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A Evolução do Levantamento do Edificado Durante séculos, a interpretação espacial de objetos arquitetónicos regeu-se

5.4.2 B: Importância dos Levantamentos 135 5.4.3 C: As novas técnicas de levantamento e implementação do BIM

2.  Estado da Arte

2.1.  A Evolução do Levantamento do Edificado Durante séculos, a interpretação espacial de objetos arquitetónicos regeu-se

unicamente por desenhos de espaço representados em planos com precisão to- pográfica e com uma variedade de símbolos e convenções gráficas.

Em meados do século VII e VI AC, na Grécia, Heron de Alexandria inventou um dispositivo geodésico, o primórdio dos equipamentos de levantamento. Esta ferramenta recolhia através de um sistema horizontal de coordenadas, a distância zenital e o azimute do objeto em estudo possibilitando assim recolher informação de espaços de difícil acesso como pontes, rios, etc.

Séculos mais tarde, em Roma, o famoso mapa de mármore que retrata Roma Antiga – Forma Urbis Romae (200 DC) – denota já uma interpretação bastante moderna de grande parte das áreas urbanas. No mapa, os espaços, edifícios pú- blicos e privados, são representados em plano, com uma precisão topográfica bastante boa e com um enorme número de símbolos e convenções gráficas.

Neste campo, também Giovan Battista Piranesi (1720-89) foi determinante, não se limitando somente a redesenhar elementos, como procurou também, através de escavações e levantamentos, documentar o que teria um acesso mais difícil.

No entanto, com a invenção da geometria descritiva por Gaspard Monge (1746-1818), a forma como se observa e estuda o espaço através de plantas, cor- tes e alçados mudou radicalmente. Começou-se a dar especial importância à qua- lidade gráfica de representação, especialmente às linhas, onde a sua espessura variava ligeiramente de acordo com a posição dos elementos.

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pel cada vez mais importante no conhecimento construtivo dos edifícios e estes exemplos são ilustrativos dos momentos mais importantes, ao longo da história dos levantamentos, e mostram como a evolução das ferramentas, métodos e conceitos, também ocorreram em grande parte pela diferença das necessidades práticas. (Mascio & Palka, sem data)

2.1.1 Ferramentas Tradicionais para levantamentos

Com a pressão e aperfeiçoamento das necessidades práticas ou do desejo de aprofundar o conhecimento da arquitetura do passado, têm vindo a ser elabora- das novas teorias, ferramentas e métodos de levantamento e representação de edifícios e espaços, quer à escala urbana, quer à escala do elemento. (Mascio & Palka, sem data)

Tradicionalmente, o modo de recolha e representação dos dados baseia-se num processo de recolha e transformação de elementos realizado em duas fases bastante distintas. Primeiramente é realizado o levantamento manual através da obtenção de valores métricos do objeto. Normalmente, esses valores são obti- dos através da utilização de fitas métricas ou, mais atualmente, de medidores de distância laser (Figura 1). Algumas destas ferramentas atuais, possuem já uma conexão com smartphones ou tablets onde os dados são introduzidos e auto- maticamente são geradas as peças desenhadas que depois têm que ser ainda trabalhadas.

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Os valores obtidos, no local de levantamento, são extrapolados pela medição da distância entre paredes, entre paredes e laje, entre objetos ou mesmo entre pontos dos próprios objetos, por exemplo, a distância de um pilar a uma parede ou a dimensão de um vão. (Anil, Tang, Akinci, & Huber, 2011) Posteriormente, em gabinete, os dados são transformados em informação com a produção de peças desenhadas baseadas nas regras da geometria descritiva e obtidas através de projeções ortogonais convertidas em planos onde a verticalidade do espaço é a única referência obrigatória. Este sistema de representação, apesar de por vezes produzir imagens de objetos longe do nosso alcance visual, como é o caso dos edifícios confinantes que nunca se observam na sua totalidade, permite-nos obter informação métrica de uma maneira direta. Por outro lado, esta interpre- tação leva à simplificação do objeto, baseado numa seleção dos elementos mais significativos, que apesar da sua subjetividade, facilita a compreensão do edifí- cio. Esta seleção dos dados por vezes torna-se demasiado criteriosa e conduz a um entendimento pobre do objeto. Por exemplo, no levantamento de uma fachada pelo método tradicional, o desenho dos vãos por vezes é simplificado de tal forma que as dimensões das cantarias seguem generalizadas baseando-se numa só medição quer por difícil acesso dos restantes quer por limitação de visi- tas ao espaço. (Almagro, Programme, & Salvador, 2007; Mateus, 2012b)

