• Nenhum resultado encontrado

EVOLUÇÃO RECENTE E PERSPETIVAS ECONÓMICAS

INTRODUÇÃO

1. O presente Memorando de Políticas Económicas e Financeiras (MPEF) define os principais objetivos do programa de reformas económicas do Governo de São Tomé e Príncipe para o período de setembro de 2019 a janeiro de 2023, para o qual o Governo procura o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) através de um novo acordo de quarenta meses ao abrigo da Facilidade de Crédito Alargado (ECF, na sigla inglesa). O novo acordo ECF sucede ao que foi aprovado pelo Conselho de Administração do FMI em julho de 2015 e expirou no final de 2018, sendo que a última avaliação deste não foi concluída. O objetivo geral do programa é lançar as bases do crescimento acelerado e inclusivo e catalisar o apoio financeiro de parceiros bilaterais e multilaterais. O acordo ECF dá resposta à pressão imediata sobre a balança de pagamentos através da consolidação orçamental, ao mesmo tempo que reforça a proteção social e apoia a emancipação e participação das mulheres no mercado de trabalho formal.

2. O presente MPEF também analisa o desempenho e a evolução económica recentes.

Além disso, avalia as perspetivas e os riscos para a economia, bem como apresenta as políticas macroeconómicas para 2019 e anos seguintes.

EVOLUÇÃO RECENTE E PERSPETIVAS ECONÓMICAS

3. A economia depara-se com fortes condicionalismos: as reservas internacionais registaram um declínio acentuado, o crescimento abrandou e a inflação subiu em 2018 e manteve-se elevada durante o primeiro semestre de 2019. As reservas de divisas diminuíram USD 16,3 milhões em 2018, como resultado, sobretudo, de um declínio nas entradas de fluxos externos e de um aumento dos gastos orçamentais. Tal verificou-se não obstante a subida

significativa das receitas do turismo, que aumentaram cerca de 18%. Consequentemente, as reservas internacionais brutas (RIB) no final de 2018 cifraram-se em cerca de USD 35 milhões (3,3 meses de importações),1 ficando aquém do nível adequado de reservas segundo a métrica do FMI para os países de baixo rendimento, que é de 3,8 meses de importações. A queda na entrada de fluxos externos juntamente com a perturbação provocada pelas eleições parlamentares e os cortes de energia contribuíram para o abrandamento do crescimento do PIB real em mais de um ponto percentual, para 2,7%. A inflação homóloga disparou para 9% em dezembro de 2018. O crédito à economia contraiu 1,6% em 2018. O ambiente macroeconómico continua a ser difícil. No final de junho de 2019, os desembolsos de donativos externos aumentaram as RIB para 45 milhões

1 Para efeitos de cálculo da cobertura de reservas em meses de importações, as importações de bens de investimento

(4,1 meses de importações) e a inflação desceu para 8,6% em junho de 2019. No entanto,

informações preliminares sugerem que a atividade económica e o crédito à economia continuam letárgicos. Prevê-se que o défice da conta corrente em 2019 aumente devido ao menor volume de donativos e a um nível mais elevado de IDE relacionado com o petróleo, não obstante o crescimento significativo de outras exportações que não do cacau (aumento de 27% face ao período homólogo) e chegada de turistas (aumento de 14%) durante o primeiro semestre de 2019, muito embora a partir de uma base reduzida.

4. A política orçamental expansionista em 2018 contribuiu para a pressão sobre as reservas internacionais. O défice primário interno (DPI) cifrou-se em mais de 4% do PIB em 2018, excedendo por uma larga margem a meta indicativa do último programa de 1,3% do PIB.

