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C APÍTULO 6

6.2.1 Etapa Pré-Migratória

As informações referentes, conjuntamente, aos estudantes e a sua família, trazem indicativos sobre os fatores que desencadearam a decisão de prosseguir os estudos em Universidades em outro país a exemplo do Brasil. Foram verificados, portanto, os dados sobre a configuração sócio-econômica da família, observados, sobretudo a partir das variáveis de escolaridade e renda mensal da família.

Constatou-se pelos dados que a maior parte dos estudantes têm quatro ou mais irmãos (82,5%) embora o nível de escolaridade dos pais seja relativamente alto, ainda que se note uma disparidade nos níveis de escolaridade do Pai que supera o nível da mãe dos estudantes. Este aspecto das famílias dos estudantes com muitos filhos é resultado dos altos níveis de fecundidade que prevalece na África.

A maior proporção é de mães com nível superior e grande parte delas, tem superior incompleto (22,5%), um percentual menor, superior completo (12,5%) e uma minoria com doutorado (2,5%)

Observou-se também que, grande parte destes estudantes tem mães sem nenhuma escolaridade (22,5%), com ensino primário completo (10%) e ensino secundário/médio incompleto (12,5%).

Em relação à escolaridade do Pai dos estudantes, que apresentam níveis muito mais elevados de escolaridade, observou-se que a maioria possui superior completo (35%) e doutorado (7,5%). Contudo, observou-se também que há estudantes com Pai menos escolarizado e que representa um percentual significativo nos níveis primário incompleto (17,5%) e também secundário/médio incompleto (12,5%), como mostra o Gráfico 6.2.

Nesse sentido, uma vez que se trata de estudantes que em sua maioria são filhos de pais com melhores níveis de escolaridade completos (Ensino Médio, Superior e Superior com Pós-graduação), estas informações remetem a questão do capital social onde à família e, nesse sentido, a escolaridade dos pais tem papel fundamental no processo de investimento na educação da geração posterior e na reprodução, de geração a geração, do capital social acumulado.

5,0 5,0 17,5

5,0 12,5

7,5 2,5 2,5 35,0

7,5

22,5 5,0 10,0 5,0

5,0 12,5 2,5 22,5 12,5 2,5

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

PAI MÃE

Gráfico 6.2 - Escolaridade do Pai e da Mãe dos Estudantes Africanos do PEC-G (UERJ, UFRJ e UFF) - 2005

Sem Escolaridade Alfabetizado Primário Incomp.

Primário Completo Secundário/Médio Incomp. Secundário/Médio Comp.

Curso Médio Profissional Curso Técnico Superior Incompleto Superior Completo Doutorado

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados obtidos no questionário

Quando se analisa a origem da formação escolar secundária destes estudantes, foi possível identificar o tipo de escola freqüentada no ensino médio (equivalente ao secundário que é da 7ª a 11ª classe no país de origem) destes estudantes e observou-se que mais da metade cursaram todo o ensino médio em escola pública (60%). Houve também aqueles que cursaram a maior parte do ensino secundário em escola pública (15%) e outra metade que cursou em escola privada/particular (15%).

Outra informação importante dentro dos aspectos mais específicos, refere-se à formação escolar dos estudantes africanos e foi perguntado se haviam iniciado algum curso pós-secundário e grande parte respondeu que não (45%), embora um outro percentual significativo tenha informado que iniciaram curso profissionalizante/técnico (40%)

Vale ressaltar, que o Brasil como parceiro de cooperação, desde o ano 2000 implementou, coordenou e estruturou alguns Centros de Formação Profissional e Promoção Social em alguns países de África, como Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, dentre outros, contando com o apoio técnico-profissionalizante do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), na formação e viabilidade à inserção de jovens africanos no mercado de trabalho.

Quando se perguntou aos estudantes se eles iniciaram algum curso superior, antes de vir para o Brasil, grande parte deles responderam que não (77,5) e somente uma minoria disse ter iniciado curso superior em seu país (15%)

A origem familiar e social dos estudantes africanos é também relevante para identificar elementos representativos de uma classe ou ainda que possam ajudar na caracterização destes alunos estrangeiros.

Por tratar-se de realidades econômicas diferentes, entre o Brasil e países africanos, haveria que se comparar às rendas no país de origem usando-se a paridade do poder de compra (PPP). Contudo o que se pretende com essa informação é tão somente comparar a renda familiar declarada pelos estudantes com a cota obrigatória que estes ou seus familiares se comprometem a manter mensalmente (ANEXO B).

Observou-se, quanto à renda familiar mensal dos estudantes, que a maior parte deles, não sabem responder quanto a família percebe mensalmente (22,5%) e, dos que sabem sobre a renda mensal, a maioria informou renda acima de US $ 1,000 mensais (20%) e um outro percentual significativo declarou na faixa de US $ 300 a US $ 500 (15%), alguns estudantes também responderam a renda na faixa de US $ 800 a US $ 1,000 mensais (10%) e uma minoria informou renda familiar mensal de até US $ 300 (7,5%) ou outro valor (7,5%), como mostra a distribuição na Tabela 6.3.

