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6.2 Etapas do Estudo

6.2.1 Etapa 1 Construção do Conteúdo sobre Violência Sexual

Nesta etapa foi realizada uma revisão integrativa para levantamento da literatura e grupos focais com homens e mulheres cegos para conhecer as vivências e experiências destes com a violência sexual. Esses dados foram fundamentais para nortear a construção do conteúdo com base nas necessidades do público-alvo.

Revisão Integrativa sobre Prevenção de Violência Sexual

A revisão integrativa analisou a produção científica sobre as estratégias de promoção da saúde para prevenção da violência sexual. Seguindo as etapas metodológicas da revisão: seleção da questão norteadora, definição dos critérios de elegibilidade (inclusão e exclusão), definição das informações relevantes dos estudos, avaliação dos achados, interpretação e síntese das informações encontradas (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

As bases de dados pesquisadas foram LILACS, PUBMED, SCIELO e CINAHL. Foram utilizados os cruzamentos dos descritores: violência sexual e promoção da saúde;

sexual violence and health promotion.

Após a pesquisa foram identificados 165 artigos nas bases de dados, dos quais 110 foram excluídos por não trazerem a relação entre a violência sexual e promoção da saúde em seus títulos e resumos. Dos 55 artigos pré-selecionados, todos foram lidos na íntegra, sendo excluídos 41, por não estarem dentro dos critérios de elegibilidade: artigos na íntegra, de pesquisa original, publicados entre os anos de 2006 e 2016, com a violência sexual como foco temático principal.

Dos 41 artigos excluídos, três eram artigos de reflexão/revisão; 13 abordavam a saúde sexual/reprodutiva e não a violência, 24 foram excluídos por abordarem a violência sexual juntamente com outros tipos de violência, um artigo foi eliminado por estar duplicado em duas bases.

Figura 3. Mecanismo de busca de revisão integrativa. Fortaleza – CE, 2017.

Os estudos foram organizados em instrumento construído e validado por Ursi (2005), adaptado para as peculiaridades da temática promoção da saúde e violência sexual (ANEXO A).

Grupo Focal: vivências e experiências de pessoas cegas sobre a violência sexual

Na segunda etapa de elaboração do conteúdo da cartilha educativa virtual, foi realizada técnica de grupo focal para levantamento do conhecimento prévio das pessoas cegas sobre a violência sexual, as formas de prevenção, bem como suas vivências e experiências em relação à temática.

A escolha do Grupo Focal como estratégia para esta etapa da pesquisa deu-se por ser uma técnica que permite o compartilhamento do conhecimento das pessoas cegas sobre a temática violência sexual, a fim de fundamentar a construção do conteúdo da cartilha educativa virtual.

Estudos que adotam os grupos focais como metodologia demonstraram que esses espaços são lugares privilegiados para discussão e trocas de experiências em torno de determinada temática. Seu formato estimula o debate entre os participantes,

Base de Dados: LILACS, PUBMED, ScIELO e

CINAHL

Artigos selecionados a partir do título e resumo

(n=55)

Artigos completos e elegíveis (n=14)

Estudos incluídos na síntese (n=14) Artigos identificados por

meio da pesquisa nos bancos de dados (n=165)

Artigos completos excluídos (sem elegibilidade)

(n=41) Artigos excluídos

(n=110)

permitindo que o tema abordado seja mais problematizado do que em uma situação de entrevista individual (TRAD, 2009).

A técnica de grupo focal é bem indicada para pesquisas de campo. Ela possibilita que um aprofundamento diversificado dos conteúdos relacionados ao tema de interesse seja feito em pouco tempo e baixo custo. É ainda uma técnica relevante para lidar com questões de saúde sob uma ótica social, já que se torna possível identificar percepções, sentimentos, atitudes e idéias dos participantes a respeito de um determinado assunto (POPE; MAYS, 2009).

Destaca-se a importância da técnica de grupo focal, pois esta assimila os conteúdos implícitos da temática, como regras, valores e significados culturais instituídos. Além de permitir o desvelamento das singularidades e coletividades presentes na complexidade cultural do contexto. Traz à luz semelhanças, mas não igualdades. Portanto, neste tipo de técnica pode emergir profundas diferenças nas experiências vivenciadas pelos cegos sobre a violência sexual e suas variadas formas (RESSEL et al., 2008).

Os participantes do grupo focal foram contatados a partir de uma instituição de ensino para cegos, na cidade de Fortaleza – Ceará. Após autorização da instituição, a pesquisadora solicitou à direção que indicasse os participantes que se encontravam dentro dos critérios de inclusão: homens e mulheres cegos, com idade acima de 18 anos.

A escolha do número de participantes foi baseada na literatura, que permite uma variação entre seis a quinze pessoas como recomendável em cada grupo (TRAD, 2009). As pessoas cegas participantes dos grupos foram selecionadas por conveniência, do tipo "bola de neve" (amostragem em rede ou cadeia). Quando se identificou um sujeito que se enquadrasse nos critérios de elegibilidade, era-lhe solicitada a indicação de outros possíveis participantes (POLIT; BECK; HUNGLER, 2011).

O número de participantes no grupo focal, a complexidade do tema ou o grau de polêmica em torno das questões apresentam-se como fatores que podem interferir na duração de cada grupo. Entretanto, cada grupo deve ter uma duração média entre 90 (tempo mínimo) e 110 minutos (tempo máximo) (TRAD, 2009).

O critério de saturação teórica foi escolhido como fator limitante do número de encontros. Fontanella, Ricas e Turato (2008) definem amostragem por saturação como uma ferramenta conceitual frequentemente empregada nas pesquisas qualitativas e é

usada para estabelecer ou fechar o tamanho final de uma amostra em estudo, interrompendo a captação de novos componentes.

Dessa forma, foram realizados três encontros, pois as informações captadas por meio da análise das falas dos participantes começaram a se repetir e a se esgotar no terceiro encontro.

No início de cada encontro, a pesquisadora lia o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A) e perguntava se todos os participantes haviam compreendido os objetivos da pesquisa. Após afirmativa, o participante assinava o TCLE com ajuda do assinador, instrumento que auxilia o cego a escrever o próprio nome.

No primeiro encontro, houve adesão de 12 participantes, em que seis eram homens e seis eram mulheres. No segundo encontro, obteve-se a participação de oito cegos (cinco mulheres e três homens), sendo seis cegos que participaram do primeiro encontro e dois novatos no grupo. No último encontro, compareceram nove cegos (seis mulheres e três homens) e todos participaram dos outros dois encontros. A duração média dos encontros foi de 70 minutos.

A moderadora utilizou um roteiro com questões norteadoras (APÊNDICE B) que auxiliou na condução dos grupos, por meio de eixos temáticos. Todos os encontros foram registrados em gravador mp3 e os dados transcritos para análise posterior.

Para além de tentar apreender as expressões verbais, os grupos foram conduzidos por uma colaboradora, juntamente com a moderadora (pesquisadora), para captar as linguagens não-verbais comunicadas ao longo das discussões. A colaboradora, além de ter proporcionado o apoio logístico na operacionalização de cada encontro, contribuiu na realização dos registros no diário de campo, indispensável na compreensão do fenômeno (RESSEL, et al. 2008).

A colaboradora foi uma acadêmica de enfermagem envolvida no projeto de pesquisa e participante do grupo de pesquisa "Pessoa com Deficiência" da Universidade Federal do Ceará. A colaboradora, juntamente com a pesquisadora, conduziu os focos temáticos que foram discutidos com as pessoas cegas.