Figura 1 - Medidor Laser Bosh (https://www.bosch-professional.com/ pt/pt/medidor-de-distancias-a-laser- -101300-ocs-c/)

74 estado da arte | Ferramentas tradicionais para levantamentos

Existem ferramentas experimentais que podem ser consideradas como inter- médios entre as técnicas tradicionais e tecnologias mais atuais aplicáveis nos le- vantamentos. Como é o caso das aplicações desenvolvidas para os smartphones e tablets que possibilitam a rápida medição de espaços através da identificação dos seus limites (Figura 2), algumas delas, com bastante fluidez, conseguem até gerar desenhos bidimensionais que pode ser posteriormente utilizado em soft- ware de desenho como o AutoCAD (Figura 2 e Figura 3).

O levantamento em arquitetura é muito mais do que uma forma de recriar um modelo reduzido de um objeto, e sendo mais é capaz de conter informação suficiente para permitir a transmissão de conhecimento adequado sobre o mes- mo enquanto permite a tomada de decisões necessárias para a sua conservação apropriada. (Almagro et al., 2007)

2.1.2 Levantamentos tradicionais e as fragilidades no seu uso

O processo de compreensão de uma obra de arquitetura deve, tanto em no- vas construções, como em edifícios existentes exigir um controlo total face ao espaço circundante e existente do projeto (Mascio & Palka, sem data; Tonn & Bringmann, 2015) e, desta forma, uma documentação espacial fraca e pouco objetiva conduz, na maioria das vezes, ao insucesso do projeto. A base, somente apoiada em desenhos, pouco rigorosos, regidos por linhas que simplificam em demasia a realidade, poderá tornar-se assim numa das principais lacunas duran- te o processo (Mateus, 2012a).

Figura 2 - Utilização da aplicação Ma- gicplan (http://www.magic-plan.com/) para delimitar espaço (fotografia de teste realizado pela autora em Feve- reiro 2018)

Figura 3 - Desenho 2D obtido na apli- cação (http://www.magic-plan.com/) após delimitar a divisão (fotografia de teste realizado pela autora em Feve- reiro 2018)

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Dado que o método tradicional de levantamento tem como objetivo a produ- ção de desenhos bidimensionais, o processo de modelação tridimensional reali- zado com base nesses dados é menos preciso e mais complicado.

Na prática, as medições são levadas a cabo num limitado número de espa- ços. Dessa forma, certas áreas podem não chegar a ser medidas e erros cruciais serem assim criados e passar despercebidos. Mesmo em elementos onde foram detetados problemas e estes foram devidamente assinalados, por vezes a sim- ples medição não é suficiente para identificar o erro pois este poderá não ser somente nesse plano de medição. Através deste método é também difícil perce- ber de onde surgem os erros de levantamento. Isto é, não é possível distinguir se se trata de um erro de modelo/desenho ou de um erro de registo porque se não existir base que sustente o levantamento, como fotos, não existe meio de comparação.

Outro problema surge na facilidade com que se acede ao local. Por vezes po- dem não ser permitidas novas visitas para que sejam realizadas novas medições e quase sempre, uma única visita ao espaço revela-se insuficiente o que torna este processo ainda mais dispendioso a nível de tempo. (Anil et al., 2011)

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