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Eulacophyllum cultelliforme (Sull.) W.R Buck & Ireland, Nova Hedwigia 41: 108 1985 (Figura 22)

Bas.: Hypnum cultelliforme Sull., Proc. Amer. Acad. Arts 5: 289. 1861.

Plantas verdes-brilhantes mesmo quando secas, complanadas. Ramos rastejantes. Costa simples, às vezes projetando-se no ápice como uma espinha. Filídeos ereto-aplanados, oblongos a oblongo- ovados; ca: 3:1, 0,9–1,1 × 0,3–0,4 mm. Ápice agudo a obtuso. Base não-decurrente. Margens

42 serradas a serruladas no ápice, e serruladas a inteiras na base. Células lisas, aparentando ser papilosas devido ao espessamento da parede no ápice da célula; do ápice lineares, ca. 9:1, 25-40 × 2-5 µm; do centro lineares, ca. 9:1, 40-65 × 5-7 µm; da base (supra-alares), ca. 5-10:1, 30-55 × 3-10 µm; da margem não-diferenciadas; alares diferenciadas das demais, quadráticas, paredes grossas, ca. 1:1, 10-14 × 7-10 µm. Esporófito não observado.

Discussão: Eulacophyllum cultelliforme é caracterizada por apresentar filídeos bastante assimétricos em relação à costa, células alares pequenas e em grande número (vide figura 18 A); desigualmente distribuída de cada lado da costa. Às vezes apresenta uma dobradura na parte basal do filídeo. Não foi encontrado material fértil na área de estudo.

Distribuição: Neotropical. No Brasil ocorre em: AM, BA, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PB, PE, PR, RJ, SE, SP, TO. 0-1200 m.

Material selecionado: BRASIL. Distrito Federal: Brasília, APA de Cafuringa, Ribeirão Dois Irmãos, crescendo sobre tronco vivo, 15° 29’ 09” S, 48° 06’ 37” W, 13-XI-2009, Gama, R. 471 (UB).

4. Pilosium chlorophyllum (Hornsch.) Müll. Hal., Flora 83: 340. 1897. (Figura 23) Bas.: Hypnum chlorophyllum Hornsch., Fl. Bras. 1(2): 89. 1840.

Plantas verde-claras; formando tapetes pequenos, porém densos; apressas ao substrato; ramificadas irregularmente. Ramos complanados. Costa simples nos filídeos laterais, bastante inconspícuas; ausente nos dorsais. Filídeos pouco contorcidos quando secos; diferenciados em dorsais e laterais; dorsais oblongos a oblongo-lanceolados; planos; ca. 2-3:1, 1,3-1,7 × 0,3-0,6 mm; laterais oblongos, cultriformes; côncavos; ca. 3:1, 1,4-1,7 × 0,4-0,7 mm. Ápice nos filídeos dorsais agudo a levemente acuminado; nos filídeos laterais agudo a levemente obtuso. Base não decurrente. Margens lisas na base; lisas a serruladas no ápice. Células lisas, lineares; do ápice nos filídeos dorsais ca. 4-7:1, 31- 78 × 7-10µm; nos filídeos laterais ca. 5-6:1, 22-67 × 7-10µm; do centro nos filídeos dorsais ca. 20- 25:1, 93-146 × 6-8µm; nos filídeos laterais ca. 25:1, 139-160 × 6-8µm; da base nos filídeos dorsais

43 ca. 10:1, 54-107 × 5-8µm; nos filídeos laterais ca. 11:1, 60-108 × 7-9µm; da margem nos filídeos dorsais ca. 9-11:1, 64-115 × 7-8µm; nos filídeos laterais ca. 15:1, 81-126 × 6-8µm; alares nos filídeos dorsais pouco diferenciadas, em baixo número e restritas a 1-4 fileiras de células, quadráticas a retangulares, paredes grossas e conspícuas, algumas apresentam coloração mais escura, ca. 1-3:1, 10-50 × 6-15µm; nos filídeos laterais bastante diferenciadas, em grande número e subindo pela margem até 10 fileiras de células, quadráticas, paredes grossas, normalmente apresentando coloração mais escura nas fileiras mais basais, ca. 2:1, 27-57 × 15-26µm; Esporófitos não observados.