Tabela 6.3 - Renda Mensal da Família dos Estudantes Africanos em USD $

VALOR, EM CLASSE FREQÜÊNCIA PERCENTUAL

ATÉ $300 3 7,5

DE $300 A $500 6 15,0

DE $500 A $800 4 10,0

DE $800 A $1000 5 12,5

ACIMA DE $1000 8 20,0

OUTRA FAIXA/VALORES 3 7,5

NÃO SEI RESPONDER 9 22,5

Total 38 95,0

Missing 2 5,0

Total 40 100,0

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados obtidos com questionário.

Por essas informações, não se poderia dizer, sobre os que declararam mais de US

$ 1,000 mensais de renda familiar, que são estudantes oriundos de classes com melhores condições sociais, ou ainda, sobre os que declaram renda familiar de US $ 300 a $ 500 dólares mensais que estas famílias estão suprindo com as necessidades de manutenção dos filhos. No limite, o que se pode concluir, comparando renda familiar declarada e Declaração de Responsabilidade nas despesas dos estudantes, os dados informam, neste caso, que se trata de estudantes que estão dentro dos requisitos do Protocolo do Programa, onde deverão apresentar declaração de solvência financeira de US $300 dólares mensalmente86.

Nesse contexto de rendimento mensal familiar, quando se perguntou quantas pessoas contribuem para obtenção da renda e fazendo uma correlação com o principal responsável pelo sustento da família se observa que pouco menos da metade disse serem duas pessoas que contribuem (40%), boa parte também declarou como principal responsável pelo sustento familiar o pai e a mãe, conjuntamente (35%), um outro percentual relevante disse ser apenas uma pessoa que contribui (25%) e destes, 10% o responsável é o pai.

Vale ressaltar, que foi observado também, ainda que em percentuais bem mais baixos, declarações que informam ser mais de três pessoas que contribuem para obter renda familiar mensal e, nesse caso, observa-se que a responsabilidade é partilhada dentro da própria família ou mesmo para manter o estudante aqui no Brasil.

Na decisão de migrar – Com se analisou nos capítulos anteriores, de acordo com a análise de especialistas (COHEN, 1997; CASTLES y MILLER, 2004; PELLEGRINO, 2001)

86 Ressalta-se que esse valor passou de US $ 500 (dólares americanos) mensais para o valor atual, igualmente exigido para todos os estudantes independente da procedência.

e documento da UNESCO (2006), haveria alguns aspectos relevantes, tanto na decisão de migrar, quanto na escolha pelo país de destino. Como visto no caso dos africanos vínculos históricos, culturais e, sobretudo lingüísticos são alguns aspectos relevantes, além de ser um projeto, grande parte familiar, de investimento na educação.

Com relação ao grupo pesquisado, quando se perguntou sobre a decisão inicial e final sobre o projeto de estudar no Brasil, mais da metade dos estudantes disseram que a iniciativa foi própria, mas que tiveram o apoio familiar (60%); em contrapartida, alguns estudantes responderam que a decisão foi familiar do início ao fim (15%) e outros também que foi decisão tomada individualmente, do início ao fim (15%) e apenas somente uma minoria disse que a decisão foi inicial da família e depois resolvida por ele (10%).

Quanto aos aspectos relacionados com a decisão de estudar em outro país, seja ela um projeto individual ou familiar, observou-se que, dentre estes estudantes, a maioria disse não haver nenhum motivo realmente relevante para a decisão de estudar no Brasil (22,5%). Contudo, de acordo com os dados, dos que responderam ter havido algum motivo relevante quando se pensou em estudar no Brasil, boa parte deles responderam que o aspecto que mais motivou foi o nível de qualificação das universidades brasileiras (20%).

Este aspecto também foi revelado no documento da UNESCO (2006) e vai de encontro com a realidade da educação superior nos países africanos, que apresenta carência de oferta de Instituições públicas e, quando há universidade pública há deficiência na oferta de carreiras, portanto a opção de estudar em outro país onde o ensino superior tem melhor qualidade, maior oferta de vagas e carreiras se torna, algumas vezes opção até necessária.

Ainda nessa perspectiva sobre os “aspectos relevantes”, alguns estudantes também informaram ser o custo financeiro de manutenção, melhor que em outros países (12,5%).

Esta informação também tem um sentido bastante lógico, em se tratando de cooperação, pois o Brasil estabeleceu muitos Acordos educativos, nos últimos cinco anos, incluindo a oferta em Universidades públicas e particulares/privadas, incluindo a opção de ajuda financeira através de bolsas de estudo do governo brasileiro, de alguns governos dos países africanos, bolsa das próprias instituições e de organismos não-governamentais.

Em se tratando de vínculos culturais, o aspecto lingüístico foi pouco relevante, neste caso especificamente, como mostra essa distribuição na Tabela 6.4, ainda que em âmbito global já se confirma a relevância deste aspecto, principalmente na inserção e socialização dos indivíduos nos países anfitriões.

