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CAPÍTULO 2 DESIGUALDADE ENTRE OS EMPREGADOS NA

2.3. Evolução das ocupações e do emprego na agricultura brasileira, 1992 –

2.3.2. Evolução do emprego agrícola

A Tabela 6 apresenta a evolução do número de empregados (permanentes e temporários) na agricultura brasileira para o período de 1992 a 2008. No geral, observa-se tendência de redução do número de empregados em atividades agrícolas, porém com algumas diferenciações entre as categorias dos empregados permanentes e empregados temporários. Percebem-se dois períodos distintos na série de anos, de 1992 a 2001 e de 2001 a 2008. No primeiro subperíodo há uma variação negativa de 19,31% no número de empregados permanentes e no mesmo sentido no que tange aos empregados temporários (queda de 11,53%). No entanto, entre os anos de 2001 e 2008 há uma tendência de

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Como por exemplo, Hoffmann (2009), Ney e Hoffmann (2009), Balsadi (2008), Buainain e Dedecca (2009) e Cunha (2008 e 2009).

recuperação do número de empregados, com crescimento maior dos empregados permanentes (7,87%). Os temporários apresentam acréscimo de 1,67% no mesmo período.

É interessante notar que a recuperação do número de empregados permanentes ocorre, de fato, apenas nos 2 últimos anos da série (2007 e 2008), enquanto no caso dos temporários este movimento ocorre nos anos iniciais (2002 e 2003). Para Cunha (2009), a recuperação do emprego a partir de 1999 pode ser associada à desvalorização do Real (ocorrida em janeiro deste ano), que tornou os produtos nacionais exportáveis mais competitivos no mercado externo, melhorando o desempenho do setor e, aliado a este fato, tem-se que o cenário internacional (demanda externa por commodities agrícolas aquecida) favoreceu muito a agricultura brasileira.

Tabela 6. Evolução do número de empregados temporários e permanentes na agricultura brasileira no período de 1992 a 2008.

Ano Permanentes Temporários Total

N (1000) % N (1000) % N (1000) % 1992 2.631 54,7 2.179 45,3 4.810 100,0 1993 2.584 55,9 2.042 44,1 4.626 100,0 1995 2.522 56,2 1.969 43,8 4.491 100,0 1996 2.448 57,8 1.788 42,2 4.236 100,0 1997 2.333 55,8 1.850 44,2 4.183 100,0 1998 2.193 55,5 1.757 44,5 3.950 100,0 1999 2.341 55,7 1.859 44,3 4.200 100,0 2001 2.123 52,4 1.928 47,6 4.051 100,0 2002 2.124 50,4 2.090 49,6 4.214 100,0 2003 2.026 47,1 2.272 52,9 4.298 100,0 2004 2.111 47,1 2.373 52,9 4.484 100,0 2005 2.180 48,3 2.338 51,7 4.519 100,0 2006 2.089 48,1 2.257 51,9 4.346 100,0 2007 2.164 50,4 2.126 49,6 4.290 100,0 2008 2.290 53,9 1.960 46,1 4.250 100,0 Var. 1992-2001(%) 19,31 - 11,53 - 15,78 - Var. 2001-2008 (%) 7,87 - 1,67 - 4,92 -

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/IBGE.

Apesar de todos esses movimentos, a proporção de trabalhadores permanentes e temporários se mantém quase inalterada. Em 1992, os empregados permanentes

representavam 54,7% dos empregados, contra 45,3% dos temporários. Para o ano de 2008 esta proporção foi de 53,9 e 46,1%, respectivamente. Ao longo do período analisado, a maior proporção de permanentes em relação aos temporários foi em 1996, quando eram 57,8% permanentes contra 42,2% temporários. Pelo Gráfico 3, essas proporções ficam mais evidentes. Nota-se que nos anos de 2003, 2004, 2005 e 2006 os empregados temporários superam os permanentes. No biênio 2007-2008 os empregados permanentes voltam a ser majoritários, porém em níveis inferiores aos do começo da série.

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/IBGE.

Gráfico 3. Composição dos empregados na agricultura brasileira entre Permanentes e Temporários, em porcentagem, 1992-2008.