Discussão: Pilosium chlorophyllum é uma espécie muito plástica, podendo apresentar costa conspícua em alguns filídeos e não apresentá-la em outros filídeos de um mesmo ramo. P.

chlorophyllum apresenta vários filídeos com uma porção de sua lâmina dobrada sobre ela mesma;

possuem também células alares conspícuas, e sempre mais abundante em um dos lados da lâmina, além de apresentar, freqüentemente, tais células coloridas(vide figura 19 A). Pode ser confundida também com Entodon macropodus, que apresenta filídeos bastante semelhantes. A diferenciação se torna fácil ao observar no microscópio o tipo de costa, que é simples em P. chlorophyllum e dupla e curta em E. macropodus; e as células alares. P. chlorophyllum apresenta células alares numerosas somente em um dos ângulos do filídeo, além de apresentar as paredes destas células irregularmente espessadas e com constrições; apresenta também células alares quadráticas a retangulares; já as células alares de E. macropodus são sempre quadráticas, nunca retangulares, além de apresentarem um número semelhante de células alares nos dois ângulos da base do filídeo. A parede das células alares é regularmente espessada, sem constrições em E. macropodus.

Distribuição: Neotropical. No Brasil ocorre em: AC, AL, AM, AP, BA, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, RJ, RO, RR, SP, TO. 0-800m.

Material examinado: BRASIL. Distrito Federal: Brasília, APA de Cafuringa, Poço Azul, crescendo sobre rocha, 15° 34’ 52” S, 48° 02’ 49” W, 13-XI-2009, Gama, R. 529 (UB); idem, crescendo sobre tronco vivo, 15° 34’ 52” S, 48° 02’ 49” W, 13-XI-2009, Gama, R. 534 (UB);

44 Agradecimentos

O autor agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por conceder bolsa de mestrado durante parte do desenvolvimento desse trabalho. Agradece também ao pesquisador do Instituto de Botânica de São Paulo (IBOT), Dr. Denilson Peralta, que gentilmente checou a identificação de algumas plantas e que nos cedeu importantes bibliografias durante o andamento do trabalho.

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47 Fotos das plantas

Figura 2: Brachythecium ruderale (Brid.) W. R. Buck – A) margem do filídeo, B) centro do filídeo, C) Vista geral do filídeo.

A

B

48 Figura 3: Schoenobryum concavifolium (Griff.) Gangulee - A) ápice. B) Base do filídeo, células alares.

A

49 Figura 4: Entodon beyrichii (Schwägr.) Müll. Hal. – A) Base do filídeo. B) Detalhes da margem do filídeo C) Forma do filídeo.

C A

50 Figura 5: Erythrodontium squarrosum (Hampe) Paris. - A) Ápice do filídeo. B) Detalhes das células alares C) Detalhes do Exostômio. D) Forma do filídeo.

D C

A

51 Figura 6: Fabronia ciliaris var. Polycarpa (Hook.) W. R. Buck – A) Detalhes da margem do filídeo. B) Ápice C) Células exoteciais. D-E) Forma do filídeo. F) Base.

E C B A D F

52 Figura 7: Helicophyllum torquatum (Hook.) Brid. - A) Filídeo periquecial com oogônias. B) Papilas nas células do centro do filídeo. C) Filídeo periquecial.

B A

53 Figura 8: Chryso-Hypnum diminutivum (Hampe) W. R. Buck - A) Células do centro do filídeo. B) Forma do Filídeo / detalhe das células prorulosas. C) Ápice D) Costa. E) Células alares.