A posição subjacente foi ainda mais expansionista, cifrando-se em quase 5% do PIB após a inclusão do endividamento contraído pelas entidades orçamentais autónomas, com a aprovação do Ministério das Finanças. Os impostos diretos registaram uma quebra considerável devido ao abrandamento da economia e, porventura, a perturbações no processo de arrecadação fiscal provocadas pelas eleições. A queda nas receitas foi compensada, parcialmente, pela arrecadação bem-sucedida de atrasados fiscais, pelo aumento das receitas do imposto sobre as importações de produtos petrolíferos devido à subida dos preços do petróleo nos mercados internacionais, e pelos cortes na despesa interna. O atraso no desembolso do apoio orçamental da UE (3 milhões de euros) agravou ainda mais os atrasados e a dívida interna.

5. A situação orçamental permaneceu precária durante o primeiro semestre de 2019.

Não obstante a melhoria na arrecadação fiscal – designadamente da cervejeira Rosema – e a recuperação de quase 11 milhões de novas dobras de atrasados fiscais, as receitas internas continuaram a deteriorar-se, refletindo a letargia da economia e o desagravamento das taxas sobre as bebidas alcoólicas. Além disso, os custos mais elevados de transporte do petróleo, associados a uma diminuição do fornecimento de combustível de Angola, não foram passados para os consumidores, assim reduzindo ainda mais as receitas. Entretanto, os compromissos assumidos pelo anterior Governo, nomeadamente um aumento significativo dos salários do pessoal militar, anularam as poupanças obtidas nas rubricas de bens e serviços, e transferências.

Consequentemente, o DPI no fim de junho de 2019 cifrou-se em 1,8% do PIB, ou seja, o dobro da meta.

6. O setor bancário sofre os efeitos de condições financeiras difíceis, custos

operacionais elevados e provisionamento adicional constatados na avaliação da qualidade dos ativos (AQA) e na supervisão do BCSTP. A contração do crédito à economia observada em 2018 manteve-se no corrente ano. Os bancos estão hesitantes em conceder crédito devido a uma economia débil e ao elevado rácio de crédito malparado (22% no final de junho de 2019) resultante do mau funcionamento do sistema judiciário e de um lento processo de saneamento dos balanços dos bancos. O rácio de eficiência também é elevado. Não obstante, a provisão do crédito malparado permaneceu elevada, embora tenha diminuído nos últimos quatro anos. Na avaliação da qualidade dos ativos, que foi concluída recentemente, foi constatada uma

provisionamento, após o qual alguns bancos terão de ser recapitalizados. As implicações macrofinanceiras continuam a ser uma preocupação, uma vez que os atrasos nos pagamentos por parte das entidades públicas impedem os fornecedores de cumprir as suas obrigações inerentes a créditos contraídos, a cobrança dos créditos em incumprimento continua difícil e a concessão de empréstimos deverá manter-se em níveis baixos devido à economia frágil e aos constrangimentos dos balanços dos bancos.

7. O total da dívida pública ou com garantia pública (PGP), que inclui a dívida da EMAE, os empréstimos contraídos por entidades públicas (como a Assembleia Nacional e os Tribunais) e atrasados do Governo a fornecedores, situou-se acima de 90% do PIB no fim de junho de 2019. No período de 2015 a 2018, a acumulação contínua de atrasados da EMAE para com a ENCO2, o seu fornecedor de combustível, mais do que compensou a redução da dívida em consequência do crescimento da economia real, da regularização da dívida

resultante de subsídios ao preço do petróleo no passado (usando os proveitos da diferença entre os custos de importação e os preços mais elevados praticados internamente) e dos desembolsos limitados de novos empréstimos externos. Os atrasados da EMAE aumentaram USD 50 milhões nesse período, passando de 14% do PIB em 2015 para 23% do PIB em 2018. A acumulação de atrasados acelerou para USD 9,4 milhões durante o primeiro semestre de 2019 e pode subir ainda mais na segunda metade do ano devido à sazonalidade. Além disso, no âmbito de um apuramento exaustivo realizado pelo Ministério das Finanças, foram identificadas mais dívidas do Governo a fornecedores internos (além da EMAE e da empresa de telecomunicações, CST) num valor global de USD 25 milhões (cerca de 6% do PIB), acumuladas nos últimos anos, devido à queda dos donativos e empréstimos para projetos. Estão em curso esforços para identificar as circunstâncias desses atrasados.

