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Etapa I – Funcionamento Convencional

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.9 BALANÇO DO NITROGÊNIO NAS LAGOAS

4.10.1 Etapa I – Funcionamento Convencional

Lagoa L1

Em condição anaeróbia e totalmente coberta (sem penetração de luz), foi detectada nesta lagoa a presença de bacterioplâncton (cocos, espirilos e bastonetes) e a ausência dos demais grupos planctônicos. Na Figura 61 estão apresentadas fotos capturadas no microscópio ótico, que permitem observar a morfologia dos microrganismos presentes nesta unidade de tratamento, na superfície (a) e fundo (b) da lagoa. Verificou- se, em ambos os estratos amostrais, grande número de células bacterianas cilíndricas ou bastonetes (bacilos), as quais ocorriam ocasionalmente em pares (diplobacilos) ou em cadeias (estreptobacilos). Estes padrões muitas vezes não constituem características morfológicas, mas sim, refletem a etapa de crescimento ou condições do meio.

Bactérias espiraladas foram também recorrentes, ocorrendo predominantemente como células isoladas, com variações no comprimento, número e amplitude das espirais. Organismos curtos, com espiras incompletas (vibriões) foram também encontrados.

Lagoas L2 e L3

Na avaliação microbiológica realizada nas lagoas fotossintéticas (L2 e L3) durante a etapa I, foram detectados o aparecimento de fitoplâncton com pouca diversidade algal, composta de 6 taxas principais, entre gêneros e espécies, sendo 3 da classe Chlorophyceae, 1 Cryptophycea e 2 Bacillariophyceae.

Figura 62 – Grupos de diatomáceas presentes nas fases iniciais do tratamento. a) Nitzschia sp. presente na lagoa 3 ( 400x) e b) Navicula sp. presente em

ambas as unidades (400x)

Dentre os organismos existentes nas lagoas, o grupo com maior número de indivíduos foi gênero Chlamydomonas (Divisão

Chlorophyta, Classe Chlorophyceae, Ordem Volvocales, Família Chlamydomonadaceae), uma vez que se apresentaram com uma

ocorrência numérica superior a 50% do número total de indivíduos amostrados. Organismos de outros grupos, tais como Navícula,

Nitzschia e Phacus, foram também encontrados, sobretudo na fase

inicial da etapa I (Figura 62), tendo sua presença diminuída, gradativamente, com a estabilização do sistema, com conseqüente desaparecimento deste gênero nas unidades de tratamento e predomínio do gênero Chlamydomonas.

Na Figura 63 estão apresentadas fotos de Chlamydomonas que foram predominantes nessas lagoas em todo o estudo. Esses organismos são caracterizados por ser adaptarem em condições de alta carga, apresentando grande tolerância à ambientes contaminados, uma vez que suportam ambientes ricos em matéria orgânica em decomposição ou altamente mineralizados por esta (BRANCO, 1986). De acordo com Lin et al. (2007), o elevado nível de nitrogênio amoniacal existente no lixiviado é um fator limitante para o desenvolvimento de microrganismos capazes de sobreviver nestes ambientes e depurar este efluente. A presença expressiva deste composto no lixiviado, normalmente é derivada da grande quantidade de proteínas, aminoácidos, ácidos ou uréia, existentes nos resíduos sólidos urbanos.

Lin et al. (acima citados) relatam estudos mostrando que muitas algas são sensíveis aos ambientes contaminados e podem ser utilizadas

Figura 63 – Fotos de Chlamydomonas sp. encontradas nas lagoas L2 e L3 do sistema de tratamento. Microscopia óptica: a) (400x), e b) (1000x)

como indicadores da toxicidade de lixiviados. Bem como algumas espécies algais que são tolerantes a vários ambientes de estresse e toleram ambientes ácidos como Chrorella spp. e a presença de metais pesados como Scenedesmus spp. Esses autores utilizaram duas espécies de algas tolerantes ao nitrogênio amoniacal para tratamento de lixiviado de aterro sanitário: Chrorella pyrenoidosa e Chlamydomonas snowiae, as quais conseguiram remover quantidades significantes de nitrogênio amoniacal, ortofosfatos e DQO, mas foram inibidas para elevadas concentrações de nitrogênio amoniacal (> 670 mg/L). Ensaios com germinação de sementes de Brassica chinensis mostraram que a fitotoxiciade do lixiviado foi reduzida, com taxas de germinação das sementes maiores para aquelas que foram irrigadas com o efluente tratado com as algas que para o efluente sem algas.