C B D C A E

54 Figura 9: Isopterygium tenerum (Sw.) Mitt. - A) Ápice do filídeo. B) Forma do filídeo C) Células alares.

C

55 Figura 10: Vesicularia vesicularis var. Vesicularis (Schwägr.) Broth. - A) Forma do filídeo. B) Detalhes das células da base C) Detalhes do Exostômio. D) Detalhes das células do centro.

C A

56 Figura 11: Meteorium deppei (Hornsch. ex Müll. Hal.) Mitt- A) Forma do filídeo. B) Detalhes das células - papilas C) Detalhes do ápice. D) Base.

D C

A

57 Figura 12: Helicodontium capillare (Hedw.) Jaeg. - A) Vista geral do filídeo. B) Margem.

A

58 Figura 13: Callicostela pallida (Hornsch.) Ångström - A) Ápice do filídeo. B) Filídeo, aspecto geral. C) Margem do filídeo e costa.

C B

59 Figura 14: Cyclodictyon albicans (Hedw.) Kuntze - A) Células do centro do filídeo. B) Detalhes do ápice do filídeo C) Margem do filídeo. D - E)Filídeo, aspecto geral.

E

D C

A

60 Figura 15: Jaegerina scariosa (Lorentz) Arzeni - A) Forma do filídeo. B) Ápice C) Células do centro do filídeo. D) Base.

D C

61 Figura 16: Racopilum tomentosum (Hedw.) Brid. - A) Ápice do filídeo. B) Vista geral do filídeo.

A

62 Figura 17: Acroporium caespitosum (Hedw.) W. R. Buck - A) Base do filídeo com células alares. B) células exoteciais. C) Filídeo, aspecto geral.

B

C A

63 Figura 18: Sematophyllum galipense (Müll. Hal.) Mitt - A) Células do centro do filídeo. B-C) Formato do filídeo D) Base / Células alares. E) Ápice.

D C

A B

64 Figura 19: Sematophyllum subpinnatum (Brid.) E. Britton - A-B) Peristômio. C-D) Ápice E) Formato do filídeo.

E D

A B

65 Figura 20: Entodontopsis leucostega (Brid.) W. R. Buck & Ireland - A) Ápice do filídeo – B) vista do exostômio com trabéculas na face interna.

A

66 Figura 21: Entodontopsis nitens (Mitt.) W. R. Buck & Ireland – A) Vista geral do filídeo. – B) E.

nitens, ápice do filídeo

A

67 Figura 22: Eulacophyllum cultelliforme (Sull.) W. R. Buck & Ireland - A) Base. B) Ápice. C) Margem e células do centro. D) Forma do filídeo.

D C

A

68 Figura 23: Pilosium chlorophyllum, (Hornsch.) Müll. Hal - A) Células alares. B)

Base. C) Células do centro. D) Forma do filídeo.

D C

69 DIVERSIDADE DE MUSGOS PLEURO E CLADOCÁRPICOS DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DE CAFURINGA E SUA RELAÇÃO FLORÍSTICA COM OUTRAS ÁREAS NO DISTRITO FEDERAL (BRASÍLIA, DF – BRASIL) 1

Renato Gama Dias Neto 2,3, Daniel Villarroel Segarra 2 & Paulo Eduardo Aguiar Saraiva Câmara 2

Resumo: A APA de Cafuringa é o último reduto ambiental do DF. Contudo sob grande ameaça urbanística, todo o DF sofre com a perda de áreas nativas para vários grupos vegetais. Propôs-se verificar a diversidade de espécies de musgos da APA de Cafuringa, bem como entender as suas relações florísticas entre as suas matas de galerias e também comparar a com 3 áreas distintas do DF: Jardim Botânico de Brasília (JBB), Reserva Ecológica do Roncador (RECOR) e a Dolina da Garapa (APA de Cafuringa). Constatou-se que existem certos padrões de diversidade suportados pelos índices de Jaccard e Sørensen.

