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Evolução do conceito de trabalho na sociedade

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 67-70)

2. OBJETIVOS

3.4 Evolução do conceito de trabalho na sociedade

“trabalho é um fazer do homem”

Ângelo Peres

Furtado (2003, p. 221) refere que “o fenômeno trabalho é historicamente determinado e se manifesta de uma determinada maneira, conforme a condição histórica, a história social de um país, a sua determinada relação de classes”.

Pochmann (2004) reconhece que a história da civilização mundial vem desenhando grandes transformações relacionadas ao trabalho, trazendo questionamentos e novas formas de encará-lo face a uma seqüência de modificações que vem se somando e conformando uma nova classe trabalhadora. Na Antiga Grécia o trabalho tinha sentido pejorativo pois indicava necessidade de sobrevivência, como era o caso dos escravos que, não sendo considerados cidadãos, precisavam buscar a sobrevivência através do trabalho. Também estava associado ao tripalium14 que era um equipamento usado sobre animais enquanto trabalhavam na agricultura, puxando arado ou carroça, sendo também o nome de um instrumento de tortura utilizado com os escravos. O homem era definido como um ser político, condição possível só para os que não trabalhavam. O trabalho era destinado aos escravos. Com o passar das gerações os conceitos de trabalho foram sofrendo mudanças e no segundo milênio ganhou conotação mais valorizada passando a ser associado à possibilidade de cidadania. O trabalho passou a ser identificado à fonte de cultura e de riqueza, pois possibilitaria ao homem transformar tanto a natureza quanto a si próprio.

14 “Tripalium era um instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes ainda munidos de pontas de ferro, no qual os agricultores bateriam o trigo, as espigas de milho, para rasgá-los, esfiapá- los.”

“Tripalium (do latim tardio "tri" (três) e "palus" (pau) - literalmente, "três paus") é um instrumento romano de tortura, uma espécie de tripé formado por três estacas cravadas no chão na forma de uma pirâmide, no qual eram supliciados os escravos.”

Em Marx (1985, p. 149) encontramos a idéia de trabalho como uma interação do homem com a natureza, numa relação de dominação, que possibilita transformação tanto interna quanto externa em função das próprias necessidades.

[...] Antes de tudo, trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a corporalidade, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio deste movimento, sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita a jogo de suas forças, seu próprio domínio.

Marx (1985) considera o trabalho como a principal atividade humana, resultante do uso de energia física e mental contribuindo para o processo de produção e reprodução da vida humana, individual e social. Dessa forma configura- se como uma atividade histórica e social, inerente à vida humana, que transforma a natureza em uma ação deliberada e intencional, usada para satisfação das necessidades humanas e concretizada na produção de bens, valores e obras.

Com base nesses pensamentos, partimos do princípio de que o trabalho se constitui em uma ação autônoma do ser humano numa relação natural com o meio, modificando-o e, nessa relação, modificando a si mesmo para atingir seus próprios objetivos promovendo mudanças desejadas em sua vida.

A partir dessa idéia e frente à configuração do trabalho no mundo capitalista globalizado atual, podemos considerá-lo uma atividade que propicia relações sociais e de interesses entre as pessoas tendo, na produção, o elemento mediador. O trabalho possibilita ao indivíduo interagir com o meio expressando seus objetivos, negociando alternativas segundo seus interesses, produzindo e reagindo às situações de ameaças.

Nesse contexto onde o trabalho apresenta-se como possível mola propulsora do indivíduo na sociedade em que vive, podemos considerar que o trabalho e a

formação profissional constituem-se parte da identidade do ser humano, através da qual ele é apresentado e direcionado na sociedade.

Entretanto é importante considerar que existem conotações diversas sobre trabalho. Antunes (2009, p. 54) refere que:

[...] o trabalho, concebido como atividade vital, nasceu sob o signo da contradição. Desde o primeiro momento, foi capaz de plasmar a própria sociabilidade humana, por meio da criação de bens materiais e simbólicos socialmente vitais e necessários. Mas também trouxe dentro dele, desde seus primeiros passos, a marca do sofrimento, da servidão e da sujeição. Ao mesmo tempo em que expressa o momento da potência e da criação, o trabalho também se originou nos meandros do " tripalium", instrumento de punição e tortura. Mas o século 20 moldou-se pela estruturação da chamada sociedade

do trabalho, em que desde muito cedo fomos educados para o princípio fundante do trabalho. Esse cenário começou a ruir, no entanto, a partir dos últimos 20 anos. Tragicamente, quanto mais a população vem aumentando, menor é a capacidade de incorporar os jovens ao mercado de trabalho.

Encontramos em Furtado (2003, p. 212) referência sobre a importância de se discutir o tema trabalho a partir de sua essência e frente às configurações que se apresenta:

[...] Não se trata de discutir a categoria trabalho somente para fornecer ferramenta de trabalho para o psicólogo, mas de realizarmos uma discussão de um tema fundante e constituinte da própria humanidade. É nessa condição que importa discuti-lo, em um momento em que o trabalho, como o conhecemos na sociedade capitalista, transformado em mercadoria (a força de trabalho que é vendida pelo trabalhador), está sendo posto em xeque. (p. 212)

Assim, discutir o trabalho e a deficiência no contexto atual de inclusão profissional possibilita refletir sobre a “humanidade do homem” tendo o trabalho como meio de existência na sociedade com independência e autonomia.

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 67-70)