ETAPAS DO EXPERIMENTO DIDÁTICO FORMATIVO

Com base nos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural e da Teoria do Ensino Desenvolvimental, esta pesquisa teve como objetivo investigar as contribuições da atividade de estudo organizada nos fundamentos da Teoria do Ensino Desenvolvimental para a assimilação e ampliação de conhecimentos sobre o conceito teórico de cálculo de área de figuras planas, observáveis em um experimento didático formativo para alunos do 5º ano do ensino fundamental da Escola Therezinha Abreu Vita, na cidade de Santana do Araguaia (PA), tendo em vista o desenvolvimento psíquico e social dos estudantes. A escolha do 5º ano deve-se ao fato de que este é o último ano da primeira fase do ensino fundamental, período em que a criança tem entre 10 e 14 anos, está em uma faixa etária onde a atividade predominante é a atividade de estudo e ser também, uma idade propícia para a formação dos verdadeiros conceitos. Já o conteúdo de cálculo de área de figuras planas foi escolhido por ser um conceito com amplas aplicações na vida do escolar e em diversas áreas de conhecimento e por ser um conceito que sempre será utilizado nas séries posteriores, de modo que pode ser generalizado para qualquer figura geométrica plana, ou seja, uma vez entendido este conceito, ele pode ser usado para calcular outras situações que envolvam cálculo de áreas.

Para tanto, buscou analisar de que forma a organização da atividade de estudo, baseada na Didática Desenvolvimental, contribui para a formação do conceito teórico de cálculo de área no 5º ano do ensino fundamental; examinar de que forma a assimilação e ampliação do conceito teórico de área de figuras planas pode influenciar o desenvolvimento psíquico e social dos alunos; demonstrar a relevância do conhecimento das disciplinas específicas pelo professor de matemática dos anos iniciais para a organização de atividades de estudo capazes de promover a formação do conceito teórico de cálculo de área no 5º ano do ensino fundamental; e conhecer como o processo de mudanças da Zona de Desenvolvimento Proximal para Zona de Desenvolvimento Real pode contribuir para a formação do conceito teórico de cálculo de área no 5º ano.

O procedimento metodológico adotado para investigar as contribuições da Teoria do Ensino Desenvolvimental para a formação do conceito de cálculo de área no 5º ano do ensino fundamental foi o experimento didático formativo. Esse procedimento é considerado uma variante do método genético causal criado por Vygotsky para estudar o desenvolvimento da psique da criança, o qual permite estudar os processos de trânsito da mente de uma formação psicológica e de aprendizagem para outra (AQUINO, 2013). O experimento didático formativo mostra-se propício à realização de pesquisas em didática desenvolvimental. Conforme Freitas (2010, p. 6):

No experimento didático, o que se busca é a explicação histórica das mudanças qualitativas no pensamento do sujeito, mudanças estas que são investigadas como uma cadeia complexa de processos inseparáveis de aprendizado, decorrentes da realização de uma tarefa proposta no experimento e contida no modo como este se encontra organizado. A tarefa proposta e os passos da tarefa estão ancorados em um determinado conceito científico a ser aprendido. A organização desses passos está ancorada em princípios teóricos da teoria histórico-cultural e da teoria do ensino desenvolvimental. Esses passos, ao serem cumpridos pelos sujeitos participantes, exigem determinado movimento do pensamento, movimento este que pode resultar em mudanças na sua qualidade em relação ao conteúdo da tarefa, ou seja, o conceito científico. Em outras palavras: no decorrer do experimento acontece aquisição de atos mentais, atos esses que contribuem para reorganizar o pensamento, as operações mentais realizadas pelo sujeito.

Nessa perspectiva, a realização do experimento didático formativo foi desenvolvida em três etapas. A primeira etapa do experimento consistiu na realização da caracterização da escola-campo da pesquisa, da coordenação pedagógica, dos alunos e da professora da turma em que seria aplicado o experimento e do diagnóstico da situação socioeconômica dos pais ou responsáveis pelos alunos pesquisados. O procedimento adotado para a coleta de dados foi a análise do Projeto Político Pedagógico da escola, entrevista com a coordenação pedagógica, aplicação de questionários para pais e alunos, observação participante e conversas com a professora, as secretárias e a equipe de gestores da escola.

Na segunda etapa, foi feita a elaboração do Plano de Ensino, que foi desenvolvido de acordo com o Plano de Curso proposto pela Secretaria Municipal de Educação do município de Santana do Araguaia e com o planejamento da professora, com as adaptações necessárias. Considerando o contexto dos alunos e as condições diagnosticadas na primeira etapa do experimento, foram elaboradas tarefas de estudo fundamentadas na Teoria do Ensino Desenvolvimental. Nessa etapa, foram realizados, também, encontros entre a pesquisadora e a professora, a fim de proporcionar momentos de formação para a professora da turma, para que essa se apropriasse dos principais conceitos da Teoria do Ensino Desenvolvimental, dos

métodos a serem empregados, dos recursos de ensino-aprendizagem a serem utilizados no experimento e contribuísse para a elaboração e análise das tarefas de estudo

Na terceira etapa, foi realizada uma reunião com os pais para leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice H) e do Termo de Assentimento (Apêndice I), e aplicado o experimento didático formativo. A técnica utilizada para a coleta de dados foi a observação da pesquisadora e registros audiovisuais, a saber, gravação em áudio e vídeo das aulas experimentais. No período final da fase experimental, foi realizada uma entrevista semiestruturada com a professora, buscando entender, a partir de suas respostas, sua compreensão acerca do método de ensinar utilizado. Após a realização dessas etapas, iniciou- se o processo de análise dos dados, pautando-se pelos objetivos da pesquisa com os aspectos relevantes analisados de forma sistemática.