Diversos estudos têm apontado para uma tendência de formalização do mercado de trabalho agrícola. Esta tendência acompanha um movimento geral dos setores da economia no sentido da formalização das relações de trabalho nos anos recentes. Ramos (2007b), ao examinar a evolução do emprego formal total, com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE), constata que entre os anos de 1995 e 2005 houve geração líquida de quase 10 milhões de postos de trabalho. Os dados da RAIS se referem a vínculos de trabalhos formais ativos (no dia 31 de dezembro de cada ano), declarados compulsoriamente pelos empregadores. É importante salientar que estes dados não implicam necessariamente em criação de novos postos de trabalho, podendo expressar a

simples formalização de relações já existentes. O fato de tornar formal uma relação informal já é um avanço para o empregado, porém esta ressalva deve ser feita.

A Tabela 7 apresenta o conjunto de dados das PNADS de 1992 a 2008 separando os empregados conforme a declaração de vínculo empregatício. Os empregados sem carteira apresentam tendência declinante em todo o período, sendo que entre 1992 e 2001 há redução de 19,73% no total dos empregados sem carteira de trabalho assinada e entre 2001 e 2008 esta queda é de 9,55%. Com relação aos trabalhadores com carteira, no primeiro subperíodo analisado observa-se retração destes postos de trabalho, porém, entre 2001 e 2008 há crescimento de 42,82% do emprego formal (acréscimo de quase 500 mil postos de trabalho formais).

Tabela 7. Percentual de empregados permanentes e de empregados permanentes e temporários com carteira assinada, na agricultura brasileira.

Ano % de permanentes

% com carteira assinada entre

Razão (a)/(b) Permanentes (a) Temporários (b)

1992 54,7 37,6 7,8 4,84 1993 55,9 39,3 7,5 5,22 1995 56,2 40,2 9,0 4,49 1996 57,8 40,9 12,6 3,25 1997 55,8 42,5 9,8 4,34 1998 55,5 43,9 6,6 6,63 1999 55,7 45,0 9,3 4,84 2001 52,4 45,4 8,0 5,68 2002 50,4 45,2 11,5 3,92 2003 47,1 46,5 13,3 3,50 2004 47,1 50,3 14,2 3,54 2005 48,3 51,0 13,2 3,87 2006 48,1 50,8 16,3 3,11 2007 50,4 52,3 17,2 3,03 2008 53,9 55,9 16,3 3,44

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/IBGE.

Outra informação interessante é a proporção de empregados permanentes e temporários com carteira assinada. Em 1992, 37,6% dos empregados permanentes possuíam vinculo formal de trabalho. Essa proporção subiu para 55,9% em 2008. A parcela

de trabalhadores temporários com carteira assinada também cresceu ao longo desse período. Em 1992 eram 7,8% saltando para 16,3% no ano de 2008.

A fim de confirmar a tendência observada por meio das informações das PNADs, o Gráfico 4 confronta estes dados com os da RAIS41 para o setor agropecuário. Com exceção dos anos iniciais da série, a partir de 1998, tanto a PNAD quanto a RAIS apontam para o crescimento das relações de trabalho formais na agricultura brasileira. Balsadi (2008), analisando a qualidade do emprego dos assalariados na agricultura brasileira, também destaca o aumento da participação dos empregados com carteira assinada e com contribuição para a Previdência Social no período de 1992 a 2004. Segundo o autor, a formalização tem fundamental importância devido ao acesso à aposentadoria, política social importante para o bem-estar dos idosos, principalmente nas regiões mais deprimidas do Brasil (BALSADI, 2008, p. 122).

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/IBGE e Relação Anual de Informações Sociais/MTE.

Gráfico 4. Evolução do emprego formal na agricultura brasileira segundo as dados da PNAD e da RAIS, 1992-2008.

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Vale lembrar que a partir da RAIS de 1994 houve melhoria na qualidade das variáveis “Município”, “Atividade Econômica” e “Ocupação”, devido à realização de acertos de valores inválidos e não declarados, a partir da série histórica da RAIS e do Cadastro de Estabelecimentos Empregadores do MTE, com reflexo nas variáveis agregadas correspondentes. Esta pode ser a causa da discrepância observada entre os anos de 1993 e 1995.

Com este pano de fundo, compreendendo a dimensão do mercado de trabalho agrícola brasileiro e como os empregados se inserem neste mercado, a próxima seção tratará a questão da desigualdade entre os empregados permanentes e temporários e com e sem carteira.