Tabela 6.4 - Aspecto (S) Relevante (S) Para Motivar O Estudo No Brasil

Itens Relevantes Freqüência Percentual

NENHUM 9 22,5

CUSTO FINANCEIRO DE MANUTENÇÃO MELHOR

QUE NO PRÓPRIO PAÍS. 1 2,5

CUSTO FINANCEIRO DE MANUTENÇÃO, MELHOR

QUE EM OUTROS PAÍSES. 5 12,5

NÍVEL DE QUALIFICAÇÃO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

8 20,0

FAMILIARIDADE COM A LÍNGUA 3 7,5

PELOS ASPECTOS CULTURAIS (CARNAVAL, FUTEBOL, NOVELA, ETC.)

1 2,5

AS REDES SOCIAIS 1 2,5

OPORTUNIDADE DE ESTUDO 1 2,5

Total 38 95,0

Missing 2 5,0

Total 40 100,0

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados obtidos com questionário.

Como foi observado nos dados anteriormente, ainda que a rede social não tenha sido considerada um dos aspectos mais significativamente relevante para estes estudantes (2,5%), é importante considerar que, laços de solidariedade de origem comum refletem situação de reforço à adaptação e desempenham papel de suma importância na interação do migrante na sociedade do lugar de destino.

Entretanto, quando se perguntou aos estudantes se antes de vir ao Brasil, já conheciam pessoas que estudaram no país, grande parte deles disseram que sim (92,5%) e dos responderam que já conheciam alguém, mais da metade deles responderam que tinham amigos no país (55%), muitos inclusive com familiares no Brasil (32,5%), outros disseram que tinham, conjuntamente, familiares e amigos (5%) e somente um percentual pequeno disse que não conheciam ninguém (7,5%). Portanto, as informações nos levam a crer que efetivamente haveria redes sociais vinculadas fortemente ao processo, apesar de, no momento inicial de migrar não tenha sido um aspecto relevante, na etapa posterior a possibilidade destes amigos virem a estruturar-se em redes de origem comum é bastante provável, como iremos observar em outras respostas analisadas na etapa migratória da inserção nos espaços geográficos.

Verificamos também pelas informações que a maior parte destes estudantes conseguiram entrar no curso e na Universidade escolhida de imediato (65%), alguns, contudo, disseram não conseguir na primeira vez (30%). Entretanto, por este resultado favorável de entradas imediatas, observa-se que as solicitações são atendidas satisfatoriamente, tendo em vista que, anualmente, a demanda depende da oferta de vagas, tanto no Programa quanto nas Instituições anfitriãs.

E, no que se refere à escolha pela Universidade, a maioria dos estudantes disseram que a escolha foi pelo curso pretendido oferecido na Universidade (35%), o que se pode observar que, a questão da carreira é realmente um fator importante também na decisão por estudar em um outro país e em determinada Instituição.

Dos respondentes que informaram não ter havido critérios para a escolha da Universidade (27,5%), a maioria disse que foi pela disponibilidade de vaga na instituição (17,5%) e poucos disseram ter sido a escolha pela Universidade por influência familiar (2,5%) e Institucional (5,0%). A opção por colocar esses dois últimos itens de respostas, se justifica por haver a possibilidade de indicação familiar que já estudou em determinada Universidade, especifica e, no caso de Institucional, quando a própria Universidade no Brasil estabelece o convênio educativo diretamente com o Ministério da Educação do país ou ainda quando há indicação de alguém sobre determinada universidade, melhor qualidade de ensino, mais oferta de cursos.

Acerca da escolha pela carreira, o aspecto mais relevante foi, para a grande maioria dos estudantes pela realização pessoal (32,5%), contudo outros critérios foram bastante relevantes, como a influência familiar/parentes (12,5%), o mercado de trabalho (10%), ausência do curso preferencial no país de origem (10%) e ainda pela influência de amigos no mesmo curso (7,5%). Alguns, entretanto, responderam não ter havido nenhum aspecto relevante na escolha pela carreira (12,5%).

E, para finalizar a análise da etapa pré-deslocamento com os dados referentes à origem, quando se perguntou sobre o critério considerado para a escolha pelo espaço escolhido como destino, no caso o Rio de Janeiro, observou-se que, dos que responderam (77,5%), a maior parte destes estudantes disseram que foi pela oferta de Universidades e cursos no estado do Rio de Janeiro (35%), uma boa parte dos estudantes consideraram como relevante as estrutura da cidade, por ser atrativa socialmente para viver, estudar, sobretudo para lazer, transporte, etc. (12,5%). Houve aqueles também que responderam não ter havido nenhum critério para a escolha (15%).

E, dos que responderam que a decisão de morar no Rio de Janeiro foi anterior a chagada no Brasil, mais da metade deles responderam que sim (52,5%) e os demais disseram que não (40%). Destas observações depreende-se que não houve efetivamente uma relação direta de ser o Rio de Janeiro destino específico, mas, por ter no estado uma maior oferta de melhores Universidades, fazendo uma correlação com as informações sobre os critérios que motivaram estudar no Brasil, onde a maioria respondeu que foi pelo nível de qualidade das Universidades no país e, nesse caso também das Universidades do Rio de Janeiro.