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3.1 CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO CONSTITUCIONALISMO

3.1.2 Evolução histórica do constitucionalismo

O primeiro passo na evolução histórica do constitucionalismo é encontrado no século V, nas cidades-estados da Grécia, onde já havia um regime democrático, em que qualquer cidadão, escolhido por sorteio, poderia exercer cargos públicos.

Esse período, denominado de constitucionalismo antigo, marca o surgimento da primeira experiência de democracia direta, caracterizada pela limitação do poder político exercido pelos governantes.

45 MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat, Baron de la Bride et de. O espírito das leis. Tradução de

Fernando Henrique Cardoso e Leôncio Martins Rodrigues, Brasília: UNB, 1995, p. 118.

46 “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos

A experiência grega foi responsável pela diferenciação entre leis constitucionais, que dispunham a respeito da organização do governo, e as leis não constitucionais, também denominadas ordinárias.

As leis fundamentais de Licurgo e Sólon representam a vontade nacional, sendo responsáveis por criar a nação identificada pela unidade política e jurídica, construindo-se os contornos e determinando-se os limites entre a sociedade e o governo.

As constituições das cidades-estados gregas são caracterizadas pela feição laica do Estado, o que teve como conseqüência a passagem da titularidade e exercício do Poder Constituinte ao povo.

Essa fase do constitucionalismo foi sucedida pelo absolutismo, responsável pela substituição dos regimes democráticos por governos despóticos, que se caracterizavam pela concentração e abuso de poder, estando imunes ao controle jurídico.

Pode-se afirmar, inegavelmente, que esta época representou um retrocesso no processo da evolução constitucional.

Na Idade Média, o constitucionalismo ressurge como um movimento político- jurídico, de resgate constitucional, de afirmação de direitos, concentrado na conquista das liberdades individuais, livrando-o da simples característica de impor contornos limitativos ao exercício do poder estatal.

Nesse período, ainda não se podia falar na existência de em uma Constituição propriamente dita, havendo sim tratados e documentos que disciplinavam direitos e deveres nos feudos, que marcavam o modo de divisão da sociedade.

Foi na Inglaterra, apesar de sua tradição jurídica baseada no direito consuetudinário, que surgiram os primeiros documentos que tratavam do Direito Constitucional. Podemos citados como exemplos marcantes a Magna Carta de 1.215, e a

Petition of Right, de 1.628.

Em que pese ser apenas um primeiro acordo entre as forças políticas inglesas da época, a Carta Magna de 1.215 pode perfeitamente ser considerada verdadeiro ato constituinte para a Inglaterra.

O seu texto representou um primeiro passo na evolução constitucional inglesa, sendo que novos atos complementares foram editados, culminando na ascensão da burguesia, inclusive com o aumento preponderante de sua representação na Câmara dos Comuns.

Esse lento e gradual processo de evolução foi responsável pelo surgimento e solidificação das instituições constitucionais, o que fez determinar a criação de uma monarquia constitucional, representando o renascimento do constitucionalismo, deslocando-se das mãos do soberano para o povo, responsável pela elaboração de uma Constituição.

Jorge Miranda assinala que “a revolução inglesa, na linha das primeiras cartas de direitos, não pretende senão confirmar, consagrar, reforçar direitos, garantias e privilégios.”47

Após esse período, teve início o constitucionalismo moderno, caracterizado pela busca de uma maior segurança jurídica, além da delimitação constitucional dos poderes estatais por meio de constituições escritas, na tentativa de se limitar o poder dos governantes e de se prevenir o despotismo.

Identifica-se, nesse momento histórico, o início do reconhecimento jurídico dos direitos fundamentais.

A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, mostra-se de extrema importância na formação do pensamento constitucionalista, sendo decisiva para que se formulasse o

conceito moderno de Constituição, identificado com idéias democráticas e liberais. O referido movimento político-social representou a ruptura do modelo de Estado baseado no feudalismo, na organização estamental e nas corporações de ofício que vigiam à época.

Merece destaque no processo revolucionário a obra “Que é o Terceiro Estado?”, também conhecida como A Constituinte Burguesa, considerada o manifesto reivindicatório do movimento, de autoria do abade Emmanuel Joseph Sieyès.48

Um dos fundamentos ideológicos da obra está centrado na necessidade de se elaborar uma Constituição escrita pelo Poder Constituinte, sendo este de titularidade da nação, entendida como uma reunião de indivíduos agrupados por ideais comuns.

Identifica-se a preocupação em se determinar a matéria a ser tratada em uma Constituição, ao mesmo tempo em que se previa a estrutura do Estado, tomando por base a separação dos poderes.

A Revolução Francesa marca a ascensão da burguesia ao poder, culminando com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.

Esse documento histórico representa uma contraposição à sociedade que tinha por característica marcante os privilégios da aristocracia, sustentados pela hierarquia de classes.

Defende o texto revolucionário que os homens nascem e vivem livres e iguais perante a lei.

Diferencia-se a evolução histórica constitucional francesa da realidade inglesa pela considerável rapidez nas transformações políticas e sociais verificadas naquela, se comparada ao processo lento pelo qual passou a consolidação do Estado Moderno na Inglaterra.

48 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A Constituinte burguesa. Qu´est-ce que le Tiers État? 4. ed. Trad. Norma

Nessa linha de raciocínio, pode-se chegar à conclusão de que a Magna Carta de 1.215 e a Bill of Rights, de 1.688, constituíram, em essência, de verdadeiros pactos entre príncipes e senhores feudais, não havendo que se falar em ideais democráticos impregnados de liberdade.

O constitucionalismo contemporâneo, segundo José Roberto Dromini, “deve estar influenciado até identificar-se com a verdade, a solidariedade, o consenso, a continuidade, a participação, a integração e a universalização.”49

Percebe-se a evolução do conteúdo das Cartas Constitucionais ao longo de História, podendo-se constatar que os seus textos deixaram de estar voltados única e exclusivamente à proteção dos direitos individuais e contra o exercício arbitrário do poder, passando a tratar, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, de forma ampla, dos direitos fundamentais, o que pode ser observado através da constitucionalização do meio ambiente em diversas Cartas Magnas de diferentes países.

Raúl Canosa Usera assinala que “a constitucionalização do ambiental deve ser enfocada a partir desses pressupostos: um novo interesse que, juntamente com os de índole social, adensa o constitucionalismo contemporâneo.”50

O constitucionalismo na era da globalização pode ser compreendido como um movimento jurídico-político que busca prestigiar e reconhecer juridicamente, a nível mundial, os direitos humanos, garantindo os direitos e as liberdades fundamentais frente ao poder do Estado, por meio da edição de Cartas Políticas (Constituições).

49 DROMINI, José Roberto. La Reforma Constitucional: El Constitucionalismo del “porvenir”. In: El

Derecho Público de Finales de Siglo: Uma Perpectiva Iberoamericana. Madris: Fundación BBV, 1997, p. 108.

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