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A proposta metodológica utilizada neste trabalho toma como referência inicial a proposta de Emerim (2010), que contempla uma abordagem semiótica do telejornal prevendo categorias de análise específicas para este tipo de texto-programa. Segundo ela, os telejornais são analisados por estruturas de diferentes ordens, a partir das relações que estabelecem: (1) com o espaço midiático no qual estão inseridos; (2) com a emissora responsável pela sua produção; (3) com a posição do telejornal na programação geral da emissora; (4) com a sua estruturação interna, compreendendo a análise e a comparação dos episódios/emissões que compõem o corpus da pesquisa. Por fim, há uma quinta etapa, que é a (5) análise em profundidade de algumas edições dos programas, escolhidas por suas potencialidades de resultados.

O presente trabalho seguiu essas etapas, bem como ensaiou a proposição de algumas categorias que viabilizassem a execução das etapas 4 e 5 de acordo com as especificidades do objeto empírico. Desta forma, o percurso analítico foi dividido em três etapas.

A primeira etapa procurou dar conta dos tópicos 1, 2 e 3 do modelo proposto por Emerim (2010). Buscou-se situar o objeto empírico em relação ao espaço midiático, às emissoras e às grades de programação que fazem parte do contexto da pesquisa, tendo como pressuposto que a linearidade da grade de programação é uma característica da lógica televisiva. Cada programa tem horário fixo de exibição, podendo sofrer algumas mudanças eventuais (como, por exemplo, em casos de coberturas especiais ou plantões de notícias). Nesta lógica, cada telejornal, independente da emissora, é precedido e seguido por outros programas que podem influenciar tanto sua audiência quanto no tipo de público-alvo que tentará atingir. A posição de um telejornal na grade de programação é determinante para a compreensão de seus objetivos e de seu contexto de produção.

Cebrian Herreros (1998), em seu estudo sobre a informação televisiva, faz uma breve caracterização dos telejornais por horário de exibição e aponta que os telejornais noturnos26 são geralmente vistos em família e, portanto, buscam uma forma de situar e contextualizar os assuntos. O mesmo não acontece, por exemplo, nos telejornais da manhã ou nos da madrugada, direcionados especificamente aos adultos. A observação da faixa de horário em que um telejornal é exibido apresenta-se como uma “pista” para a compreensão do seu público-alvo

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e, a partir daí, da escolha da linguagem e do formato utilizados no programa.

O panorama com tais informações consta em parte no conjunto da análise e em parte no capítulo 1, que buscou a compreensão das características históricas e culturais que marcam os modos de funcionamento do telejornalismo em Florianópolis. Para cumprir esta etapa do trabalho foi realizada uma extensa pesquisa bibliográfica que reuniu todo o material disponível sobre a história das emissoras. Aqui também contribuiu a experiência profissional, o contato com profissionais que atuam no mercado em questão e o conhecimento acerca das rotinas produtivas das emissoras.

É importante registrar que a ausência de um arquivo com a memória dos programas dificulta em muitos aspectos o trabalho de pesquisa em telejornalismo, tornando-se necessária a recorrência, em alguns momentos, a buscas em arquivos digitais, como por exemplo o Youtube, para a observação de vídeos que demonstrassem versões e formatos anteriores dos programas que fizeram parte da análise.

Um exemplo claro dessa dificuldade aconteceu com o Jornal do Meio Dia, quando se procurou verificar como era o cenário do programa antes de um incêndio que destruiu os estúdios da RIC em novembro de 2012. Sabia-se, de antemão, que o cenário utilizado pelo programa no período da análise (janeiro de 2013) era um cenário provisório, construído após o incêndio. Mas era necessário saber se ele mantinha as características tradicionais do programa. Como obter esta informação sem ter acesso aos arquivos da emissora27? A imagem que consta na análise28 foi obtida a partir de um vídeo publicado na Internet e permite ilustrar aquilo que, certamente, era o cenário conhecido pelos telespectadores do programa. Da mesma forma, informações disponíveis nos sites das emissoras, em outros sites e páginas pessoais contribuíram para o levantamento da trajetória dos profissionais envolvidos nas análises.

A segunda etapa procurou analisar a estrutura interna de cada telejornal. Aqui, foram observados os aspectos gerais, que se repetem em todas as edições do telejornal e o caracterizam enquanto um subgênero, aquilo que dificilmente muda de edição para edição. Essa aproximação pretendeu olhar para cada telejornal a partir de seus

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A experiência profissional desta pesquisadora no mercado televisivo local de Florianópolis permite inferir que não há, nem mesmo nas emissoras, um arquivo com todos os programas gravados na íntegra.

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aspectos menos dinâmicos, como se fosse feita uma fotografia do plano mais geral possível deste telejornal. O que seria possível observar nesta imagem? Certamente algumas características que permitem ao telespectador identificar o telejornal em meio ao fluxo televisivo, e que, conforme se procurou apontar no primeiro capítulo desta dissertação, são fundantes no telejornalismo. Em busca de tais características, foi realizada a descrição geral dos telejornais29, apontando aspectos relacionados à composição visual e aos atores discursivos responsáveis pela apresentação dos programas. A descrição geral dos telejornais serviu como base para o percurso analítico que será apresentado no capítulo a seguir.

Na terceira e última etapa, o objetivo foi verificar a processualidade do telejornal, ou seja, o que acontece quando a estrutura começa a funcionar. A análise em profundidade que compõe a terceira etapa partiu da observação de cinco edições de cada telejornal e as categorias foram elaboradas durante o percurso de aproximação com o objeto, procurando estabelecer um paralelo entre as características dos telejornais que compõem o corpus e as pistas deixadas pelos autores que definem teoricamente as características do telejornalismo.