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1 INTRODUÇÃO

2.5 Evidências empíricas do IFRS

Desde a formulação e efetivação do IFRS, diversas pesquisas têm sido direcionadas na tentativa de identificar quais foram os principais resultados da adoção do IFRS por empresas de capital aberto, como, por exemplo, o estudo de Byard, Li e Yu (2011) que averiguou o efeito da adoção obrigatória do IFRS, em companhias listadas em bolsas de valores europeias. Mais especificamente, estes autores analisaram as previsões realizadas por analistas financeiros nos diferentes padrões contábeis. Para tanto, eles utilizaram um grupo de controle composto por empresas que adotaram o IFRS voluntariamente, antes da obrigatoriedade imposta pela União Europeia (UE), em 2005 e outro grupo com empresas que adotaram o IFRS compulsoriamente após a determinação da UE.

Byard, Li e Yu (2011) verificaram que os erros de previsão dos analistas diminuíam, nos países com fortes regimes de fiscalização e normas de contabilidade doméstica, que diferiam significativamente do IFRS e que adotaram o IFRS obrigatoriamente. Dessa forma, é possível verificar que as consequências da adoção do IFRS poderiam ir além das expectativas do mercado, possibilitando não só maior comparabilidade entre firmas, como também melhora na realização de projeções de resultados financeiros.

Nesta mesma vertente, Atwood et al. (2011) examinaram se a persistência dos lucros e a associação entre os ganhos contábeis atuais e os fluxos de caixa futuros podiam ser diferentes entre empresas que apresentassem demonstrações financeiras no padrão IFRS e empresas que utilizassem os princípios de contabilidade norte-americano, o chamado U.S.

GAAP. Considerando uma amostra de empresas de 33 países, entre os anos de 2002 e 2008, os autores relatam que não é possível inferir que os ganhos positivos apresentados em IFRS sejam mais persistentes do que os ganhos apresentados em U.S. GAAP. Porém as perdas reportadas em IFRS são menos persistentes do que aquelas apresentadas em U.S. GAAP. Além desse fato, os autores apresentam outras distinções entre os dois padrões de demonstrações financeiras, especialmente, em relação à divulgação dos lucros auferidos pelas empresas e ao seu papel nas análises de projeções futuras de fluxos líquidos de caixa, visto que os ganhos relatados sob U.S. GAAP estão mais estreitamente associados aos fluxos de caixa futuros do que os lucros reportados em IFRS. O estudo de Atwood et al. (2011) assemelham-se às constatações de Byard, Li e Yu (2011) e, ainda, exemplificam, por meio de uma única informação financeira, como a análise financeira pode ser influenciada por distintos padrões de demonstrações.

De maneira análoga, Chen et al. (2010) afirmam que, após a adoção do IFRS na UE, constata-se menor existência de gerenciamento de lucros. Além disso, cada vez menos as empresas se aproveitavam oportunisticamente da suavização de ganhos e reconhecimento de grandes perdas no período pós-IFRS. Dessa forma, Chen et al. (2010) concluem que o IFRS pode reduzir o gerenciamento de resultados, ao limitar as discrições de gerenciamento oportunistas, na determinação de números contábeis.

Entende-se que a condução das normas contábeis, para um padrão internacional, beneficiaria a interpretação e transparência das demonstrações contábeis. Em consequência desse fato, acredita-se que as transações de ativos, em nível internacional, seriam beneficiadas aumentando o fluxo de financiamentos e investimentos entre as nações.

Buscando verificar a existência dessa relação entre a adoção do padrão IFRS pelos países e o fluxo de transações de ativos e investimento direto do estrangeiro (IDE), Gordon, Loeb e Zhu (2012) analisaram um painel com 124 países no período de 1996 a 2009. Como resultados, esses autores verificaram que a adoção do IFRS pode conduzir ao aumento dos fluxos de IDE e que países em desenvolvimento estariam adotando o IFRS como estratégia para receberem fundos do Banco Mundial.

Shima e Gordon (2011) conferiram o outro lado dessa relação e analisaram a alocação dos investimentos originados dos Estados Unidos da América (EUA), no período compreendido entre os anos de 2003 e 2006, observando que a destinação dos investimentos estaria associada à adoção do IFRS como padrão contábil por outros países.

A partir dos estudos de Gordon, Loeb e Zhu (2012) e Shima e Gordon (2011), percebe-se a importância de pesquisas com essa temática, buscando verificar se os objetivos

iniciais do IASB foram alcançados e quais as suas consequências sobre os negócios internacionais, IDE e outros aspectos.

Isto posto, pode-se considerar que a obrigatoriedade de adoção do IFRS, estabelecida pelas alterações na legislação de diversos países, pode ser considerada uma adoção de uma instituição formal com o intuito de se promover uma mudança estrutural, haja vista que a adoção do IFRS foi, justamente, ao encontro dos anseios de diversos usuários da informação contábil por normas capazes de diminuir as divergências em padrões de demonstrações financeiras e promover a comparabilidade dessas demonstrações (ALMEIDA; LEMES, 2013).

Mesmo que em diversos países a adoção do IFRS ainda não seja obrigatória, os estudos de Gordon, Loeb e Zhu (2012) e Shima e Gordon (2011) demonstram que países que não obrigam a adoção do IFRS, mas, pelo menos, permitem a publicação das demonstrações contábeis nesse formato tendem a tirar proveitos desse fato. Mesmo não sendo formalmente obrigadas a publicar os suas demonstrações em IFRS, as empresas tendem a fazê-lo pela pressão implícita do mercado por informações padronizadas. Dessa forma, a permissão dos países, para a publicação das demonstrações contábeis em IFRS, pode atuar como uma instituição informal.

Além de reconhecer que uma economia em funcionamento precisa de direitos de propriedade, de contratos e de fiscalização das organizações de forma bem definida, as normas informais não só afetam a forma funcional, que diferentes instituições apresentarão, mas também condicionam o grau de experimentação e evolução institucional que terão lugar (DUNNING; LUNDAN, 2008).

Nesse sentido, entende-se que a permissão dos países, para que suas empresas publiquem suas demonstrações contábeis em IFRS, pode atrair investimentos externos e alterar a liquidez do mercado financeiro, conforme sugerido por Armstrong et al. (2010), Daske et al. (2008) e Daske e Gebhardt (2006). Após a UE consolidar a utilização do IFRS, países de diferentes regiões optaram por fazer o mesmo, como é o caso do Brasil.