Palavras-chave: Bryophyta, Jaccard, Twinspan, Índice de Sørensen, florística, riqueza.

1 Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor.

2 Departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB) – Programa de Pós-graduação em Botânica.

70 Introdução

O Bioma Cerrado é um importante corredor ecológico que integra outros grandes Biomas, pois apresenta nascentes de três grandes bacias sul-americanas: a Bacia Amazônica, a Bacia Platina e a Bacia do São Francisco (Álvares-da-Silva, 1996), além disso, a região do planalto central do Brasil compreende uma vasta região composta por mosaicos fitofisionômicos, diversos tipos de solos, clima e com topografia bastante heterogênea (Misturini et al. 2001).

Dentre as fitofisionomias do Cerrado, as matas de galeria são um dos tipos de formações florestais associadas aos cursos de água, como rios de pequeno porte e córregos do planalto brasileiro (Ribeiro & Walter, 2008) e se destacam pela sua riqueza, diversidade genética e pelo seu papel na proteção dos recursos hídricos, edáficos, fauna silvestre e aquática (Rezende, 1998).

Segundo Rezende (1998) as matas de galeria apresentam um ambiente bastante heterogêneo, com elevado número de espécies, o que reflete um índice de diversidade superior ao encontrado em outras formações florestais dentro do Cerrado. Do ponto de vista ecológico, as zonas ripárias têm sido consideradas como corredores ecológicos extremamente importantes para o fluxo de fauna, assim como para a dispersão vegetal (Lima & Zakia, 2000).

Uma das áreas com grande proporção de matas de galeria é a Área de Proteção Ambiental (APA) de Cafuringa (Figura 1) que é considerada a última fronteira natural do DF (Felfili et al., 2006) pois é hoje uma das últimas áreas não tocadas pela expansão agrícola dentro do DF. Como essa área apresenta relevo bastante acidentado e muitas cachoeiras, ali estão localizados os monumentos naturais considerados como os mais belos do Distrito Federal: O Poço Azul, a cachoeira de Mumunhas, o Morro da Pedreira (Pedra do Urubu), as cachoeiras do córrego Monjolo e a Ponte de Pedra nas nascentes do ribeirão Cafuringa.

Outra característica da região é conter a maior parte das ocorrências de afloramento de calcário do Distrito Federal, apresenta inúmeras cavernas, sendo a mais expressiva a Gruta do Rio do Sal. Sua importância está não somente na preservação desses recursos paisagísticos e espeleológicos, como também na preservação da fauna e da flora. Do ponto de vista da flora, a APA preserva um dos mais extensos campos naturais do Distrito Federal e as maiores reservas de Mata Mesofítica que se estendem em direção à Bacia Amazônica (Semarh, 2010), sendo estes ambientes considerados ótimos para o crescimento de vegetais que dependem de água para fertilização, como as briófitas, por suas características de umidade relativa, temperatura e de substratos. Essas

71 características ainda conformam uma diversidade microclimática, repercutindo numa alta diversidade de espécies de musgos.

O presente trabalho de investigação determina a riqueza e diversidade de espécies de musgos pleuro e acrocárpicos da APA de Cafuringa e as compara com outras regiões do DF (Jardim Botânico de Brasília - JBB, Reserva Biológica do IBGE – RECOR e Dolina da Garapa) , com a finalidade de determinar as regiões com maior diversidade de briófitas no DF.

A área de estudo

A Área de Proteção Ambiental de Cafuringa, passou a existir por Decreto de Lei em 10 de junho de 1988 ocupando uma área total de 465,10Km². Está situada aproximadamente entre 15º 30' e 15º 40' Sul e 47º 50' e 48º 12' Oeste. Faz limites ao sul com as rodovias DF-001 e DF-220, ao norte e oeste na divisa do DF com GO, e a leste com a rodovia DF-150 e o ribeirão da Contagem.