8. O país continua sobre-endividado devido aos atrasados externos que há muito que estão por regularizar. No total, os atrasados externos por regularizar cifravam-se em 2,6% do PIB em 2018 (USD 10,7 milhões) e são devidos a Angola (USD 4,8 milhões), Brasil

(USD 4,3 milhões) e Guiné Equatorial (USD 1,7 milhões). O Governo tem mantido contactos contínuos com os países credores. Foram enviadas novas correspondências em fevereiro de 2019 e subsequentemente tiveram lugar reuniões com a Guiné Equatorial e com Angola em maio e em julho, respetivamente. Foi alcançado um acordo com o Governo do Brasil, que carece ainda de ratificação pelo Senado brasileiro.

9. Além disso, os persistentes e elevados atrasados da EMAE à ENCO agravam a vulnerabilidade da dívida do país. Os atrasados da EMAE à ENCO foram recentemente formalizados com um prazo de amortização alargado (incluindo qualquer novo atrasado que possa ocorrer até que a EMAE volte a registar um excedente de exploração), o que ajudou a trazer o valor atual do total da dívida pública – que inclui os atrasados da EMAE à ENCO e a dívida recentemente apurada do Governo a fornecedores privados – para um valor inferior ao

2 A ENCO, uma empresa maioritariamente detida por uma empresa pública de Angola, é o único fornecedor de

limiar de 55% definido ao abrigo do quadro de sustentabilidade da dívida do FMI e do Banco Mundial. Contudo, a acumulação contínua de atrasados pela EMAE também elevou o risco de um grande volume de atrasados da ENCO à sua controladora, a Sonangol. Além disso, os

elevados atrasados da EMAE ao seu fornecedor também refletem os graves constrangimentos de liquidez do setor público. Como o Governo está empenhado em contrair apenas empréstimos concessionais e a um ritmo prudente, em utilizar donativos para financiar os grandes projetos (como a expansão e a reabilitação do aeroporto) em implementar reformas na EMAE para eliminar os seus prejuízos avultados, o rácio dívida/PIB do país deverá cair.

10. Uma vez que o Governo está empenhado em implementar reformas profundas, as perspetivas irão melhorar a médio prazo. Prevê-se que a economia recupere gradualmente das perturbações verificadas no ano passado relacionadas com as eleições e os problemas energéticos. O crescimento do PIB real deverá situar-se em 2,7% em 2019, o mesmo valor de 2018. Com a melhoria do fornecimento de energia e a implementação dos projetos com financiamento externo, prevê-se que o crescimento suba para 3,5% em 2020, 4,0% em 2021 e 4,5% nos anos subsequentes. As entradas de fluxos externos (incluindo IDE), que foram afetadas pelas incertezas em torno das eleições, estão a recuperar para níveis anteriores às eleições. Os preparativos para a expansão do aeroporto com donativos da China e a construção de estradas apoiada pelo Banco Mundial estão num estágio avançado, e estas obras poderão arrancar no início do próximo ano. No futuro, esses projetos poderão estimular o turismo e os agronegócios.

Prevê-se que a inflação caia para 7,8% até ao final de 2019, como resultado da consolidação orçamental e restrição monetária. Devido ao efeito extraordinário da introdução prevista do IVA em 2020, estima-se que a inflação suba para 10%, mas a médio prazo, deverá descer

gradualmente para 3% graças a uma consolidação orçamental significativa. O IVA poderá vir a aumentar as receitas fiscais em 2% do PIB. Após dois anos de preparação, prevê-se que as reformas da EMAE comecem a reduzir os prejuízos da empresa e a importação de petróleo ao longo do tempo. Além disso, um aumento do fornecimento de eletricidade, mais fiável e a menor custo também poderá impulsionar a atividade económica.