• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II Geologia Regional e Trabalhos Anteriores

II.3 Evolução Geotectônica da Área

Basicamente cinco modelos evolutivos foram propostos para explicar a geodinâmica da

região granulítica do sul/sudeste da Bahia. Estes modelos são o de Figueiredo (1989), o de Barbosa (1990), o de Marinho (1991), o de Barbosa (1995, 1997) e o de Barbosa & Sabaté (2002, 2004).

Figueiredo (1989), tendo como base o aumento crescente do teor de potássio, em direção a oeste, fato descrito por Barbosa (1986), nas seqüências tholeiítica, cálcio-alcalina e shoshonítica do Bloco de Itabuna (parte sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá), propôs que este representaria um arco magmático relacionado a uma subducção para oeste, que ocorreu no paleoproterozóico.

Barbosa (1990) considerou o Bloco Jequié como um antepaís, tendo a leste uma seqüência de arcos insulares, onde parte foi subductada e outra obductada. Com isto, toda a parte sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, está deformada e recristalizada na fácies granulito.

Marinho (1991), tendo como amparo um grande número de dados químicos e isótopicos, do Cinturão Contendas-Mirante e do seu embasamento, sugeriu a formação do rift Contendas-Mirante, situado entre a microplaca do Bloco do Gavião a oeste, e outra microplaca a leste, o Bloco Jequié. A leste de ambos os Blocos teria sido formado, um arco de ilhas, em função da existência das seqüências tholeiítica, cálcio-alcalina e shoshonítica de Barbosa (1990).

Barbosa (1995) propõe um modelo geotectônico basicamente semelhante ao de Marinho (1991), porém mais abrangente e detalhado, no qual incluiu os dados geocronológicos mais recentes na época. Segundo este modelo evolutivo, sobre uma crosta precoce de composição TTG, formaram-se bacias intraplacas (Boquira, por exemplo) e interplacas, como a seqüências vulcano- sedimentares Contendas-Mirante. O assoalho oceânico desta última, ao ser subductado em direção a oeste, deu origem a magmas cálcio-alcalinos. A este estágio segue-se o fechamento das bacias interplacas, por processos de colisão que, ao se amalgamarem, deram origem ao Bloco Gavião.

Uma síntese do conhecimento sobre a evolução geotectônica das rochas arqueanas e paleoproterozóicas do Cráton do São Francisco na Bahia foi realizada por Barbosa (1997) Este autor colocou o Bloco Gavião como possuidor das litologias mais antigas do Cráton, que seriam os TTGs, com idades de 3,4 Ga, as quais teriam se introduzido em um substrato não claramente identificado. Este Bloco, também possuidor de rochas graníticas/granodioríticas, constituiria uma crosta continental no intervalo de 2,9/2,8 Ga, sobre o qual se depositaram as seqüências greenstones-belts (Contendas-Mirante, Umburanas e Riacho de Santana). No Bloco Jequié, por sua vez, formaram-se intrusões múltiplas enderbíticas-charnoenderbíticas-charnockíticas, de 2,7/2,6 Ga, que teriam penetrado rochas granulíticas mais antigas, com idades em torno de 3,1 Ga. O Cinturão Itabuna ou Bloco Itabuna-Salvador, do paleoproterozóico, posicionado a leste do Bloco Jequié, 2,1/2,0 Ga, seria constituído de metamorfitos de alto grau, com química semelhante a rochas de arcos de ilhas. Há cerca de 2,1/2,0 Ga, as deformações e o metamorfismo regional de alto grau se impôs sobre essas rochas, superpondo blocos de rochas granulíticas sobre blocos de rochas das fácies anfibolíticas e xisto-verde. As deformações e metamorfismo foram de tal intensidade, que apagaram os vestígios de ciclos geotectônicos anteriores.

Barbosa & Sabaté (2002), tendo como base as idades modelo Sm-Nd e os diferentes posicionamento no diagrama εNd x εSr, das rochas dos quatro blocos crustais arqueanos Gavião, Jequié, Itabuna-Salvador-Curaçá (Figuras II.5, II.6), somado aos dados estruturais, metamórficos e radiométricos, sugeriram que cada um desses blocos tiveram origens distintas. Estes autores mostram que no paleoproterozóico ocorreu movimentação desses segmentos crustais no sentido NW-SE, provocando a colisão dos mesmos, e resultando na formação de importante cadeia de montanhas, denominada de Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá (Figuras II.7, II.8). Os traços desta colisão foram obtidos não somente com os dados das rochas arqueanas, mas também com o estudo das rochas paleoproterozóicas, pré e sintectônicas, principalmente nos Blocos Gavião (Marinho 1991, Santos Pinto 1996, Basto Leal 1998, Mougeot 1996), Itabuna-Salvador-Curaçá (Oliveira &

Lafon 1995, Ledru et al. 1997, Corrêa Gomes 2000, Leite, 2002, Barbosa & Peucat 2003, em preparação) e Serrinha (Silva 1987, Alves da Silva 1994, Oliveira et al. 1999, Mello et al. 2000, Rios 2002).