Dentre outras adaptações seletivas, a motilidade das

Chlamydomonas caracteriza excelente vantagem adaptativa, pois

possibilita a movimentação ao longo da coluna d’água, conforme as condições de luz e nutrientes (KÖNIG, 2000).

A elevada densidade de um mesmo gênero no sistema de tratamento deve-se, provavelmente, pelo fato destes serem mais bem adaptadas às condições oferecidas pelo sistema, levando assim a exclusão dos demais grupos. O princípio da Exclusão Competitiva, proposto por Hardin (1960) apud Laudares (1987), estabelecido inicialmente por Lotka e Volterra no começo do século XX (UZUNIAN & BIRNER, 2002), preconiza que as modificações geradas internamente, quando operam em uma comunidade, tendem a levá-la a

uma situação de equilíbrio. Sendo que, o conceito de equilíbrio aqui proposto, prediz que a competição poderia selecionar as espécies melhores adaptadas em detrimento das demais. Assim, a competição, baseada em recursos, entre espécies, em culturas mistas, geralmente resulta na dominância de uma única espécie.

De acordo com Branco (1986), a diversidade de espécies em uma lagoa é característica de uma série de fatores, dentre os quais se destacam a carga orgânica aplicada e condições climáticas locais.

De maneira geral, quanto menor a diversidade e maior a abundância de organismos, pior a qualidade do efluente produzido, indicando que no meio líquido existem elevadas concentrações de substratos orgânicos (nível sapróbio) que induzem ao crescimento acelerado de determinadas espécies. Este fato foi observado nas lagoas do presente estudo, onde se teve comprovadamente baixa diversidade e dominância de um mesmo gênero, com concentração algal de 104 a 106 indivíduos/mL.

O crescimento maciço das espécies fitoplanctônicas na L2 resultou em florações (blooms algais) nos períodos de verão (janeiro a março), uma vez que as algas envolvidas comportavam-se como as únicas capazes de produzir um volume necessário de material, distribuído por volume de água. Segundo Lee (1999), florações algais estão muito relacionadas com altas temperaturas, sendo mais comuns em períodos do final do verão, onde a temperatura torna-se bastante elevada.

No sistema estudado, foram verificadas florações que comumente ocorriam no final da tarde e no inicio da manhã. Iniciavam com pequenos flocos em pontos isolados nas lagoas (Figura 64) que imediatamente se estendiam para toda a superfície das mesmas, com a formação de uma espuma viscosa e espessa na superfície da lagoa, com alguns centímetros de profundidade. A Figura 65 (a; b; c; e d) apresenta imagens desse processo, ocorrido inicialmente na L2.

Figura 64 – Início da floração da biomassa algal na L2 com flocos isolados e bolhas de oxigênio liberadas para a superfície

Figura 65 – Floração da biomassa algal na L2. (a) e (b): Vista superior de L2. (c): Biomassa fitoplanctônica formando uma ―pasta viscosa‖ e (d): Vista em aumento, tornando visível além da biomassa algal, bolhas de

Figura 66 – Fotos de amostras filtradas da lagoa L2 coletadas ao longo dia (9:00, 11:00, 14:00 e 18:00 h), no período de verão na etapa I

Essa variação na concentração algal na superfície da L2, ao longo do dia, também é visualizada na Figura 66, para amostras coletadas e filtradas em filtro 0,45 µm.