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Eugenia florida DC é conhecida popularmente pelo nome de guamirim-cereja ou pitanga preta, pertence à família Myrtaceae, ordem Myrtales que compreende cerca de 131 gêneros com aproximadamente 4620 espécies. Um dos gêneros de Myrtaceae mais representativos é Eugenia com cerca de 1115 espécies, sendo seus frutos muito apreciados por várias espécies de pássaros o que ajuda na dispersão das sementes (LORENZI, 2000).

E. florida é uma espécie endêmica comumente encontrada em quase todo território brasileiro, principalmente nas regiões sul e sudeste (Figura 2), na maioria das formações vegetais arbóreas, sendo comum na Mata Atlântica (LORENZI, 2000; CNCFLORA, 2016).

Figura 2. Distribuição de geográfica de Eugenia florida DC no Brasil (CNCFLORA,

2016).

Eugenia florida (Figura 3) é uma árvore, com 5-9 m de altura, com tronco castanho acinzentado de 20 a 35 cm de diâmetro com casca rugosa e fissurada longitudinalmente. A copa é arrendondada e pouco densa, com folhagem avermelhada após a brotação. As folhas são simples, opostas de textura cartácea, glabras em ambas as faces, com base cuneada e ápice acuminado. As inflorescências apresentam-se em rácemos auxiliares de 1-2 cm de comprimento, com pilosidade hirta e flores perfumadas de cor branca. Esta espécie floresce em mais de uma época do ano, predominando o período compreendido entre os meses de agosto e setembro. O fruto é constituído por uma baga globosa, glabra, brilhante, com cálice persistente, de cor vermelha ou preta quando madura, com polpa carnosa adocicada, contendo uma única semente. A frutificação ocorre nos meses de outubro e novembro com amadurecimento principalmente em dezembro e janeiro (LORENZI, 2000; MUNIZ, 2008).

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Figura 3. Eugenia florida (A) Indivíduo de estudo (seta) (Foto do autor); (B) Detalhe

das folhas e fruto (Foto do autor); (C) Ramos com flores (MUNIZ, 2008).

As sementes são arrendondadas e recobertas por malha fibrosa que protege a verdadeira semente que é recalcitrante, ou seja, perde o poder germinativo em 20 dias. Por isso, as sementes devem ser plantadas logo que colhidas, em substrato organo- arenoso e deixados em meia sombra. A emergência se inicia de 30 a 60 dias e a taxa de germinação é inferior a 50%. A repicagem ou transplante das mudas deve ser feito quando esta tiver em torno de seis folhas definitivas. Após transplante as mudas devem ficar em local sombreado por 40 dias com irrigação diária, depois podem ser transferidas para um local com 40% de sombreamento. As mudas atingem 40 cm após 7 a 8 meses após germinação (MUNIZ, 2008).

A árvore é de crescimento rápido, resiste a baixas temperaturas (até - 3°C), aprecia altitudes entre 300 a 600 m, gosta de solos úmidos, rico em matéria orgânica, porém deve ser profundo e bem drenado, com pH por volta de 5,5, sendo a melhor época de plantio os meses de setembro a novembro. Após o plantio deve-se irrigar a cada quinze dias durante os primeiros três meses (MUNIZ, 2008).

Dentre a grande diversidade de plantas medicinais da Mata Atlântica, a Eugenia

florida possui uma matriz rica em triterpenos, principalmente o ácido betulínico (Figura 4), substância que apresenta atividade antitumoral, no entanto, trabalhos científicos desta espécie vegetal que comprovem a sua eficácia e segurança são escassos.

Figura 4. Estrutura molecular do ácido betulínico.

O ácido betulínico possui diversas atividades biológicas, tais como, anti- inflamatória e antimalárica (SIMÕES et al., 2007). Entretanto, a atividade que mais tem sido estudada é a ação anticancerígena (SAMI et al., 2006). Estudos demonstraram o potencial citotóxico do ácido betulínico para as células de melanoma (PISHA et al., 1995). A Tabela 1 apresenta dados de inúmeros estudos comprovando a atividade antitumoral do ácido betulínico.

Tabela 1. Estudos realizados com o ácido betulínico frente à linhagem de células

tumorais (SAMI et al., 2006).

