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Evolução dos Indicadores Sócio-Demográficos Brasileiros

3 EM BUSCA DE UM MODELO DE CICLO DE VIDA FAMILIAR

3.1 Evolução dos Indicadores Sócio-Demográficos Brasileiros

No Brasil (conforme gráfico 1) entre os tipos de família analisados, apesar de o casal com filhos continuar sendo predominante, sua participação relativa decresceu entre 1993 e 2003, passando de 54,2% do total de famílias para 49,6%, respectivamente.

No mesmo período, a proporção de pessoas morando sozinhas, famílias unipessoais, apresentou significativo crescimento relativo de aproximadamente 32%, passando de 6,5% do total de famílias para 8,6%. Outro arranjo familiar que apresentou um alto crescimento relativo, apesar da pequena participação no total, é o de famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge com filhos e parentes.

Para os demais tipos de família, não se registraram variações expressivas entre os anos pesquisados: houve pequena redução dos percentuais de famílias compostas por casal com filhos e com parentes e ligeira expansão dos outros tipos de famílias.

Portanto, apesar de o padrão das estruturas familiares não ter sofrido grandes alterações no Brasil, as famílias brasileiras também experimentaram mudanças sócio-demográficas de relativa amplitude que contribuem para o surgimento ou aumento da representatividade de novos arranjos familiares.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2004), em função das consideráveis quedas nas taxas de fecundidade e natalidade, a partir da década de 1970, o crescimento relativo da população brasileira vem caindo. Enquanto que na década de 1950, a taxa de crescimento populacional foi de 2,99%, esta taxa caiu para 1,93% e 1,64% para as décadas de 1980 e 90, respectivamente.

6,5% 11,2% 1,6% 54,2% 6,8% 11,4% 2,5% 1,3% 4,5% 8,6% 12,0% 1,8% 49,6% 6,2% 12,5% 3,2% 1,6% 4,6%

Unipessoais Casal sem filhos Casal sem filhos e com parentes

Casal com filhos Casal com filhos e com parentes

Mulher responsável sem cônjuge e

com filhos

Mulher responsável sem cônjuge, com

filhos e com parentes Homem responsável sem cônjuge e com filhos Outro 1.991 2.000

Gráfico 1 – Distribuição das famílias com parentesco, segundo o tipo de família – Brasil 1991/2000 Fonte: adaptado de IBGE, Censo Demográfico 1991/2000

feminina na década de 1980 (IBGE, 2004). Os anticoncepcionais, ao possibilitar às famílias a decisão de ter ou não um filho, aumentaram as escolhas na construção de uma família.

Duas das principais conseqüências da queda na taxa de crescimento relativo são o envelhecimento da população e a redução do tamanho das família.

No gráfico 2, pode-se observar que a população jovem está diminuindo sua participação na população em relação às outras faixas etárias, principalmente aquelas acima de 40 anos.

O gráfico 3 mostra que o número médio de pessoas por família no Brasil caiu de 3,7 em 1993 para 3,3 pessoas em 2003 e o número médio de filhos de 1,8 para 1,4, respectivamente.

Gráfico 2 – Pirâmide etária relativa, Brasil 1993/2003 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1993/2003

Número médio de pessoas e filhos por família Brasil 1993/2003 3,7 1,8 3,3 1,4 Pessoas Filhos 1993 2003

Gráfico 3 – Número médio de pessoas e filhos por família, Brasil 1993/2003 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1993/2003

O aumento da Esperança de vida (gráfico 4) também favorece o crescimento de famílias com mais de duas gerações coexistindo conjuntamente.

Segundo Dytchwald (2003), viver mais não implica em levar a vida como um ciclo linear e previsível: nascimento, educação, trabalho, casamento, família, aposentadoria e morte. Pelo contrário, estas convenções sociais não tem mais o tempo ideal para acontecer, tendo impacto direto sobre a duração de cada um dos ciclos de vida 67,7 64 71,6 71,3 67,6 75,2

Total Homens Mulheres

1993 2003

Gráfico 4 - Esperança média de vida ao nascer, segundo o gênero, Brasil 1993/2003 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993/2003

Outro fenômeno presenciado é o crescimento do número de famílias cuja pessoa de referência é uma mulher. Conforme pode-se observar no gráfico 5, entre o período de 1993 a 2003, houve um crescimento relativo de quase 30% do número de famílias com mulheres como pessoa de referência, que passou de 22,3 % para 28,8% .

