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Evolução do princípio da igualdade no Brasil

No Brasil, com o advento da República, e a conseguinte Constituição de

11 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de direito administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 230.

12 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 18.

13 JACQUES, Paulino Ignacio. Da igualdade perante a lei. Rio de Janeiro: Forense, 1957, p. 24

1891, todos os privilégios foram formalmente extirpados e previu-se que todos seriam iguais

Entretanto, tal menção inovadora foi excluída na Constituição seguinte, a de 1937. A Constituição de 1946 reafirmou o princípio da igualdade e proibiu a propaganda de preconceitos de raça ou classe. Dois anos mais tarde, nasceu a Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamando que:

[...] todo mundo tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, opinião pública ou de qualquer natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição14.

Tal Declaração buscou abranger todas as possíveis formas de desigualdade, dando uma ampla visão do problema à época. O Brasil, seguindo a comunidade internacional, se ateve para a necessidade de observar o princípio da igualdade.

Em 19 de janeiro de 1968, o Brasil tornou-se signatário da Convenção n.º 111 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, que buscava a eliminação da discriminação em matéria de emprego e profissão. E definiu discriminação como “toda distinção, exclusão ou preferência, com base em raça, cor, sexo, opinião política, nacionalidade ou origem social, que tenha o efeito de anular a igualdade de oportunidade ou de tratamento em emprego ou profissão” 15.

Na Constituição de 1967, permaneceu a formalidade pura e simples do

14 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração universal dos direitos humanos. [1948]. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 10 out. 2009.

15 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção n.º 111 da OIT, sobre a Discriminação em matéria de Emprego e Profissão. [1958]. Disponível em: < http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/pd-conv-oit-111-emprego.html>. Acesso em: 10 out. 2009.

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preceito, havendo que se mencionar que se deu a constitucionalização da punição do preconceito de raça. Em 1969, o Brasil tornou-se signatário da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, que manifestava um avanço na concepção de igualdade, ao dispor em seu artigo I, item 4:

[...] não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais que tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto, que tais medidas não conduzam, em conseqüência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sido alcançados os seus objetivos16.

A Constituição do mesmo ano, em sua emenda n.º 1, proclamou tão somente que não seria tolerada a discriminação.

A Carta Magna de 1988, dita a Constituição Cidadã, em vários de seus artigos busca promover a igualdade e excluir todas as formas de discriminação, a começar por seu preâmbulo, em que elenca a igualdade com um valor supremo:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil17.

A passagem que mais chama a atenção na Carta Magna, sem dúvida, é o caput do seu artigo 5º, que reza, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à prosperidade, nos termos seguintes: 18”. Segue os seus setenta e sete incisos, em que destaca-se o XLI, com a definição sobre a lei punir qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais e o XLII, segundo o qual a prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível.

16 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial. [1968]. Disponível em:

<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/discriraci.htm>. Acesso em: 10 out. 2009.

17 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em: 19 ago. 2009.

18 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em: 19 ago. 2009.

Não apenas nestes dispositivos encontra-se a noção de igualdade. A Constituição de 1988, ao conceber e idealizar o direito positivo pátrio, determinou que o princípio da igualdade seria um dos pilares mestres do nosso sistema jurídico. Este princípio foi disposto de forma tal que ganhou novos aspectos e força, que antes não existiam. Porém, não significava que não havia distinções dentro do ordenamento jurídico, pois a própria igualdade reclama para que haja essas distinções, caso contrário haveria, na realidade, injustiça e desigualização19.

Tal princípio permeia toda a Constituição, ora igualando e ora desigualando para se alcançar a igualdade de oportunidades. Como exemplos há a universalidade da seguridade social, a declaração de que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações sem impedir prerrogativas inerentes ao sexo, a igualdade de acesso e permanência na escola, entre outros.

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