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Ocupar-nos hemos somente do exame das gorduras. Já referimos que o aparecimento dum véu mate à superfície do líquido de diluição das matérias fecais

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significa que nelas existem gorduras em quantidade, mas o seu doseamento e a discriminação das quanti- dades das diferentes gorduras que podemos encontrar e ainda o conhecimento da relação entre as que foram ingeridas e eliminadas é util para o estudo da diges- tão deste alimento. As gorduras podem oferecer-se ao exame químico em três estados : gorduras neutras, ácidos gordos e sabões. Nos indivíduos submetidos a uma ali- mentação sem gorduras, o exame das suas fezes revela quantidades ínfimas desta substância. Isto indica que as gorduras provenientes da desassimilação orgânica se encontram em quantidade insignificante nas maté- rias fecais.

Daqui se conclui que pelo conhecimento das gor- duras ingeridas e excretadas, nós podemos estabelecer o coeficiente da sua utilização pelo organismo.

Vários autores (GAULTIER, RUBNER, ATWATER, etc.) se entregaram a esta tarefa e estabeleceram que para o homem o coeficiente de utilização normal de gordu- ras é 95 a 96 %•

Estes números são constantes nas condições duma alimentação normal, mas variam desde que o regime alimentar se modifique.

Assim quando a quantidade de gorduras do ali- mento aumentou, a perda por cento diminui até um certo ponto, além do qual tendo excedido a capaci-

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dade digestiva, a gordura das fezes aumenta em pro- porções consideráveis.

O estado de digestibilidade em que a gordura se encontra nos alimentos também influi no valor do coe- ficiente de utilização. A gordura emulsionada do leite é mais facilmente digestível do que a da carne que neces- sita uma preparação prévia.

O ponto de fusão da gordura contribui ainda para que ela seja mais fácil —ou dificilmente absorvida.

Quanto mais este se aproxima da temperatura do intestino, tanto mais fácil é a sua digestão.

A dissociação das diferentes espécies de gorduras que se encontram nas fezes foi estudada entre outros por GAULTIER que estabeleceu que os 4 a 5 °/0 de gor- duras eliminadas são constituídas por :

24,2 °/o de gorduras neutras. 38,8 °/o de ácidos gordos. 37 °/o de sabões.

Segundo este autor seria fácil comparando estes números com os que resultam do exame químico das fezes dum doente qualquer diagnosticar as perturbações do seu intestino.

O duodeno seria, na economia, o laboratório en- carregado de transformar as gorduras. E daí toda

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a perturbação nesta transformação permitiria concluir que havia funcionamento defeituoso neste laboratório. Assim, desde que houvesse má utilização das gordu- ras, existiria uma distripsia duodenal, gorduras neutras em quantidade, insuficiência pancreática, ácidos gordos em quantidade, insuficiência biliar.

Estas conclusões, muitas vezes importantes na prá- tica, estão longe contudo de ter valor absoluto porque outros factores além dos sucos duodenais podem inter- vir para modificar notavelmente a fórmula de excre- ção das gorduras.

Começaremos por citar a influência da alimentação, que pode ser mais ou menos abundante em gorduras, podendo estas ser mais ou menos digestíveis segundo o estado em que se encontram nos alimentos ou segundo a sua natureza, a ingestão de bases ou a sua secre- ção que servindo para a transformação dos ácidos gordos em sabões virão deste modo alterar o número estabe- lecido para esta espécie de gordura. Em casos de per- turbações de aborção intestinal a quantidade de gordu- ras utilizadas é muito menor enquanto que a quantidade de gordura desdobrada é considerável.

A lipólise não é também simplesmente qualidade da digestão duodenal, a existência de outros fermen- tos esteatolíticos está suficientemente estabelecida.

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lipase gástrica (FALOISE, LAQUEUR, CAMUS, NICLOUX), de lipase intestinal (FROUIN, BOLDIREW) e de lipases micro- bianas (CAMUS, GÉRARD).