22,3

27,3 28,4 28,8

1993 2001 2002 2003

Gráfico 5 – Proporção de famílias com pessoas de referência do sexo feminino por presença do cônjuge, Brasil 1993/2003

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1993/2003

Conforme a tabela 1, as famílias chefiadas por mulheres estão associadas aos arranjos monoparentais, isto é, definidas pela ausência do cônjuge. Isto ocorreu com 95,2% das famílias com mulheres como pessoa de referência.

Com Sem Com Sem

Cônjuge Cônjuge Cônjuge Cônjuge

Brasil (1) 71,2 95,2 4,8 28,8 4,8 95,2

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2003. (1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

Tabela 1 - Distribuição percentual das famílias residentes em domicílios particulares, por gênero da pessoa de referência e presença do cônjuge, Brasil - 2003

Total Total

Homens Mulheres

Este crescimento de famílias chefiadas por mulheres pode ser explicado pelo aumento da participação da mulher no mercado de trabalho com acesso a empregos mais qualificados, e também pelo aumento da esperança de vida das mulheres e, consequentemente, pelo aumento de mulheres viúvas.

A participação das mulheres no mercado de trabalho pode ser explicada pela Taxa de atividade, que conforme o gráfico 6, teve um crescimento relativo entre os anos de 1993 e 2003 de 7,9%, enquanto os homens registraram um decréscimo de 4,08% no mesmo período. Atualmente, até mesmo a educação familiar valoriza a iniciativa e a independência das mulheres.

Entretanto, vale ressaltar que a taxa de atividade das mulheres está abaixo da dos homens (50,7% contra 72,9%) o que mostra a existência de desigualdades profissionais entre os gêneros.

61,4 61,3 60,5 61,0 60,2 60,1 59,2 61,3 61,1 72,9 73,2 72,8 73,8 73,6 73,9 73,2 75,3 76,0 50,7 50,3 48,9 49,0 47,5 47,2 46,0 48,1 47,0 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 %

Total Homens Mulheres

Gráfico 6 – Taxa de Atividade por gênero, Brasil 1993/2003 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993/2003 Nota: Não houve pesquisa em 1994 e 2000.

Quanto ao comportamento dos brasileiros em relação ao tipo de arranjos conjugais, o número absoluto de casamentos em 2003 aumentou em 0,2% se comparado a 1993, (IBGE, 2004) . Entretanto, o IBGE recomenda como medida para avaliar a evolução dos casamentos a taxa geral de nupcialidade legal, que relaciona o número de casamentos ao total da população em idade para casar (aqueles com mais de 15 anos) e que não é casada.

A análise da taxa de nupcialidade legal mostra que este tipo de união legal vem diminuindo no país. Em 1993, a taxa foi de 7,6 por 1000 habitantes e em 2003 ela foi de 5,8. Embora o esforço da Igreja Católica e das prefeituras em realizar casamentos coletivos tenha resultado no aumento do número absoluto, o número relativo mostra que este tipo de união vem perdendo força. (IBGE, 2004).

A média de idade ao casar também aumentou. Em 2003, a idade média dos homens foi de 30,6 anos e entre as mulheres foi de 27,2 anos; e em 93 foi de 27,5 anos e 24, respectivamente. (IBGE, 2004)

Além da queda da taxa relativa de casamentos e do aumento da idade média ao casar, a taxa geral de divórcio também apresentou crescimento, indo de 1,1em 1993 para 1,3 em 2003. Segundo o IBGE (2004), este aumento representa o fim de um tabu quanto ao receio de por um fim a um casamento. Esta mudança estaria associada também ao aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e, consequentemente, a sua menor dependência em relação ao cônjuge.

Outra explicação para a instabilidade da família moderna é a crescente individualização das sociedades ocidentais e, consequentemente, a não aceitação de maus relacionamentos como um comprometimento para toda a vida. Para Peixoto, Singly e Cichelli (2000, p. 15), “os cônjuges só ficam juntos sob a condição de se amarem”. As relações afetivas não devem sufocar a revelação progressiva da identidade de cada um (PEIXOTO, SINGLY e CICHELLI, 2000).

Casamento, expectativa de vida, maternidade e carreira profissional vêm se transformando e introduzindo novos valores, estilos de vida e expectativas.

Concluindo, assim como nos demais países industrializados, o Brasil também apresenta as mesmas tendências demográficas que impactaram os arranjos familiares e a construção de modelos de ciclos de vida familiares.

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