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4. Resultados e discussão

4.1. Evolução das manchas de Z nolt

No ano de 1986, a pradaria de Z. noltii encontrava-se dispersa pela Ria de Alvor, cobrindo uma área total de 20 599 m2, distribuída em manchas bastante fragmentadas (Figura 4.1.1).

Figura 4.1.1 - Mapa representando os levantamentos efetuados em 1986 (a verde) de Z. noltii.

No ano de 2009, a população desta erva marinha sofreu uma redução de 92 % relativamente à área que ocupava em 1986 nesta Ria. Os dados disponíveis permitiram estimar uma área de cobertura de 1 647 m2 em 2009, numa distribuição espacial muito mais confinada (Figura 4.1.2).

Figura 4.1.2 - Mapa representando os levantamentos efetuados em 2009 (a rosa) de Z. noltii.

Apesar desta clara tendência de regressão da pradaria, confirmada pelos dados obtidos dos anos de 1986 e de 2009, os resultados do levantamento efetuado em 2012 evidenciam um notório aumento da extensão espacial de Z. noltii na Ria de Alvor. Nesse ano, a população é caraterizada por um pequeno número de manchas com área média de 3 000 m2 e cobrindo uma área total de 25 532 m2 (Figura 4.1.3), excedendo a extensão da área de 1986.

Aparentemente, nestes três períodos de levantamentos cartográficos neste local, todas as manchas da pradaria marinha têm se situado no patamar intertidal, com as plantas expostas às perturbações naturais periódicas. Porém, ocorreu uma migração, afastando-as cada vez para mais longe das atividades humanas. A sobreposição destes levantamentos na ferramenta de análise permitiu concluir que nenhuma mancha está localizada no mesmo local de levantamentos anteriores comprovando a grande dinâmica espacial e temporal das pradarias (Duarte et al., 2005a).

Figura 4.1.3 - Mapa representando os levantamentos efetuados em 2012 (a laranja) de Z. noltii. Nos círculos vermelhos, as manchas que apresentavam cobertura do solo de 100 %, as restantes manchas apresentavam uma cobertura inferior a 50 %.

As observações e registos efetuados no campo, em 2012, mostraram que na Ria de Alvor existem dois tipos de manchas relativamente ao índice de cobertura. Algumas manchas apresentam uma densidade muito elevada, correspondente a uma cobertura próxima dos 100 %, localizadas em sedimento mais vasoso (Figura 4.1.3 e Tabela 4.1.1). Estas manchas encontram-se protegidas pelo sapal, marginadas por uma população monoespecífica de

Spartina maritima e estão localizadas a alguma distância do cordão dunar, das áreas de

mariscultura e dos locais licenciados para a apanha de bivalves. No lado oeste da Ria, encontraram-se também duas pequenas manchas com cobertura de quase 100 %, em sedimento vasoso, onde anteriormente já tinham sido registadas manchas de Z. noltii (em 1986). Estas manchas estão relativamente próximas de infraestruturas de tabuleiros para produção de bivalves (sem contacto com o sedimento). As outras manchas apresentavam uma densidade muito reduzida, com evidências de soterramento causado pelas areias provenientes das dunas contíguas, como também pelo assoreamento com areias transportadas pelo mar para o interior da Ria. Nestas manchas, o sedimento apresentava características mais arenosas, evidenciado esse soterramento.

Tabela 4.1.1 – Índice de cobertura das manchas de Z. noltii na Ria de Alvor em 2012.

Índice de cobertura (%) Área (m2) Total de manchas (nº) Percentagem de área (%)

100 23 798 5 93

< 50 1 734 2 7

A análise da evolução temporal das manchas mostra que apesar do declínio registado entre os anos de 1986 e de 2009, houve uma recente recuperação da pradaria marinha na Ria de Alvor. Não obstante o decréscimo registado no número de manchas e destas se encontrarem distribuídas por uma área mais confinada da Ria, no ano de 2012 a área total aumentou em 124 % relativamente a 1986, tal como aumentou o tamanho médio e máximo das manchas. Comparando com o ano de 2009, o número de manchas oscilou ligeiramente, mas todos os outros índices aumentaram significativamente com a área total a aumentar 1 550 %. Na Tabela 4.1.2 e Gráfico 4.1.1 são representadas algumas métricas da paisagem relativas às manchas cartografadas em cada ano.

Tabela 4.1.2 – Métricas da paisagem das manchas de Z. noltii na Ria de Alvor.

Ano Área total(m2) Área média(m2) Área mínima(m2) Área máxima(m2) Perímetrototal (m) manchas (nº)Total de

1986 20 598,8 643,7 55,3 2 994,6 4 127,4 32

2009 1 646,9 235,3 11,3 623,9 687,2 7

Gráfico 4.1.1 – Análise das métricas da paisagem das pradarias de Z. noltii na Ria de Alvor.

Comparando as áreas ocupadas, nos dados originais, pelas manchas de Z. noltii nos anos de 1986 e de 2009 (Salgado e Santos, 1986; Cunha, 1991; Cunha et al., 2011) e as áreas resultantes da introdução desses dados cartográficos na ferramenta SIG desenvolvida neste trabalho, verificou-se alguma discrepância de valores (Tabela 4.1.3).

Tabela 4.1.3 – Diferença das áreas calculadas nos levantamentos cartográficos

Z. noltii na Ria de Alvor.

Ano Mês Área total no SIG (m2) Área total original (m2)

1986 abril 20 599 19 600

1991 dezembro -- 15 880

2009 abril 1 647 5 000

2012 setembro 25 532 25 532

Tal é justificado pelos erros inerentes à aquisição de dados espaciais e aos vários processos envolvidos na aquisição e no processamento desses mesmos dados . Estes erros resultantes de diferentes procedimentos cartográficos são referidos amiúde em estudos semelhantes de

1986 2009 2012 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000

Algumas métricas da paisagem das pradarias marinhas da Ria da Alvor

área total área máxima área média área mínima

Anos de levantamento cartográfico

M et ro s qu ad ra do s

evolução diacrónica (Lathrop et al., 2001; Leriche et al., 2004; Barsanti et al., 2007). Apesar da fiabilidade desta informação ser baixa, estas diferenças entre os valores originais das áreas e os valores calculados no SIG, podem considerar-se irrelevantes para a análise em questão: as tendências na evolução da pradaria não se alteram devido a estas diferenças associadas aos erros de método cartográfico, ou seja, a tendência regressiva é evidente até ao ano de 2012.

Cada levantamento cartográfico foi realizado em diferentes épocas do ano, havendo sem dúvida, diferenças na fase de crescimento em que se encontravam as plantas nesse momento. A sazonalidade do desenvolvimento desta espécie poderá explicar em certa mediada as diferenças na distribuição das manchas desta população (Pérez-Lloréns e Niell, 1993; Vermaat e Verhagen, 1996). Os levantamentos dos anos de 1986 e de 2009 foram efetuados na primavera, no ano de 1991 foi executado no inverno, e em 2010 e 2012 foi realizado no final do verão. Para o ano de 1991, está quantificada a área total ocupada por Z. noltii mas infelizmente a cartografia perdeu-se, pelo que não houve possibilidade de incluir esses dados nas análises ou cálculos (Cunha, 1991). No ano de 2010, há apenas a referência do seu quase total desaparecimento, sem indicação de valores ou localização de áreas (Cunha et al., 2011).

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