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Referente à Etapa I, aproveitaram-se as formas analisadas no Estudo Piloto do Momento I, a fim de que sejam introduzidas no glossário. Os dez itens lexicais selecionados inerentes à área da agropecuária – bezerro, cabresto, caule da mandioca, chicote para animal, erosão, galinha d’ Angola, parte terminal da inflorescência da bananeira, peça do aparelho de ralar mandioca, sabugo de milho, sem rabo (pinto _, galinha _) – foram analisados, comparando-se a coincidência das lexias nos Atlas Prévio dos Falares Baianos, Atlas Lingüístico de Sergipe e na região de Catu, a fim de se verificarem as coincidências das ocorrências dos vocábulos nestas áreas e as acepções constatadas entre elas. Para fins de análise dos dados obtidos, recorreu-se ao dicionário de Ferreira (1986), objetivando a verificação do significado das formas dicionarizadas. As unidades léxicas cabresto e chicote para animal serão desconsideradas aqui, visto que ao final do trabalho, Oliveira (2000) verificou que houve um comprometimento com a formulação das perguntas na entrevista e com o resultado obtido. Quanto aos vocábulos bezerro, galinha d’ Angola e sem rabo (pinto _, galinha _) também não serão aproveitadas neste momento, uma vez que fazem parte da área de zootecnia, não evidenciada na pesquisa em questão. Resgatam-se a descrição e considerações finais da amostra analisadas no que diz respeito às formas: caule da mandioca, erosão, parte terminal da inflorescência da bananeira, peça do aparelho de ralar a mandioca e sabugo de milho. Neste momento, para auxiliar na argumentação dos itens que integrarão o glossário, estes serão investigados no trabalho de Ferreira; Mota e Rollemberg (1994), no glossário de Cardoso e Ferreira (2000) e no dicionário de Houaiss e Villar (2001):

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Caule da mandioca  Como se chama a parte utilizada no plantio de mandioca?

Para a forma caule da mandioca, obtiveram-se manaíba e maniba em Sítio Novo, que constam dos Atlas Prévio dos Falares Baianos e Atlas Lingüístico de Sergipe. Ferreira (1986), objetivando a verificação do significado das formas dicionarizadas, apresentou para manaíba: “[var. de maniva < tupi mani’iwa] s. f. Bras. Tolete do caule do aipim ou da mandioca, cortado para plantio, muda de aipim ou de mandioca”; maniba não foi encontrada no dicionário, mas é uma variante fônica de manaíba. Todas as formas estão incluídas no glossário de Cardoso e Ferreira (2000). Como este item lexical está bem discutido posteriormente por fazer parte das ocorrências levantadas no Momento II, faz-se a opção de comentá-lo oportunamente.

Erosão  Como se chamam os buracos que a água faz quando a chuva bate nas encostas ou morros?

Erosão se apresentou com várias possibilidades de ocorrências segundo os produtores rurais: como erosão mesmo; como buraco, grota, corveta, pingueira e rachado. As unidades lexicais foram localizadas no dicionário de Ferreira (1986): erosão como “[do lat. Erosione] s. f. Ato de carcomer e corroer a pouco e pouco”; Buraco como s. m. 8 – “depressão mais ou menos considerável de um terreno”; Grota como “[do gr. Krypte, pelo lat. Crypta] s. f. 1. Abertura produzida pelas enchentes na ribanceira ou na margem de um rio”; Rachado “[part. de rachar] adj. 1. Que tem rachas”. Não se localizou corveta com a acepção da pesquisa, assim como pingueira não está registrada no dicionário pesquisado naquele momento. Os atlas pesquisados – APFB e ALS – não contemplam a forma erosão, impossibilitando que se faça uma comparação com os dados aqui analisados.

No Momento II não se localizou em Houaiss e Villar (2001) qualquer acepção que se assemelhe à agricultura, no que se refere à buraco. No entanto, considerando-se a significação apresentada por Ferreira (1986) de ser: “depressão... de um terreno”, faz sentido a relação estabelecida pelo informante uma vez que o homem do campo não costuma fazer distinção nem especificidades de sentido entre as unidades lexicais. Prosseguindo a análise aqui, assim como foi constatado inicialmente, corveta em Houaiss e Villar (2001) está com uma acepção diferente da pesquisa; pingueira não está neste dicionário e rachado vem registrado como 1 “que apresenta racha (‘fenda’)”, assemelhando-se à erosão no terreno.