A APA de Cafuringa está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Maranhão, pertencente à Região Hidrográfica do Tocantins/Araguaia, contribuinte da Bacia Amazônica.

As matas de galeria da APA, que são as áreas focais do presente trabalho, ocupam uma área aproximada de 5 a 10% do total da APA. As matas de galeria mais importantes, levando-se em conta o tamanho, grau de impacto humano na área, segurança e a facilidade do acesso são aquelas que margeiam os rios do Sal e da Palma, que margeiam também os ribeirões Amador, Dois Irmãos, Contagem, Cafuringa e Salinas e ainda as que margeiam os córregos Poço Azul, Catingueiro e Pedreira.

Foram feitas coletas nas seguintes áreas (Figura 1): Poço Azul (15°34’52”S, 48°02’49”W), Ribeirão Dois Irmãos (15°30’09”S, 48°06’37”W) Reserva Biológica da Contagem (15°37’22”S, 47°52’23”W), Pedra do Urubu (15°30’44”S, 47°57’46”W), Córrego do Catingueiro (15°32’28”S, 47°56’27”W), Córrego Amador (15°31’07”S, 48°08’20”W), Chácara Morada do Sol (15°36’45”S, 47°52’33”W).

O Clima da região é Tropical de Savana, ou Aw segundo a classificação de Köppen (Sematec, 1992), com duas estações bem definidas, sendo um inverno seco, de maio a setembro, e um verão chuvoso, de outubro a abril.

O impacto humano no DF, mantendo-se no ritmo atual, culminará no desaparecimento total de áreas similares às encontradas na APA de Cafuringa nos próximos anos.

72 Áreas do DF utilizadas para comparação com a APA de Cafuringa

Foram selecionadas três áreas para a comparação no presente trabalho. Trata-se das únicas áreas inventariadas do DF que tiveram os resultados de seus estudos publicados ou que estão em vias de publicação (Câmara, 2008; Carvalho-Silva et al., no prelo; Soares & Oliveira, no prelo). São elas: Dolina da Garapa, Jardim Botânico de Brasília e Reserva Ecológica do IBGE.

Dolina

A Dolina da Garapa é a única área selecionada para a comparação florística que faz parte da APA de Cafuringa. Está localizada no noroeste da APA, dentro da Fazenda Pontal dos Angicos e é formada pelo afundamento do solo. No fundo desta dolina está presente uma caverna, conhecida como Gruta da Garapa (Semarh, 2006). A Dolina apresenta aproximadamente 50 metros de diâmetro e 20 metros de profundidade. É um local dominado por mata seca, imerso em uma área de cerrado strictu sensu circundando a Dolina (Soares & Oliveira, no prelo). Faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Maranhão. É a única das áreas utilizadas na comparação que está inserida na APA de Cafuringa.

Seu levantamento florístico foi realizado recentemente (Soares & Oliveira, no prelo) e registrou um total de 31 espécies de musgos.

Jardim Botânico de Brasília

Situado no Lago Sul, o Jardim Botânico de Brasília (JBB), 15°22’03”S, 47°49’39”W, possui uma área de 5000 ha., é uma das áreas integrantes da Área de Proteção Ambiental (APA) das bacias do Gama e Cabeça-de-Veado e é uma Zona Núcleo da Reserva da Biosfera do Cerrado.

A APA Gama-Cabeça de Veado está inserida na área da Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá, que é pertencente à Região Hidrográfica do Rio Paraná, contribuinte da Bacia do Prata, que posteriormente desaguará no Rio da Prata, na Argentina.

De sua área total, apenas 500 ha. estão destinados à visitação pública e os 4.500 ha. restantes pertencem a uma Estação Ecológica (Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília-EEJBB) destinados a conservação e pesquisas da flora e fauna (Carvalho-Silva et al., no prelo). É uma área

73 representativa do bioma Cerrado com diversas fitofisionomias, como Matas de Galeria, Mata Seca, Cerradão, Cerrado sensu stricto, Cerrado Rupestre, Vereda, Campo Sujo e Campo Limpo.

