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Na fase qualitativa, realizou-se um estudo de casos múltiplos compostos por alguns microempreendimentos ou microempreendedores individuais na região. Com base nesses dados é que se procedeu a comparação com os elementos obtidos na etapa quantitativa,visando a sua validação.

3.3.1 Estudo de caso

Na fase do trabalho, adotou-se o método de estudo de casos múltiplos. “Todas as condições precedentes serão invalidadas se o pesquisador procurar utilizar o estudo de caso apenas para comprovar uma posição preconcebida” (YIN, 2001, p. 84). Devem-se analisar todos os lados, e só então, tirar conclusões. O estudo de caso, é uma forma de pesquisa que busca investigar um fenômeno contemporâneo em seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Experimentos, levantamentos, pesquisas históricas e análise de informações em arquivos (como em estudos de economia) são alguns exemplos de maneiras de realizar a pesquisa. O que diferencia o estudo de caso de outras metodologias é a capacidade de sobrepor fontes de evidência, bem como a possibilidade de realizar observação participante ou uma série de

entrevistas. Segundo YIN (2001), cada método possui suas vantagens e desvantagens. A escolha de cada um deles leva em consideração três fatores:

a) tipo de questão a ser pesquisada;

b) controle do pesquisador sobre eventos pesquisados;

c) fenômeno histórico versos fenômeno contemporâneo.

Quadro 6: Situações Relevantes para diferentes estratégias de pesquisa

Estratégia Forma da questão de pesquisa

Exige controle sobre eventos comportamentais?

Focaliza acontecimentos contemporâneos? Experimento como, por que sim sim Levantamento quem, o que, onde,

quantos, quanto não sim

Análise de arquivos quem, o que, onde,

quantos, quanto não sim/não

Pesquisa histórica como, por que não não Estudo de caso como, por que não sim

Fonte: Yin (2001, p. 24)

O Quadro 6 exibe algumas características da pesquisa e, associada a elas, as estratégias que devem ser adotadas em cada uma das situações. O objetivo da pesquisa está relacionado ao entendimento de como o microcrédito influencia os microempreendimentos, o que poderia se relacionar com o experimento, levantamento e estudo de caso. Porém, como o pesquisador não tem controle sobre os dados pesquisados e os acontecimentos em estudo são decorrentes de eventos contemporâneos, pode-se concluir que o estudo de caso é um caminho viável para este estudo.

Segundo Godoy (2006, p. 121), o estudo de caso pode ser considerado adequado para

“focar problemas práticos, decorrentes das intrincadas situações individuais e sociais

presentes nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas”. Neste caso, a ocorrência dos microfinanciamentos, objeto deste estudo, se enquadra nesta situação. Para julgar a qualidade deste tipo de estudo, Yin (2001) definiu quatro critérios.

 Validade do construto – refere-se à formulação teórica sobre o fenômeno sob

investigação, de forma a estabelecer medidas e pontos de avaliação. O pesquisador deve buscar fontes múltiplas de evidências, bem como seu encadeamento lógico. Para isso, é necessário que seja realizada uma extensa pesquisa bibliográfica listando os conceitos principais e definindo os informantes; ou seja, a definição de medidas operacionais corretas para o estudo.

 Validade interna – esse critério só é usado em estudos explanatórios e

causais. Consiste no estabelecimento de relações causais, mostrando que certas condições podem levar a outras esferas e preocupando-se em encontrar a existência de relações espúrias que ocorrem quando existem variáveis ocultas não consideradas que de fato explicam um dado efeito.

 Validade externa – é a capacidade de generalização do estudo; ou seja, onde e

quando ele pode ser replicado.

 Confiabilidade – demonstrar como foi realizado o estudo, permitindo sua

replicação por outros pesquisadores.

Conforme demonstra Yin (2001), existem seis fontes principais de evidências para construir estudos de caso: documentação, entrevistas, observação direta, registros em arquivos, observação participante e artefatos físicos. Este estudo foi elaborado utilizando as três primeiras fontes, para melhor compreender a atuação do Crediamigo e sua importância na promoção do empreendedorismo local.