Patologia Referencias

Melanoma Pisha et al. (1995); Fulda et al. (1997); Kim et al. (1998); Jeong et al. (1999); Salzer et al. (2000); Kim et

al. (2001); Hata et al. (2002 e 2003); Zuco et al. (2002); Symon et al. (2003); Sarek et al. (2003); Tan et

al. (2003); You et al. (2003); Sawada et al. (2004); Urban et al. (2004); Liu et al. (2004); Zanon et al. (2004); Fulda et al. (2004); Fulda & Debatin (2005); Kasperczyk et al. (2005)

Carcinoma pulmonar Fulda et al. (1997); Zuco et al. (2002); Sarek et al. (2003); You et al. (2003); Urban et al. (2004); Mukherjee et al. (2004b)

Câncer de cólon Fulda et al. (1997); Kim et al. (2001); Baglin et al. (2003b); Sarek et al. (2003); Urban et al. (2004); Mukherjee et al. (2004b)

Carcinoma de próstata Kim et al. (2001); Sarek et al. (2003); Urban et al. (2004); Mukherjee et al. (2004b)

Leucemia Fulda et al. (1997); Noda et al. (1997); Deng & Snyder (2002); Hata et al. (2003); Urban et al. (2004); Ehrhardt et al. (2004)

Carcinoma de ovário Deng & Snyder (2002); Zuco et al. (2002); Sarek et al. (2003); Mukherjee et al. (2004b)

Carcinoma endotelial Mukherjee et al. (2004b)

Carcinoma de epiderme oral Kim et al. (1998); Jeong et al. (1999)

Glioblastoma Fulda et al. (1997); Sarek et al. (2003); Jeremias et al. (2004); Fulda et al. (2004); Fulda & Debatin (2005); Kasperczyk et al. (2005)

Câncer de mama Fulda et al. (1997); Sarek et al. (2003); Urban et al. (2004)

Neuroblastoma Fulda et al. (1997); Schmidt et al. (1997); Fulda et al. (1998a); Hara et al. (2003); Fulda et al. (2004); Fulda & Debatin (2005); Kasperczyk et al. (2005)

Cãncer de coluna vertebral Fulda et al. (1997, 1999, 2004); Fulda & Debatin (2005)

Carcinoma de cérvix Zuco et al. (2002) Carcinoma hapatocelular Sarek et al. (2003) Osteosarcoma Sarek et al. (2003) Rabdomiosarcoma Sarek et al. (2003)

2 JUSTIFICATIVA

A grande quantidade de estudos descritos na literatura comprovando a atividade antitumoral do ácido betulínico associados aos resultados citotóxicos obtidos nos estudos conduzidos pelo nosso grupo de pesquisa em um estudo sazonal, de agosto de 2010 até julho de 2011, de extratos brutos de folhas secas de E. florida, motivaram o estudo para o desenvolvimento de um Insumo Farmacêutico Ativo Vegetal (IFAV) para o tratamento do câncer.

A seletividade do ácido betulínico por células tumorais é amplamente descrita na literatura. No entanto, até o presente momento esta substância ainda não é utilizada como fármaco na terapia do câncer.

Resultados promissores obtidos anteriormente por nosso grupo de pesquisa no ensaio in vitro durante o estudo com o extrato bruto obtido a partir de folhas de Eugenia

florida em linhagem de câncer de ovário OVOCAR-3 no mês de Maio/2011, apresentou CI50= 1,6 µg/mL menor do que o padrão do ácido betulínico com CI50= 2,5 µg/mL.

Neste estudo observou-se também que a atividade antitumoral ocorre independente da variação de teor do ácido betulínico nos extratos o que sugere a existência de outras substâncias no extrato que apresentam atividade antitumoral e/ou potencializam a atividade do ácido betulínico (NÓBREGA, 2011).

Uma análise mais detalhada da contribuição dos componentes do extrato é importante para a definição da atividade do extrato vegetal para o desenvolvimento de uma forma farmacêutica eficaz e segura.

3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral

Obtenção de um insumo ativo vegetal tecnicamente elaborado a partir dos extratos de folhas de Eugenia florida para desenvolvimento de um fitoterápico antitumoral.

3.2 Objetivos Específicos

 Caracterizar a matéria-prima vegetal;

 Realizar a prospecção química a partir de extratos obtidos;

 Realizar o estudo farmacológico de extratos e frações, além do marcador químico ácido betulínico;

 Desenvolver metodologia analítica para determinação qualitativa e quantitativa do marcador químico;

 Realizar estudos de pré-formulação;

4 MATERIAIS E MÉTODOS

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