O estudo florístico foi realizado recentemente (Carvalho-Silva et al., no prelo) e totalizou para a área total do JBB 53 espécies de musgos.

Reserva Ecológica do IBGE

Parte constituinte da APA Gama-Cabeça de Veado, a Reserva Ecológica do IBGE, também conhecida pelo nome de Reserva Ecológica do Roncador (RECOR) dista 35km ao sul do centro de Brasília. Localiza-se a 15o56’41’’S e 47o53’07’’W e possui uma área de 1.350 ha..

Juntamente com o JBB e a Fazenda Água Limpa (pertencente à Universidade de Brasília - UnB) formam área contígua de preservação (APA Gama-Cabeça de Veado), com área de 10.000ha.

Da mesma forma que os demais, pertence à Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá, incluída na Região Hidrográfica do Rio Paraná.

Os últimos estudo para essa área foram publicados recentemente (Câmara, 2008; Câmara 2008b) e apresentaram para a área um total de 40 espécies de musgos.

Metodologia

Coleta de dados

Foram aplicados dois tipos de metodologia na coleta de dados, sendo estes:

A coleta primária de dados, que consistiu em coletas de campo pelos autores, foi realizada durante um ano na região da APA de Cafuringa, com a freqüência variando em: quinzenalmente no primeiro semestre e mensalmente no segundo. Procurou-se coletar nas mesmas áreas em mais de uma época do ano para abranger os diferentes estágios de desenvolvimento das comunidades vegetais ao longo das estações do ano. Seguiu-se a metodologia de coleta descrita por Yano (1984).

A coleta secundária de dados foi feita pela compilação da informação das briófitas depositadas nos Herbários UB, HEPH, CEN, IBGE, SP, R, MO, NY, provenientes da APA de

74 Cafuringa e pela consulta de material bibliográfico dos estudos realizados nas áreas da RECOR (Câmara, 2008), no JBB (Carvalho-Silva et al., no prelo), e na Dolina da Garapa (Soares & Oliveira, no prelo).

Com toda a informação compilada pela coleta de dados primária e secundária foi elaborado um banco de dados contendo as espécies presentes nestas regiões.

Tratamento das amostras e identificações

As amostras coletadas foram tratadas segundo o padrão do Herbário UB e nele depositadas. Duplicatas de algumas das amostras foram intercambiadas com Herbários parceiros (SP, VT, R).

Os equipamentos utilizados para as determinações foram um microscópio estereoscópico da marca Nikon modelo NI-150 e microscópio óptico da marca Nikon, modelo E200.

A preparação do material foi feita em lupa para a observação em microscópio óptico; para tal, foram feitas lâminas semi-permanentes usando solução de Hoyer (Anderson, 1954) que torna as células mais claras e assim auxilia na visualização dos caracteres de interesse.

As identificações taxonômicas foram feitas no Laboratório de Criptógamas da Universidade de Brasília – UnB, utilizando bibliografia especializada, utilizando chaves e, quando necessário, especialistas do Brasil e/ou do exterior foram consultados. A preparação do material para tal observação é feita com pequenas porções da planta que são reidratadas e então têm os seus filídeos arrancados usando pinças de precisão.

75 Figura 1: Imagem da Área de Proteção Ambiental (APA) de Cafuringa, Brasília – DF.

Legenda: Ribeirão Amador, Sítio Santa Terezinha, Ribeirão Dois Irmãos, Rio da Palma, Chapada Imperial, Poço Azul, Pedra do Urubu – Córrego da Pedreira, Comunidade Catingueiro – Ribeirão das Salinas, Córrego do

76 Diversidade de espécies de musgos nas matas da APA de Cafuringa

A determinação da diversidade total foi realizada a partir do somatório das espécies encontradas nas 7 áreas amostradas dentro da APA de Cafuringa (ReBIO da Contagem, Comunidade

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