Figura II.5 - Idades Arqueanas Sm-Nd (TDM) do Cráton do São Francisco na Bahia. Segundo Barbosa & Sabaté (2002, 2004).

O sentido NW-SE da colisão é interpretado com base nos grandes thursts e zonas de transcorrências tardias existentes. As transcorrentes tiveram uma cinemática em geral sinistrógira, como demonstram elementos de trama monoclínica principalmente em seções paralelas e normais ao bandamento desses metamorfitos (Alves da Silva & Barbosa 1997). Esta colisão deformou e metamorfisou as rochas do Orógeno, na fácies granulito (parte central), anfibolito e xisto verde (parte periférica).

Figura II.6 - Diagrama εNd X εSr (t = 2.0 Ga) mostrando campos distintos de idades arqueanas para os 4

blocos. As idades do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá (Ita. Ssa-Curaçá) são mais próximas ao DM (manto depletado). Os outros blocos são: (Jequié) Bloco Jequié, (Serrinha) Bloco Serrinha e (Gavião) Bloco Gavião. Segundo Barbosa & Sabaté (2002).

Figura II.7 - Posições postuladas dos blocos Arqueanos (Blocos do Gavião, Jequié, Serrinha e Itabuna- Salvador-Curaçá), antes da colagem/colisão no Paleoproterozóico. Segundo Barbosa & Sabaté (2002).

A superposição dos blocos arqueanos durante a colisão (Figura II.9) teve como conseqüência a duplicação da crosta nesta região resultando no metamorfismo de alto grau que alcançou pressões médias de 7 kbar e temperaturas próximas de 850 °C A idade do pico do metamorfismo ocorreu em aproximadamente 2,0 Ga (Barbosa 1990, 1997). Durante a fase de levantamento, rampas tectônicas associadas a thrusts, modificaram a zonação metamórfica original em função da colocação dos mega-blocos de rochas granulíticas sobre rochas de fácies anfibolito e xisto verde (Barbosa 1997). Na parte sul/sudeste do Cráton, a sobreposição tectônica ou cavalgamento do Bloco Itabuna-Salvador sobre o Bloco Jequié transformou as rochas deste último, da fácies anfibolito para a fácies granulito. Em continuação, todo este conjunto de rochas de alto grau foi colocado sobre o Bloco Gavião (Figura II.9). Esta configuração estrutural com terrenos de mais alto grau posicionados sobre outros de mais baixo grau é também observado na parte NNE e NNW do Cráton na Bahia. As trajetórias P-T do metamorfismo inserida ao lado de cada seção da figura II.9 ratifica este contexto colisional (Barbosa 1990, 1997, Leite 2002).

Figura II.8 - Disposição dos blocos arqueanos do Cráton do São Francisco apôs a colagem/colisão no paleoproterozóico que formou o Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. Considera-se que os quatro blocos arqueanos (Jequié, Gavião, Serrinha e Itabuna-Salvador) movimentaram-se no sentido preferencial NW – SE, com as setas indicando o campo de tensão regional. Os dados estruturais mostram uma cinemática global inicialmente reversa que evoluiu para sinistrógira. Adaptado de Barbosa & Sabaté (2002).

Figura II.9 - Perfis geotectônicos SE-SW do estado da Bahia, destacando apenas rochas Paleoproterozóicas do Cráton do São Francisco. (a) Estágio intermediário da colisão com disposição final dos sedimentos siliciclásticos nos greenstone belts de Umburanas e Contendas Mirante, e início da produção de charnockitos na região de Brejões. (b) Estágio final da orogênese com cavalgamento do Bloco Itabuna-Salvador sobre o Bloco Jequié e ambos sobre o Bloco Gavião. Os diagramas P-T-t da lateral superior direita das seções foram obtidas a partir do estudo de gnaisses alumino-magnesianos. Segundo Barbosa & Sabaté (2002, 2004)

Documentos relacionados