Várias experiências efectuadas pelos citados au- tores confirmam de sobejo a existência de lipase gástrica.

FALOISE demonstrou que as gorduras emulsionadas sofrem o estômago uma lipólise intensa devido à acção dum fermento. As objecções de que o fermento lipolítico do estômago proviesse do intestino por refluxo do suco pancreático através do piloro ou por absorção ao nível do intestino, sendo levado depois para este órgão pela via sanguínea, respondeu este autor com o facto de este fermento ser encontrado principalmente na região do grande fundo de saco, e com os resultados das suas experiências em coelhos e em cães a que foi extraído o pâncreas.

Nos coelhos, com efeito, o refluxo do suco pan- creático é impossível pela distância (30 a 40e™) que vai neste animal do piloro ao lugar do intestino onde chega o suco pancreático.

Apesar disso os extractos glicerinados da sua mu- cosa gástrica continham em relação às gorduras emulsio- nadas uma acção manifesta. Os extractos da região do grande fundo do saco mostraram-se muito mais activos do que os da região pilorica. As experiências efectuadas

[ 6 3 ] em cães a que foi suprimido o pâncreas foram tam- bém confirmativas da existência de lipase gástrica, por- que nos três cães sacrificados, os extractos glicerina- dos se mostraram activos e nada inferiores aos de dois cães de funcionamento digestivo normal que serviram para comparação, considerando que nos primeiros as funções digestivas como as funções de todos os outros órgãos se encontravam diminuídas em virtude da dia- bete que a supressão do pâncreas lhes determinou.

São de FROUIN as seguintes experiências que de- monstram a existência de lipase intestinal :

I.* Quando se introduz uma emulsão de azeite numa ansa intestinal isolada e aí se deixa demorar duas horas encontra-se uma certa quantidade de ácidos gor- dos livres no líquido que se retira. E assim se conclui que o azeite foi saponificado no canal intestinal.

2.a O suco intestinal de secreção espontânea re- colhido nos animais de fístula permanente, centri- fugado e filtrado não tem nenhuma acção sobre as gorduras neutras in vitro.

3.* O suco interior do mesmo modo que o de- pósito de células e de restos epiteliais obtido por cen- trifugação, saponifica as gorduras neutras,

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4.a A adição da bill's ao suco intestinal ou aos restos de células aumenta o poder saponiflcante in vitro.

5.a A adição de bilis à emulsão de azeite introdu- zida no intestino favorece in vivo a saponificação no canal intestinal.

Citaremos aincja as experiências de CAMUS que dei- xou sobre uma mesa de experiências diferentes vasos contendo monobutirinas onde uma certa quantidade de soro de cavalo tinha esgotado a sua actividade. Exa- minados dois dias depois, os líquidos contidos nestes vasos davam um número de acidez insignificante, que muitos dias depois era considerável, ao mesmo tempo que deixavam ver filamentos que se dispunham no fundo do vaso.

Estes filamentos revelaram-se o «Penicilium Glau- cum». Fez em seguida, este experimentador, culturas com o «Penicilium» primeiro em monobutirina, depois em butiratos e em seguida em glucose adicionada de monobutirina. Estas culturas viveram mal, mas trans- portadas para o líquido de ROULIN, viveram bem. Jun- tou a alguns balões progressivamente corpos gordos e filtrando encontrou nos produtos de filtração lipase, em- bora fraca e de produção lenta. Assim 3c m' duma cul-

[ 6 5 ] tura filtrada e neutralizada deram depois de quatro horas a 20o uma actividade lipásica de 6,5 e depois de 18 horas 16,9.

Todas as experiências foram feitas com tubos tes- temunhas e verificou-se que a acidez não era devida a modificações do líquido da cultura filtrada, tornando-a mais ácida, mas a uma decomposição da monobutirina. Enfim uma parte dos sabões alcalinos pode ser des- dobrada no intestino delgado sob a influência do ácido carbónico do sangue.

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