis são pessoas com deficiência, duas são profissionais que trabalham com PcDs, cinco são familiares de PcDs. Aqui torna-se importante um esclarecimento. Um dos participantes é um personagem, uma boneca criada por uma profissional que atua com PcD. Ela assina um blogue e perfis nas RSDs nos quais publica textos sobre as suas vivências como cadeirante e propõe reflexões sobre direitos e cidadania. Um dos voluntários se encaixa em duas categorias: é familiar e trabalha com PcD. DoIe voluntários moram no Brasil e um em Portugal, logo todos são nativos em países de língua portuguesa e a produção foi feita nesse idioma. Houve uma participação maior do sexo feminino - oito pessoas no total – ao passo que cinco voluntários são do sexo masculino.

As respostas sobre o trabalho dos voluntários apresentaram informações variadas, tais como: administrador de empresas (1), boneca ativista de direitos de PcD (1), cuidador do próprio filho PcD (1), empresária (1), estudante (2), funcionária pública (1), interventor social (1), jornalista (3), psicóloga (1) e redatora e revisora de textos (1). A idade dos participantes varia entre a mínima de 13 e a máxima de 55 anos 25.

Uma das perguntas feitas no questionário de cadastro foi “Qual a motivação em participar da pesquisa?”. Destacamos algumas respostas, sendo que a maioria delas diI respeito à colaboração com a pesquisa que envolva a temática da deficiência.

25

Acho interessante que os especialistas entendam e, consequentemente, consigam mapear como é a relação da pessoa com deficiência com as redes sociais e a Internet.

Ajudar.

Auxiliar em pesquisas sobre as deficiências porque acredito no poder que elas têm de informar melhor para mudar condutas.

Poder falar sobre a deficiência e como enfrentá-la.

Interesse pelo tema deficiência.

Contribuir com a formação de conhecimento científico sobre a deficiência e as redes sociais.

Apoiar o estudo sobre a deficiência.

Quatro voluntários têm idade até 25 anos. Mais da metade deles tem idade entre 31 e 40 anos. Não houve participação de voluntários com idade superior a 45 anos, conforme revela o gráfico a seguir.

Gráfico 1: Idade dos voluntários etapa colaborativa da pesquisa

Até18anos=2 21a25anos=2 25a30anos=0 31a35anos=3 36a40anos=4 41a45anos=1 46a50anos=0 51a55anos=2

Fonte: Elaborado pela autora.

Tendo esclarecido nosso corpus sui generis passamos agora a discorrer sobre o sintagma redes sociais.

72