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2. MINHA TRAJETÓRIA NEGRO EDUCATIVA

2.2 EU ARTE-EDUCADORA

O meu primeiro contato enquanto furura professora e pesquisadora, em uma a sala de aula, ocorreu através do estágio correspondente ao quarto semestre, a experiência foi promovida por meio da disciplina Didática e Práxis Pedagógica II, com uma carga horária de 68h00, ministrada pelo professor Cláudio Cajaíba. Um dos objetivos da disciplinas era promover a vivência em um ambiente escolar. Assim a escola que nos recebeu para essa experiência foi a escola da rede municipal de ensino Zulmira Torres. Ela fica situada no beco da cultura, no bairro Nordeste de Amaralina, onde o índice de violência é alto. É nesta escola onde atua o professor Jorge Borges, Arte-Educador que nos proporcionou esse diálogo.

Como poucas eram as salas que funcionavam na escola durante o turno vespertino, fomos divididos em grupos de quatro estagiários, juntamente comigo, na sala na qual estudavam educandos do 3 ano, estavam a estagiaria Shandra Andere, e os estagiários Sérgio Reis e Alexandro Nascimento. Notamos nos educandos, aos quais ministrávamos as aulas, ações sempre voltadas para violência, em todos os jogos e proposições que fazíamos, esse fator chamou nossa atenção. Percebemos que esses educandos tinham muita energia e decidimos transformar essa energia violenta, em outra atmosfera, então, como tema norteador do processo elegemos as práticas circenses.

Todos os garotos queriam ser leões, e as todas as meninas queriam ser bailarinas. Infelizmente por conta da diferença do calendário da rede municipal de ensino, com o calendário acadêmico, realizamos apenas quatro encontros, o que não foi suficiente para montarmos um trabalho bacana para ser apresentado como resultado do processo.

Figura 18- Educandos em Ação

Fonte: Acervo pessoal da estagiaria

Mas foi suficiente para que pudéssemos diagnosticar o público alvo com o qual trabalhamos. Nesse sentido dentre as minhas observações, pude notar o quanto que a criança negra do sexo feminino tinha dificuldades de inserção nas atividades práticas. Nos jogos populares e jogos teatrais, sempre encontravam-se ao fundo da sala, se comunicavam verbalmente muito pouco, estavam sempre nos cantos, pareciam acuadas. Na tentativa de se sobressair em algumas das atividades, eram discriminadas pelos coleguinhas. Mas estimuladas por nós mediadores do processo, eram novamente inseridas nos jogos. Esse fato me marcou, principalmente por ter vivido uma trajetória semelhante a delas. Nessa experiência descobri que seriam essas crianças as quais eu precisava dedicar uma atenção maior.

Algo que percebi numa outra experiência no papel de Arte –Educadora, atuando como bolsista do Programa de Iniciação à Docência (PIBID), no Colégio Estadual Dona Leonor Calmon no bairro de Cajazeiras XI, sob a supervisão do professor de Teatro Everton Machado, durante o ano letivo de 2014, em que estive ministrando a disciplina de Artes para a turma do 1° ano do ensino médio C, no período matutino. Dentre as propostas do planejamento pedagógico do supervisor, estava a montagem de uma cena para ser apresentada ao final do ano letivo no festival de Teatro promovido pela escola.

Nas aulas que ministrei tive abertura para propor e sempre que possível instalava elementos do Teatro Negro como estimuladores de nossas aulas. Na I unidade, as pesquisas

que os educandos realizaram estiveram voltadas para os elementos da natureza. Utilizei esses elementos para que pudessem investigar de forma prática as principais reflexões sobre suas histórias. Na unidade II ao fazer uso da caixa de estímulos, metodologia desenvolvida pela pesquisadora Beatriz Cabral, levei alguns elementos como: panos coloridos, brancos, colares, imagens e instrumentos dentro de uma caixa que serviu como estímulos para o processo de improvisação.

Figura 19-Educando do 1ano C

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora

Os educandos divertiram-se e criaram algumas pequenas cenas. Na unidade III e IV o nosso foco foi direcionado para a criação dramatúrgica. Levei para a sala de aula algumas músicas das bandas Olodum e Ilê Aiyê e a partir dessas letras os educandos foram convidados para escolher um trecho de uma dessas músicas, podendo ser uma frase ou palavras e iniciar o processo de criação de uma esquete. Entre os trabalhos desenvolvidos, destaco o material dos educandos, Ingrid Santana, José Correia e Milena Silva.

Figura 20- Texto da situação dramática criada pelo educandos do 1ano C

Na realização desta atividade, foi possível perceber que podemos discutir questões relacionadas a população negra na área da dramaturgia. Na esquete criada pelos educandos é possível perceber como a música Ilê De Luz do Compositor: Suka-carlos Lima, cantada pela banda do bloco afro Ilê Aiyê, contribuiu para que os educandos pudessem discutir no texto o preconceito e a discriminação racial que as pessoas que se identificam com as músicas da cultura negra afro-brasileiras sofrem. Essa experiência foi muito significativa. Assim pude experimentar e perceber durante todo o ano letivo, quais elementos poderiam ser inseridos na minha pratica pedagógica.

Por estar presente nesse espaço e ter tido a oportunidade de trabalhar com adolescentes, percebi que por serem maiores e possivelmente ter alguns conceitos formados, eles acabavam por contribuir de forma tímida e mínima com o processo criativo. Constatei que a infância seria de fato a melhor área para realizar jogos, afim experimentar esse espaço criativo como lugar de desconstruções. As crianças por estarem na fase de construção de conceitos tendem a ter melhor aceitação das proposições. Essa experiência foi fundamental para que pudesse refletir sobre os desdobramentos dessas ações em processo.

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