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2.8 PRÁTICA MORAL

2.8.2 Eutanásia

“É melhor a morte do que a vida cruel, o repouso eterno do que a doença constante” (Eclo 30,17).

Na pesquisa com os universitários de 2011, na questão “você é a favor da eutanásia?” cf. Gráfico 21, 708 (64,1%) responderam que são a favor; e 328 (29,7%), que não são a favor.

Na pesquisa da CERIS de 2002, na cidade de Porto Alegre, 35,1% disseram que a religião deveria se colocar contrária à prática da eutanásia.

Primeiro é necessário refletirmos sobre o que se entende por eutanásia. Este termo “eutanásia” passa por uma evolução ao longo dos séculos. O seu significado etimológico (do grego eu, “boa”, e thanatos, “morte”) é a morte boa, sem dores e angústias. O conceito clássico de eutanásia é tirar a vida do ser humano, por considerações humanitárias para a pessoa ou a sociedade (deficientes, anciãos, enfermos incuráveis, etc.). Distingue-se entre eutanásia ativa (positiva ou direta) de um lado, e passiva, de outro.

No primeiro caso, trata-se de uma ação médica pela qual se põe fim à vida de uma pessoa enferma, por um pedido do paciente ou a sua revelia. É também chamada de morte piedosa ou suicídio assistido. ”A eutanásia passiva ou negativa não consistiria em uma ação médica, mas, omissão. Isso quer dizer a não aplicação de uma terapia médica com a qual se poderia prolongar a vida da pessoa enferma”.102

Neste tempo hodierno, a vida deve ser vivida com total prazer e com toda saúde, e o sofrimento aparece como uma dor insuportável que não vale a nossa luta contra ele. Então, fica cada vez mais forte a tentação à prática da eutanásia, isto é, apoderar-se da morte, provocando-a antes do tempo e, deste modo, pondo fim à vida própria ou alheia (EV, 64).

Deste modo, põe-se fim à sua própria vida ou a do outro. “E agora, vede bem: eu, sou eu, e fora de mim não há outro Deus! Sou eu que mato e faço viver, sou eu que firo e torno a curar” (Dt 32,39). O ser humano esquece a sua relação fundamental com Deus, toma critério e norma de si mesmo e decide sobre a vida como e quando deve interrompê-la. Normalmente, isto acontece nas áreas mais desenvolvidas, onde o conhecimento intelectual é mais aprimorado, mais

desenvolvido, com contínuos progressos da medicina moderna, com as suas técnicas avançadas. Com recursos avançados da medicina, é possível prolongar a vida em situações que antes eram praticamente impossíveis, e este prolongamento pode ser sem sofrimento e dor.

Tabela 22: Posição sobre eutanásia

A favor da eutanásia? Frequência Percentual

Sim 708 64,1

Não 328 29,7

Não respondeu 62 5,6

(Sim/Não) depende do caso 5 0,5

Anulou a resposta 1 0,1

Total 1104 100,0

Gráfico 22: Posição sobre eutanásia

“A decisão da eutanásia torna-se grave quando ela se configura como um homicídio”, segundo João Paulo II, EV 65. Este ato é praticado sobre um ser humano que não consentiu, em momento algum, que isto pudesse ser feito.

Quando alguns médicos ou as próprias leis se dão o direito de decidir quem deve morrer e quem vai viver com total e independente poder de decisão, devemos questionar onde está o discernimento, qual é a lógica? Para entender esta atitude, formulamos algumas hipóteses.

Seria por causa da dispendiosa situação econômica ao ponto de concluírem que não vale continuar promovendo a vida, ou seria por uma decisão arbitrária, onde se conclui que não tendo condições de recuperar este doente, a melhor solução é eliminá-lo. Mas onde fica o caminho do amor e compaixão?

A constituição Pastoral diz:

Descendo às consequências práticas e mais urgentes, o Concílio inculta o respeito ao homem; que cada um respeite o próximo como – outro eu, sem excetuar nenhum, levando em consideração, antes de tudo, a sua vida e os meios necessários para mantê-la dignamente.103

A carta encíclica ainda se refere à exigência de uma legitimação jurídica, atribuindo este direito ao estado, considerando que a vida daquele que está debilitado pode ser um bem apenas relativo. Nas opiniões mais radicais, chega-se mesmo a defender que,

numa sociedade moderna e pluralista, deveria ser reconhecida a cada pessoa total autonomia para dispor da própria vida e da vida de quem ainda não nasceu não seria competência de a lei fazer a escolha entre as diversas opiniões morais, e menos ainda poderia ela pretender impor uma opinião particular em detrimento das outras (EV, 68).

Segundo os princípios éticos da Comissão Governamental Comissão Nacional para a proteção dos seres humanos da pesquisa biomédica e comportamental, 1974, na América do Norte que consta no livro Problemas Atuais de Bioética, são: autonomia, beneficência e justiça. A condição da autonomia diz respeito à capacidade ou competência do paciente em tomar decisões. Existem enfermidades que tiram completamente o uso da razão total, e outras que a deterioram de modo muito sensível. O princípio da justiça exige que todos os homens gozem de uma igualdade básica; todos os seres humanos têm direito a iguais considerações e respeito. Conforme este princípio, todos os homens devem ser respeitados e tratados de forma igual, ainda que explicitamente renunciem a isso.

A prioridade da justiça sobre a autonomia é tal que nada pode causar dano aos demais, mesmo no caso de ser pedido. Nisso é que consiste o chamando princípio de “não maleficência”. Não estamos obrigados a fazer o bem a uma pessoa contra a sua vontade, porém não devemos fazer o mal, ainda que ela se oponha a isso. A justiça é inseparável da não maleficência, da mesma maneira que a autonomia o é da beneficência.

O Código de Ética Médica declara, no Capítulo I, no artigo 6º, que o médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em beneficio do paciente. Jamais

103 CV II, GS, 27.

utilizará os seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra a sua dignidade e integridade.

No documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, (L’Osservatore Romano) de 3 de agosto de 1980, está afirmado:

Ora, é necessário declarar, uma vez mais, com toda a firmeza, que nada ou ninguém pode autorizar a que se dê a morte a um ser humano inocente, seja ele feto ou embrião, criança ou adulto, velho, doente incurável ou agonizante. E também a ninguém é permitido requerer este gesto homicida para si ou para um outro confiado à sua responsabilidade, nem sequer consenti-lo explicita ou implicitamente. Não há autoridade alguma que possa legitimamente impor ou permitir. Trata-se, com efeito, de uma violação da lei divina, de uma ofensa à dignidade da pessoa humana, de um crime contra a vida e de um atentado contra a humanidade.104

Ainda se lê no Catecismo da Igreja Católica,

Aqueles, cuja vida está diminuída ou enfraquecida, necessitam de um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para levar uma vida tão normal quanto possível. Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em colocar um fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas, sendo moralmente inadmissível.105

Dos alunos que responderam o questionário 64,1%, disseram que são a favor da eutanásia. Assim, eles estão contradizendo qualquer religião à que possam pertencer, pois não estão de acordo com sua doutrina, eis que todas e todos os que são crentes devem estar a favor da vida e não apressar a morte. Muitas das religiões, inclusive, realizam ”curas e milagres” quase que instantaneamente, por isto a resposta fica incoerente com o que deveria ser a prática. Percebe-se que quando não se tem uma prática e visão religiosa, não se consegue vivenciar o mistério da dor do sofrimento.

“É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens”. (At 5,29)

104 JOÃO PAULO II. Sagrada congregação para a doutrina da fé. In: PESSINI, L. Distanásia: até quando prolongar a vida?, p. 409.