As evidências coletadas na análise da documentação e na observação direta serão detalhadas de forma descritiva sobre a agência Capelinha do Crediamigo e a atuação dos assessores de crédito e da equipe em geral.

As entrevistas semiestruturadas são consideradas como uma fonte muito importante no estudo de caso, já que, na maioria das vezes, trata-se de análise de questões humanas (YIN, 2001). Entretanto, deve-se ter cautela com essa fonte de dados, que podem ser contaminadas por falhas de memórias, preconceitos ou imprecisão na fala. Para melhor inferir informações das entrevistas, adotou-se o método de análise de conteúdo, que pode ser definido como o

“conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2008 p. 38). 3.3.2 Seleção da amostra e coleta de dados

As entrevistas foram realizadas utilizando um esquema básico de perguntas (Apêndice B). Entretanto, os respondentes tiveram liberdade de falar além do inquérito inicial, permitindo, assim, maior flexibilidade nas respostas.

A amostra ficou constiuída de 10 clientes aleatórios, escolhidos de uma lista de 50 nomes, fornecida pelo Crediamigo Capelinha. A seleção foi feita de forma intencional devido

a disponibilidade de contato com os usuários. Foram contatados 15 clientes, dos quais 4 não tiveram disponibilidade de tempo para participação, 1 não aceitou participar e 10 se dispuseram a participar, autorizando a gravação e a transcrição das entrevistas, mediante anonimato.

Devido a limitações orçamentárias somente 40% das entrevistas foram realizadas pessoalmente. O restante foi obtido por meio de ligação telefônica, realizada pelo do software Skype, e gravada. Posteriormente, o conteúdo das gravações foi transcrito e as definições de variáveis e grelhas de análise foram realizadas com o suporte do programa MaxQda versão 11.

Quadro 7: Perfil dos entrevistados Nome do documento Sexo Localização

do Negócio Setor

Atividade Principal

Negócio

formal Faixa Etária Coleta

Entrevistado 1 (E1) F Urbano Serviços Sim Sim Entre 26 e 60 anos Pessoalmente Entrevistado 2 (E2) M Urbano Serviços Sim Sim Até 25 anos Pessoalmente Entrevistado 3 (E3) M Rural Agropecuária Não Não Entre 26 e 60 anos Pessoalmente Entrevistado 4 (E4) F Urbano Comércio Sim Sim Entre 26 e 60 anos Pessoalmente Entrevistado 5 (E5) F Urbano Comércio Sim Não Entre 26 e 60 anos Tel./Skype Entrevistado 6 (E6) F Urbano Artesanato Não Não Entre 26 e 60 anos Tel./Skype Entrevistado 7 (E7) F Urbano Comércio Sim Sim Até 25 anos Tel./Skype Entrevistado 8 (E8) F Urbano Serviços Não Não Maior de 60 anos Tel./Skype Entrevistado 9 (E9) F Urbano Comércio Sim Sim Entre 26 e 60 anos Tel./Skype Entrevistado 10 (E10) M Urbano Não possui Não Não Maior de 60 anos Tel./Skype Fonte: Elaborado pelo autor

O Quadro 7 apresenta um breve perfil dos entrevistados, por sexo, localização do negócio, setor, atividade principal, negócio formal, faixa etária e instrumento de coleta. Os dados são apresentados de forma genérica, para evitar qualquer forma de identificação dos entrevistados. Buscou-se heterogeneidade dos entrevistados, para oferecer um quadro de opiniões diversificadas.

3.3.3 Limitações da pesquisa (etapa qualitativa)

Novamente as restrições quanto orçamento para a realização da pesquisa constituíram- se em limitação da mesma. A quantidade de entrevistados não representa uma parcela significativa e a seleção foi elaborada com base em uma lista fornecida pela instituição. A IMF pode ter selecionado clientes que apresentam determinado nível de satisfação, interferindo, assim, nos resultados possíveis da análise. Além disso, o método de análise de conteúdo, por carregar um ideário de pesquisa quantitativa baseada na categorização e na esquematização dos dados, pode obscurecer a compreensão mais aprofundada do texto

(FLICK, 2004). Outra crítica comum ao método está relacionada, novamente, à influência do pesquisador, que cria as categorias conforme a sua própria análise subjetiva (BARDIN, 2008).