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Ao falarmos sobre eventos abrangemos um sem número de “acontecimentos” que podem compreender diferentes motivos, tamanhos e modos de serem realizados. Desde os rituais em tempos remotos até os altamente organizados do mundo contemporâneo poderíamos denominar estes “acontecimentos” como eventos. O planejamento de eventos – sociais, políticos, desportivos, entre outros – já fazia parte integral da vida da corte europeia e dos impérios orientais, tanto na coroação ou casamento da realeza ou no recebimento de diplomatas e representantes políticos estrangeiros. Foi também a partir dessa realidade que a corte francesa desenvolveu a etiqueta, um conjunto de protocolos e rituais a serem seguidos por todos aqueles de educação nobre. Com isso, não há como saber ao certo quando os eventos passaram a se organizar como uma verdadeira “indústria”, posto que os primeiros Jogos Olímpicos na Grécia em 776 a.c. já demonstravam a necessidade de um complexo planejamento em razão de seu porte e da grande quantidade de pessoas que atraía à região (BAHL, 2004).

Compreendendo parte integral da vida social, tanto a globalização e o desenvolvimento econômico – para eventos de negócios – quanto o aumento do tempo livre – para eventos culturais e comunitários –, eles motivaram o crescimento do setor de maneira formal, criando profissionais especializados em seu planejamento e organização. Atualmente, para os organizadores, os eventos constituem um conjunto de esforços que dependem de uma ação planejada, tendo em vista que procuram atingir um objetivo previamente estabelecido, voltado a um determinado público-alvo, como afirma Canton (2000). No entanto, assim como Bahl (2004, p.18), assumimos o evento como “um acontecimento que ocorre a partir de um motivo e de atividades programadas a serem desenvolvidas em um local e tempo determinados, congregando indivíduos com interesses comuns”.

A fim de diferenciar um “acontecimento” excepcional, segundo Allen et al (2008), a chamada “indústria” de eventos criou o termo “eventos especiais”, que descreve um evento fora dos padrões cotidianos ou atividades normais do grupo patrocinador ou organizador. Na visão dos autores, eventos podem funcionar como “marcos para nossas vidas”, celebrando ocasiões importantes para um determinado grupo de pessoas. Um evento especial deve ser deliberadamente planejado, a fim de marcar ocasiões especiais ou atingir metas de cunho social, cultural ou

corporativo. Ligados à dinâmica social e às necessidades e valores de determinado grupo, essa atividade constitui atualmente importante elemento do turismo devido à utilização de equipamentos e serviços que fazem parte do trade turístico, podendo servir como produto, deslocando pessoas para determinada localidade em busca do que o evento tem a oferecer (ALLEN et al, 2008). Canton (2000, p. 307), escrevendo sobre a importância da qualidade na prestação de serviços concorda ao demarcar que, de forma geral, “os eventos surgem em função da dinâmica da própria sociedade, que dita seus valores e necessidades refletidos em uma determinada época”.

No turismo contemporâneo, os eventos constituem elemento fundamental na estratégia da promoção da atividade turística nas localidades sedes onde ocorrem, divulgando e favorecendo a cadeia produtiva do turismo, posto que são capazes de atrair um grande contingente de pessoas de diversos grupos de interesse em razão da grande variedade de eventos possíveis (CANTON, 2000). Quando parte do planejamento turístico, os eventos devem ser organizados de modo a promover e aproveitar a localidade predisposta a sediá-lo, possibilitando um fluxo de turistas a cidade-sede que irá usufruir diretamente do equipamento turístico, através de hospedagem, transporte e alimentação. Assim, os eventos constituem uma das principais formas de minimizar os efeitos da sazonalidade nos destinos. Ao atrair demanda turística em épocas de baixa temporada, ele se torna um atrativo turístico, que possibilita a sobrevivência daqueles equipamentos que dependem quase exclusivamente do fluxo de turistas, como os estabelecimentos de hospedagem, agências de receptivo e transporte turístico (BAHL, 2004).

Em geral, cada evento é voltado para um público relativamente homogêneo com interesses em comum, de acordo com seu planejamento organizacional, e muitas vezes, esses “acontecimentos” não estão ligados diretamente a um projeto turístico. Os eventos corporativos e/ou técnico-científicos compreendem invariavelmente o segmento mais utilizado para fins de redução dos efeitos sazonais. No entanto, arriscamos dizer que o crescimento de um consumo individualista pode estar motivando uma movimentação cada vez maior de pessoas a festivais sociais, organizados a princípio por seu valor social e de entretenimento, como buscamos evidenciar no caso que estudamos. Beni (2011), em seu livro sobre globalização do turismo, ressalta que a facilidade de acesso às informações diversas e mesmo às transformações tecnológicas em termos de compra e venda,

impactaram enormemente na proliferação e crescimento dos eventos de entretenimento.

O desenvolvimento nos meios de comunicação possibilitou através de uma comunicação dirigida – que se destina a públicos homogêneos – que eventos sem intenção primordial de criar um fluxo turístico e mesmo eventos inteiramente amadores (organizados por amigos de modo informal) crescessem de modo considerável, podendo tomar grande proporção sem explicação aparente (CANTON, 2000). Quando isso acontece – como é caso de algumas convenções de quadrinhos – é possível que para alguns participantes o evento seja a única motivação e “destino”, não importando onde ele se localiza, apesar de estarem usufruindo de todo um aparato turístico essencial para que a atividade possa ocorrer na região. Os eventos “podem se configurar como atrativo ou motivo principal para um deslocamento, competindo com o apelo motivacional das atrações naturais e/ou culturais de uma localidade” (BAHL, 2004, p. 27).

Isso se dá frequentemente quando a organização tem moldes de um evento local/comunitário, que apesar de não ter sido planejado com o intuito de valorizar as características da localidade, pode vir a se tornar um evento de marca que, de acordo com Allen et al (2008), confere uma imagem ao destino e configura-se ele próprio como o principal elemento para o surgimento de um fluxo turístico. Segundo Bahl (2004), determinados eventos “assumiram um grau de amplitude e repercussão tais, que as suas realizações interagem no turismo de uma localidade”, como é o caso do que chama de feira especializada, com temática especializada voltada a um público específico. Percebemos, portanto, que essa atividade contribui para o consumo de produtos na localidade, de forma direta ou indireta, podendo reduzir os impactos da sazonalidade turística no destino e contribuindo para o marketing do mesmo entre o público dos eventos47.

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Um exemplo disso consiste no logo promovido pela SPTuris (órgão de turismo da cidade de São Paulo) “São Paulo, Fique mais um dia” com informativos sobre roteiros e programas na cidade que visam atrair os visitantes de negócios e eventos a aproveitarem a cidade além do planejamento inicial do turista. Disponível em: <http://www.fiquemaisumdia.com.br/>. Acesso em: 18 mar. 2012.