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3 FATORES PREPODERANTES E TEÓRICOS DA INDÚSTRIA

3.1 Produtividade: aspectos conceituais

3.1.1 Evolução da produtividade da indústria brasileira

Segundo relatórios do Banco Mundial (2009) as perspectivas de médio prazo do Brasil dependem do sucesso dos ajustes atuais e da adoção de novas reformas que favoreçam o crescimento. O aumento da produtividade e da competitividade constitui o principal desafio para o país atingir um índice de crescimento mais elevado em médio prazo. Com o recuo dos fatores que fomentaram o crescimento ao longo da última década - o consumo alimentado pelo crédito e a expansão do mercado de trabalho e das commodities - serão necessários mais investimentos e ganhos de produtividade para promover o crescimento.9

Souza (2009) estuda a evolução da economia brasileira de 1980 a 2007 e conclui que a participação da indústria de transformação no PIB total caiu de 19,1% em 1980, para 14,8% em 200710. A autora atribui a queda do emprego industrial e da participação da indústria no PIB, às oscilações na produtividade do trabalho.

Em economias de mercado é intuitivo concluir que as empresas buscam aumentar sua produtividade sendo estimuladas pela competitividade. Em resposta à concorrência, os ganhos de produtividade são associados aos esforços das empresas ou setores de atividades em inovações tecnológicas, investimento em capital e melhorias no processo produtivo.

9 disponível em http://www.worldbank.org/pt/country/brazil/overview. 10 Fonte: Ipeadata (www.ipeadata.gov.br).

O aumento inicial da produtividade da indústria de transformação decorreu para Souza (2009), do plano de melhoria da produtividade industrial, lançado em 1989, e também da abertura da economia no mesmo ano. Nesse ponto a autora levanta a questão em se voltar a atenção às políticas de incentivo a produtividade do trabalho da indústria.

Com a ilustração do Gráfico 01 abaixo, onde visualizamos a relação da produtividade do trabalho da indústria brasileira e o PIB total nos períodos de 2002 à 2017, podemos destacar duas fases importantes da economia brasileira. A primeira, a partir de 2002 onde o PIB segue crescendo com forte impulso do crescimento da produtividade do trabalho até o final do ano de 2012 onde essa trajetória muda dando espaço para a segunda fase da economia brasileira onde mesmo a passos lentos o crescimento do PIB não é mais impulsionado pelo crescimento da produtividade que começa a cair invariavelmente.

Gráfico 01: Produtividade do trabalho da indústria versus PIB total – 2002 a 2017.

-3 -2 -1 0 1 2 3 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 Produtividade do trabalho da indústria

PIB total

Fonte: IPEADATA: Elaborada pela autora.

Negri e Cavalcanti (2014) usam a seguinte identidade algébrica para explicar a relação entre o crescimento do PIB e o crescimento da produtividade:

̅ ̅ ̅ (22) Onde:

̅ é a taxa de crescimento do PIB em relação a produtividade do trabalho da economia; ̅ é a taxa de crescimento do PIB;

é a quantidade de pessoal ocupado da economia; ̅ é a taxa de pessoal ocupado da economia.

em que ̅ representa a taxa de crescimento do PIB correspondendo as somas das taxas de crescimento da produtividade do trabalho somados à taxa de crescimento de pessoal ocupado.

A equação acima pode auxiliar na interpretação do crescimento do PIB nos anos 2000 e da conjuntura econômica do Brasil. Negri e Cavalcanti (2014) destaca que entre 2000 e 2009, por exemplo, a taxa média anual de crescimento do PIB alcançou 3,42%. Apenas um terço desse crescimento pode ser atribuído ao crescimento da produtividade do trabalho.

O período foi caracterizado por uma combinação de fatores singulares à industrialização: expansão econômica com melhoras sociais, queda na desigualdade e crescimento da participação dos salários no PIB.

Vale destacar que o aumento de produtividade, no entanto, não tem o caminho único do desemprego, arrocho salarial e precarização do trabalho. Devemos perseguir a trajetória da melhoria de nossa infraestrutura, da universalização da educação pública de qualidade, do aumento dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, da redução da jornada de trabalho, do retardo da entrada dos jovens no mercado de trabalho e do avanço nas condições laborais.

De fato, é de se constatar que quando a produção cresce, ocorrem ao longo do tempo frequentes e relevantes mudanças no processo produtivo e na composição da demanda. Estas transformações beneficiam a indústria de modo que, as alterações no sistema produtivo contribuem para a criação de novos produtos e influenciam o crescimento da produtividade.

É de se considerar o fato de que quando a produtividade em um determinado setor cresce em contrapartida os custos relativos da produção diminuem. Acompanhando a queda nos custos da produção, os preços também tendem a cair e consequentemente a demanda por aquele bem aumentar, desse modo mais lucros para as firmas o que pode representar mais investimentos para uma maior produtividade. De outro lado, também se constrói uma economia mais competitiva com produtos diferenciáveis e preços acessíveis à exportação. Maiores exportações, maiores ganhos internacionais e maiores as reservas financeiras.

Rowthorn (1975) descreve que uma maior produtividade na indústria pode estimular a demanda doméstica por produtos industriais, por torna-los relativamente mais baratos ou porque novos produtos são introduzidos no mercado. A maquinaria torna-se mais barata em relação ao trabalho, encorajando a adoção de técnicas mais mecanizadas. Os produtos

industrializados tornam-se então, mais baratos em relação a um grande número de serviços cuja produtividade cresceu lentamente, encorajando a substituição desses serviços por produtos industrializados.

Com base na relação direta existente entre a produtividade e a produção, a chamada lei de Kaldor-Verdoorn objetiva comprovar, que existe uma relação linear e positiva entre estas variáveis.

A abordagem fundamental desta lei é que o crescimento da produção impulsiona transformações na estrutura produtiva e na composição da demanda que induzem a introdução de novos processos de produção e novos produtos gerando consequentemente ganhos de produtividade.