Quanto à grota, vai ser discutida posteriormente. As lexias aqui em evidência não foram localizadas nem em Ferreira; Mota e Rollemberg (1994), nem em Cardoso e Ferreira (2000).

Neste sentido, buraco fará parte do glossário com a acepção de erosão, assim como rachado. Não se encontrou justificativa plausível para que corveta e pingueira possam integrar o glossário.

Parte terminal da inflorescência da bananeira  Como se chama a parte roxa da bananeira, que fica pendurada ao cacho da banana?

Buzina, coração e mangunço foram os itens lexicais identificados pelos lavradores para parte terminal da inflorescência da bananeira, constando em Ferreira (1986), respectivamente, como: “[do lat. bucina em vez de buccina.] s. f. ... 11 – Bras., ES. A flor da bananeira, quando ainda em botão, antes de se lhe verem os dedos”. “Qualquer objeto cuja forma lembra a do coração, a que se convencionou ser a do coração”; e a última, não foi encontrada no dicionário. Buzina e coração estão cartografadas equivalendo à parte terminal da inflorescência da bananeira no Atlas da Bahia e apenas buzina no Atlas de Sergipe. O item buzina ocorreu com maior freqüência do que coração e mangunço nesta pesquisa.

Buzina está em Houaiss e Villar (2001) com acepções diferentes das da pesquisa e não registra a informação prestada por Ferreira (1986), constante no parágrafo anterior. Coração para Houaiss e Villar (2001) se configura com acepções mais generalizadas e assim como em Ferreira (1986) diz: “objeto ou desenho com esse formato”, havendo uma motivação semântica do formato do coração com a forma como se apresenta a parte terminal da inflorescência da bananeira. Mangunço, assim como no primeiro levantamento, não está registrada no dicionário agora pesquisado. Registra-se a ocorrência de buzina e coração no glossário de Cardoso e Ferreira (2000) e a não existência do vocábulo mangunço nesta mesma obra, porém documenta bagunço que pode ser entendida como co-variante de mangunço. Sendo assim, buzina, coração e mangunço estarão sendo incluídos no glossário deste trabalho, por apresentarem relação de forma e sentido, apesar de a primeira, na obra lexicográfica mais atual, ter um sentido diferente do pretendido na pesquisa e a segunda ter uma significação mais ampla. Além disso, as citadas lexias estão presentes na linguagem dos baianos da região, segundo o APFB.

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Peça do aparelho de ralar mandioca  Como se chama o lugar onde passa a mandioca para ser ralada?

Para o camponês,bola se refere à peça do aparelho de ralar a mandioca e que

em Ferreira (1986) corresponde à “[do lat. Bulla, atr. Do provenc. Ant bola] s. f. 1. Qualquer corpo esférico. z. p. ext. Qualquer coisa a que se dá feitio ou forma de bola...” Os atlas pesquisados apresentam bola como uma forma identificada na linguagem dos falantes baianos e sergipanos, relacionada semanticamente com o aparelho que rala a mandioca por ser circular.

Houaiss e Villar (2001) registram várias acepções para bola, contudo nenhuma delas a define como a que aqui se estuda. Em Cardoso e Ferreira (2000) esta unidade léxica está presente com o mesmo sentido aqui estudado. Considerando-se as observações anteriores feitas por Oliveira (2000), inclusive por estar no APFB, inclui-se este item lexical no glossário.

Sabugo de milho  Como se chama o que fica da espiga quando retiramos os grãos do milho?

Capuco se apresentou como uma forma que se refere à sabugo de milho. Encontra-se registrada no APFB e no ALS, porém não foi localizada em Ferreira (1986). Constatou-se que capuco é um item lexical produtivo na região de Catu, usado independente de gênero e idade e por todos os informantes investigados naquele momento da pesquisa. Vale a pena chamar a atenção para o fato de que, apesar de estar presente tanto no APFB, quanto no ALS, a forma popular capuco não se encontra dicionarizada e sim sabugo que tem a acepção em Ferreira (1986) de 6. “Espiga de milho sem grãos” semelhante à significação de capuco.

Houaiss e Villar (2001) apresentam capuco como o mesmo que sabugo, assim como Cardoso e Ferreira (2000) também a apresentam. Além disso, Ferreira; Mota e Rollemberg (1994), investigando algumas diferenças lexicais em Sergipe e na Bahia, registraram tanto capuco quanto sabugo como ‘espiga de milho sem os grãos’ nessas regiões, assim como o sentido empregado nesta pesquisa. Isto posto, capuco será considerado como parte integrante do glossário com a acepção de sabugo de milho devido a todas as afirmações já declaradas.